sábado, 28 de julho de 2012

BOAS FÉRIAS


Edward Hopper, Lee Shore


 

Vou de férias

- o mundo gira sem mim - 

Demonstro
assim
que o silêncio
comigo vem
ao que eu vim

Escutai seus doces ecos
 

durante este período, só em última instância voltarei a publicar
 

ali como aqui, a todos, umas boas férias
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Julho de 2012



sexta-feira, 27 de julho de 2012

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Kevin Sloan



A liberdade de expressão não é a liberdade de se dizer ou escrever tudo e mais alguma coisa.
Ela é aquela de, com responsabilidade, se dizer ou escrever, fundamentadamente, sobre tudo e o seu contrário.
Contudo, a liberdade de expressão, também é aquela de nos exprimirmos pelo silêncio.
Pelo não dito ou pela escrita e tanto mais quanto esta, já de si, é silenciosa.
Com uma vantagem acrescida para a escrita versus o que se diga:
Dela não se pode dizer o que lá não está.
Mas, como ia escrevendo, ninguém pode ser obrigado a exprimir, em alta voz ou, silenciosamente, pela escrita, a sua opinião já que, se o fosse, não existiria liberdade de expressão.
O silêncio é uma forma de expressão e essa está, por demais, desvalorizada.

Quando eu for grande …
Quando eu for grande e um nome reputado, não abrirei a boca em público.
Mesmo agora que tanto escrevo, o que significa que tenho muito sobre o que escrever, só escrevo sobre aquilo que entendo poder, dever escrever.
Isso já é responsabilidade.
Quantas e quantas personalidades de nomeada não estão sempre prontas a meter a boca no trombone sem se darem conta dos danos que provocam?
Sem se darem conta, tão pouco, de quanto, ao fazê-lo, mais contribuem para a especulação e a financeira que tanto diabolizam, muito em particular?
Os trombones, esses, pode-se ou não gostar de os ouvir mas não infernizam ninguém!


o púlpito é uma tentação danosa que à palha que a muitos enche a boca a atira, como aguçadas farpas e indiscriminadamente, em todas as direções


ali como aqui, com a boca sempre cheia de … musicalidade




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Julho de 2012



quarta-feira, 25 de julho de 2012

MERKZETTEL / REMINDER / MÉMENTO / LEMBRETE

Kevin Sloan, Reminders




MERKZETTEL
 

Ihr
seit sowie
wir
die Unterschied
bringt uns
 zusammen 

Solidarität
ist
 in Kunst 

Die Kunst


REMINDER


As us
you are
the difference
approach’s
us

Solidarity
is
 in art 

The Art


MÉMENTO
 

Vous
êtes
comme nous
la différence
 nous rapproche 

La solidarité
est
dans l’art

L’Art


LEMBRETE


Sois
como
nós
a diferença
aproxima-nos

A solidariedade
está
na arte

A Arte



hier und dort / here and there / ici et là-bas / aqui e ali






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Julho de 2012


 


terça-feira, 24 de julho de 2012

RAJADAS

Maggie Taylor, The Reader



Rajadas
são o que escrevo
a atingir
da flor
o nervo
enfoque
a que me atrevo

Rajadas
são o que escrevo
petardo
meu
tem do trevo
cúmulo de folhas
acervo 

São rajadas
que te escrevo
com margem
para o teu senão
minha defesa
o ataque
surpresa respiração


da outra para esta frente, revisto e com uma diferente interpretação de Cold Song de Purcell





Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Julho de 2012



segunda-feira, 23 de julho de 2012

PALAVRA E MÚSICA

Kevin Sloan, The Listener




Em sentido estrito.
Em sentido estrito ou musical propriamente dito, a palavra é melódica, não no sentido de melodia propriamente dita embora também o possa ser, isto é, constrói-se na horizontal, som após som, suporta apenas uma voz ou fonema de cada vez.
Tal como os instrumentos musicais melódicos como a própria voz humana o é.
Neste mesmo sentido a música é harmónica, não no sentido da agradabilidade sonora propriamente dita, isto é, constrói-se simultaneamente na horizontal como na vertical, som sobre som e após som, suporta em si mesma várias vozes em simultâneo, isto é, é polifónica.
Tal como os instrumentos harmónicos como, entre todos, o piano se destaca.
Não se podem dizer como escrever várias coisas ao mesmo tempo, elas têm de o ser ditas ou escritas umas após as outras.
Basta olhar para um texto corrido como este o é:
Sempre na horizontal, palavra após palavra até à conclusão de um período e período após período até à sua composição final.
Musicalmente falando não se pode ir, pela palavra, mais longe do que o arpejo.
Pode-se, no entanto, escrever e sobretudo tocar música dizendo muitas coisas ao mesmo tempo:
O que cada naipe deve tocar em simultâneo, instrumentos e vozes ou pura e simplesmente tocar um acorde num instrumento harmónico ou em vários melódicos ao mesmo tempo, isto é, tocando cada qual a sua nota.
O arpejo que é uma escadinha de notas tocadas em sequência umas após as outras, só quando finaliza podemos dele abarcar uma perceção qual ela seja.
O acorde, instantaneamente, fornece-nos essa perceção.
Em sentido estrito, daqui não se pode sair:
A música, para lá da sua universalidade, tem um poder de síntese que a palavra só no correr do tempo nos é capaz de fornecer.

