segunda-feira, 30 de novembro de 2009

CONHECIMENTO E INOVAÇÃO

http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/noticias-mundo/2009/11/pr-quer-que-dialogo-seja-acompanhado-de-cooperacao30-11-2009-112619.htm
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Decorre até amanhã, terça-feira dia um de Dezembro, a XIX Cimeira Ibero-Americana aqui, no Estoril, na minha terra natal, com a presença da maioria dos chefes de estado e dos governos dos países ibéricos e da América Latina centrada nos temas do Conhecimento e da Inovação e tendo por pano de fundo a pobreza, a crise económica e as alterações climáticas que a todos nos dilaceram e constrangem.
Saudando-Vos, aqui Vos deixo um repto:
Conhecimento:
Conhecer é saber mais a partir dos conhecimentos que se têm e deles fazer uma súmula congruente, consistente também, na presunção de que o Mundo é um só onde fronteiras e interesses particulares, no multilateralismo se têm que subordinar ao Interesse Geral, Global que no cidadão comum se revê e realiza e na assumpção dos sinais que as alterações climáticas não param de infundir a todos nos obrigando a novas, inovadoras atitudes que pela generosidade nos impelem ao reequacionamento dos nossos paradigmas, à luz e no advento de um Novo que os tempos urgem e impõem.
Inovação:
Inovar é, na preservação da Democracia Representativa, reconhecer a importância das novas ferramentas e suportes que a esta a aprofundam amplificando o papel do cidadão comum na realização do bem-estar geral, global, que como elo da cadeia imprescindível se torna para que se chegue com efectividade plena aos mais fracos e que por seus méritos, na preservação da primeira, da Democracia Representativa, se imponham na constatação ineludível de que o global se revê no singular sem o qual o discurso não se realiza e corre o risco de se reduzir a bonitas palavras que se importantes o são, acabam por não ser suficientes no atalhar dos terríveis dilemas que à nossa consciência colectiva, global a dilaceram.
O conhecimento que neste meu blogue, ao longo do ano que transcorre se expõe e já para não falar em tudo o que nos últimos vinte anos que o precedem se explanou e pôs à prova, inova e impõe um Novo Paradigma Global que por esta via, democrática e transparentemente, sem descanso se sistematiza!

domingo, 29 de novembro de 2009

ADVENTO

Ai Natal sem ter Presépio
sem Advento pretérito
sem ter luzes e enfeites
alegorias aceites
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Sem azevinho e sem coroa
sem a árvore e a broa
sem do calendário janelas
paisagens e aguarelas
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Sem ter música e sem velas
a cor que delas ecoa
sem alegria que soa
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Renascimento que entoa
ressuscita das querelas
ilumina nossas celas
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Novembro de 2009

sábado, 28 de novembro de 2009

DIZ QUE DIZ-SE

Há no diz que diz-se qualquer coisa de extremamente corrosivo, não bastasse a corrosão natural das palavras e que logo na maledicência de um encoberto por fontes fidedignas mas anónimas à credibilidade a desmorona na praça pública, sem possibilidades de defesa.
Esse é sempre um incontornável e pesado risco de quem publicamente se expõe!
No diz que diz-se que se insinua pardacento e incógnito, coscuvilheiro, não há honorabilidade que se aguente intacta.
O que dirão nas minhas costas os que me comentam sim, pela calada e sem qualquer benefício construtivo?
Tenho, tenho a presunção de ser ambicioso e depois!?
Comentemos por partes:
Presunção.
À presunção já houve, entre os meus comentadores e com toda a frontalidade, reconheço e sublinho-o, quem lhe chamasse não um pecadilho mas um pecadão!
Admitindo-o logo de pronto Lhe respondi e agora comento:
E depois, felizmente já não vivemos numa sociedade confessional porque a essas, às confissões, guardo-as para o lugar certo!
Ambição.
É ilegítima a ambição?
Pergunto com maior assertividade ainda, que seria de nós se a não tivéssemos!?
E acrescento, por fim, se não estará nos meios que utilizemos para a concretizar que poderá residir, aí sim, a sua legitimidade!?
Estas foram questões que à minha consciência interpelaram como sempre a interpelam, a da ambição implícita na presunção mas que, frontal e directa ou indirectamente me foram, há umas páginas atrás, por uma minha amiga, leitora e comentadora, com pertinência colocadas.
Agora, pergunto-me sem que por tal me deixe condicionar, o que não se dirá nas minhas costas!?
A esses todos que, sinuosos, na fogueira da boataria se imolam, porque a mim não me sacrificam (!), respondo que ao menos tenham a hombridade de me o escrever na própria cara, o mesmo é dizer, neste meu blogue!
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( A Mac, amiga que me comentou oportuníssima embora, até agora, por uma só vez mas que espero que por quantas outras venha a reincidir )
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( Com este endereço se encerra um ciclo musical pré-natalício, como quem ao Nascimento o interpela com o pano de fundo da Morte, dedicado à música sacra )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Novembro de 2009

