segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUALQUER DIA

Chris Dixon, Sunrise

Qualquer dia, bastará que seja lançado um qualquer movimento numa rede social em interface com outras redes para que este venha, por uma qualquer oportunidade que lhe surja associada, a abalar os fundamentos de um estado, criado o caldo susceptível de a desencadear e por mais democrático que ele, esse estado, o seja.
A nova glasnost a que, no oriente próximo, com toda a legitimidade, assistimos, quase incrédulos e que faz desmoronar autocracias umas atrás das outras, coloca na agenda esta eventualidade em relação à qual não adianta fugir e tanto mais quanto se acentuem os sinais de crise, económica, social e de representação política em que esse estado, democrático ou não, eventualmente, se veja mergulhado.
Estes factos, por si mesmos, dever-nos-iam levar a todos e, em particular, às democracias, apetrechadas que estão do contraditório que as deveria fortalecer, a reflectir seriamente.
Ah, dir-me-ão, mas um movimento, para que seja bem sucedido, não basta que surja de geração espontânea, tem de ser organizado e nele, uma qualquer autoridade terá de emergir!
Ah, contrapor-me-ão outros, mas uma autocracia é uma autocracia, outra uma democracia e ambos os casos, em si mesmos e deste ponto de vista, não são comparáveis!
Não o serão, pergunto-me ...!?
Os acontecimentos em curso no próximo oriente, é iniludível, vêm demonstrar a crescente importância do indivíduo, pelas ferramentas de comunicação ao seu alcance, no curso da História e dos acontecimentos a ela associados e tal facto, penso, não será necessário comprová-lo, salta por demais à vista.
Uma democracia, concordo, não é uma autocracia mas se nesta última tal pode acontecer o que impedirá de numa democracia, o sistema de representação possa vir a ser questionado, abalado e seriamente comprometido!?
Estas questões remetem para uma outra, a saber, qual é a fonte da autoridade, autoridade democrática, nunca é demais salientá-lo (!), autoridade sem a qual, qualquer movimento, por mais que surgido de geração espontânea, está, em si mesmo e por melhores que sejam as suas intenções iniciais, condenado ao fracasso?
E, a este propósito, direi apenas:
Por um lado, a autoridade assenta no direito legalmente estabelecido de alguém se fazer obedecer e essa legalidade ou existe, ou não existe;
Numa autocracia ela não existe!
Por outro lado, a autoridade deriva do valor pessoal e logo da importância que essa pessoa adquire, importância que em última instância remete para o mérito, esse tal valor comprovado que ou se tem ou não e que tem de poder ser mensurado, escrutinado em sentido amplo,
não apenas e necessariamente pelo sufrágio universal mas pelo valor da Obra por essa pessoa realizada.
Ora o valor, o valor de uma obra não se comprova na instantaneidade das redes sociais qual labareda que deitasse fogo a uma pradaria.
É no tempo que ele se aquilata, é no tempo que ele se alicerça, é no tempo que ele se agiganta.
É no tempo que ele se constitui em autoridade ...
... ou não!
E o tempo, esse, não se compadece com imediatismos voluntaristas de qualquer ordem que, eventualmente, substituam o que está por algo de pior ainda!
Neste particular, apenas as democracias, pela iniciativa estratégica, estão aptas a encontrá-lo ...
Que se acautelem as autocracias mas ... as democracias também!
Não, não é uma ameaça que aqui deixo, antes tema urgente, candente de reflexão ...

look all around this blog and wonder


Alma Grande


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Janeiro de 2011

sábado, 29 de janeiro de 2011

GEOPOLÍTICA ESTRATÉGICA

Krzysztof Browko, Mist ...

A minha geopolítica estratégica é a defesa dos direitos fundamentais.
Entende-se por geopolítica o estudo das relações que existem entre os Estados e a sua política, e os dados naturais, estes últimos determinando aquela, como nos sugere o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa mas na definição desta têm preponderado as relações entre os Estados em prejuízo dos dados naturais, dos direitos fundamentais da cidadania sempre adiados em nome das primeiras e que a estes últimos, na prática, os escamoteiam, fazendo prevalecer os interesses que às relações pragmáticas entre os Estados as levam, invariavelmente, a sobrepor-se ...
Direitos fundamentais!
E logo como em casa roubada, trancas à porta, quantas vezes já se viu este filme (!?), se grita aqui d'el rei (!), como se não se soubera já ao que a geopolítica dos interesses, esse pragmatismo sem alma, conduz ...!
Ou que tem alma apenas para uns quantos!
Grito deste meu canto a denúncia dessa postura que tem prevalecido em prejuízo de quem, como eu, a outros valores faz por prevalecer na aparente indiferença institucional que nos interesses, no pragmatismo põe a tónica em conflito e em choque, estrategicamente, com os direitos naturais ...
E a História, paulatinamente, vai-se encarregando de dizer que não, que interesses que esquecem o Homem e os seus direitos fundamentais, naturais, não passam de uma patranha!
De uma completa incongruência que àqueles países que mais alto bradam esses direitos, os fazem por esquecer em nome de um realismo paternalista, interesseiro e quantas vezes cheio de sofreguidão!
Quando, para quando essa admissão que à minha autocrítica se associe no reconhecimento do inconfessável!?
Para quando!?
Para quando se tão à vontade estou na concessão do benefício da dúvida que aos Estados Democráticos, concedendo-lha durante anos e anos a fio, me fez chegar até aqui!?
Para quando a geoestratégica do indivíduo singular, na consagração da cidadania nos seus direitos naturais, fundamentais que tanto urge e que, à escala global, tanta falta faz como bitola mais do que reguladora, aferidora e que não dá mais para contornar!?
Para quando ...!?
Para quando a prevalência do indivíduo sobre os interesses particulares e de conjuntura!?