Em sentido amplo.
Em sentido amplo, porém, as coisas não são bem assim.
Uma vogal tal como uma consoante transporta consigo a sua história e essa é feita de sucessivas camadas, harmónicos que se sobrepõem, na vertical, uns aos outros.
E que dizer, então, de uma palavra?
Ou de uma frase ou, mais ainda, de um texto completo?
Quantos conteúdos mais ou menos escondidos, nas suas entrelinhas, sob ou sub vozes, na vertical, harmónicas, delas, das palavras não se depreendem?
E mais ou menos em simultâneo?
Sim, porque o pensar que a um texto o interpreta é harmónico, ele também e não faz cerimónia qual seja de pontuações ou ideias que dele fluam e/ou o potenciem.
Melhor diria ainda, o pensar é um harmónio, um fluxo de vento que impulsionado por um fole, em palavras e emoções que delas se desencadeiam, em todas as direções, ultrapassando a velocidade da luz, se despoleta e conjuga.
Tudo depende da riqueza intrínseca de um texto tal como a intensidade emocional, estética de um trecho musical, da sua riqueza intrínseca também depende.
Saber escrever, ler e saber ouvir.
Se sei ouvir oiço para lá daquilo que oiço tal como se sei escrever ou ler, escrevo e leio, vejo para lá daquilo que vejo.
Vejo ou que escrevo ou que leio.
Depois há a entoação e a intensidade.
Eis duas virtudes intrinsecamente musicais que, escondidas, à palavra de acrescida semântica, em acorde, elas também, lhe dão o seu cromatismo.
E que o ouvinte atento, dele se apercebendo, musicalmente interpreta.
Com o coração, a boca, por atos e na vida, na sua lenta e progressiva maturação, a palavra tal como a música tão musical quanto esta o é.
A ambas basta que se lhes dê o tempo necessário de maturação, a capacidade de ouvir, isto é, de sentir e de interpretar.


nesta e na minha outra frente, música e palavra correm melódicas e harmónicas


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Julho de 2012



sábado, 21 de julho de 2012

LÓGICA DA BATATA

flor da batata




A lógica dos média é a lógica da batata.

Explico-me:
Batata, da botânica, tubérculo caulinar subterrâneo da batateira, a planta da batata, comestível e de largo emprego na alimentação; tubérculo ou bolbo de outras plantas e, em sentido figurado, nariz muito gordo o que não quer dizer que tenha o olfato apurado.
Caulinar de caule ou haste, que nasce sobre o caule.
Lógica ou ciência de raciocinar, em sentido figurado, coerência e em sentido popular, palavreado e lógico de finório.

Apliquemos, pois, em defesa da minha afirmação inicial:
A batata, sob as mais variadas formas, é boa de se comer, disso não tenhamos quaisquer dúvidas.
Antes de ser colhida, porém e tirando a sua planta, ela não se vê, replica-se subterraneamente em tubérculos a partir de um único original e é debaixo da sua planta que, sob a terra, aos tubérculos da batata os colhemos.
A planta da batata poderá ter variadas finalidades mas, aqui, não vêm ao caso.
A lógica da batata sendo de faro rasteiro e pese embora o seu nariz muito gordo, em forma de batata, colhe a planta e fica sem alimento e sem tubérculos que os ajudem a multiplicar-se no tempo e no espaço, putrefazendo-se.
Basta que sejam visíveis as plantas e zás, colhem-se, põem-se, eventualmente, numa jarra e definham logo sem outra utilidade nem proveito alimentício.

