quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O TRABALHO DO ARTISTA




Eros, Peter Paul Rubens, 1614






eufemismos à parte, de que consta o trabalho do artista?



É uma pura filigrana
um rendilhado que emana
com aturadíssimo esmero
de um perfeito olhar de Eros

Sério rigor severo
de árduo labor do zero
que do nada se reclama
de um universo que é chama

Luz que alumia o mero
lodo extraído da lama
em sonho roubado à cama

E que a este o tem por ama
concretizado em sincero
real que aqui retempero











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Janeiro de 2016



segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

EUFEMISMO











O eufemismo artista
é uma forma bem vista
de suavizar na figura
o que se crê com lisura

És artista e tens altura
não admira se dura
a profusão com que à vista
crias sem perder a pista

Artista ou poeta alquimista
tua escrita tem de pura
a vontade da candura

Mas pergunto-me com brandura
se o que escrevo tem de altruísta
quem me dá em troca alpista


sendo alpista uma outra e irónica figura de estilo, certo é que também de pão vive o homem










Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Janeiro de 2016





quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

REDE SOCIAL













Dizei-me o que importa o impacto
se mais não for que venal
e não o que se escreva o facto
que o torne imortal

Dir-me-ão fenomenal
a pesca de gostos de jacto
ou caso um sonante astral
os arrebanhe num ato

Que pouco importa no vale
não encontrar do graal
no que se crie um extrato

Mas é na palavra que trato
que reside o substrato
desta rede social


de sempre e para sempre











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Janeiro de 2016



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

FACTO










Do meu facto vos dou conta
pouco importa se é de monta
é marca que não alieno
matriz com que vos aceno

Seja o que vejo pequeno
ou rochedo do rio Reno
aquilo que escrevo é montra
de um olhar que em mim se encontra

A tudo o que instile o obsceno
no que digo está o pleno
do desmontar de uma afronta

Pois o que conta desponta
da vontade que está pronta
a estancar todo o veneno









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Janeiro de 2016





quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ENSEADA











lugar amado
em minha estrada

É a palavra
minha enseada
e o meu fado






através dela me expondo, mesmo quando a palavra me falta é nela que me refugio








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Janeiro de 2016





segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

DA PALAVRA












Tem ou não tem a palavra, pela sua própria natureza, o poder de nos tocar?
A não tê-lo, deverá ela deixar-nos indiferentes, descomprometidos, expurgada que a palavra devesse ficar da sua própria carga semântica, tornando-se inócua?
Ainda uma terceira reformulação da pergunta:
Admitindo, por um momento que fosse que a palavra seria inócua, de que nos serviria ela?

Começando pela última das reformulações e com ela a todas as anteriores perguntas lhes tentando responder, a ser inócua, a palavra não nos serviria de e para nada.
Sendo inócua e, por isso mesmo, não nos tocando ou comprometendo, a palavra seria um escusado e dispensável extra.
As ideias que as próprias palavras traduzem seriam uma absurda inutilidade.
Tocar.
Tocar, comprometer, impressionar, incomodar, desinstalar, transformar tanto para o melhor como para o pior, esperemos, estou certo que tendencialmente para o melhor.
Só assim, nessas capacidades que ela tem, a palavra ganha sentido pois que é disso mesmo que se trata:
A palavra sensibiliza, racionaliza, dá vida.
Ela não nos deixa nem nos pode deixar indiferentes e com outras palavras conjugada, muito menos ainda.

A palavra é a mais potente de todas as imagens.
Tão potente que ela altera a própria perceção que temos da realidade.
Senão pondere-se:
Não fora a palavra e o que seria dos objetos que compõem o real, naturais ou não e, nestes últimos, tal como seja, por exemplo, uma cadeira?
O que terá surgido primeiro, a ideia dela, da cadeira traduzida na sua própria conceptualização ou a cadeira propriamente dita?
O simulacro da cadeira talvez que a tenha precedido, mas que dizer do objeto que em si mesmo lhe dá nome?
E deixo-vos com esta e com a pergunta que se segue, mantendo-as no ar, na certeza de que a própria capacidade de nos interrogarmos de que este meu texto é, em si mesmo, um exemplo concreto, sem a palavra, não se teria desenvolvido ao ponto de criarmos uma cadeira.
E a Criação, o que seria dela e, a havê-Lo, do seu Criador sem os conceitos, elementos, em suma, sem as suas palavras constituintes?

A palavra, mas que extraordinário input!
Uma coisa é certa:
Mesmo se tudo já lá estava, antes da palavra era o caos e ainda que ressoante de um cadinho ou Input matricial, Big Bang criador.






a todos os que independentemente de acreditarem ou não, democratas, na palavra fazem por centrar a soberania











Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Janeiro de 2016





sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O PESO DA PALAVRA DADA




Amadeo de Sousa Cardoso, O Pastor







sendo a palavra condição democrática sine qua non, quando pela palavra tudo se porque dado o é, na palavra assim dada que peso democrático ela o tem?






nos sete anos sobre a criação deste meu blogue










Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Janeiro de 2016