if I do for You so much as I do, what kan You at last do for me, for us?
Have I to write or to speak in english!?


What am I in Your strategy


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Janeiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

TURMOIL

Mark Townsend, Turmoil, 2002

Quem se poderá, em rigor, espantar do turmoil, da convulsão que sacode o Norte de África e a Península Arábica?
Quem!?
Quem, em nome da contenção de extremismos, de eventuais fundamentalismos, no pactuar com regimes fechados, autoritários e na suposta implementação de uma realpolitik que com estes de há muito contemporiza, se poderá surpreender do abalo telúrico que a uns atrás dos outros, de súbito, os assola em efeito de aparente bola de neve!?
Ao ponto de, confesso-o, até desses regimes nos esquecermos no suposto efeito tampão que teriam na contenção dos primeiros!?
E agora?
Com efeito, o que é que, do ponto de vista da salvaguarda dos direitos fundamentais de um cidadão destas regiões de um dia para o outro abaladas por este efeito avassalador, em profunda convulsão, diferencia os regimes autoritários em que têm vivido de quaisquer outros extremismos na contenção dos quais fosse legítimo contemporizar com um statos quo que de há muito se vem, insustentavelmente, perpetuando?
Como castelos de cartas, desmoronam-se as autocracias para dar lugar a quê, incógnita maior que este inesperado turmoil, eventualmente, suscita ...!?
Aqui, aqui já, do outro lado do mar, do outro lado da bacia mediterrânica ...!?
Nas barbas da Europa!?
A realpolitik, a política dos pragmáticos interesses, imediatos interesses egoístas, de vistas curtas, como uma vez mais se comprova, vai tendo os dias contados e, à sombra dela, como têm florescido autênticas bombas relógio no desenhar pacóvio de tão frágeis geopolíticas estratégicas!
Geopolíticas que, quantas vezes, assentam em tudo menos nos direitos fundamentais ...!
Como cidadão europeu, eu, pela minha parte, autocritico-me pela desatenção que aos cidadãos destes países invariavelmente lhes terei prestado pois que nem eram notícia ...!
Na crescente aceleração histórica, assim se demonstra que já não se pode ter a veleidade de que alguém e muito menos países possam ser tidos como peões de quem e do que quer que seja!

focando-me na Tunísia, no Egipto e no Yémen


Sede e Morte


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Janeiro de 2011

NÃO CAIREI

Carlos Costa Branco, n/a

Não cairei na tentação da facilidade;
Da demagogia;
Do populismo.
Não cederei à tentação mediática do diz que diz-se;
Das insinuações;
Da espuma dos dias.
Não me deixarei levar pela aparência das coisas;
Pela sua superfície;
Pela ilusão da vista.
Não me deixarei condicionar pelo que não é;
Por arrebatamentos;
Por primeiros impulsos.
Não decidirei sem me aconselhar;
Sem saber ouvir;
Nem por fingir que sei.
Não me deixarei mover por interesses particulares;
Por egocentrismos;
Ou por julgar sem saber.
Não cairei em tentação!
Prisioneiro da minha própria consciência, recobre-se esta da sombra de suas grades para lá das suas paredes, cercadura férrea projectada na claridade da cal.

diante da não inesperada convulsão que sacode o Norte de África e a Península Arábica


Porta Férrea


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

NUDEZ POÉTICA

Angela Bacon-Kidwell


Não escrevo por interpostos olhares
são estes mares
lugares
de mim recobertos
expostos
sem mais roupagens
paisagens

Nuas palavras
imagens
prontas a serem viagens
está a poesia coberta
de si própria
sem voragens

Nua

minha palavra não mata
sua carga
doce é não amarga
é a palavra voltagem
energia sem ter margem

São as palavras miragens
no deserto das sondagens
que escondem meu eu
e o teu
o que por elas sofreu