POETAS E PROSADORES

http://www.youtube.com/watch?v=lrumxvKD3p0
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Poetas e prosadores
vivos em suas dores
são mais que simples sonetos
do que prosas ou motetos
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São tercinas e duetos
são árias e são tercetos
são silêncios no que fores
são procissões e andores
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São as não pintadas cores
que não escrevas nos livretos
que não saibas onde pores
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São óperas e são quintetos
maculados pormenores
amarelos brancos ou pretos
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( Inspirado pelos meus comentadores, dedicado a todos os que por aqui passam, em silêncio ou deixando a sua impressão digital )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Novembro de 2009

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

CORROSÃO

Eu que nestas palavras corroo
como no que quer que diga ou escreva
pinte
cante ou esculpa
sempre acontece
dando outra forma ao estar e à realidade que nos circunda
perfurando-os do que aqui deixo em perspectiva outra não tida antes em conta
sou um ácido que distorce e perfura a alva virgindade de uma caixa sem texto nem nada
que a mim se entrega passiva e pronta a ser usurpada
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Violentada por caracteres que a conspurcam
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Que a disformam da brancura em que se tinha
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E que nem branco o fundo continuará a ser porque convencionado assim ao amarelo de uma folha que se dá a quem a queira ler
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De visor para outro visor na concupiscência pública a que a exponho ditando as regras e para sua humilhação maior
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Ai da pobre folha que manipulo
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Que preenchida de cicatrizes tão dolorosas como as letras que em periodos saco e impulsiono
se desmancham aqui no que equaciono
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Novembro de 2009

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

SONETINHO

Sai-me um soneto que soa
a mágoa que me magoa
quebrado o ritmo foi
em que cantava e que dói
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Nesta pausa se constrói
silêncio que não corrói
um intervalo que ecoa
e que não se dá à toa
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Anseios são minha loa
desidério que se mói
à vontade não destrói
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Reposta a linha que entoa
prossigo o que escrevo na boa
disposição que não rói
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( A propósito de um bloqueio que nos impediu o acesso à net, interrompendo o fluxo por mais de vinte e quatro horas )
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http://www.youtube.com/watch?v=MNYN8z7HRhY
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Novembro de 2009


