quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SEGUNDO JLF

DA CRIAÇÃO AO APOCALIPSE
-
No princípio era a palavra, o signo ou input, um Eu sem limites nem fronteiras, mergulhado no caos e logo pela palavra o caos organizou-se.
À esquerda do Eu o divino, à direita o sibilino, em luta titânica ao Eu, nos seus inquestionáveis limites, o condicionaram retirando-lhe a liberdade sem fronteiras e obrigando-o a comer do pão que o diabo amassou em busca da sabedoria que o pudesse reconduzir e o fizesse reencontrar o paraíso perdido.
O Eu fez-se então um deus, uma multiplicidade de deuses para todas as situações, prostrados diante de um Eu maior e inquestionável à volta do qual os eus se situaram na inquestionabilidade do privilégio de se ser o deus de todos os deuses e no progressivo reencontro brutal de todos eles.
Um Eu houve, então, que se afirmou filho de um Deus maior e irmão de todos os outros eus, sem excepção, subvertendo a ordem estabelecida.
Condenado e por todos sacrificado recentrou Deus entre os deuses e colocou-O ao alcance de todos os eus, perante O qual, todos os eus passaram a ser irmãos e iguais.
Os eus, na subversão estabelecida e sempre replicante do caos, guerrearam-se entre si na presunção descabida de se continuarem a achar mais do que os outros e usurpando Deus aos deuses e aos eus.
Até que entre si se reviram uns nos outros, reconhecidos todos nos limites do mundo por explorar, depois da imensa e prolongada Diáspora que a todos os pôs, irremediável e definitivamente, em contacto.
O Eu percebeu, assim, quão longe poderia ir entre os seus pares, permanecendo um igual e em nome de todos os seus iguais, para que todos pudessem ir mais longe, sempre e cada vez mais longe.
E o céu abriu-se como o mar, a sangrarem, oferecendo novos e desconhecidos mundos ao mundo por explorar e que pelos eus, por todos eles devessem ser cuidados.
Quer os conhecidos como os desconhecidos eus ...
Aos eus, as palavras e os signos abriram-se-lhes também em profundidade por conhecer e que aos poucos e logo depois pela música, melhor os ía fazendo ver cada vez mais ...
Desmaterializando-se quase sem darem por isso, no império, todavia, da matéria a que ficaram, para sempre, amarrados, espírito e corpo, corpo e espírito da morte se íam, por esta via, libertando, em busca da Vida sempre por realizar no anunciado apocalipse que pela morte e em permanência se realiza também.
Deus tinha, sabemo-lo, descansado e sabia o que fazia porque o trabalho tinha sido delegado, à Sua imagem, em todos os eus!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Outubro de 2009

terça-feira, 27 de outubro de 2009

FADO

Quem canta o fado
magoa
ergue a voz até que doa
é este meu fado
Malhoa
uma pintura que ecoa
-
Quem canta o fado
destoa
perde-se pela Madragoa
é o meu fado
o que soa
ao que não se escreve à toa
-
Quem canta o fado
Lisboa
no fado a vontade é boa
se ela ao meu fado
ressoa
cria o meu destino à proa
-
( Editado em primeira mão em O fado de Malhoa de 27 de Outubro de 2009, http://sete-mares.blogspot.com/, página do blogue Sete Mares do meu Amigo Jorge Castro, aqui revisto e corrigido )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Outubro de 2009
José Malhoa, Fado

