terça-feira, 31 de janeiro de 2012

CONFIANÇA



a pacificação da memória singular é a fonte de toda a confiança seja ela singular ou coletiva


num tempo em que a desconfiança impera provocando danos incalculáveis




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Janeiro de 2012

domingo, 29 de janeiro de 2012

ELOGIO DA NORMALIDADE

Cassandra Lima, Tortura Nunca Mais, Recife


Antes de mais nada, vou aqui utilizar a palavra normalidade cedendo ao politicamente incorreto que nela vê o que se entende por norma padrão e tendo em vista o reforço da  normalidade democrática ou do regular funcionamento das instituições democráticas sabendo que normalidade, bem vistas as coisas … não existe.
Para que conste!

Procuram-se sempre situações limite, fora da normalidade (!), para exaltá-las como exemplos paradigmáticos, bombásticos ou dignos de nota.
Daí se poderá concluir que todas aquelas outras situações que fujam a esse padrão, refiro-me ao contexto de qualquer cidadão comum sem nada de aparentemente notável que se lhe possa assinalar, se incluirão num limbo de registo despiciendo, digno de um anonimato insuscetível de referência.
Deste modo, essa imensa maioria anónima estaria sempre fora de qualquer consideração digna de registo uma vez que não se incluiria naquele outro de uma qualquer excecionalidade.
Assim, a normalidade democrática tem destas coisas profundamente perversas ou … antidemocráticas:
É que as maiorias que elegem e depõem, senão para esse efeito, não são dignas de constar!
Façamos, então, o elogio da normalidade:

Que maior normalidade não atinge qualquer criança do sexo masculino quando da sua mudança de voz?
E que irrelevância em saber-se quanto nela, na sua voz infantil, de anjo como soe dizer-se, essa criança apostaria ao ponto de interrogada sobre o que no futuro desejaria ser, por pudor e na consciência do ridículo de tal afirmação, se escusava a confessá-lo tanto mais quanto em adulto desejaria ser pequeno cantor!?
E quanto nela, nessa sua voz, essa criança, investia …!?
E quanto, por fim, sofreu, quando na adolescência, tirando-lha Deus democraticamente como aos outros, se viu atirado para uma reforma mais do que antecipada e compulsiva!?
Foi Deus … teria mesmo sido Deus!?

Que maior normalidade do que, tendo em jovem adulto sido radical roçando as margens, todas as margens, deixar de o ser na maturidade entretanto adquirida?
Ao ponto de, tendo abraçado, utópico, esses radicalismos, refugiando-se em microcosmos só por ele visto como inteiros, únicos, íntegros, ser apanhado, surpreso, abismado mesmo, pelo sentimento de se sentir atraiçoado vendo, de um momento para o outro, desmoronar-se todo um mundo em que vivia e sem qualquer possibilidade de recurso!?
E tendo, mais a mais, sido capaz de resolver esse sentimento ao ponto de desculpar aqueles por quem se tinha sentido atraiçoado!?
Atraiçoado, primeiro pela sua própria voz, depois, pelos seus pares e ainda, mais tarde ainda, pelo seu próprio corpo!?

Que maior normalidade, na sua busca subconsciente pela vocação perdida, do que reencontrar-se com Deus na constatação de quão ecuménica é essa palavra quando escrita em português?
E ver vertida, reencontrada a sua vocação, da voz falada em derrame escrito, como se num cantar surdo renascesse!?
E sentir-se subir aos píncaros e descer aos abismos, abusando de si mesmo na revelação duma bipolaridade com que se teve, irremediavelmente, de confrontar!?
E aceitá-la e resolvê-la, estabilizando por fim na aguda consciência guardada, preservada, dos extremos, sempre presentes, que se tocam!?

