terça-feira, 29 de maio de 2012

FACTOS DE UMA TRAVESSIA





Resolvi arrolar, sistemática e não menos hierarquicamente, uma série de factos em abono da minha hipótese, a saber, que atravessámos ou estamos em vias de concluir a Travessia de um Buraco Negro como, em prole do conhecimento científico, se impõe.
Impõe-se, também, reforçar a ideia de que, tal como os buracos negros apenas pelas perturbações que dentro do seu raio de ação desencadeiam permitem, por essa via indireta, que sejam detetados, os factos que, de seguida, sistematizei, isolados têm uma leitura própria mas conjugados, indiretamente e por isso também, vão ao encontro e reforçam essa minha hipótese.
Passo, de seguida, a sistematizá-los:

1 – A intensa atividade solar;

2 – A igualmente intensa atividade sísmica;

3 – As alterações climáticas e o aquecimento global que ameaçam a nossa qualidade de vida:
a)  O aumento global das temperaturas e que nada nos garante, paradoxalmente e a prazo, poder conduzir-nos, venha o diabo e escolha, a uma nova idade do gelo;
b)  Os níveis de CO2 e a rarefação atmosférica por ação do buraco do ozono;
c)  Fenómenos como o El Niño e La Niña e outros de idênticas características;
d)  O aumento das temperaturas da água do mar e a diminuição das calotes polares;
  e)  A crescente imprevisibilidade atmosférica.

4 - A degradação ambiental acelerada e a também crescente escassez de água potável disponível;

5 – O próprio desenvolvimento exponencial técnico científico;

6 - O aumento igualmente exponencial do conhecimento acumulado de tal forma que nem dá, em tempo útil, para o sistematizar;

7 – A aceleração histórica que se relacionada está com a globalização igualmente acelerada proporcionada, mormente, pelas tecnologias da informação, vêm colocar a democratização, ela também cada vez mais global, na ordem do dia e que não se funda, apenas, no nosso voluntarismo mas também na perceção instintiva de que só através dela a nossa fragilidade acrescida poderá ser devidamente salvaguardada;

8 – A aceleração do ritmo de vida que nos permite, hoje e a uma velocidade estonteante, viver várias vidas numa só;

9 – O aumento da estatura média humana tal como o aumento da obesidade que se vão registando mas que nada nos garante, também, poderem estar associadas às variações, flutuações gravíticas quase impercetíveis resultantes de uma tal travessia;

10 – A deteção de novas doenças como a osteoporose ou a fragilização da estrutura óssea cada vez mais precoce ou as novas doenças do foro psíquico e neurológico e já para não falar do cancro, ele também, cada vez mais precoce e que nada nos garante não poderem ter uma relação com essa minha hipótese;

11 – O crescente aumento dos acidentes de circulação, rodo, ferro, aéreo ou naval que podem ter uma relação, eles também, não só com o crescente tráfego em circulação mas, quem o poderá negar, com ela também;

12 – A crescente falta de adesão das teorias económico-financeiras à realidade de que descolam;

( … )

Podia ir por aqui fora mas uma coisa é certa:
Se tudo o que aqui alego, com exceção dos pontos um e dois e numa perspetiva antropomórfica encontra uma explicação parcelar razoavelmente satisfatória, nada nos garante que, por falta de prospetiva resultante da omissão do feixe encadeado que a minha hipótese sistémica, a da Travessia de um Buraco Negro, introduz, nada nos garante, escrevia, que tudo não esteja a ser mal interpretado e, logo, dificilmente abordável com sucesso se permanecermos no nosso tão egocêntrico e, por isso mesmo, tão parcelar antropomorfismo que nos tolda de falta acentuada de visão global que se poderá traduzir na impotência a que, assim sendo, tragicamente nos pode conduzir.


à luz deste novo enquadramento muito mais haverá, não duvido, para sistematizar


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Maio de 2012

domingo, 27 de maio de 2012

TANTO DÁ ATÉ QUE FURA





Tende-se a ver o que nos rodeia mas que nos transcende e isto sem escrever sobre a religião, tendo o homem por centro ou representando esse transcendente próximo sob a forma ou à escala humana num antropomorfismo de que dificilmente se consegue sair.
Por exemplo:
Diante das alterações climáticas e ambientais, não raro e com razão se associam estas à sobrevivência da vida na Terra identificando explícita ou implicitamente esta última com a própria vida humana.
A mais das vezes, porém, esquecemo-nos de dizer que de uma ou de outra maneira a Terra, com ou sem vida que esteja em condições de poder albergar, essa estará em condições de subsistir independentemente de poder ou não, no futuro, continuar a reunir as condições de à vida humana a acolher.
A Terra pode passar sem nós mas nós é que não estamos ainda, longe disso, em condições de passar, de sobreviver sem ela!
Azul ou de outra cor qualquer, viva ou morta e tal como entendemos a vida e a morte, até nisto antropomórficos, a Terra não precisa de nós para continuar a existir.