ESPERANÇA QUE IMPERE

Se a esperança não imperar, a justificação para o terror encontrará sempre irremediável lastro.
Isto, pese embora termos chegado até aqui, a um ponto em que gozamos, partes cada vez mais relevantes do Globo, do privilégio de não ver as liberdades restringidas ou cerceadas o que, com responsabilidade, significa, entre outras coisas tantas vezes desvalorizadas, que nos podemos exprimir livremente.
Mais, graças às novas tecnologias nas quais se inclui esta ferramenta que utilizo, nunca antes, a voz de um cidadão comum conseguiu, por seus próprios meios chegar tão longe e ser tão significativamente amplificada!
Mas toda esta construção, a construção do Edifício Democrático que à Democracia Representativa soma e como nunca a Participada, assenta, todo ela, repito, numa laboriosa luta feita de séculos e de sangue, de violência, é bom não esquecê-lo (!), que ao Edifício o inquina e enquista explicando-se logo e a essa luz quanto o terror, ele próprio como quisto subcutâneo, subterrâneo a essa árdua conquista a ameaça de subversão que o terror, ele mesmo a representa e ao Edifício o interpela, ameaçando-o ou melhor, desafiando-o.
Será que o poder e mesmo que democrático é ainda a remanescência que sobra da autocracia derrubada mas não dada, sustentadamente, por vencida?
Será que a desconfiança vis a vis o poder, como manifestação larvar desse inquinamento, não pode, ela própria, ser ultrapassada?
Será, por fim, possível dar lugar à esperança, à esperança que impere e que à Democracia a enraíze com outra sustentabilidade e aprofundamento, aproximando-a e reconciliando-a com o cidadão comum?
E se tal fosse, é possível (!), que catalisador mobilizador de vontades não seria criado, susceptível de libertar energias insuspeitas capazes de desbloquear quantos nós górdios num novo Paradigma que aos impasses em que patinamos os fosse capaz de resolver, neutralizando com outra eficácia e em simultâneo o terror ...!
A imperar, sustentada e enraizadamente, a esperança, generosa e sem cegueiras nem facciosismos ...
-
-
( ... )
Ah, if you wish to please me,
cast aside your suspicions;
do not weary me
with these irksome doubts.
-
He who blindly believes
obliges one to keep faith;
he who always expects
to be betrayed invites betrayal.
-
( La Clemenza di Tito, Mozart )
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Outubro de 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

QUE JUSTIFICAÇÃO

Que justificação poderá haver para um atentado onde morrem para cima de cem pessoas e centenas fiquem estropiadas?
Que justificação para qualquer outro em que apenas uma sucumba?
Que justificação ...?
Que justificação para tirar a vida a alguém?
Que justificação para o hediondo de um crime?
Que justificação ...?
Que justificação para transformar um crime em bandeira de uma causa?
Que justificação para uma causa manchada de sangue?
Que justificação ...?
Que justificação se afirmará pelo não ser?
Que justificação pelo estropício encontrará razão de ser?
Que justificação ...?
Que justificação encontrar para a vida que pelo assassínio se perpetue?
Que justificação se poderá perpetuar ceifando a vida?
Que justificação ...?
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Outubro de 2009

ACCELLERANDO

Acelera
acelera
acelera minha hera
cresce por todos os lados
cobre tudo
verde espera
veste de esperança alada
salta muros
outra era
quais murmúrios
ladainha
não é como a erva daninha
raiada da cor da vinha
não é triste
ilumina
é o sino duma igreja
que incita a que eu seja
mais do que aquilo que vejo
no limiar
do ansejo
doce manto
não é fera
estende-se por toda a esfera
ai respirar do que sinto
Virgem minha
tenho um filho
não chores
que eu não minto
tenho um livro que se escreve
sou dele o seu almocreve
recoveiro
não prescreve
ai acelera
acelera
tempo da esperança que impera
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Outubro de 2009

sábado, 24 de outubro de 2009

HARMÓNICOS

Sou diapasão dos antónimos
da música colho os harmónicos
ou se quiserem sou eco
e dos relevos sonar
-
Sou das palavras ressoo
que delas fica a vibrar
e a vontade de ser
para lá delas um mar
-
Sou de uma nota o cromático
de todas elas enfático
o que o som deixa a sangrar
-
Sou eu do som o soar
permanente transpirar
um salmo que fica no ar
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Outubro de 2009
Sonar map

IMAGENS

Ai as imagens da língua
que a cantar pinta à míngua
de um desenho que a ver
logo a transforma num ser
-
Ai a vontade de querer
tão mais dizer no escrever
que à minha língua a finta
no que a dizer ela pinta
-
Não poderei eu esquecer
o que está escrito com a tinta
do que a escrever é a cinta
-
Que às minhas palavras dá cor
no que estaria por pôr
sem às palavras dizer
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Outubro de 2009