Que maior normalidade do que, expondo-se pelo dote da escrita entretanto adquirido, sentir-se exilado na sua própria terra?
Dirigindo-se às mais altas instâncias julgando-se delas, apostado no aprofundamento da democracia que não se pode conseguir senão pela revisão de padrões, merecedor!?
E preservar sem tréguas e mesmo se em prejuízo da sua vida profissional e académica, remando a contracorrente!?
Anos e anos a fio numa Obra que se desdobra em mil e um cambiantes formais e temáticos, na aguda consciência de que desistir seria deixar-se fazer implodir sobre si próprio!?
Na igualmente aguda consciência de fazer desacreditar os outros em relação aos quais, deixando de cultivar o benefício da dúvida, os faria, a eles também, cair em total descrédito deixando fechar-se sobre si mesmos todas as janelas de oportunidade!?

Que maior normalidade?
Aquela de não querer dar nas vistas sem olhar a meios!?
Aquela de se rever na sua própria Obra e de achar poder esta vir a afirmar-se sem recurso a qualquer intermediação que não os suportes em que A vai escrevendo!?
Aquela de A escrever assim desde a sua eclosão, qual auto-paraquedas construído ao sabor do tempo e da escrita, amortecedor de qualquer queda!?
Sem alarde, arremessos ou convulsões de qualquer ordem!?

Que maior normalidade?
Digam-me … que maior normalidade exposta aqui e sem rodeios!?
Contra todas as formas de tortura que não são apenas aquelas capazes de infligir danos físicos ou morais!?

Uni-me, entretanto, a quem me enche o coração …
que maior normalidade!



na salvaguarda da normalidade democrática, em tempos excecionais impõe-se-lhes o normal excecional






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Janeiro de 2012

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

PRESO





Preso ao que escrevo permaneço …
… e essa prisão dá-me imensa liberdade!
Como um rolo de pergaminho as minhas mensagens sucedem-se sem fim à vista.
Amarrado ao que vou escrevendo.
Que liberdade a minha não condicionada por oportunidades espúrias …!?
Ou por dores de alma de momento!?
Que me cegassem em egocentrismos eivados de imaturidade!?

Preso ao que escrevo permaneço.
Em calabouço de paredes amuralhadas de transparência …
Que não me obriga a duplas faces que se neguem entre si.
Eu e as minhas máscaras que se sucedem e complementam!

Permaneço.
E rio-me da pequenez de homens que se julgam grandes no deslumbre de um poder tão pequenino!
Sem alarde …
Num choro nada ostensivo, quase desculpabilizante.
Compreensivo, no mínimo.

Preso ao que escrevo, com indulgência, obstino-me em não fazer juízos definitivos!

Porque preso estou e permaneço …
Permaneço nesta fonte inesgotável que me inspira:
Num suspiro longo e profundo a desafiar murados invisíveis que me trazem a crescer por dentro.

Preso ao que escrevo permaneço e liberto-me de constrangimentos que a outros, na sua tacanhez, os diminui.

Preso ao que escrevo não esmoreço.

Quanto mais não vale ficar calado, preso ao que escrevo, pois que assim sou livre!









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Janeiro de 2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

QUE PROVEDOR

Vieira da Silva, Equidade, 1966



Foi o Presidente da República de Portugal que muito recentemente se definiu a Si próprio como Provedor do Povo
Tive assim o cuidado de ir ao Dicionário Priberam da Língua Portuguesa que qualquer um de Vós, na Internet, poderá consultar, em busca do significado da palavra provedor e nele encontrei:

provedor ( prover + dor )
1. Encarregado de prover a alguma coisa.
2. Fornecedor, abastecedor.
3. Presidente da junta administrativa de um estabelecimento de caridade.
4. Cargo público destinado à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos (ex.: provedor de justiça).
5. Cargo, em órgãos de comunicação social ou em outras empresas, públicas ou privadas, destinado a receber e investigar queixas ou a estabelecer a comunicação entre a instituição e os seus utilizadores ou utentesusuários.
6. Pessoa que ocupa qualquer desses cargos.

