Outro dia de manhã, segunda-feira
dia 28, em entrevista no programa Império
dos Sentidos na Antena 2, ouvi
dizer estar em causa, numa regressão inqualificável, a educação musical no
ensino básico entre nós, a saber e nomeadamente, nos sétimos, oitavos e nonos
anos de escolaridade.
A ser verdade, o que dizer
mais sobre o assunto sem cair nos habituais lugares comuns?
Diria como se segue, hoje
e no Dia Mundial da Criança, chamando
à colação as disciplinas axiais de toda a formação e isto independentemente da
área por que se pretenda enveredar.
A música, como alavanca,
contém, em si mesma e escondidas, a língua materna e a matemática:
Língua materna.
Constituindo a música e em
si mesma um exercício de flexibilidade linguística que obriga a deslizar em
todos os sentidos e por toda a escala, escada sonora, direta ou indiretamente à
língua materna, por sua via, se ginastica projetando-a e isto independentemente
de a ela a conjugarmos, literalmente ou não, com a primeira.
Quanto mais se pelo canto
à música a exercitarmos!
Na afinação sonora a que a
música nos obriga a ela somadas a entoação, a colocação e a projeção vocais ou
o exercitar tão em défice da audição, do silêncio sem o qual ela não se realiza,
na abstração que, por sua via, contribui para desenvolver, nela se condensam os
ingredientes básicos ou a matriz linguística da língua materna.
Não menos a racionalidade
emocional do pensar que por ambas as vias se concretiza.
À língua materna a extravasando,
consigo, a música a estimula e desenvolve conferindo-lhe o seu pleno potencial.
Não é por acaso que os
músicos, por regra, por escreverem e falarem bem, são, também por essas vias,
bons comunicadores.
Dou dois numa miríade de
exemplos intencionalmente nacionais entre aqueles que já não estão entre nós:
João de Freitas Branco e Fernando Lopes Graça.
Matemática.
No ritmo a matemática.
Matemática lúdica porque
espacial e emocionalmente, sensorialmente, ao nível mais profundo da malha molecular apreendida.
A noção de unidade, da numeração
natural e da inteira e da sua variável combinação.
A noção de fração.
A forma, a geometria e a volumetria,
isto é, a profundidade que logo na complexidade da escrita musical se espelha.
Mas mais, a música é,
simultaneamente, um exercício de relatividade atómico aplicado porque na fruição musical, além do mais, tempo e
espaço adquirem outra profundidade, outra maleabilidade também.
Isto porque unidade,
numeração natural, inteira, fracional, forma, geometria e profundidade são na
música variáveis aplicáveis na relatividade em que se conjugam como o
metrónomo, o relógio musical logo anuncia.
Através da música a
precisão matemática, na sua exata precisão, relativiza-se.
Pergunto-me e ainda que
especulativo:
Não tivesse Einstein tido formação musical que se
traduzia nas suas aptidões como violinista e chegaria ele, alguma vez, à
fórmula da relatividade?
Nesse magma síntese ou matriz, leito, manta, camada das nossas camadas interiores que a música, em si mesma, é,
exponenciam-se autonomizando-se as duas áreas trazidas à liça sem as quais não
há formação sustentável.
Mas há um dado suplementar
que não gostaria, aqui, de deixar passar em branco:
Sem formação musical a
sociabilização na integração, na inclusão e, logo, na cidadania que pressupõe,
fica amputada.
A música é um exercício
sistemático de cidadania aplicada na exata medida do balanço entre o indivíduo
e o grupo pela inclusão sem a qual, em
cada qual, ambas não se realizariam.
não há futuro se voltarmos para trás e as crianças não
seriam merecedoras de uma tal regressão
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Junho de 2012
3 comentários:
as crianças não são merecedoras de uma tal regressão
são-no até de uma grande, enorme progressão
Aplausos para esta página! sete e sete são catorze e mais sete vinte e um
tenho tantos ministros e não gosto de nenhum!
Olá Jaime,
Pensava eu que esta era uma questão que nem se punha, mas estamos em tempos de se verem coisas inconcebíveis.
Talvez para os nossos políticos a educação para a sensibilidade não seja priotitária, já que eles não a têm.
Beijinhos
Branca
Jaime,
Amigo, sem música não somos mais que folhas ao vento.
A música é a linguagem do coração.
Bela página,importante abordagem.
Abraço aos queridos,
Linda Simões
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