Têm palavras de seu
despidas no que se deu
o que elas julgam saber
a nudez
em que me vês

palavras que matam são aquelas que veementemente repudio e que ao terror conduziram, oculto e traiçoeiro, ignóbil, dizimando, indiscriminadamente, desta feita num aeroporto de Moscovo


O vos omnes


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Janeiro de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

DO POVO E PARA O POVO

we're not dead we just have our eyes closed

Ninguém precisa de ser referendado ou sujeito a um escrutínio popular para que se possa considerar como pertencente ou como emanação de um povo.
Ninguém precisa de ser referendado ou sujeito a um escrutínio popular para que se possa considerar ou não ilibado de sejam quais forem as insinuações que a seu respeito se façam.
Qualquer um é de grandeza maior se, no momento em que seja referendado ou sujeito a escrutínio popular, saiba colocar-se acima da espuma dos dias, das insinuações que a seu respeito se façam, na identificação que, por essa via comungue, essa sim, com a grandeza de um povo.
Eu não me identifico com um povo pelo pior que dele se manifeste, seja por insinuações ou ressabiamentos que, num Estado de Direito, só podem ser ressarcidos pela via judicial e nunca em campanhas ou declarações políticas de vitória que são o que são, nunca escrutínios no sentido comprovativo, demonstrativo da palavra e ai de nós se a implementação da Justiça dependesse da aplicação do sufrágio universal.
Eu identifico-me com um povo no que de maior da sua Língua, Cultura se revela e ai de nós se estas dependessem, elas também, da aplicação do sufrágio universal!
Na Língua, Cultura de um povo, não é maior, antes menor qualquer manifestação de arrogância e tanto mais quanto em momentos de vitória eleitoral.
Maior e matricialmente coincidente com o que de melhor tem um povo é a humildade na assumpção da vitória, o perdão que se saiba declarar e, por essa via e colocando-nos acima da espuma dos dias, a aglutinação que se saiba logo reforçar e tanto mais quanto em momentos de crise quanto aqueles que se atravessam.
Um discurso de vitória eleitoral que não tenha em conta os vectores políticos, de atitude, estratégicos que aqui traço, não augura nada de bom ...
Razão tinha eu quando, ainda em Dezembro, alertava para declarações que, em si mesmas, estavam eivadas de arrogância nada propícias a enfrentar os tempos que se avizinham ...!
Política no mais nobre dos sentidos, susceptível de catalisar e aglutinar as melhores energias que com um Povo se possam identificar, Povo com maiúscula, é o que, infelizmente, parece não abundar por aí!

a propósito de um discurso de vitória


Tormento


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Janeiro de 2011

sábado, 22 de janeiro de 2011

RÉPLICA A KONSTANTINOS KAVÁFIS

Francesco Primaticcio


ÍTACA

Quando começares a tua viagem para Ítaca
Reza para que o caminho seja longo
Cheio de aventura e de conhecimento
Não temas monstros como os Ciclopes ou o zangado Poseidon

Nunca os encontrarás no teu caminho
Se o teu pensamento for elevado
Nunca encontrarás os Ciclopes ou outros monstros
A não ser que os tragas contigo dentro da alma

Pede que o caminho seja longo
Que sejam muitas as manhãs de Verão...
Entra em baías nunca vistas
Detém-te em portos de comércio fenícios
E compra formosas mercadorias

Visita muitas cidades do Egipto
E aprende avidamente com os seus sábios
Tem sempre Ítaca na tua mente.
Chegar lá é o teu destino.
Mas não apresses a viagem.

Melhor será que ela dure largos anos
Que sejas velho quando chegares à ilha
Com tudo o que ganhaste no caminho
Sem esperares que Ítaca te enriqueça

Ítaca presenteou-te com uma bela viagem
Sem ela não terias sequer partido...
Mas mais nada tem para te dar.

( Ítaca de Konstantinos Kaváfis, in Casa da Venância )


POR ÍTACA

Em ti nasceu minha odisseia
terra de muitos mares rodeada
por ti corri o Mundo cheio de veia
liberta a ilha desperta e assim cercada

Convicto cantei por esta estrada
meu sonho que desteci de densa teia
escrevi sempre a tropel desta enseada
o que despido de fel querendo se semeia

Aos deuses os intimidei no que intermedeia
pela escrita num universo que se dilata
desfeitos por ela os nós e que desata

De Ítaca o que lhe peço não é mais nada
nem nunca a confundiria com a feia
troca em persistir se alguém me leia