Nesta minha dissertação vou, pois, seguir à risca o que neste dicionário sobre essa mesma palavra consta:
Prover, providenciar, remediar, acudir ou suprir à dor …
… dos cidadãos porque era isso, suponho, a que o Presidente da República se referia.
Não se tratando, no caso, de um presidente de junta administrativa de estabelecimento de caridade ou de qualquer outro cargo em órgãos de comunicação social ou de outras empresas públicas ou privadas destinado a receber e investigar queixas ou a estabelecer a comunicação entre a instituição e os seus usuários a não ser pelo eco que estas Lhe dão, então, o que mais dessa expressão Dele se aproxima será, neste caso, o cargo de Provedor da Justiça mas esse é um cargo que já existe, Dele não depende e está preenchido …

Assim, não pensando querer o Presidente da República duplicar funções chocando com aquelas de um outro órgão constitucional já existente, o que quererá Ele dizer ao definir-se como provedor e tanto mais quanto esta Sua auto-designação coincide, no tempo, com as suas próprias queixas ou desabafo público!?
Encarregado de prover às suas próprias queixas?
De as amplificar já que sendo o supremo magistrado da nação, nelas e em si mesmo, a todas as encarnaria …!?
Prover-se a si próprio!?
Não, há qualquer coisa que não bate certo e que o Seu próprio esclarecimento entretanto publicado acaba por não vir elucidar!
Provedor …
Provedor não será, provavelmente, a melhor metáfora de si próprio.
Não, Senhor Presidente, o que o senhor conseguiu foi prover, agora no sentido de abastecer, toda uma nação de imensa indignação, isto é, de imensa dor.
Para usar a linguagem do próprio dicionário, lá que nos abasteceu, abasteceu ou, se quiserdes, forneceu!
Forneceu motivos de redobrada indignação sem recurso a quem!
Que provedor este que para prover às queixas do povo, gozando de posição dominante, amplifica, antes de mais, as que Lhe são inerentes!?
Associado o Seu desabafo a esta Sua auto-designação, então, um e a outra adquirem redobrada gravidade …

Pelo que escrevo falo e no que ao que escrevo toca, aguardo sem resposta e desde há muito que me seja dado … provimento!









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Janeiro de 2012

sábado, 21 de janeiro de 2012

PERPLEXIDADE



DE  NOVO  AO  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA  DE  PORTUGAL

Professor Dr. Aníbal Cavaco Silva
Excelência, Caríssimo Amigo,

Nem vou entrar em pormenores e a razão por que o não faço prende-se, tão só, com o facto de não alimentar qualquer voyeurismo, mas desabafar, em Seu nome ou naquele de Sua mulher como já antes aconteceu, parte do valor que recebeis de reforma é, em si mesmo e no mínimo, infeliz!
Das duas vezes que o meu Amigo sobre o assunto se pronunciou, convenhamos, deu para perceber que, somada a Sua à de Sua mulher, tendes à cabeça um rendimento mínimo equivalente a, pelo menos, dois mil euros, isto se somarmos a Sua à pensão de Sua mulher.
Tudo isto já sem referir os valores da reforma que recebeis do Banco de Portugal e que não haveis especificado que, provavelmente, já ontem o alegava, informado, Mário Crespo no Jornal das Nove da SIC Notícias, quintuplica este valor.
E, no entanto e publicamente, desabafais …
… que tremenda inabilidade política!

Eu sempre pensei que, por inerência do lugar que ocupais e já para não falar do Vosso extenso currículo político, éreis uma pessoa particularmente informada, sensibilizada portanto, sobre a situação real do país e, logo, dos reais constrangimentos que afligem os Vossos concidadãos …
É certo, sou o primeiro a admiti-lo (!), que em termos absolutos e se atendermos ao facto de que haveis tido de prescindir do salário correspondente ao cargo que desempenhais em proveito das Vossas reformas, provavelmente, os Vossos rendimentos líquidos se viram reduzidos para menos de metade daquilo que recebíeis e que, se atendermos, para mais, à função que desempenhais, esta tem encargos que o cidadão comum não conhece.
Mas não é menos certo que à medida que o tempo passa, o cidadão comum tem crescentes dificuldades em, como eu, colocar-se na Sua posição e tanto mais quanto, entre o lamento e o desabafo, o confessais publicamente …!