Tchello d'Barros, Soneto Alado

terça-feira, 24 de novembro de 2009

À IMAGEM E SEMELHANÇA

Recriação
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Patenteiam-se, nas duas páginas anteriores, ilustrações de uma criação original de Jean-François Millet e a recriação de Van Gogh segundo o primeiro e interrogamo-nos sobre qual delas vale mais ...
Não ponho a questão de saber de qual das pinturas gosto mais já que, esse, é um dado subjectivo que tem a ver com o gosto singular sempre discutível e, por outro lado, legítimo mas que vai com cada qual.
Apenas, qual delas vale mais, não nos mercados artísticos o que sempre afere da qualidade de uma obra embora não se possa considerar como aferidor absoluto, mas tão só esteticamente.
Se sabemos em quem Van Gogh se inspirou, em quem se terá inspirado Millet!?
Da expiração de ambos, contudo, resultaram as obras que aqui se expõem ...!
Apenas três e mais dois pormenores:
As duas obras são simétricas uma da outra e a contraste tonal é maior em Van Gogh do que em Millet sugerindo-a, à recriação de Van Gogh, como imagem, sempre mais clara e luzidia do que o reflexo que, todavia, paradoxalmente, o antecede e a inspirou, a obra de Millet, de tons mais suaves e esbatidos;
Em Millet, o par de camponeses deita-se para a nossa esquerda e em Van Gogh, para a nossa direita;
E, por fim, o traço é em Millet, um romântico, mais preciso, realista do que em Van Gogh, um impressionista a abrir-se ao modernismo, mais despormenorizado ou, se quisermos, fragmentado.
Depois, o pequeno pormenor da disposição das foices, ele também simétrico entre si como se sugerindo ou anunciando simbologia política senão mesmo religiosa, na sua disposição e logo nela se patenteando a função pré-monitória da arte, embora ou por maioria de razão, em ambas as pinturas, simetricamente entrecruzadas, e, finalmente, o pormenor dos sapatos, eles mesmos como pegadas pré-anunciadoras de extremadas derivas históricas quer para a esquerda como para a direita que haveriam de caracterizar o século seguinte, o século XX, à sombra, a coberto do trabalho e que hoje importaria, sem as branquear, sublinho, dirimir.
Se a ambas as pinturas, o original de Millet e a cópia, digamos assim, de Van Gogh, se podem considerar como feitas à imagem uma da outra, a pergunta original subsiste, a saber, qual delas vale mais e independentemente da chancela que o nome dos dois autores, naturalmente, no peso específico que transportam, carregam ...
E depois, não são elas, estas obras, comunicantes e imprescindíveis uma à outra!?
Por fim, pergunta especulativa e sem resposta certa:
Se ambos, Millet e Van Gogh, são criadores ou se quiserem recriadores, sem estas duas obras e enquanto artistas, onde estariam hoje um sem o outro?
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Novembro de 2009
Original

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

AMOR

Vincent Van Gogh, segundo Millet
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O amor
tem da morte
o sucumbir
em tal sorte
que a exaltação
se confunde
com o estertor
que ela infunde
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Apaziguados anseios
se aninham juntos
em afago sem devaneios
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Novembro de 2009
Pablo Picasso, Blue Nude, 1902

domingo, 22 de novembro de 2009

DESCANSO

Jean-François Millet, La Méridienne, 1866
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Na margem do rio já não choro
oiço as musas que a cantar
são um caudal não o ignoro
de águas que desaguam no mar
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Desanuvia-se o ar
descanso contigo e namoro
teus belos seios e altar
me iluminam quando coro
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Deitados na foz o decoro
salpica-se de sal a voar
perco a noção deste foro
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Turbilhão invade o estar
que nos anima em coro
nesta fusão sem ter par
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Novembro de 2009
Pablo Picasso, Entreinte

sábado, 21 de novembro de 2009

SEM DESCANSO

Caravaggio, Riposo
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Sem descanso me alimenta
a minha escrita que inventa
o que escrevendo se cria
mesmo se não estava e não via
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Fio de caudal qual magia
que deste nada se envia
pela bonança ou tormenta
para o teu nada que tenta
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Nada que é grande e intenta
transborda do fio que enfia
nestas linhas em que assenta
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Espaço de Democracia
onde a Paz seja portenta
afirmativa a alegria
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Novembro de 2009
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( transposto do lugar dos comentários a 22 de Novembro )
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DESCANSO
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e em repouso
se inventa
esta paz
que alimenta
o caudal
a borda
o rio
linha a linha
desenhando
o que escrevendo
não fio
que da bonança
à tormenta
o caminho é longo
e frio
o espaço é alegria
que transporta
este navio
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Manuela Baptista
21 de Novembro de 2009