( Réplica a Ítaca de Konstantinos Kaváfis )


inspirado em
Casa da Venância


Ecos de uma ninfa


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Janeiro de 2011

Konstantinos Kaváfis

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

DE UMA PONTA À OUTRA

Jorge Feteira, Submerged

Vou de uma ponta à outra do espectro:
Da compatibilidade com os mercados à indignação com os mesmos que dos países e dos cidadãos fazem objecto da especulação e do lucro num quadro que, muitas vezes e com fundamento, é descrito como de economia de casino;
Da insustentabilidade de se continuar a viver acima das possibilidades ao insustentável de, em permanência, se frustrarem as expectativas criadas cavando a desconfiança e o fosso que à política a distancia e afasta, cada vez mais, do cidadão comum pondo em cheque a própria Democracia;
Da salvaguarda do sonho e do primado da Política aos incontornáveis ditames da economia, aos constrangimentos que não podem ser mais escamoteados e que não se compadecem com visões a curto prazo, nem com agendas imediatas;
Da relação da Política com a Arte, desta com a Literatura, a arte de bem escrever e destas com a matemática, ao imperativo dos números que no espaço e no tempo, na sua relatividade, se expandem como a música intrinsecamente o sugere, comprova e demonstra;
Da comunhão da palavra com esta última e, logo também, com a poética;
Da religião à filosofia e de ambas à vida concreta sem a qual tudo se esfuma em generalidades, em banalidades sem eco e de imprevisíveis consequências;
Do rame-rame na sistemática repulsa de por ele me deixar paralisar ou sufocar à expectativa que, como neste meu blogue se comprova, não paro de alimentar;
Da compatibilisação das dimensões que a vida tem, na recusa de por elas me deixar espartilhar;
De como, tudo isto, é impossível de resumir a soundbites ou a agendas de circunstância sempre superficiais e redutoras;
De uma ponta à outra da meada e de como dela revelo, fotográfico, instantâneo, o Buraco que, afinal, não é assim tão negro como o pintam, não o pode ser (!), ou de como se recusam a encará-lo;
E, finalmente, de como, determinado, persisto nesta minha rota que tracei!

de acordo com agências noticiosas, ao ser publicamente admitido pelo Presidente Hu Jintao na Sua visita oficial aos Estados Unidos da América, que a República Popular da China, em matéria de direitos humanos, tem ainda um longo caminho a percorrer


De mim mesmo nos outros toco


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A DINHEIRO NÃO

Paul Cézanne

Um jogo é como a vida
carreira sem volta só ida
quando jogo é a feijões
evito mais confusões

Num jogo as suas funções
regras sem insinuações
só especula quem decida
comprometer a partida

A feijões é a corrida
brincadeira consentida
não depende de ilusões

A dinheiro tropeções
arrastados de cifrões
desilusão sem saída


no 172º aniversário do nascimento de Paul Cézanne, entre o casino e o jogo da vida


Jogos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

ARRASTÃO

Paolo Pagnini, Astratto sui fossi

Se o incumprimento se generalizasse, o que aconteceria aos credores?
Eu estou à vontade para falar já que não tenho dívidas e faço por cumprir as minhas obrigações, nomeadamente as fiscais.
No entanto, de que consolo me servirá tal facto se, como os demais, vou sentindo os efeitos da crise que, paulatinamente e por arrastão, sobre todos se vão, cega e implacavelmente, abatendo ...!?
Depois das persistentes investidas sobre a periferia, chegou agora a vez do coração da Europa sentir a pressão dessa entidade mítica a que se convencionou chamar mercados.
A Bélgica ...!
E quem, a ela, se seguirá!?
Se o incumprimento se generalizar, repito, o que acontecerá aos credores!?
Tenho para mim que a economia é uma realidade, ela também, virtual que, nos sinais que projecta, nem sempre traduz ou dificulta mesmo a compreensão, a tradução daquilo que se passa e se, assim temos conseguido viver ao correr dos anos, o que acontecerá no dia em que todos, devedores como credores, já que uns não passam sem os outros, em que todos, escrevia, caírem em incumprimento!?
Incumprimento no pagamento das dívidas, incumprimento na cobrança destas e dos juros ...!
Isto é, em que todos forem confrontados com a impossibilidade de continuarem a viver acima das suas possibilidades!?
Sim, porque aquele que empresta, não vendo realizados os seus créditos, não estará, ele também e pese, para mais, a exorbitância dos juros que cobra, a viver acima das suas reais capacidades!?
Pela terceira vez, repito:
Se o incumprimento se generalizar, por arrastão e contágio, o que acontecerá aos credores já que eu, se não tenho dívidas, também não sou prestamista e, logo, deveria ficar ao abrigo da tempestade que a uns como aos outros os assola!?
Ou terei de ser eu como os demais em idênticas condições às minhas, a arcarmos com o incumprimento e com o risco a que, quer uns quer outros, credores como devedores, mantendo-nos à beira do afogamento, à tona de água, no limiar do sufoco, persistem em sujeitar-nos!?
Há aqui uma injustiça fundamental que se torna, pelas derivas sinuosas e desregradas que teimam em impôr-se, essa sim, completamente insustentável!
Insustentável, repito.