Contas redondas, um rendimento mensal aproximado de dez mil euros …!
Sabeis, porventura, qual é o meu rendimento singular?
Nem Vo-lo digo, tenho disso não vergonha mas pudor …!
Porém, se Vo-lo dissesse, não estranharia que alegásseis, de pronto, a fábula da cigarra e da formiga, Vós, a formiga e eu, a cigarra …
Como se, de acordo, aliás, com uma certa formação de economista, tudo se resumisse a dinheiro.
Não se resume e, por isso mesmo, não sou voyeur …
Mas que este Vosso desabafo público choca … choca!
É que, devíeis saber, à medida que se adensam as medidas de austeridade, com elas cresce a intolerância ou a crescente dificuldade em atender ao lugar do Outro!

A Cigarra e a Formiga.
Todos nós fazemos opções na nossa vida e eu, de há muito, optei por investir na palavra!
Que peso tem a palavra?
Que valor tem ela, pergunto-me!?

Quando escrevo que invisto na palavra, a ela me refiro no seu mais amplo sentido, incluindo o seu mais nobre sentido político que a ela me compromete e envolve, obriga (!), na coerência tão em tamanho défice que a ela me impede de alienar.
E esse é o défice que explica, escrevo recorrentemente sobre o assunto, tantos outros défices …!
Dez mil euros …
Dez mil euros mensais são muito dinheiro e eu nem consigo imaginar o que com eles faria!
Não tenho de Si qualquer inveja mas certo é que, se com o que ganho invisto o que invisto, quanto mais não investiria com dez mil euros mensais!?

O Seu desabafo demonstra quanto se desvaloriza o dinheiro.
E a palavra, desvaloriza-se, ela também!?
Obstino-me, veja lá, em pensar que não!
A palavra não se desvaloriza e tanto assim o penso quanto, ainda hoje, aguardo respostas ao que, desde há mais de vinte e dois anos tenho escrito aos Seus antecessores e a Si próprio também na convicção de que as pessoas mudam mas os cargos permanecem!
Aguardo, aguardo e aguardo …
E o meu Amigo, imagine-se (!), desabafa.
Vosso









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Janeiro de 2012

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

FIEL DA BALANÇA




Por incrível que possa parecer, no contexto do sistema monetário global, em vez de se lhe atribuírem instintos bélicos ou maléficos, o dollar acaba, antes, por exercer uma função reguladora.
Fiel da balança!
Se o sistema monetário global está todo ligado, o dollar, como divisa de referência, de investimento portanto, mantendo uma cotação alta mas não assim tão alta como o euro, à palma da sua permanente emissão, puxa-se e ao euro consigo para baixo, aproximando-se e desvalorizando-se ambos e ao yuan para cima, valorizando-o, como fonte alternativa, diversificada de investimento, promissora moeda que o é de uma país em exponencial crescimento e ao valor do dinheiro, no seu todo, num movimento regulador descendente e tendencialmente equiparado susceptível de vir a dissuadir a permanente e irreal, eufórica instabilidade especulativa dos mercados.
E é só progredir acentuada e, de preferência, concertadamente, com iniciativa e de uma vez só (!) nesse sentido como dos meus textos anteriores, de há muito, em decidido efeito dumping, o sugiro e incentivo!



o dinheiro, sendo ilusório, contra quaisquer uns se pode virar e no meio da floresta, obcecados pela árvore, perdemos-lhe a visão de conjunto