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O QUE MAIS IMPORTA

O que mais importa é que cada qual dê o melhor de si mesmo.
Eu dou o melhor de mim mesmo quando escrevo!
Quando escrevi a Trilogia que a esta página a antecede e a sua primeira parte em particular, Há Coisas, sabia que reacções seriam desencadeadas ...
Pese me ter indirectamente pronunciado, logo calculei que nomes viriam à baila e muito embora o que escrevi não se reportasse à obra de um escritor, friso, mas a pronunciamentos públicos feitos por ocasião do lançamento de mais um dos seus livros que, sabe-lo-ia logo quem os fez, viriam a ser truncados do seu contexto e deles amplificadas apenas aquelas partes que, eventualmente, provocariam maior impacto e acalorada discussão que, em si mesma, aliás, não tem nada de mal.
E não sei se terão reparado mas essa minha página mais se dirigia a controlar variáveis, que sempre as há, perversas aliás, e que, se alimentariam os coros de apoio ou de indignação, nada contribuiriam para a reflexão desapaixonada, essa sim, susceptível de acrescentar luz adicional à tão melindrosa temática sugerida.
Depois, na segunda parte da Trilogia, como se num diálogo surdo com o escritor, concordo sim (!), como seria possível negá-lo mesmo se sendo pessoa de fé (!?), que a imagem de um deus mau, austero e vingativo percorre a História e coexiste ainda nos nossos dias e, por fim, na sua terceira parte, concluo, e como se falasse já directamente com o escritor, que o que mais importa é a exigência que punhamos, todos nós e quer sejamos crentes ou não crentes, em fazer bem e melhor.
Esse, afinal, é o traço distintivo das pessoas de bem e que sabem que mais importante do que invocar a divindade a torto e a direito ou enxovalhar a fé é não só ter esperança como tudo fazer por um futuro melhor!
Quanto tempo não se perde, quantas vezes, em quezílias e em discussões estéreis das quais beneficiados saem os fundamentalismos de todas as estirpes e sempre em prejuízo do são convívio cosmopolita, pacífico e multi-cultural ...
E, por fim, o frente a frente entre Saramago e Carreira das Neves, civilizado e esclarecedor, na integração, inclusão da heresia como da dissidência!
Como mudaram os tempos em benefício do que mais importa, de um Deus bom ou compassivo ou da não crença onde o que sobreleve, dos dois lados, é a vontade de, pela excelência, contribuir para o melhor, para a reflexão que faça luz ...
Não acreditas, eu sim e depois!?
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Outubro de 2009
Dissidência

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

À IMAGEM

À imagem de Deus
também o Homem vem sofrendo mutações
assim como
a imagem de Deus
metamorfoseia-se à medida das mutações do Homem
-
Não que Ele
Deus
não tenha sido sempre bom
antes porque o Homem
histórica e tendencialmente
Dele se tem vindo
por avanços e recuos a aproximar no fosso que
todavia
Dele o distancia como poderá reconciliar também
-
Deus
se é Amor é bom
mas não pode fazer o que
apenas por acção do Homem
que arredado foi do Paraíso
o queira e assim decida
-
E mesmo assim
-
Deus não é absolutista
e nesse sentido
também não é omnipotente
-
Deus não pode interferir assim
ao sabor de vontades e caprichos
-
E é que
o Homem
no território que
na metáfora
foi colocado à sua guarda
pode fazer
bem melhor
-
Mas ainda que Deus não exista
como o dirás
não deixaria de caber ao Homem
essa tantas vezes protelada
exigência
-
A exigência de fazer bem melhor
-
E nisto
estamos ambos de acordo
e é o que mais importa
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Outubro de 2009
Masaccio, A expulsão do Paraíso