remeto, uma vez mais, para a minha carta a um economista


Concerto de Brandenburg


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Janeiro de 2011

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

SER-SE OU NÃO EXPLÍCITO

Artur Magdziarz, 6AM

Gosto de me pronunciar sobre as coisas sem ter de ser assim tão explícito.
Nem é preciso sê-lo!
Nem é preciso sê-lo para que se chamem os bois pelos nomes ou para que, directo, se atinjam os objectivos que se pretendem.
Sou apologista da escola forjada antes da instauração da Democracia e que, por força das circunstâncias, se especializou em denunciar sem dar nas vistas, sem ser explícito embora sendo directo, trocando, deste modo, as voltas à censura prévia.
Sou especialista da escola dos subentendidos, do que se esconde no que se escreve, de como potenciar as entrelinhas, a composição harmónica de uma dada melodia sempre contida num texto.
De como uma linha, frase, período, se preenche de outros tantos, dos seus implícitos.
E da eficácia de assim se saber escrever que, ao contrário do que se pense, vai ao âmago das questões que se abordem.
De todas elas e que não se compadece com a voragem mediática!
E não me perguntem como isso se faz ...
Como se se tratando, a escrita, de uma janela entre-aberta a partir da qual se perscruta a vista que dela se vislumbre ao sabor de quem a abra de par em par e a quem cabe, a quem dela desfrute, livremente explorar.
Sendo que a vista é aquela e não outra ...!
O que se vê, nos seus contornos, não passa, aliás, da superfície das coisas!
O que se esconde, para lá das suas camadas, na copa das árvores ...!?
E mais do que delas se vê, o que, à sombra delas, se ouve!?
Há sempre uma aragem, uma brisa que, soprando, clareia, porém, a vista que se entrevê.
E eu preciso dela como de pão para a boca, preciso da música que preenche todos os recantos da palavra, amplificando-os, redimensionando-os, dando-lhes pleno sentido e ressonância.
Fiz uma pausa, silêncio sem o qual a música também não floresce e ao
texto anterior recusei-me a ilustrá-lo ou a lê-lo com fosse que suporte musical fosse.
Não havia, aliás, música que a ele se ajustasse ou que ajudasse a adensá-lo.
Apenas o silêncio ...!
Mas, por regra, o meu conselho, apenas um conselho, o meu, é este:
Abram o meu blogue em duas janelas e numa delas cliquem no endereço musical apenso no final do texto e na outra, leiam-no alto, ao texto, como tanto gosto de o fazer, dando relevo, vida ao que foi escrito.
Ao texto o pausando, entoando-o ao sabor da pontuação e da música como se de mais uma linha melódica, feixe de harmónicos se tratasse a juntar à partitura que se ouve e assim se reinterpreta.
Chega de pausa, fi-la o mais que bastante!

Cavatina


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

SANGUÍNEO

pintura rupestre da Caverna das Mãos, arte paleolítica da Patagónia

Forço o traço que aqui se continua a desenrolar de um novelo sem fim.
Sem nenhum registo especial a salientar na tristeza sórdida, modorra, apatia de um nevoeiro pardacento e pegajoso que teima em se colar aos ossos e a tapar o Sol, a claridade que tarda neste Inverno cinzento e baço, húmido e contagiante.
Chocam-se os autóctones com um qualquer registo menos cor de rosa, ironia das coisas, como se a vida o fosse ou se a cor sanguínea em que este se derrama devesse prevalecer sobre os rascunhos das suas próprias vidas e existências remetidas ao anonimato e ao silêncio.
Tomados de um toque de psicose geral, o registo baralha-os e confunde-os ainda mais não bastara o que baste no a preto e branco das suas vidas quase como se mais valera a tragédia humana que os ensombre em definitivo.
Ou como se esta alimentasse, na morbidez não dita que a sustenta, a ilusão da cor.
Estampada nos rostos, a previsibilidade do sucedido no dissimulado basbaque geral.
Como se se desejasse, a todo o custo, escamotear a perfídia de jogos de poder alicerçados em sucessos instantâneos e vazios a troco de chantagens e pérfidas diatribes, de nada, na tentativa cada vez mais inglória de os preservar para não dizer de os fomentar à outrance.
E pese como pesa tudo o que de liminarmente condenável não pode, evidentemente, ser escamoteado!