DENOMINADOR COMUM

Porque te obstinas em escrever assim, desalmadamente?
Porque tenho esperança.
Esperança (!?), esperança em quê?
Tenho um fio que por vezes corre mais, outras menos mas corre sempre, um fio de esperança que, com base no denominador comum da Paz, mulheres e homens de boa vontade e independentemente das suas crenças e convicções, à volta dele se possam globalmente entender a bem da nossa Casa Comum e da nossa sobrevivência com qualidade de vida ...!
E que denominador é esse?
O denominador da Paz, da bela, preciosa, Santa Paz, essa sim (!), sarando as feridas das mal denominadas guerras santas, qual santas (!) e sem a qual Paz não nos poderemos conjugar em relação aos males que afligem e sangram, mais e mais, o Planeta.
Ah sim (!?), sumaria-os então!
Sumariá-los-ia, então, em duas palavras:
Alta Tensão!
O Mundo vive em alta tensão:
Tensão ambiental, ecológica;
Política;
Económica;
Global!
E, no meio disso tudo ...!?
No meio disso tudo há que encontrar denominadores comuns que em vez de crisparem sejam capazes de distender, logo pela concessão do benefício da dúvida ao Outro, a nossa irremediável, incontornável convivência e essa possível distensão tem por pano de fundo e começa, exactamente, pela distensão entre as confissões, no que cada qual professe e em nome do bem comum que é bem mais vasto e ingente do que as querelas que salutarmente nos distinguem em variadíssimas religiões ou que entre crentes e não crentes os apartam entre si.
Tens esperança num mundo melhor!?
Tenho e sabes porquê?
Não ...!
Porque não paro de tentar fazer por isso e se não paro, a esperança, de há vinte ou mais anos para cá e numa Obra que não pára de crescer(!), não só não morre como cresce e alimenta-me sem descanso!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

SABER

Saber é não ter medo de fazer
logo o que se faça a dizer
nem tão pouco de amar
aquilo que se saiba dar
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É dirigir-me a Deus como par
ou a Ti mesmo sem ar
de quem detentor do saber
o Outro o não possa ser
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Pois és Tu Outro e ímpar
inigualável Teu estar
por mais que difira o parecer
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Sejas sem Deus o querer
pura vontade de erguer
um Mundo onde respirar
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Junto às águas deste rio
Babilónia choro
ao recordá-la
rogo
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( Cânone livre por mim escrito e vertido em música em variação a um outro, em inglês, de Jos Wuytack, cujas gravações, infelizmente, eu não possuo, reportadas ao tema Super Flumina Babylonis, aqui tão bem ilustrado )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Novembro de 2009

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

GRAÇAS A DEUS

Graças a Deus, Ele é exigente connosco mesmos:
... deixa para nós a maior parte;
... fornece-nos os critérios e os caminhos a seguir;
... capacita-nos das opções que pelo livre arbítrio devamos tomar;
... deixou de ter tudo, se é que alguma vez o teve, nas Suas mãos numa omnipotência que, quantas vezes, se parecia confundir com a mais opressiva prepotência;
... não tem poder sobre a Terra e o Céu ao ponto de Dele depender o que quer que aconteça, tendo-se reconhecido no Seu Filho feito homem para que percebêssemos quanto Dele, a não ser pela entrega, o sacrifício, a persistência e o amor, o amor ao próximo e na simbólica dos gestos, afinal, depende;
... deixou de ser, se é que alguma vez o foi (!), castigador;
... em nós fez apelo à nossa maioridade, à nossa capacidade democrática e soberana de decisão;
... separou as águas entre religião e superstição, numa confusão em que, quantas vezes, teimamos em persistir, dando-nos a chave que domestique o medo;
... abriu-nos à Luz e à Razão, à separação de poderes e à convivência pacífica entre todas as Culturas e Saberes numa postura que à confessionalidade a deixa para a esfera das nossas mundividências particulares a ser respeitadas e da reflexão não estigmatizante e que, despida de atavismos, possa ser fecunda;
... à reflexão a deixou como possibilidade real de encontro, de denominador bastante, de Paz, hoje, globalmente, não só ao nosso alcance como ingente e desidério das pessoas de bem;
Graças a Deus!
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( Noutra perspectiva, o que aqui lego também poderá ser enunciado a partir do Homem, de uma visão humanista e da Sua História até à Consagração da Constitucionalidade Democrática e do seu incontornável aprofundamento )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