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

ERA UMA VEZ

Houve um tempo
em que o pai era mau
lugar não tinha o umbigo
mas hoje quer-se o pai por amigo
-
Nesse tempo em que a tribo
era fechada agressivo
era o pai a quem bem digo
mesmo se mau e olvido
-
Coerciva era a Lei
a majestade e o rei
era divino o castigo
autoridade sem trigo
-
Veio depois a vontade
a abertura irmandade
globalidade e o austero
declinou-se no pretérito
-
Veio o amor a saudade
de ao pai o querer como amigo
à mulher solenidade
à Liberdade eu vos digo
-
Saudade de um outro futuro
de Igualdade e do muro
caíram paredes e ameias
da Paz o sangue nas veias
-
Novos tempos outro invento
lições castigos e teias
quebrantou-se o intento
de ao pai o ver qual tormento
-
Dos velhos tempos memória
o passado desta História
melhor seria a glória
de tê-lo sem acrimónia
-
Na poética profética
fica a guardá-la a Ética
de ao que escrito querer
ver mais longe do que o Ser
-
( Sim, Deus era austero, vingativo e mau como hoje em todas as Suas dimensões essa visão continua, infelizmente, a coexistir connosco e nos nossos dias, mas se Ele é Amor então e como o escrevi em texto de fundo já com alguns anos, Ele é, sobretudo, Constitucional e Democrático ...
As minhas são palavras então tornadas públicas, sem afrontamento e bem medidas e que não encontraram, até hoje, quaisquer resistências! )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Outubro de 2009

terça-feira, 20 de outubro de 2009

HÁ COISAS

Há coisas sobre as quais prefiro não comentar, é certo que ao escrever o que aqui deixo já estou, indirectamente, a fazê-lo (!), apenas por achar que não devo contribuir para o acirrar de guerras culturais ou religiosas o que, paradoxalmente, apenas contribui para alimentar todos os fundamentalismos de carisma seja religioso, agnóstico ou ateu, que os há em todos os campos!
Há coisas que, repetidas, se da primeira vez poderão contribuir para o espicaçar das consciências e isso, em si mesmo, já é bom (!), à segunda podem saber a requentadas ou, como dizia um amigo meu, a ajuste de contas ressabiado que se satisfazem, eventualmente, os contendores, acabam por se transformar em comédia para não dizer mais, em simples campanha de marketing.
Há coisas que estão na plena legitimidade opinativa dos próprios que as desencadeiam mas valerá a pena dar-lhes assim tanta importância!?
Há coisas que não as conhecendo ainda na sua profundidade, se sabem, à sua superfície, à flor da pele a provocação, delas só se deixa apanhar quem quer, não eu (!) e às quais na mesma moeda aqui e com fair play respondo como quem diz que cheiram, eventualmente, a manual de ilusionismo!
Há pessoas que se servem da fama que criaram e outras que servem na fama de que, eventualmente, sejam credoras ...
Há coisas que postas no devido lugar, talvez possam contribuir para desencadear a reflexão despida dos calores que, quando tomadas a peito e unilateralmente, facciosamente, para ela não contribuem no azedume descrente, embora por crente se possa considerar (!), de quem se sente, irremediavelmente, visado.
Há coisas que, não querendo comentar indirectamente o faço, na esperança de que não sejam ateados rastilhos desnecessários, que contra os próprios que os ateiam, se viram!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Outubro de 2009

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TU E EU

Tu, em Histórias Com O Mar Ao Fundo, http://historias-com-mar-ao-fundo.blogspot.com/ e eu, aqui, entrecruzados ainda pelos comentários que em ambos e noutros blogues vamos semeando, reflectimo-nos por essas vias e damo-nos a conhecer até aos limites que estas ferramentas e as nossas próprias limitações nos permitem, num jeito que tem a presidi-las, a presidir às nossas intervenções, o improviso que a criatividade nos vai facultando.
Encenação?
Só se for no que, pela escrita, necessária mas não calculisticamente e logo pela natureza do seu registo se realiza.
Tu contas histórias, eu intervenho na História ...
Vale uma história menos do que a História?
Não é a História feita de muitas histórias?
O que são as tuas histórias?
São parte da minha história como a minha na tua, de muitas também se integra.
E como se intervém na História, contando histórias ...!
Tu e eu somos um só na imensa diversidade que nos caracteriza e que no teu como no meu blogue se vai dando à estampa, tu na serenidade mansa, calma que te é própria e eu assim, na intempestividade apressada, ingente que, por demais, a mim se cola.
E nesta nossa complementaridade, que feitos vamos conseguindo realizar!
Consegues medi-los?
Eu bem tento, mas o que importa é o nosso invento!
-
Eras silêncio doce
ouvias-me sem cessar
em histórias multiplicou-se
esse teu querido calar
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Outubro de 2009