pausa
( da música que fui incapaz de seleccionar )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Janeiro de 2011

sábado, 15 de janeiro de 2011

ESTUDO

Passados para lá de dois dias e tendo recorrido uma vez mais à caixa de comentários e como, amiúde, tem acontecido ao longo da vida deste meu blogue, nela fiz um esboço, estudo, rascunho de um texto que, finalmente, irá preencher nova página que à anterior se lhe seguirá.
Esta página!
Saco à viva força das palavras, oiço-as e aqui as digito mais ou menos ininterruptas, mais ou menos reticentes e vou formatando-as em períodos sem ideias pré-concebidas.
Paro aqui, paro acolá e, aos soluços, à matéria da escrita a vou deslaçando.
Por vezes, tenho a sensação de que o filão se esgota o que, invariavelmente me angustia mas hoje não, apenas prossigo neste exercício num tira-teimas como quem previne engulhos, ansiedades a evitar.
Volto atrás, corrijo esta e aquela palavra, esta e aquela expressão e prossigo já com outro ênfase.
Paro de novo, no exacto momento em que escrevo paro de novo.
Fico à espera ...
Abro outra janela e ponho o tema Beyondness, de John Barry a tocar em fundo, aquele que em
Espiral acabei por escolher quando desejaria antes ter colocado um outro, aquele outro de Out of Africa do mesmo compositor mas que aqui, ao concerto para clarinete de Mozart, me acabou por conduzir e convencer!
E sigo no encalço da música que as palavras têm ...


em memória das vítimas das terríveis intempéries no Estado do Rio de Janeiro, na Austrália e no Sri-Lanka e de outras, intempéries de outra ordem de grandeza não menos terrível, como as que fustigam a Tunísia e a Costa do Marfim ou aquela que nos Estados Unidos dizimou ou atingiu civis e uma reputada congressista


Concerto para Clarinete


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

ESPIRAL

Diana, DNA

A realidade tem tantas faces e esquinas que, à medida que a vamos abordando, ela vai-se revelando muito mais como cilíndrica ou esférica, espiralística do que como um poliedro.
Reflexo da nossa própria matriz ...
As faces são tantas e tantas, desdobram-se de tal maneira, que a realidade se vai confundindo, na profusão de camadas em que se sedimenta, com a própria Terra.
Com o esférico do planeta Terra!
Com o movimento das esferas onde não há esquinas nem faces, apenas o rotativo e o transláctico, a galáctica vertigem universal.
A espiral do Universo ...
O curvilíneo transversal da escrita que me induz ...
Que ultrapassa o convencionalismo estabelecido.
Que grita que nada se resume ao que estratificado está e que tanto se tenta isolar em planos, alíneas, disciplinas, dimensões estabelecidas.
Que a realidade é muito mais vasta do que o convencionado e que sempre se tenta isolar do resto como se o resto não fizesse parte integrante do próprio convencional estabelecido.
Como se tudo não estivesse relacionado na interdisciplinaridade, na transdisciplinaridade que a abordagem do real, cada vez mais exige.
Como se, em décalage com as exigências da modernidade, alhos não tivessem a ver com bugalhos nos atalhos que os recompõem diante da complexidade geral.
Como se, quando falamos de Deus, na unidade indivisível do real, uns e os outros, nós todos não fôssemos, também, mais do que o somatório, a potência de todos os eus quais astros, elevada à infinita quantidade deles mesmos.
Como se o sonhado não fizesse parte do real e dele devesse ser alheado ou o conhecimento sensível, indutivo, devesse estar divorciado, à viva força, do dedutivo, divórcio contra o qual são as próprias ciências exactas a alertar ou de como a arte não pode ser apartada do conhecimento dito exacto que já se sabe que o não é!
Como se a escolástica devesse continuar a prevalecer numa obtusa obstinação a perder, aceleradamente, o sentido.
Como se ... mais cegos fôssemos do que a própria cegueira geral ...!
Não sendo uma amálgama indiferenciada, é claro e nunca é demais frisá-lo que, na realidade, há nela esferas próprias e hierárquicas de intervenção que importa, sobremaneira, preservar e salvaguardar, separar mesmo, mas umas e outras não deixam de, na sua indivisibilidade, interagir entre si e entre si com o todo.
Inevitável como a gota que na água se mistura com todas as outras!

a Malangatana, a profundidade pictórica de um continente e a Victor Alves, entre aqueles que verdadeiramente merecem uma referência póstuma e o respeito geral


Beyondness


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Janeiro de 2011

Malangatana

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A MAGIA DAS ESQUINAS

Desenho e fotografias de Manuela Baptista, O Rapaz Turquesa


A magia das esquinas não tem esquinas nenhumas

Parece que as tem
mas de tanto as encarar
desvendam-se como miolo de pão fatiado
barrado de manteiga
e escorregadio
a desfazer-se boca abaixo

Boca acima

Da boca
dissolvem-se as esquinas em curvas
amaciadas de insistência
no encurtar das distâncias
e deslizam sem aspereza
pelos curvilíneos labirintos da escrita

O nó da fita de pano
que ao pescoço trazia
azul turquesa
desata-se em sobressalto
mais ainda do que em canto
poética
e transfigura-se neste traço
com sabor a maresia