Num antropomorfismo por vezes constrangedor e pesem como pesam todos os exponenciais avanços científicos, tudo tendemos a ver à nossa escala, à escala humana.
É a essa escala, aliás, que moldamos o próprio planeta tentados que somos, inconscientemente ou não, a ser levados a pensar que ele é que não sobreviveria sem nós.
Mais, que o Universo é que não sobrevive sem nós!
O tempo é o nosso, o espaço é o nosso, tudo é feito à nossa escala, à nossa imagem e semelhança.
Até Deus quando, quanto muito e para quem Nele acredita, é precisamente o contrário!

Tanto dá até que fura.
Tenho vindo, deliberadamente, a insistir termos atravessado um Buraco Negro.
Deliberada, recorrente e, desculpai-me, cada vez mais repetitivamente.
Ora, diz-se, se é buraco e se é negro ou é metáfora, alegoria poética ou brincadeira de mau gosto.
Diz-se mais, um buraco é um buraco, coisa pequena e de travessia instantânea.
Mas se é negro só pode ser um mau presságio, conclui-se.
Simulados em computador, à escala humana, portanto, os buracos negros engolem tudo e num ápice, sóis, planetas e toda a demais matéria, energia que os circunda, tudo, repito, num golpe de asa desintegrador.
E tudo é visto à escala humana, mais, sendo nós simples observadores que, na plateia, observaríamos o que no palco, no cosmos transcorreria.
Distantes como simples espectadores, deuses encartados de uma sui generis imunidade.
Mas o que dizem os cientistas?
Dizem o que sabem porque dos buracos negros sabe-se muito pouco:
Em primeiro lugar, dizem que não se vêm, daí serem negros e que apenas pelas perturbações que à sua volta desencadeiam são levados a pensar ali, algures se situarem;
Dizem que podem ser monumentais, tão monumentais que só assim se explicaria poderem engolir tão largas porções do céu, incluídas estrelas, sistemas solares inteiros e por aí fora;
Dizem que do outro lado, quais aspiradores do céu, numa outra dimensão, a energia absorvida inteira permanece mas só não sabem como ela fica organizada pressupondo que, por efeito da travessia, ela sofra ligeiras ou maiores alterações;
Dizem ainda que uma vez atravessados, não há retorno;
Dizem …
Só não dizem que podemos estar no centro da sua ação que não dizem ser destruidora, nem teriam como o afirmar já que não puderam ir e voltar para o testemunhar, mas que sabem ser transformadora!
Mas eu interrogo-me:
Pois se eles poderão existir neste ou naquele quadrante do Universo, porque não aqui mesmo sendo nós deles simples e irremediáveis sujeitos passivos?
Pois se lá longe não se vêm como seria possível deles nos darmos conta, para mais se atendermos às suas dimensões astronómicas, estando nós, por hipótese, no centro da sua ação?
Que essa não é aquela duma simulação informática mas antes em câmara lenta, prolongada e a estender-se no espaço/tempo, a uma escala cósmica que não tem nada a ver com a escala humana que diante dela não passa de uma fração de segundo?
E quando poderia ter-se dado o início dessa travessia, há quantos anos, dezenas ou centenas, até muito antes de a essas entidades as conhecermos e, logo, quando se poderia ela, então, concluir?
E como ficaríamos nós após a sua travessia?
Disso há uma coisa que, pela boca dos cientistas, o sabemos:
Ficaríamos diferentes, provavelmente tão impercetivelmente diferentes quão difíceis são os buracos negros de detetar, tal como a energia diferentemente, por ação da sua travessia, se passaria, ela também, a organizar!
E se diferentes ficávamos, fragilizados portanto, continuando a agir como se o não estivéssemos já, que consequências para a nossa própria sobrevivência, desse simples facto, da travessia de que nem nos daríamos conta, poderiam, a prazo e para nós, tragicamente advir?
Para mais não tendo como o provar a não ser pelas tão badaladas alterações ambientais ou pela aceleração histórica, reflexos, elas não só mas também, dessa mesma travessia, aspiração ou sucção que sempre tendemos, uma vez mais antropomórficos e em exclusivo, a atribuir aos nossos feitos ou às nossas façanhas tecnológicas como se deles detivéssemos, em exclusivo, a patente.
Antropomórficos e renitentes até à última!
Insisto:
Atravessámos mesmo um Buraco Negro!