domingo, 18 de outubro de 2009

PELA GREI

Dou a vida pela Grei
mas se se puder poupar
a minha vida
também
em que se poderá tornar
o que tenho para dar
em nome do povo
do estar
da alegria
e do mar
das gentes que a respirar
saibam o que tenham para dar
-
Dou a vida pela Grei
mas em tudo o que já dei
ouvidos moucos
eu sei
que fingindo serem ocos
presumem que não sou rei
da vontade
que criei
que pode mais do que aos poucos
ser esta vontade que dei
-
Dou a vida pela Grei
não façam de conta
que é monta
não vos obstinais
messiânicos
mais papistas do que o Papa
como se fôsseis titânicos
pusilâmines satânicos
que aquilo que dou
tem balsâmicos
elixires
do existir
não tão fugazes
dinâmicos
-
Dou a vida pela Grei
mas não confundais os ditames
que me movem pela lei
sem sangrar em vãos derrames
-
( Alceste deu em sacrifício a sua vida pelo rei e pela grei mas os deuses dela se compadeceram )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Outubro de 2009
Christoph Willibold Gluck

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

DEDICATÓRIAS

Serve este meu pequeno texto para homenagear aqueles que, como o José Ferreira e que me perdoem as senhoras, neste meu blogue não se acanham em mostrar a sua vivacidade de espírito não se furtando também ao confronto de ideias que tanto valorizo e me estimula.
Cê ao quadrado ...
Cérebro vezes cérebro vezes massa igual a energia ou, se quiserem, reformulação da fórmula da relatividade, E = mc2, ajustada ao universo humano em que o pensamento, pela interacção recíproca, aqui simboliza a velocidade da luz reflectida, cerebralmente, em som ou na sua representação escrita.
Pese embora todo o desgaste que esta provocará e que José Ferreira como eu próprio o admitimos já, verdade se diga que é dessa interacção que se potencia a energia sem a qual não saímos do mesmo sítio e ficamos a marcar passo.
Os nossos diálogos que registados estão nas caixas de comentários desde meados de Setembro, poderão ser revisitados e cada um poderá retirar as ilações que entender ou encontrar pistas que eventualmente conduzam ao aprofundamento do diálogo, da reflexão, sem os quais dificilmente a energia se poderá exponenciar.
No José Ferreira, aproveito, já agora, para brindar a todos os que, fidelíssimos, me acompanham desde sempre.
A todos Vós e a meu pai, meu mestre, Jaime Ferreira como eu, que neste dia celebrava o seu aniversário!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

TRANSPOSIÇÕES

DE
-
Auf deutsch
hab' ich gesehen
wie bleibt
die Blume
stehend
dass wie ein König
sich aus der Erde hebt
wie begleit
bei der Sonne
und so scheint
PARA
-
En français
j'ais vue
florrissante
une fleur
puissante
comme un roi
quand elle de la terre
se lève
brillante
contemplée par le soleil
E PARA
-
Em português
eu vi
contemplada a flor
que da terra
se ergue
aspergida
como um rei
benzida
ao nascer
do Sol
-
( Nas três líguas, partindo do alemão e nesta sequência, vi o que escrevi, em todas elas, de maneiras diferentes! )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Outubro de 2009

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

UPSIDE DOWN

Upside down
everything
and every sound
if I feel
better will be
and see
through the mouth
more than a pound
the sky or sea
all I rode
and wrote
have found
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Outubro de 2009