CANTOCHÃO

Folha a folha cai ao chão
é minha eterna canção
quanto mais se ergue meu som
raiada a folha tem dom
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Página a página com
sempre alterado seu tom
repisa e volta ao refrão
do que vos canto ao serão
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Polifónico cantochão
melodia e oração
sem mágoa meu conto é água
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Fonte que desagua
brinquedo e minha grua
meu poema e meu sermão
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Novembro de 2009

ÓNUS

Teria eu de estar com toda esta ladainha em forma de entrevista, justificativa dos meus pecadilhos?
Não e ... ainda bem!
Não vivemos numa sociedade confessional, graças a Deus!
Friso que Deus dá-nos a graça de não vivermos mais numa sociedade confessional!!!
Mas o que é certo é que nada me impedia, impede de o fazer.
E, porque é que o fizeste?
Cá tenho as minhas razões ...
Vá lá, não te feches em copas, porque é que o fizeste!?
Por paradoxal que possa parecer, para que não me apontem a dedo, já fui suficientemente apontado sem que me dessem outra que não esta possibilidade de defesa omissa de interpretação explícita!
Foste!?
Fui e, por isso, não me apanham noutra e agora contra-ataco já que a melhor defesa é o ataque!
Ora essa ...
É isso mesmo, quem as fez ou as assume e integra e delas se livra ou fica para sempre à mercê de ser apanhado pelos seus calcanhares de Aquiles como se não bastassem já os pés de barro que a todos nos caracterizam e em que todos assentamos as nossas fundações ...
Diz-me só uma coisa, satisfaz-me uma curiosidade, não tens curso superior?
Não, não tenho, mas isso não me impede de ter habilitações, habilitações como aquelas que aqui neste meu blogue se expõem que são bem mais do que um canudo!
Quantos professores doutores se atreverão, logo por lhes faltarem, eventualmente, as ferramentas apropriadas, a deixar exposto publicamente um espólio como este e em tal letra de forma!?
Desafio, aliás, qualquer um a que, pelo material que neste meu blogue se encontra sistematizado, tão sistematicamente como eu escrevo, a que a ele o analise e interprete e dê a justa avaliação de que serei merecedor e independentemente ou por sobre maneira atendendo ao percurso que por minha conta, risco e sem rede decidi trilhar, e já para não falar de tudo o que a este meu blogue o antecede e que publicamente, porque nada deixei fechado na gaveta e teve, pelo menos, três destinatários, dei à estampa!
Que tal, satisfaz-te esta minha justificação e não menor desafio que aqui te lanço!?
Repara, podes como não dar-te ao trabalho a que te desafio, estás no teu pleno direito mas, independentemente de o fazeres, o meu espólio fala, canta, escreve por si ...... ou não !?
Aquele que canta, falando e escrevendo, reza três vezes!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