 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Maio de 2012

sexta-feira, 25 de maio de 2012

BLACK HOLE





Through a hole
we fall together
not even knowing
why it matters

If it’s black
changes the matter
by stepping
invisible ladder

Through a hole
we call together
swallowed down
but growing better


( in Portuguese, an European and world-wide language in which I do express myself )
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril the 25th of May 2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

MÃO VISÍVEL




Em tempos de crise sobrelevam as teorias da conspiração, aquelas que não são capazes de a dissociar de uma mão invisível que não apenas a condicionasse como, pior ainda, a determinasse.
Compreensivelmente, tais teorias descartam-nos, desculpabilizam-nos do que não estando ao nosso alcance, supostamente, impossível seria controlar.
Desendividam-nos de uma culpa, Schuld como para um e outro caso, dívida e culpa, se diz em alemão, de uma dívida coletiva.
Não havendo como evitá-la mas dela transformados em suas irremediáveis presas, estaríamos, paradoxalmente, como rebanho que se oferece em sacrifício, desculpabilizados.
Melhor, justificados.
Mão invisível qual deus justiceiro ou demoníaco carniceiro, a ela não estaríamos, assim, em condições nem de escapar, nem tão pouco de resgatar.

Pese embora a minha educação na Escola Alemã e a minha particular apetência pela música alemã ou talvez por isso mesmo, nunca fui dado a mãos invisíveis ou teorias conspirativas.
Quer isto dizer que elas não existem?
Não, o que quero dizer, tão só, é que por muitas que sejam as mãos invisíveis ou as conspirações que se forjem, elas nunca poderiam ter, num dado momento, o domínio sobre todas as variáveis que lhes permitissem agir numa deífica omnipresença que, simultaneamente, fosse omnipotente.
Conceitos para uma outra ordem de valores que quando neles não se acredita, exorbitando se extrapolam para a dimensão redutora da nossa imensa fragilidade e por maior que seja o poder que se possa ter.
Omnipotente.
Bem vistas as coisas nem Deus o é senão pelas linhas tortas, complexas e não literais em que se escreve ou nunca teríamos saído do Paraíso nem sido apetrechados do livre arbítrio.
Da Liberdade.

Mão visível.
E se, pelo contrário, uma mão visível como a minha que aqui Vos é levada a escrever, pública e transparentemente, tudo o que Vos tenho escrito, essa sim porque verdadeiramente munida de Estratégia Global à luz da qual a sua tática se explica, Estratégia inclusiva porque, bem vistas as coisas, à luz da Travessia de um Buraco Negro já que nos ultrapassando a todos dela ninguém poderia ser excluído, fosse determinando, pela sua própria formulação sucessivamente aqui aplicada, o evoluir contraditório porque tremendamente complexo, da situação presente que nos revira do avesso?
Estratégia Global que na fragilidade acrescida que, pela Diáspora Global que em si mesma representa, se resume a como resistir senão em Democracia à Travessia de um Buraco Negro?
Mão visível e que apenas ainda não se tornou mais visível por não ter chegado a sua hora?
E logo por, partindo do um, do cidadão singular, se recusar a utilizar meios ou a fazer deles a apologia que à sua própria estratégia a pudessem inquinar?
Levando, caso o fizesse, a pôr em causa a Democracia Representativa sem a qual não existiria, como não existe, não apenas a possibilidade mas também a necessária inclusão que, por maioria de razão, uma tal Travessia implica?
Desperdiçando a oportunidade única que essa mesma Travessia nos estaria a proporcionar abrindo o leque em espectro de trezentos e sessenta graus como o próprio Parlamento Europeu, pela sua configuração arquitetónica revolucionária, já o insinua sem criar entorses que à União, como se vê, a pervertem no patinar em que, sucessivamente, derrapa sem adesão ou com muito pouca à realidade?
Num volte-face que seria crime menorizar e, logo, desperdiçar?
Mão visível que permanecendo equidistante, na Europa ao Parlamento Europeu o viesse, decididamente, a colocar no centro da decisão política e, logo, da decisão democrática?
Emitindo um poderoso sinal de abertura que no Parlamento, Casa da Democracia, à União, com outra credibilidade e fulgor a projetasse no Mundo!
A decisão tem de ser Política.


quando não se vê, não se acerta mas porque vejo, insistirei até que surja
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Maio de 2012

terça-feira, 22 de maio de 2012

PROVA DE VIDA




Constitui este meu blogue, no ritmo a que publico as suas páginas, a minha prova de vida.
Numa produção a uma cadência quase diarística, nele vou expandindo o que de mim a ocasião me proporciona escrever.
Numa visão ímpar porque singular, a minha sem que a veia dê mostras de esgotamento e sem que, na interpretação do real este, na sua complexidade e também na sua coerência, sem quebrar o nexo causal que o caracteriza, harmoniza, tão pouco se esgote.