E como o menino que cantava
com voz de anjo
extasiando
por tamanha revelação
canto agora
mas em silêncio
e sem voz de trovão
noite e dia
desde então

ao canto de janeiro do blogue de uma menina do mar


Galharda


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Janeiro de 2011

domingo, 9 de janeiro de 2011

700

da parede da Casa do Grupo de Teatro Te-ato de Leiria, fotografias de Walter

Esta é a página setecentos deste meu blogue, todas elas feitas de originais ou, aqui e ali, em réplica a autores consagrados como neste caso, optei, de novo, por o fazer, uma vez mais inspirado pelo que se publica no blogue céus de um pássaro-folha, blogue de Walter, um meu amigo.
A Política escrita assim, com maiúscula, como recorrentemente o escrevo, é a vida num palco onde pouco importam as suas dimensões ou projecção físicas mas onde sobrelevam, de que maneira (!), aquelas da integridade, da ética e da profundidade que a esse mesmo palco o preenchem ou não.
Insubstituível Condição Maior que tem de prevalecer ao rasteiro da politiquice e ao imperativo da instantaneidade mediática!

Poema Acto III

O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.

O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma, e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.

Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.

O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com a sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a sua emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.

O actor em estado geral de graça.

( Herberto Hélder,
in Ofício Cantante - Poesia Completa )



ACTO

O actor
é o acto que encena
que incendeia
de chamas
que tu apupas ou aclamas

O actor
é muito mais
do que a teia
em que se enreda
é veia

O actor
parecendo fingir
de fugir
não sabe ver
sem sentir

O actor
no personagem que encarna
é ele e o outro
é sarna
que o alimenta e descarna

O actor
no deus e no outro
mais é
do que ele próprio
de pé

O actor
é arte e parte e maré
que enche o palco
de fé
montanha desde o sopé

Não consigo deixar de olhar para um poema como se este me interpelasse directa e pessoalmente e me obrigasse a reagir em toda a sua densidade e, por maioria de razão, com toda a carga sensível à flor da pele.
Acho, aliás, que é essa uma das funções magnas, Política da intermediação poética ...
E se assim é, Política o é e não adianta circunscrevê-la a uma realidade restrita!
A Política um palco e o Político um actor, autor, imprescindível agente de intermediação!


neste acto de despojamento o exercício, no palco do mundo, de uma superior e ainda que informal, essa sim e até ver (!?), magistratura de influência


Gould, Byrd and The Amazing Trills


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

ESTE É O MEU JARDIM

Este é o meu jardim
verde aroma de alecrim
o lugar de meu proveito
onde proclamo meu preito

Roda livre do que feito
aqui exponho e que aceito
sem ter princípio nem fim
mais se compara ao que vim

Jardim suspenso assim
onde à árvore de meu peito
rego e cuido neste leito

Meu coração vai a eito
pulsa em golpe de rim
para lá do que é ruim


para lá de todo o insaciável ruído que se ouve


Fantasia de Orlando Gibbons


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

INVESTIMENTO

Ronen Goldman, The Magician

Tudo ponho na palavra como mago que lança cartas de jogar.
Cartas, apontamentos feitos de palavras ...!
Nela, na palavra me deposito!
Imagens e música, no que escrevo servem de adorno que à palavra têm por fito valorizar.
Reconheço que, por vezes, a partir do trecho musical ou da imagem seleccionadas, estes funcionam como impulsos que ao próprio texto o desatam em contínuo, dia a dia, mês a mês, ano após ano, mas tudo se centra na palavra, força motriz que me sacode!
Ilustração maior ...!
O sublime motivo que para as setecentas páginas me encaminha já em contagem decrescente ...
Tudo se centra na palavra e nela me compromete.
Impulsionado, aqui, pelo trecho musical da página anterior, logo a palavra se jorra embalada na música que oiço e reoiço sem parar.
Senhora soberana como soberana é
quem me aquece as noites, a palavra é semente lançada à terra como cartas de jogar e que desabrocha em tradução resiliente de minha alma:
Que a aquece na noite fria, que me anima a dela sair e a na palavra prosseguir sem desfalecimentos!
Na palavra, desenho musical, centro todo o meu esforço e o frio que me perpassa, por vezes, não passa da dúvida que me assalta, porque ela assalta-me também em contínuo (!), de saber até que ponto este é ou não é um esforço inglório ...
E logo a música me anima na palavra que dela se instila, tu que és parte integrante da minha vida!