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Janeiro de 2011

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

EFEITO DUMPING





Estamos sempre prontos a atribuir a guerras mais ou menos ocultas ou a teorias conspirativas dos mercados a situação que, económico-financeira, monetariamente nos flagela, aparentemente sem fim à vista.
Estamos sempre prontos a atribuir a terceiros a batota dos mercados, não atendendo a que, a sub como a sobrevalorização de uma divisa são, em si mesmas, efeito dumping!
Estamos sempre prontos a vitimarmo-nos quando, sem disso nos darmos conta, se somos vítimas, antes do mais, somo-lo da nossa própria cegueira!
Estamos sempre prontos a apontar o dedo a terceiros dos males que a nós mesmos nos atingem …
Faço aqui esta chamada de atenção remetendo-Vos para trás, para o meu escrito de 2010, Contração Monetária e Crescimento Económico que aqui escrevi e deste para a Carta A Um Economista de 2003, reeditada nesse mesmo ano de 2010  neste meu blogue e cujo link de acesso também figura em nota de rodapé no primeiro destes dois textos, de cuja releitura atenta melhor se poderá perceber a situação presente que, se nos constrange e aflige a todos, melhor nos poderá munir e ajudar, por antecipação e com perspetivas de futuro, a entender o que se passa num movimento que embora sujeito a constantes braços de ferro, deveria, tendencialmente, caminhar no sentido da equiparação das divisas!
Transparentemente, sem conspirações e sem guerras …!
No testemunho registado de movimentos de antecipação que, à data, ao dá-los fiz questão, à escala possível, de tornar públicos!
Estamos sempre prontos …
Estamos sempre prontos a não dar a devida atenção ao que foi escrito e tanto mais quanto vindo da parte de um cidadão comum sem habilitações específicas nem aparentes responsabilidades, desafiando-Vos a um esforço de disponibilidade sem o qual pouco se entenderá sobre o que verdadeiramente se passa e está em jogo!
Apelo pois à Vossa disponibilidade e à leitura atenta e interativa, crítica, do que à época, não casuisticamente e com toda a transparência, então escrevi.



se as moedas fossem equiparadas ou se, à escala global, apenas existisse uma moeda franca, o cartão de plástico a elas, equiparadas, convertível, os mercados estabilizar-se-iam e assim, concertadamente e em benefício geral, as assimetrias seriam diluídas na certeza de que sem procura a oferta só pode é definhar






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Janeiro de 2011

domingo, 15 de janeiro de 2012

A RELATIVIDADE DAS COISAS

saudade é uma ponte para o futuro



O tempo e o modo relativizam o que está para trás …
Mas nessa relatividade um fio condutor existe e nesse fio condutor uma constância se perscruta na afirmação de princípios que não se alteram ao sabor das conveniências ou das circunstâncias.
Algures aí se poderá encontrar a diferença entre relativismo e relatividade!
Se não me falha a memória, no início da década de oitenta do século passado, foi recebida em casa de meus pais uma delegação da recém-instalada embaixada da República Popular da China, nela incluída a Sua primeira embaixatriz entre nós e a ela não apenas a brindámos com um lanche à altura das circunstâncias mas também a levámos em visita pela nossa terra, do Estoril ao Guincho, no pouco à-vontade patente que, perante a estranheza dos nossos hábitos e costumes, tão amplamente, ainda, revelavam.
Como tudo terá mudado …!?
Como a própria Europa e o assim ainda chamado mundo ocidental, de então para cá, se terão deslocalizado para a China …!?
Sobretudo as suas elites salvo a Democracia plena que entre nós, contudo e ainda que simbolicamente, ironia da História, a China ajudou a consolidar …!?
Como tudo mudou!
Mas não mudaram os factos que tantos, por umas e por outras razões, se obstinam em obliterar mas que hoje, ainda, me trazem determinado e reconhecido …
E me fizeram, aqui, dar este testemunho em quatro partes.



não esqueças o que te move
que essa tua verdade será reconhecida



off, por fim e de novo de on a off e a on






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Janeiro de 2011

no centro minha mãe, à sua direita a embaixatriz da RPC e eu, na fotografia, o segundo a contar da direita e de cócoras, algures no Guincho