terça-feira, 13 de outubro de 2009

SABER SITUAR-ME

Um dos problemas deste suporte como, aliás, de todos, é saber situarmo-nos.
Que quero dizer com isto?
É saber que estando aqui a escrever, não o fazendo apenas para deleite próprio, o faço tendo em mira não apenas a objectivos mas a um público e que, portanto, a ele também me dirijo.
Esta é uma das tais preocupações recorrentes que me perseguem e que me remetem, para que melhor me situe, a saber a quem me dirijo, como caracterizar esse público que, eventualmente, me leia.
Eu considero este meu blogue como uma plataforma, uma página e um arquivo que disponibilizo, página e arquivo públicos, qual espólio de jornal ou pequena folha que ao público casuístico e em geral tem também por destinatário.
Assim sendo, não posso deixar de ter em conta esse mesmo público que errado seria caracterizá-lo apenas a partir daqueles que aqui vêm depositar os seus comentários ou reflexões ...
Na sua caracterização, porém, não o defino, singularmente e na sua imensa diversidade, antagónico de mim próprio, isto é:
Se tenho angústias, perplexidades, dúvidas, palpitações ou certezas, parto do princípio que a essas, assim ou de outra forma, também aos meus leitores os assaltam.
Seria, aliás, estultícia, partir de outro que não fosse este princípio!
Não baixarei pois o nível da conversa, isto é, das reflexões aqui produzidas, não cedendo, assim, à tentação de menorizar esse meu público o que seria, afinal, o mesmo que menorizar-me a mim mesmo:
O Outro na sua indefinível diversidade é tão diverso quanto eu o sou!
Já agora e como sempre o faço, continuarei a partir do princípio de que aos meus leitores também os move a curiosidade que, não me obrigando, por sistema, a repetir, porque há, em tudo o que escrevo toda uma linha de coerência, os levará a folhear-me para trás, nesse que é, atendendo à curta longevidade que este meu blogue tem, ser já um arquivo relevante que muito me orgulha, na vontade que os anime de, vasculhando-me porque me exponho, melhor me compreenderem.
Se tal seria o que, movido pela curiosidade como sempre o sou, eu faria, também aí é nesse pressuposto que, julgo, sereis tentados a agir.
E, já agora, como tereis oportunidade de aferir, o que eu escrevo, escrevo-o sem muletas e em nome próprio, apoiando-me em mim mesmo, na complexidade, porque não há quem a não tenha, em que me vou revelando.
Escrevo em nome próprio como de outra maneira não acrescentaria valia adicional a toda a complexidade da realidade que de nós todos, pela exposição a que livremente nos sujeitemos, se acrescenta!
Roubando como o autor o faz, ele é um ladrão subtil (!), escrevendo de minha justiça e ainda que Vos pareça que iludida ou de enganos feita ...
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Outubro de 2009

domingo, 11 de outubro de 2009

ANDANTE ASSAI

Caros Leitores,

Após cumprir com as minhas obrigações que a este dia se impõem, nomeadamente no que toca ao dever de eleitor que, mais uma vez, me chamou, agora para eleger os representantes autárquicos que hoje e entre nós se escolhem, volto ao Vosso convívio.
Depois do regime de produção intenso que em Agosto me levou e a contra-corrente, à produção de duas páginas diárias e da redução que, a mim próprio me impus e da qual Vos dei então conta passando a apenas, sensivelmente uma só página por dia transitando, como logo Vos participei, de um andamento Allegro vivace para outro Andante con moto, decido agora reduzir ainda mais, para um Andante assai que me reabasteça de energias que pelas pausas intercalares se façam sentir, por um lado e dando-Vos também outro espaço e tempo para a reflexão que se vem revelando tão profícua.
Esse silêncio que em mais acentuadas pausas ou em mais extensos intervalos se venham a traduzir, é bom conselheiro como não menos o são as Vossas interpelações.
Imponho-me pois um andamento mais lento que me obrigue, porque sei que se criam hábitos (!), a espaçar a edição de novas páginas sem a obrigatoriedade diária que sobre mim próprio se acabava por fazer sentir e pesar.
Andante assai passará a ser o andamento e até ver, sendo certo que disporei de todo o tempo para responder às Vossas solicitações como até aqui na animação que, com prazer, constato vir caracterizando o movimento que às minhas/Vossas caixas de comentários as vão animando.
Prazer e orgulho!
Tinha, no entanto, de Vos dar conta desta minha decisão e logo para que não Vos sentisseis frustrados nas Vossas expectativas.
Vosso
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Outubro de 2009
Sergei Prokofiev