PECADILHOS

- Acabei de lhe descobrir a careca!
- Ah sim, então conte lá ...
- É verdade que num tempo de puritanismo agudo deixava crescer o cabelo que nem um cristo badameco e se confundia com um hippie contribuindo para a lassidão dos costumes?
- É, e depois!?
- É verdade que antes da revolução foi suspenso da escola onde estudava por actividades digamos que subversivas e como se não bastasse ainda andava por aí a enfrentar cargas policiais?
- É, e depois!?
- É verdade que pertenceu a uma organização de extrema-esquerda assaz peculiar, de fama e apoios invectivados como duvidosos e que por ela ou contra ela, no limite da militância, até à polícia foi chamado vá-se lá a saber porquê?
- É, e depois!?
- É verdade que andou por aí a dar umas passas e a depenicar em águas menos recomendáveis e, eventualmente, salobras?
- É, e depois!?
- É verdade que teve crises de humor que se arrastaram da depressão à euforia numa instabilidade que a todos os seus próximos os trouxe de credo na boca e que o forçaram a não prescindir, de há muito, da profilaxia preventiva e regular do psiquiatra!?
- É, e depois!?
- É verdade que nunca conseguiu acabar um curso superior fazendo por levá-lo a eito e de uma assentada só?
- É, e depois!?
- É verdade que mesmo a nível profissional o seu percurso se caracterizou por inúmeros conflitos e polémicas que, como tudo o resto, constam dos autos!?
- É, e depois!?
- É verdade que sempre que pode, em nome de lhe sair mais em conta, dispensa factura para que lhe não seja cobrado imposto nos arranjos privados que solicita?
- É, e tanto mais quanto a crise vai apertando e de que maneira no meu bolso!
- É verdade que escarrapachou tudo isto publicamente?
- É, e já agora estou a falar com quem (!?), o meu amigo será, porventura, o inquisidor-mor da parvoeira!?
- ( ...!)
- Que presunção a sua de julgar poder-me marcar para sempre ...! Vade retro hipocrisia (!), nunca ouviu dizer que entre o saber de experiência feito e a retórica pesa o que se sabe pela experiência tida!? É que mais vale ter pecadilhos por gosto e conhecer os limites, os meus próprios limites e sem os escamotear, do que desejar pecadilhos sem se ser consequente e dos limites lhes não ter a noção. Daí podem derivar, derivam normalmente (!), os maiores pecados e sarilhos irreparáveis ... julga-se o quê, imaculado!? Vá pois de carrinho e não se previna!
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Les beaux jours ne sont encore perdus
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Novembro de 2009
Jerzy Czerniawski, Diário de um Louco

sábado, 14 de novembro de 2009

SUMÁRIO

Esqueletos do meu armário
saltem todos cá para fora
se escondidos em sudário
saibam todos nesta hora
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Não sou um santo que cora
não sou tão pouco um otário
não sou um rico que chora
nem tão pouco usurário
-
Nas margens em que namora
o meu sentir libertário
minha vida pese embora
-
Dela não escondo o berçário
meus pecadilhos aflora
em tudo o que escrevo sumário
-
( No Dia Mundial da Greve da Fome, em que o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, por convocação da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação ( FAO ) a ela adere, para assinalar os mais de mil milhões de pessoas subnutridas no Mundo )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Novembro de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

ESTÓRIA QUE ECOA

I
O eco que vem do mar
lançado por uma funda
é atirado pelo ar
à terra salpica e inunda
II
É uma voz que se afoga
nas águas que engole salgada
como uma alma penada
um turbilhão que se arroga
III
Uma pedrinha que roga
no meio em que fica molhada
uma coisa que se afunda
sem termos dado por nada
IV
A pedra ecoa na estrada
que ao remoinho interroga
do gritar não saciada
que a outros ela secunda
V
Mas que estória lamentada
de pedrinha que sufoca
ressoa à balaustrada
da minha margem fecunda
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Novembro de 2009

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

OFF E ON

Se eu não conseguir escrever on, em público, o que quer que seja que não seja congruente, consequente com o que diga ou escreva off, em privado, então é porque qualquer coisa não vai bem!
Não vai bem em mim, diga-se e sublinhe-se ...!
Isto a todos os níveis, quer a nível Político quer a qualquer outro nível de abordagem.
Mas se o meu discurso for coerente e estruturado, o que quer que escreva em público terá de corresponder ao que diga, escreva em privado e aí, que me interessa se me escutam!?
É certo que todos temos o direito à privacidade mas se me escutam o que sendo público escrevo, que me interessa se me escutam em privado já que não tenho duas caras que se antagonizem!?
Posso, em privado, é certo, dirigir-me a quem me reporto em informalidade ou aspereza que a abordagem pública o não permite mas daí até ter duas caras ...
O que diga ou escreva pode ter elevado grau de complexidade e logo contraditoriedade mas se não existir correspondência entre o que em privado e em público diga ou escreva, aí sim, é caso para me esconder no argumento da privacidade ou do segredo para me escamotear e refugiar do que em off tenha dito ou escrito.
De outro modo escrevendo:
Digo em privado que aquele tipo é um estafermo mas, em público, trato-o com a deferência de um Vossa Excelência Deferentíssima ...
De que me poderei queixar se nas malhas das minhas próprias incoerências para lhe não chamar hipocrisia me enredo!?
Em privado estruturarei, como até aqui, o que em público apenas escreverei sem dizer, num processo sem face oculta, nas múltiplas faces que de mim se desvendam, faces e não caras (!), porque somos, todos nós somos complexos (!) e no estafermo deferentíssimo em que a ele me possa, eventualmente, em público como em privado dirigir!
Vossa Excelência indefere ... pois eu defiro e não me pinto como o não sou!
Como se por feitiço, então, suicidário acordo liberto, não troco a minha Liberdade (!) rejeitando tais dúplices procedimentos e ainda que me repudiem ...
-
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Novembro de 2009