Tu que és parte integrante da minha vida


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Janeiro de 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

ESTÁ FRIO

Martin Stranka, Frozen

Está frio na noite
e no frio
de um arrepio
há sempre alguém que se afoite
a golpear-me
de açoite

Há sempre alguém que se acoite
pela calada da noite
no frio que me invadiu
e que em escárnio
se riu
deste frio que me atingiu

Está frio na noite
mas no frio que me tingiu
oiço um pálido assobio
um chilrear
ou um pio
o clamor quente de um rio
ornado de fio a pavio


A quem me aquece as noites


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

FUTURO PASSADO PRESENTE

Borinamistica, The Sky is Draining

O que escrevo é reflexo do que penso.
Reflexo, espelho, imagem.
O que de uma imagem vejo é o que penso que dela vejo e a escrita é um turbilhão de imagens.
O que penso é dinâmico e não estático, não está parado no tempo.
Tal como coisa alguma está parada no tempo.
A estática é a escrita, o que se escreve desse imparável, ininterrupto movimento.
E que parado, movimenta-se.
O que escrevo vai do Passado para o Futuro, vice-versa e destes situa-se no Presente.
O que escrevo, no momento em que escrevo, já passou.
Tendo passado, todavia, permanece.
O que leio do que escrevo, situa-se, dinâmico, no Presente, em cada momento feito Presente, entre o Passado e o Futuro.
No Futuro podem-me ler como se fosse Presente.
Sendo Passado, o que escrevo permanece no Futuro.
Passado, Presente e Futuro são dislexias do tempo refractadas em espacialidade tridimensional.
Pluridimensional ...!
Dislexias temporais.
Disléxico, no que escrevo refracto-me pelo silêncio nos contornos espaciais do tempo.
A escrita é reflexo dessa dislexia espaço/temporal refractada.
Virtualidade, realidade sempre para lá daquilo que é.
O virtuoso da escrita consiste em reunir numa só as dimensões do tempo com as do espaço:
Futuro, Passado e Presente numa espacialidade única, superfície lisa, geométrica, polígono de intemporalidade.
A Eternidade possível aqui, materializável, ao nosso alcance.
Escrever é uma autêntica viagem espaço/temporal de luz e sombra, de som e de silêncio, que se dilata no tempo!
Como um ralo por onde se sorve ... o céu.

a
inda na tomada de posse de Dilma Rousseff, primeira Presidenta eleita do Brasil e no repúdio por toda a intolerância religiosa

Lux Aeterna

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Janeiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011

OBRIGADO

A Música das Palavras completa hoje os dois anos de vida


a todos os que me visitam

a todos os que me seguem

a todos os que, de algum modo, comigo interagem

a todos os que me lêem, comentam e desafiam

a todas as amizades que, neste contexto, se selaram

à Filomena Claro que, então, me ofereceu este blogue


a Todos, o meu muito obrigado



Obrigado


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Janeiro de 2011

sábado, 1 de janeiro de 2011

CIDADANIA ACTIVA

Excepcionalmente e contrafeito, intervim, nas páginas anteriores, na campanha para as eleições presidenciais em Portugal, apenas com vista a limar aquilo que considero como intoleráveis tiques de arrogância, não assim tão dispiciendos (!), o que me ocupou na semana entre a véspera de Natal e até aqui, até às vésperas do Ano Novo.
Quem mais se ocupou, dizei-me, aturadamente do episódio que a mim tanto me incomodou e que, afinal, incidiu sobre o conteúdo de uma observação feita nessa campanha se, por objectivo, por objecto entendermos as próprias palavras utilizadas e que entretanto, emendando a mão, foram subtilmente corrigidas pelo próprio candidato, assim se tivesse a ela dado a devida atenção o que não aconteceu (!), no pleno conteúdo que, em si mesmas, as palavras transportam e projectam!?
Nada de mais objectivo e aplicado do que o conteúdo das palavras na ausência ou na musicalidade que encerram ...!
No Ano Europeu do Voluntariado com vista a promover uma cidadania mais activa, persisto como de há mais de vinte e um anos o faço, voluntariamente, em promovê-la numa Obra que cresce e assim me disponho, incansável, a mais fazer crescer ...
De há mais de vinte e um para vinte e dois anos a esta parte e em vésperas deste blogue completar os dois anos de existência ...!
O voluntariado das palavras no compromisso que elas encerram não é qualquer coisa de somenos ou de menor acto de vontade, de voluntariado, de exercício solidário da Liberdade ...
E palavras como Voluntariado assim como Cidadania Activa não podem, à luz dos detentores de poder, permanecer como simples verbos de adorno ou de encher e muito menos nos tempos que correm!
Obstinado, persisto em demonstrá-lo, sendo certo que de mim como de todos os que exercem voluntariado, apenas, não depende essa demonstração ...
Depende também das contra-partes a quem, no meu caso, eu me dirijo, naquilo que de reciprocidade a Palavra tem de mais comprometedor e de mais nobre!
Sob pena de persistirmos todos numa desconversa sem consequências catársicas, verdadeiramente mobilisadoras!!
Para mim, as palavras comprometem como desde há mais de vinte e um anos, por elas e voluntariamente, me deixei comprometer, neste exercício de Cidadania activa que dia a dia, ano após ano, resiliente se renova!!!
Cidadania ...
A cidadania começa no uso criterioso da palavra!

no ano europeu do voluntariado com vista a promover uma cidadania mais activa



Adeste Fideles


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Janeiro de 2011