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

MEMÓRIA, GRATIDÃO E PACIÊNCIA

saudade é uma ponte para o futuro


DE  NOVO  AO  PRESIDENTE  DA  REPÚBLICA  POPULAR  DA  CHINA

Camarada Hu Jintao,
Memória, gratidão e paciência, eis o que me trás, de novo, até Vós:

Memória …
O meu Amigo sabia que, em tempos, pertenci a um partido excêntrico, julgo poder chamar-lhe assim, o extinto PCP(m-l) que tinha relações privilegiadas, fraternas como então se dizia, com o Partido Comunista da China, numa altura em que nem sequer relações diplomáticas existiam entre os estados chinês e o português e em que a Democracia portuguesa procurava encontrar o seu lugar e raízes, recém instauradas que, entre nós, as liberdades tinham acabado de o ser?
Partido que sendo excêntrico, como o escrevia, com orgulho se declarava expulso da extrema-esquerda, maior excentricidade (!), espectro ao qual pertenciam, então e por regra os partidos congéneres do Seu por essa Europa fora?
E que era assediado pela classe política nacional na ânsia do estabelecimento de relações privilegiadas Convosco qual embaixada avant la lettre?
Obliterado partido que, daí a expulsão da extrema-esquerda, muito fez nas suas modestas dimensões para congregar, qual cunha, os partidos que hoje constituem o arco constitucional da governação em Portugal ao tempo do assim chamado PREC, processo revolucionário em curso, que por pouco inviabilizaria, entre nós, a democracia representativa que, entretanto, se consolidou embora hoje, de novo interpelada, desafiada pelo espectro do desemprego e da fome?
Estou em crer que sim, que sabíeis que eu tinha pertencido a esse partido e só assim se explica a viagem que, ao tempo, como o refiro na carta anterior, a Vosso convite, ao Seu grande país pude efetuar!

Gratidão …
Havia boas razões da Vossa parte e ainda que pudessem não coincidir exatamente com as nossas para o Vosso objetivo apoio, por via desse pequeno partido, à consolidação da Democracia portuguesa das quais, entre nós, esse pequeno partido foi a sua expressão pública:
Na geopolítica que Vos norteava, tudo o que contrariasse o assim por Vós mesmos, à época, chamado social-imperialismo ou, se quisermos, o imperialismo soviético do qual éreis ferranhos opositores, concorria em Vosso benefício.
Assim, a instauração com sucesso da democracia representativa entre nós, concorreu, ela também, em Vosso próprio proveito.
Mas fossem quais tivessem sido as razões que norteavam uns e os outros, o certo é que haveis dado o Vosso contributo e ainda que por via de tão insignificante partido como o era o PCP(m-l), para a instauração de uma verdadeira e depois consolidada democracia representativa entre nós.
Por tudo isso e mesmo que eu hoje seja uma voz livre e independente, que o sou (!), não Vos posso deixar de estar, a Vós também, reconhecido e daí e por mais paradoxal que o possa parecer, eu exprimi-lo assim como, aliás, não me coíbo descomplexadamente de o fazer!

Paciência …
Entre nós, a quem preserva e assim tem paciência, diz-se que tem a paciência de um chinês.
Eu tenho-a!
Talvez a tenha exercitado também Convosco e sobretudo com aqueles Vossos camaradas, não sei se era esse o Seu caso, que conheci na visita que em 1980 Vos efetuei e que preservaram pesassem como pesaram as torturas e mutilações que sofreram às mãos dos fanáticos da Revolução Cultural que, em bom rigor, devia ser escrita com minúsculas.
Em honra da memória, Vossa e nossa, grato e, por isso, incansável e perseverante, com toda a paciência não desisto de Vos abordar no reconhecimento e pagamento de uma dívida concitando-Vos, por meu turno, à abertura política plena.
Não Vos poderia deixar de corresponder na mesma moeda, aquela com que nos haveis contemplado.
Assim, eu Vos exorto sem vacilações, fazendo apelo ao que em Vós tendes de melhor!
Também para que a memória histórica seja preservada, Vosso com as mais cordiais e reconhecidas saudações



