de um cartaz alusivo ao Dia Internacional da Mulher, Jornadas do Parlamento Europeu, 8 de
Março de 2012
( … ) tenho
ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas
ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. ( … ) do Evangelho segundo S. João 10, 11-18
Da penúltima página, De 25 ao Dia 1, passando pela página
anterior, Sagrado e Profano e
culminando aqui, esta citação do Evangelho
Segundo S. João, subiu de nota de rodapé para o meio da página e, agora,
encimando-a por fim.
A diferença entre
fundamentalismo ou uma visão crítica e ainda que crente ou crente por maioria de razão que se tenha, reside nas leituras mais ou
menos literais que dela, duma, desta citação, se façam.
Uma visão fundamentalista
não admite outra senão a leitura, a interpretação que a essa visão a enforma e
assim, ao que está escrito retira-se-lhe toda a riqueza que lhe subjaz e que a
muitas outras leituras permite fazer, razão pela qual, aliás, essa citação
perdura no tempo.
É para mim claro, convenhamos,
que duma, desta citação não se lhe pode fazer tábua rasa do que está escrito
nem, muito menos, tábua rasa do contexto em que é proferida.
A não se terem em conta
quaisquer destes dois fatores, a letra de forma como o contexto, cai-se no
relativismo puro e duro.
A terem-se, contudo, ambos
os fatores em linha de conta, induz-se a essa mesma citação a relatividade sem
a qual ela não seria inteligível.
Compreensível à luz da
razão plural, ela só pode ser plural e tanto
mais quanto prenhe de metáforas o for, de uma determinada época.
Escrevo, na página
anterior e de passagem, sobre o equívoco das cruzadas.
Uma vez acontecido, dele
não há como voltar atrás, equívoco
histórico relativo, portanto.
Acrescentaria aqui que
desse equívoco, ainda hoje estamos a pagar uma pesada fatura!
Não nos esqueçamos que, ao
tempo das cruzadas, o mundo muçulmano florescia civilizacionalmente como não
acontecia com o mundo cristão e que a pedra que este, então, ao primeiro lhe
lançou lhe recai em cima, agora e de volta, em islamismo militante …
Mas vamos ao ponto:
Na minha ótica, Cristo não se pretendia erguer contra os
outros:
Nem contra o Império, nem contra os Judeus nem contra
fossem quais fossem as religiões, à época, vigentes.
Cristo rebelava-se contra, essa sim, a práxis social e religiosa acomodada então
vigente, que se poderia transportar para os nossos dias e mesmo para o interior
do próprio cristianismo.
Ao proclamar-se filho de
Deus rebelava-se contra o estatuto divino, único do Imperador e afirmava a natureza sem exceções e universal da
Humanidade no seu conjunto.
Nesta proclamação, logo
que enorme impacto político!
Do mesmo modo, ao referir
as outras ovelhas que pretendia reunir e que não pertenciam ao redil, falava
daquelas que permaneciam tresmalhadas.
Tresmalhado ou que está
separado dos outros, como acontecia, no mundo de então, com as mulheres e como
pelos séculos fora e ainda hoje se verifica!
A Mensagem de Cristo era, já então, e pesem como
pesassem todos os etnocentrismos que às sociedades as dominavam e, tanto mais
quanto sob o jugo do Império, uma
mensagem universal e, nesse sentido, radical:
As mulheres tinham, à data,
no interior do Império como nas
sociedades sob o seu jugo, um papel tresmalhado, separado daquele do mundo dos
homens e por mais elevado que fosse o seu estatuto.
A Sua mensagem, tanto mais
radical, atual quanto etnocêntricas eram as sociedades de então, etnocentrismo
que ainda hoje, por todo o lado, permanece latente, assentava numa matriz axial
tão mal ainda que justificadamente, à luz
da História porque ela desenrolou-se assim e não de outra maneira,
interpretada ao longo dos tempos:
Revisita-te a ti mesmo e
não apontes o dedo ao Outro, diria.
Ou, não caias na tentação
de ver no Outro ou nas outras culturas o mal que a ti próprio ou à nossa a
dilaceram e que numa fuga em frente do Outro, estando em nós, somos levados a
querer extirpar e mesmo se de crentes se tratarem embora na nossa religião
não se revendo.
Revisita-te a ti mesmo, individualmente considerado ou na cultura em que te integras e nesta, repito, à época, as mulheres, essas sim, eram ovelhas completamente tresmalhadas.
Revisita-te a ti mesmo, individualmente considerado ou na cultura em que te integras e nesta, repito, à época, as mulheres, essas sim, eram ovelhas completamente tresmalhadas.
E ainda que, subliminarmente,
porque esta minha possível leitura também está lá e pesem todas as demais
interpretações, porque linhas tortas a
História não se escreve (!), tendencialmente, por avanços e recuos, se vá
caminhando para um estatuto de igualdade sem que este signifique, muito antes pelo contrário, o fim da História.
E não apenas entre nós!
Mas entre nós, a prevalência da ambiguidade de que escrevo é um perigoso
impasse que à regressão pode conduzir:
Tanto à regressão social como ao tresmalhar do próprio rebanho!
Tanto à regressão social como ao tresmalhar do próprio rebanho!
Deus escreve direito por linhas tortas e a Igualdade, na
Liberdade, é a Sua pedra de toque
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Maio de 2012
2 comentários:
que sim!
e
quanto mais sério o tema, mais a imagem me recorda "Tacones Lejanos" de Almodovar :)
o sagrado habita com o profano e riem-se
MANUELA BAPTISTA
... e quando se riem a Humanidade cresce!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Maio de 2012
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