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

TARANTELA

Quando oiço o trinar
dos pássaros à minha janela
penso que o seu chilrear
é desgraça ou uma vela
-
Rota de caravela
como leve sopro de ar
pinta a sereia na tela
o silvo que vem do mar
-
Se for ansioso o piar
é grito numa aguarela
navio quase a naufragar
-
Mas se o chilreio é querela
um ameno sussurrar
soa-me a bom augúrio é o trinar tarantela
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Novembro de 2009

terça-feira, 10 de novembro de 2009

TRIÂNGULO

Eu tenho à esquerda
uma mão
união
como convém
que é da direita
enlace
de palmas
de um só alguém
-
As duas mãos
são simétricas
como o são
letras
e métricas
sinal da cruz
pela direita
ou pela esquerda
vai bem
-
A minha esquerda
é direita
ao espelho
e é escorreita
a minha imagem
que espelha
o seu reflexo
também
-
Ai do piano
que sorte
da viola
ou xilofone
não foram as mãos
corrediças
darem voz
a um saxofone
-
Uma
são duas
em três
sou um triângulo
que vês
reproduzir-se
em lados
multiplicados
à vez
-
( Escalada, Tentações e Triângulo formam uma nova Trilogia )
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Novembro de 2009

TENTAÇÕES

Há muros que não são de esquerda nem de direita, são muralhas que nos toldam os discernimentos:
O muro que se ergue e que vê, subliminarmente, superioridade moral à esquerda desprezando a direita ou o muro que se ergue e à direita a vê como força moral não explicitada mas que não residiria à esquerda, por exemplo, o que inquina, balcaniza as lateralidades obstruindo exponenciar as energias acumuladas.
É como pensar, unilateralmente (!), que alguma coisa poderíamos ser anulando qualquer uma das nossas lateralidades ou branqueando a História!
É como não perceber que a Leste da Europa é a esquerda que faz o seu luto como a Ocidente a direita pelas tentações totalitárias em que ambas se deixaram, historicamente, enredar e que se tendo desmoronado à Europa a continuam, sem muralhas físicas, no entanto, a dividir e a assolar ...!
O que importa, urgentemente, resolver!
É na assumpção de uma relação de osmose simétrica que a estas barreiras urge, pelas lições da História e que a própria tradição cultural, a Oriente como a Ocidente tende, logo pelos alfabetos como por uma certa tradição religiosa que em simetria se afirmam, quantas vezes, a obstaculizar, na Europa como, estou certo, no Mundo, que importa, escrevia, ultrapassar:
Sem cair em tentações totalitárias que vêem no oponente não apenas rica e meritória contradição mas irremediável antagonismo, herança ainda não completamente partilhada da Guerra Fria e daquilo a que chamo de Guerras Civis Mundiais, consolidar as diferenças e potenciar as multilateralidades nas suas também múltiplas perspectivas quer individualmente como no Todo Global consideradas!
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( À Linda Simões que me deu a dica, na caixa de comentários da página anterior, para escrever aquilo que aqui sintetizo )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Novembro de 2009

Kleber Galvêas, Vida