voz on de off




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CHAMEM-ME INGÉNUO

saudade é uma ponte para o futuro



Chamem-me ingénuo pela carta que na página anterior escrevi que não serei eu a ralar-me com isso!
Ingenuidade será antes escamotear a República Popular da China enquanto realidade central incontornável, realidade  sem cuja assunção nada de geopolítica se poderá mais entender e nem tão pouco o que se passa na Europa;
Como ingenuidade ou má-fé será pretender ter com ela laços de fraternidade, por um lado e, por outro lado, julgar ser possível manter tudo como está neste nosso quadrante diante da sua esmagadora afirmação …
Ingenuidade …!
Má-fé …
nem incongruência, nem ingenuidade e nem má-fé!

Corria o ano de 1980 quando visitei a República Popular da China exatamente quando, em simultâneo, era publicamente julgado o assim chamado Bando dos Quatro ou os supostos herdeiros diretos de Mao Zedong, eles próprios anteriormente mentores da Revolução Cultural, ensaio ultrarradical de fechamento da China que a poderia ter conduzido a uma situação como a da Coreia do Norte só que em larga escala, continental diria eu e em que Deng Ziaoping formulava a teoria de um país mas dois sistemas correspondente ao início de uma abertura nunca até então vista, pelo menos desde a instauração do regime comunista.
De então para cá passos imensos foram dados, a tal ponto que a China é hoje um país irreconhecível e tanto mais quanto se tivermos em conta as suas naturais idiossincrasias:
Os dois sistemas ou melhor, o sistema capitalista contaminou de tal forma o seu próprio desenvolvimento que já não há volta atrás;
A classe média despontou e expandiu-se à escala das centenas de milhões de consumidores com tudo o que isso implica em hábitos e exigências que com o seu fechamento não se compadeceriam mais;
O residual comunismo … confunde-se com o próprio estado no social que ao regime, pese embora o seu ainda monolitismo, no seu todo o imprime e o regula …
Depois há outros fatores a ter em conta tais como a coesão da sua imensa escala e a tradição imperial que, pese embora, o próprio regime comunista herdou, moldou e à qual ficou condicionado sem dessa teia, na tradição que consigo, duplamente, transporta saber ou ter dificuldade em sair!
Imaginem que, subitamente e perdendo o controlo, o regime se desmoronaria!?
Que ondas de choque tal não desencadearia não apenas no interior do Império do Meio como à escala global!?
Que crise se somaria àquela que, globalmente, já nos afeta a todos!?

Tenho para mim e julgo que tal também advém da tradição ancestral da Cultura Chinesa que nela é, por demais, apreciada, não apenas a boa educação mas também aquilo que nela se traduz por frontalidade e tanto mais quanto vinda do exterior e seja numa carta como aquela que anteriormente escrevi.
Tenho, também, para mim que ser assim desabrido como nela o fui não será prática corrente nas relações diretas do exterior com a China.
Guardo ainda o desejo que este texto, tal como a carta anterior, sejam lidos pelos próprios dirigentes chineses na expressão não apenas da minha congruência, neles em nada abdico dos meus princípios (!), como exprimo ainda a minha boa fé em relação ao meu Destinatário!
Valorizo os passos de gigante que a China tem dado e, sublinhadamente, alerto para a impossibilidade de esta ficar a meio caminho de um desafio que a si própria, desde a década de oitenta, lançou sob pena crescente de implosão,  irremediável que seria não apenas para a China mas para nós todos também!
Só mesmo quem não se dê conta da dimensão do Destinatário com quem se comunica é que poderá alimentar falsas ilusões, incredulidades ou espírito de má-fé, repito, que não se compadecem com as realidades maiores daqueles com quem se pretende, torna-se irremediável (!), aprofundar relações.
Dirijo-me ao meu Destinatário sem cartas na manga, com um aperto no coração e de mãos nuas.
Assim como sempre o faço!



a minha voz off é a minha voz on que me abafa ou vice-versa






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2012