terça-feira, 18 de agosto de 2015

II CARTA A FRANCISCO, PRÍNCIPE DOS PRÍNCIPES DA IGREJA DE ROMA







Papa Francisco, Sumidade Pontifícia 

Santidade,

Para minha grande consternação, não foi há muitos dias que faleceu o jovem Prior do Estoril, o Padre Ricardo Neves a quem, poucos dias antes de fatidicamente adoecer Lhe escrevi uma carta que se encontra ao dispor, juntamente com aquela que a Vós, previamente a esta Vos escrevi, carta essa que lhe foi entregue e assinada, por meu punho, no ato da confissão e datada do dia 15 de Agosto de 2014, data que para além de ser aquela da Assunção da Virgem Maria também coincide com a data de aniversário de minha neta conforme, logo então, ao Prior do Estoril lhe referia e onde Lhe pedia que dela fizesse o bom uso que muito bem entendesse.
Essa carta, como o escrevia, encontra-se ao dispor num álbum da cronologia do meu facebook onde a poderá ler por inteiro, juntamente com aquelas que ao Seu antecessor como a Vós mesmos, previamente a esta, Vos escrevi.
Dela retiro o corpo da mensagem que entre reticências, comas e em itálico se segue na certeza de que há coisas que apenas a proximidade permite, com tanta clareza ou, pelo menos, frontalidade e num primeiro momento abordar.
Partindo de uma troca de correspondência travada entre nós, o Padre Ricardo e eu próprio, continuava:

( … )

« Desta feita gostaria muito, se possível, que fazendo ambos, o meu Amigo quanto eu próprio, em rigor não paro de o fazer, um exercício de distanciamento e me tentasse acompanhar não sem que antes sublinhe que sempre que me respondem expressamente àquilo que escrevo, logo a primeira coisa que faço consiste em introspecionar-me na aferição do que me escrevem e tanto mais assim é quanto tratando-se do meu Amigo.
Jesus, o Messias, Príncipe da Paz.
E logo na leitura do que me escreveu me interrogava:
Viverei eu em Jesus?
Vou ao encontro da Sua Mensagem?
Construo a Paz?
É claro que o meu Amigo, parafraseando-me da paráfrase que eu próprio utilizei logo afirmava ser homem grande, aquele que procura a paz.
E que dúvidas, então, podem subsistir, no elogio implícito que do que me escreveu me podem, todavia, continuar a assaltar?

Viverei mesmo em Jesus?
E é assim, meu Caro Amigo que, permanentemente, não paro de me questionar na minha autoaferição sistemática perante o que faço e, logo, escrevo e que já leva anos e anos e anos.
Tanto que por vezes, ironizando, desabafo estar cansado de mim mesmo!
Do que em mim mesmo questiono desponta:
E a minha contraparte enquanto, ela mesma, representante da Igreja, viverá também em Jesus?
Melhor, viverá a Igreja em Jesus?
Espero que me perdoe a ousadia.
Para justificar a pergunta anterior, deixe-me ser mais específico não sem que antes deixe de clarificar:
Viver em Jesus também é não proceder como o Império que lavando daí as suas mãos, à sorte dos seus, Dele, de Jesus e da justiça local entregava o Messias em Sacrifício, Ele que afirmando-se Filho de Deus e sem exercício, por um momento que fosse, da violência por tal afirmação de alcance político incalculável, à época, entenda-se, ameaçava diretamente a autoridade de Roma ousando equiparar-se a um igual do imperador ou um seu filho, ele sim, na pax romana considerado o deus vivo.
Ponha-se na mentalidade então reinante:
Que ameaça real e tanto mais quanto pacificadora, Ele mesmo a Paz, o Messias não constituía, de facto, para a autoridade do Império?
Entretanto dobraram os séculos e a Igreja enquanto remanescente do próprio Império Romano que por dentro nela implodiu e expandindo-se para lá da sua área de influência, remetida, com o tempo, à esfera intemporal, constituiu-se como referência espiritual incontornável hoje ameaçada como, aliás, toda a esfera institucional e nos ritmos que lhes são próprios, pela voracidade ou a vertigem dos tempos que não se compadecem nem se contentam mais, tão pouco, com a consagração de santos ou daqueles que vivendo em Cristo, por Ele deram a vida e/ou morreram e já para não falar nas derivas desumanas em direção às quais aparentemente se caminha.
Hoje, saberá, já pouco falta para se exigirem santos à la carte e à la minute.
Há novos, quantos mais novos messias potenciais, saberá que ironizo mas não deixa, por isso, de ser menos séria e oportuna a questão que levanto e sendo que se messias, aqui, é uma força de expressão, ai se os não há!

