Tem ou não tem a palavra,
pela sua própria natureza, o poder de nos tocar?
A não tê-lo, deverá ela
deixar-nos indiferentes, descomprometidos, expurgada que a palavra devesse
ficar da sua própria carga semântica, tornando-se inócua?
Ainda uma terceira
reformulação da pergunta:
Admitindo, por um momento
que fosse que a palavra seria inócua, de que nos serviria ela?
Começando pela última das
reformulações e com ela a todas as anteriores perguntas lhes tentando responder,
a ser inócua, a palavra não nos serviria de e para nada.
Sendo inócua e, por isso
mesmo, não nos tocando ou comprometendo, a palavra seria um escusado e
dispensável extra.
As ideias que as próprias
palavras traduzem seriam uma absurda inutilidade.
Tocar.
Tocar, comprometer,
impressionar, incomodar, desinstalar, transformar tanto para o melhor como para
o pior, esperemos, estou certo que tendencialmente para o melhor.
Só assim, nessas
capacidades que ela tem, a palavra ganha sentido pois que é disso mesmo que se
trata:
A palavra sensibiliza,
racionaliza, dá vida.
Ela não nos deixa nem nos
pode deixar indiferentes e com outras palavras conjugada, muito menos ainda.
A palavra é a mais potente
de todas as imagens.
Tão potente que ela altera
a própria perceção que temos da realidade.
Senão pondere-se:
Não fora a palavra e o que
seria dos objetos que compõem o real, naturais ou não e, nestes últimos, tal
como seja, por exemplo, uma cadeira?
O que terá surgido
primeiro, a ideia dela, da cadeira traduzida na sua própria conceptualização ou
a cadeira propriamente dita?
O simulacro da cadeira
talvez que a tenha precedido, mas que dizer do objeto que em si mesmo lhe dá
nome?
E deixo-vos com esta e com
a pergunta que se segue, mantendo-as no ar, na certeza de que a própria
capacidade de nos interrogarmos de que este meu texto é, em si mesmo, um
exemplo concreto, sem a palavra, não se teria desenvolvido ao ponto de criarmos
uma cadeira.
E a Criação, o que seria
dela e, a havê-Lo, do seu Criador sem os conceitos, elementos, em suma, sem as
suas palavras constituintes?
A palavra, mas que
extraordinário input!
Uma coisa é certa:
Mesmo se tudo já lá estava,
antes da palavra era o caos e ainda que ressoante de um cadinho ou Input matricial, Big Bang criador.
a todos os que independentemente de
acreditarem ou não, democratas, na palavra fazem por centrar a soberania
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Janeiro de 2016