Prova de vida.
Página após página, texto original após texto original, em prosa ou em poesia, seguem-se uns após os outros os seus postes como se dissessem que sim, permaneço vivo e atento.
Congruente e disponível.
Fazendo-os, uns após os outros, circular em movimento contínuo, circulação sanguínea sem a qual essa prova se esbateria.
Numa dinâmica muito própria que ao meu blogue, se vai crescendo num arquivo ao dispor de quem o queira percorrer o conserva, simultaneamente, vivo.

Às vezes mesmo em derivas para o mural do meu facebook que utilizo, acima de tudo, como sua plataforma de divulgação mas que não se abstém, ele também, aqui ou ali, pontualmente de ter vida própria como aconteceu no seu arranque ou a propósito de uma conversa em francês que nele teve lugar sobre Céu e Terra e da qual surgiu, em francês, o apontamento poético que se segue.


À NOUS

À nous
le ciel et la terre
parce que sans elle
ni mère
et au ciel
ni vol d’hirondelle et au ciel
ni volle d'hirondelle

( dédicace à une conversation avec Dominique Labaume )

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Maio de 2012
 



E se, qual andorinha, cada um dos meus textos e todos no seu sempre inacabado conjunto, em voo rasante qual permanente renascimento, fizessem a diferença, prova de vida, uma Primavera sempre e mais anunciada …!?


vivo porque também Vos escrevo
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Maio de 2012

domingo, 20 de maio de 2012

CÉU E TERRA




Podem céu e terra estar distantes
fechados um do outro como dantes
do mar se dizia ter abismo
ou fenda simulada por um sismo
 
Podem céu e terra virar costas
dizerem-se não mais estarem dispostas
as coordenadas que os cingiram prestas
a ambos os religando como frestas
 
Mas se um buraco no céu volveu aresta
ou cabo ultrapassado num presságio
em tudo o que aqui canto neste estágio

Já tudo o que da terra é apanágio
se importa enaltecer não se abra cismo
no amor que ao céu esconjure sem lirismo


 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Maio de 2012

sábado, 19 de maio de 2012

DO CONSUETUDINÁRIO

isle of skye




Do consuetudinário ou que é comum.
Do que se baseia, funda nos costumes, na prática e não nas leis escritas, no direito.
Pode o consuetudinário harmonizar-se, compatibilizar-se com este último?

É meu permanente costume, de há muito mais tempo do que aquele que é o tempo de vida deste meu blogue, diria que de há mais de vinte e três anos a esta parte, escrever na permanente atitude que aqui se projeta.
É o que escrevo compatível com o incomum e, logo, com o direito?
E, a sê-lo, transforma-se ou não, aquilo que escrevo e que corresponde a uma atitude constante desenvolvida por um cidadão comum, por via do costume, em força compaginável com a lei?
Melhor, conforme à lei e, portanto, dela credora, isto é, merecedora?

É o comum compatível com o incomum?
Harmonizável que sendo pela lei, lei em si mesmo?
Pelo inusual em que se transforma sem que o direito seja posto em causa, muito antes pelo contrário, reforçando-o porque personalizando-se lhe dá acrescida plausibilidade?

De há mais de vinte e três anos que, em Obra que cresce numa atitude que me é comum, constante, me vai tornando, no que pelo consuetudinário no comum se revê, incomum.
Serei dela, dessa minha Obra, também merecedor?
E, à luz da lei, que consequências dela retirar-lhe?
No incomum em que o comum se vai tornando, que ilações tirar?
Nesta atitude de que não abdico e à qual, por compromisso escrito, me sinto, de há muito e facilmente comprovável pela complexidade que não exclui a transparência dos meus textos, vinculado?

Reafirmo-me vinculado a esta permanente, consuetudinária atitude, de ontem para hoje e de hoje para o futuro e sejam quais forem as voltas que o mundo, nesta ilha de céu que laboriosamente vou criando, possa vir a dar.