Na vivência em Cristo faltará à Igreja a humildade bastante que o Império não soube nem poderia ter sabido ter, de ver e reconhecer ou consagrar um dos seus como Seu intercessor ou paracleto não no sentido divino mas na sua aceção do grego antigo, chamei-lhe, em tempos, imperator ou ator imprescindível, em todo o caso instância de representação e caixa-de-ressonância não eletiva a situar numa esfera intermédia entre os poderes temporal e intemporal e que se encontra vacante já que nem as casas reais conseguem, de per si, mais representar mas que urge preencher e a que chamo, tão só, de aprofundamento da Democracia.
Isto, tanto em benefício da esfera intemporal ou da reserva espiritual da Igreja ou das igrejas e para que estas se lhe possam dedicar a tempo inteiro na humildade e na caridade a que Francisco não cessa de fazer apelo bem como, também, em benefício do próprio poder democrático e assente na coisa pública, cada vez mais ameaçados por poderes fáticos e carentes de toda a legitimidade.
Vai-me perdoar a imodéstia:
Calculo, posso pecar por defeito, que o meu Amigo me não tem acompanhado mas a minha obra estende-se já ao longo de décadas, duas décadas e meia para ser mais exato, ela está disponível e em grande medida espraia-se pela Net, inclui mesmo cartas dirigidas aos papas João Paulo II e Bento XVI, fala/escreve por si e eu, pela minha parte, ajo consequente com ela ao ponto de, de tão integrado que está o processo, já não saber onde uma acaba e o outro começa.
Provas dadas suscetíveis de poderem ser aferidas não têm faltado, é o meu Amigo que implicitamente as reconhece e não paro mesmo de as dar.
Como o poderia?
Não tenho, contudo e confesso-Lhe, a ambição nem a vocação de ser santo e não é preciso sê-lo para se ser um bom cristão! »

( … )

Papa Francisco

Santidade,

O que aqui escrevi, em primeira mão, ao Padre Ricardo Neves e tendo assim procedido com quem hierarquicamente de Vós dependia e que tão jovem, malogradamente, nos deixou sem que tenha tido ocasião de me responder, irónica mas não menos tragicamente, sem o desautorizar, comprometer ou cometer qualquer deselegância, sem constrangimentos, portanto e diretamente, permite-me, agora, a Vós vo-lo reencaminhar qual culminar da carta que previamente Vos escrevi e na esperança de que, tanto essa como esta Vos tenha como venha a chegar às mãos, na certeza de que a arte de esperar, pelo menos ou a virtude da Esperança me acompanham, dado que pelos seus não despiciendos conteúdos saberei aguardar de Vós um gesto como o tempo, aliás, não deixa, como intenção ou atitude da minha parte, quiçá, de o demonstrar.

Concluo esta minha carta com um soneto de minha autoria que como sua expressão singular se integra no conjunto da minha obra-prima ou primeira que tanto no tempo quanto no espaço já vai extensa e que tal como as cartas que Vos escrevi, esta como a anterior, de 28 de Janeiro de 2015, se inclui no publicado no meu blogue cujo endereço eletrónico geral é http://a-musica-das-palavras.blogspot.pt/:


DO  QUE  SOU

Não sou do Norte ou do Sul
nem sou vermelho ou azul
sou colorido de tanto
vos olhar com imenso espanto

Meu arco-íris um esperanto
é minha língua de encanto
é um tecido de tule
o chá que verto do bule

Naquilo que escrevo de santo
não tenho mais do que o canto
que me cobre como um manto

Não sou do Norte ou do Sul
de Liverpool ou Istambul
nem sou vermelho ou azul


Na plena convicção de que quem não quer manda, quem quer vai ou de que quem tem boca, boca ou dom da escrita, vai a Roma, ditados estes, pelo menos, correntes na língua portuguesa, aqui me tem.
De quem não confunde humildade com falsas modéstias e perante Vós, aqui se perfila, expectante, este Vosso humilde servo



Jaime Latino de Oliveira Nunes Ferreira
Estoril, 17 de Agosto de 2015



terça-feira, 11 de agosto de 2015

SABER OU NÃO SABER




Gustav Klimt, The Tree of Life, 1905








não é preciso saber muito para saber de tudo ou saber de tudo é o que se pode, eventualmente, muito saber com o pouco que se sabe porque o que se sabe é sempre pouco







que o mesmo quer dizer, literalmente, ribeiro que no caso é um oceano de mar







Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Agosto de 2015