sábado, 10 de outubro de 2009

ALCANCE ÍMPAR

Quero, desde já e em primeira página, deixar aqui o sublinhado registo da atribuição do Nobel da Paz a Barak Obama, na perplexidade que, aliás, esta mesma atribuição, de alcance pró-activo incalculável, já começou a suscitar.
Quem diria que esta distinção alguma vez viria a ser atribuída a um Presidente dos Estados Unidos da América, de uma super-potência ...!?
E que sinais ela mesma não transporta na responsabilidade e comprometimento que a Obama o enlaça, redobradamente, na implementação da Paz!?
Registo esta atribuição com indisfarçável agrado, sem quaisquer reticências e esperançado que um novo e poderoso impulso seja dado na arena internacional em prol do seu enraizamento, do enraizamento da Paz que pelo desarmamento, na multilateralidade, no respeito pelo Direito Internacional e na Sua cada vez mais duradoura e global efectividade se implementa!
Sinal acrescido do que aqui acabo de exprimir é a aceitação pública expressa pelo próprio Presidente dos EUA na compreensão por Ele assumida desse que é um imenso e acrescido encargo que Lhe ficará a pesar sobre os ombros ...
Felicito-O com regozijo!
Pela Paz!
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Setembro de 2009

Pelo Rigor Histórico

Do que escrevi gostaria de fazer, à posteriori, uma precisão que, das palavras desta minha página, injustamente, não quererei que se infiram:

Por duas vezes já, anteriormente, Presidentes dos Estados Unidos da América foram agraciados, noutras circunstâncias é certo, por tão nobre distinção, o Prémio Nobel da Paz:

Theodore Roosevelt em 1906 e Jimmy Carter em 2002, Este último, já muitos anos depois do fim do Seu mandato presidencial.

Jaime Latino Ferreira

Estoril, 13 de Outubro de 2009

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

NO SILÊNCIO

~ . ~
Vou escrever sem outros adereços, sem imagens e sem música anexa.
Por uma vez no silêncio destas palavras, sem ruído adicional.
Elas ou valerão ou não valerão por si mesmas ...!
Cumpre-me dizer, já agora, que é na palavra que, com ou sem outras ilustrações ou motivos de distracção, eu deposito todo o meu investimento.
As palavras ou valem ou não por si mesmas.
Eu estou em crer que num texto, num texto como este, este ou outro (!), elas poderão ser tão animadas que, pelo seu dinamismo, instilem vida ainda que aqui depositadas e aparentemente inertes, inanimadas, estáticas.
Mas, na sua conjugada tensão, quem as leia como se se introduzindo no personagem que as escreve, metendo-se na sua pele, no exercício que pela leitura, em silêncio ou em voz alta se faça, logo ganham vida como se o personagem, eu próprio, Te desafiasse a meter na minha pele e sugerindo a representação de um papel, papel real que é o meu e que em Ti se reflecte e desafia a replicar-se.
O meu, o Teu, o de qualquer um!
Já estás a ler em voz alta?
Não!?
Então concentra-Te primeiro no silêncio e sem adereços veste a pele nua do personagem que por esta via, pela palavra a Ti se dá:
Primeiro faz silêncio interior, tão próximo quanto o do que destas palavras se desprende;
Nessa atitude que é, em si mesma, musical, concentra-Te;
Por fim, atira-Te a ele, a mim e encarna quem a este texto o escreveu lendo-o em voz alta.
Enganaste-Te!?
Então cola as passagens onde tropeçaste e depois essas ao período em que se encaixam e o período ao texto todo até este Te sair fluente, devidamente entoado e respeitando os seus silêncios e pontuação.
Já está!?
Não, então cola bem tudo, repete tantas vezes quantas as necessárias, sobretudo as passagens em que Te engasgas e assume o papel e ainda que a tudo o tenhas de soletrar primeiro e ler muito lentamente!
Não é assim tão simples ler em voz alta mas a verdade é que, aquilo que desta forma se lê, adquire outro relevo e plausibilidade.
Depois, clarificada também a dicção, coloca a voz na cabeça e tenta projectá-lo, ao texto, para fora como se dele, finalmente, Te livrasses ...
Já o conseguiste fazer!?
E então, que Te parece o resultado final!?
Está vivo ou morto este texto?
E se está vivo e tem autonomia própria, o que é, para Ti, a escrita?
E eu, quem Te parece que eu sou?
Di-lo sem papas na língua!
Sentes a musicalidade deste texto?
Como te sentes na sua, minha pele!?
Consegues meter-te na pele do personagem!?
E, por fim, que pontes, afinal, neste exercício, estabeleces Tu comigo mesmo?
Eu quando leio um texto, se não o percebo logo o reproduzo em voz alta e tudo se torna, então, mais claro para mim mesmo!
~ . ~
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Outubro de 2009
~ . ~