 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Maio de 2012

sexta-feira, 18 de maio de 2012

ENERGIA




Desfia e descola não pares demora
quando chegará esta minha hora
minha se o é é em ti que ancora
toda a energia que de mim aflora

Em verso ou em prosa o que escrevo canto
em escuro bordado cheio do teu encanto
que tiro de um buraco escondido a um canto
pintado das cores de encoberto manto  

Desfio em silêncio esta minha tora
tributo que presto ao ramo onde mora
o que reinvento de quem sofre e chora

Descolo e o que vejo deste imenso pranto
é o meu irmão que disposto a tanto
mais sabe do que eu ser paciente e santo
 

 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O UM E O ZERO




1+0=  1                           0+1=  1
1-0=  1                           0-1= -1
1x0=  0                           0x1=  0
1/0=  não é possível dividir      0/1=  0


Olhemos para o quadro acima em que zero e um são fatores das operações nele representadas e interpretemo-las à luz dos resultados.
Na coluna da esquerda:
Tanto na adição como na subtração o zero aparece como elemento neutro e o resultado de ambas, absorvente, é a unidade, o um;
Na multiplicação, o resultado é o absorvente zero;
Já na divisão, a unidade é indivisível por zero.
Na coluna da direita:
Aqui, também, na adição, à neutralidade do fator zero, impõe-se-lhe a unidade, o um.
Na subtração do zero pelo um, porém, abre-se a porta à numeração negativa;
E nas operações de multiplicação como de divisão, uma vez mais absorvente, é o zero que se impõe à neutralidade do fator um, a unidade.

Daqui, simbolicamente, extrapolemos:
O zero ou abstração que abre a porta à numeração inteira, a superestrutura, o institucional;
O um ou o concreto da numeração natural, a unidade ou o indivíduo singular, a cidadã ou o cidadão individualmente considerados.
Registaria como primeiro ponto a sublinhar que o indivíduo singular é indivisível pela superestrutura, pelo institucional.
Que somados ou subtraídos e apenas com a exceção da subtração do zero pelo um, prevalece sempre, absorvente, a unidade, o indivíduo singular sobre o institucional.
Que ao institucional, subtraída que lhe seja a unidade, a cidadã ou o cidadão individualmente considerados, se abre a porta à numeração negativa.
E que, nas restantes operações e independentemente da ordem dos fatores, absorvente, o institucional se lhes impõe.

Há nos resultados elencados uma aparente simetria, a absorvência, como lhe chamo, do um nas operações de adicionar ou de subtrair por um lado e a absorvência do zero nas de multiplicar ou de dividir por outro lado, apenas com duas exceções que, diria, são também simétricas entre si.
Assim:
Uma, aquela em que o resultado da subtração dá lugar à numeração negativa ( 0-1= -1 ), o outro lado do espelho e a outra, aquela em que o resultado da divisão não se pode apurar porque a operação não é possível realizar ( 1/0 ).
Daqui concluo:
A unidade não deve mas pode subtrair-se ao institucional;
O institucional não pode dividir a unidade.

Nestas observações da mais elementar aritmética não podia sobressair mais clarividente a essência da ideia democrática.
Da ideia democrática, sublinho-o uma vez mais:
O institucional ( o zero ) está impedido de dividir a unidade, o indivíduo, a cidadã ou o cidadão individualmente considerados, indivisíveis que o são ao encontro, aliás, da carta dos direitos humanos fundamentais mas o cidadão, a unidade, o indivíduo singular pode, embora o não deva, ao primeiro subtrair-se-lhe dando origem à numeração negativa no espelho que o institucional do primeiro, da unidade é ou deveria ser.
Quebrada que seja a simetria, a proximidade, a igualdade à imagem da qual o Estado Democrático foi a pulso erguido, consigo se estilhaça, numa matemática anti natura, a ideia democrática.

1 = 0.
Um e zero não são uma e a mesma coisa mas são feitos à imagem um do outro.
Não o indivíduo à imagem do Estado mas este último à imagem do primeiro que não devendo sempre se lhe pode subtrair, repito ou, pelo menos, ter a última palavra.
Em tese podíamos passar sem Estado mas este não podia passar sem cada um de nós nem hoje nós sem o Estado e ele existe porque é ou deveria ser o somatório de todos nós.
Historicamente, porém, na sua génese, o Estado impôs-se como usurpador ao indivíduo e, ainda hoje, sobreleva a desconfiança que, pese embora a democratização crescente, entre si, inquinados os relaciona e tanto mais quanto a crise se agudiza.
Mas no dia em que o um, com toda a evidência, no zero se poder rever, ultrapassado pacificamente o rubicão que assimetricamente os tem vindo histórica e inevitavelmente a aproximar, essa relação de desconfiança, poderoso enguiço, será quebrada com resultados matemáticos e, por isso também, económicos exponenciais ainda hoje, positiva e ainda que pela negativa, difíceis de antever.


 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Maio de 2012