A lógica dos média é a lógica da batata.
A ela importa, sobremaneira, o que se veja, o que num dado momento se destaca sem querer saber das raízes do que se vê, desbasta-se e pronto, resolve-se o problema.
Não há tempo, aliás, para mais.
Esse propósito, no alucinante ritmo que aos média os condiciona, tem de ser permanentemente alimentado e pela rama até que não haja plantas da batata e extintas estas passa-se a outras quaisquer, sem qualquer compadecimento e com uma voracidade que não se compadece com os tempos da batata ou do pousio que possibilite sempre novas e sustentadas colheitas.

Nasce ali uma flor e pumba, já está, faz-se com ela um vistaço.
O que a faz desabrochar é todo um tempo que aos média não apenas lhes é indiferente como não se ajusta ao seu sempre a cada vez mais alucinante ritmo.
Se dá nas vistas, é o que se quer.
Se cativa as audiências e por mais escabroso que o possa ser, é o que dá para vender.
Se está à mão de semear …
De semear não porque isso dá muito trabalho!

A lógica dos média …
Atenção, este é um texto escrito por antítese, intencionalmente radical e que é sempre bom não aplicar a eito como a lógica da batata o poderia induzir.
Ele há média e média, é como tudo.
Ele há aqueles que fazem a gestão do tubérculo, isto é, que se orientam mesmo pela lógica da batata.
Mas, no entretanto …
No entretanto o que se deveria colher não se colhe e os campos vão ficando, de tão incultos, completamente desérticos.
Estéreis!


se a lógica da batata significa que de tão elementar é evidente, na verdade, também pode querer dizer que de tão evidente não é, necessariamente, elementar ou que sendo elementar é, por isso mesmo, complexo

daqui para ali




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Julho de 2012 



sexta-feira, 20 de julho de 2012

CANÍCULA

Kevin Sloan




Tempo de Verão
e o calor
escorre lesto
minha flor
e incendeia
de cor
de brasa
o meu amor

Tempo de Verão
sem rancor
fogos atiça
de dor
sei de cor
este clamor
com que cubro
 o meu andor 

Tempo de Verão
não me para
nem ampara
o teu estertor
agonia
com que o vento
sara feridas
com ardor
 

 na encruzilhada do Verão
 

dali para aqui ou de como o meu mural, mantendo a sua autonomia como suporte de linguagem mais direta, funciona também como caderninho de esquissos ou esboços, estudos, rascunhos que aqui se vão, revistos se necessário, de quando em vez publicando
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2012


quarta-feira, 18 de julho de 2012

IN MANDELA'S DAY

Edward Hopper, Office in a Small City





Se num tempo de tantos constrangimentos de outra coisa não se falar senão deles mesmos, corremos o risco, não apenas de ficar como de morrer estúpidos.
Metaforicamente é a diferença entre viver-se numa cela sem ou com vista:
Aprisionados, sabemos que estamos confinados a um espaço exíguo mas, se a ele somado não conseguirmos ver para lá dele, o isolamento esmaga-nos.
Porém, se nos for dado contemplar a vista que para lá da cela se espraia, para lá dela voaremos e saberemos que mais há do que a prisão.
Assim, mais forças encontraremos que nos ajudem a enfrentar todos os constrangimentos que nos interpelam.
Essa vista tem muitos nomes:
Cultura;
( Música )
Política com P maiúsculo ou aquela que vê para lá de todos os circunstancialismos, isto é, impregnada de Cultura que não se compadece com a instantaneidade informativa.
O que aos poderes, porque ele há muitos e não apenas o político, muitas das vezes, lhes falta é isso mesmo:
Cultura.
Vivem fechados em celas sem mais nada do que a sua volumetria.
É claro que a cela até pode não ter vista nenhuma mas se quem a ela estiver confinado a sua volumetria a exceder …


quando a estatura excede as volumetrias


dali para aqui


 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Julho de 2012


segunda-feira, 16 de julho de 2012

AVALIAÇÃO PÚBLICA

John Morgan, Gentlemen of the Jury, 1861




Num tempo em que as avaliações são o que são, aqui como ali, incito-vos a que me avaliem.
Em sentido literal, virtual, melhor diria, sou hoje portador de um canudo, público e publicado, transparente, portanto, já que o que aqui neste meu blogue entrelaçado com tudo o que no meu mural se desenvolve, virtualmente neles se enrola ou desenrola como se de um rolo ou rolos se tratassem.
Canudo!
Podereis percorrê-los da frente para trás ou de trás para a frente e desafio-vos a uma avaliação criteriosa.
Não daquelas que se fundam, estritamente e com todo o respeito, nas audiências, embora também possamos ir por aí ou do número de likes ou de comentários que, ao correr do tempo, se têm manifestado, mas, acima de tudo, no que tem a ver com a avaliação criteriosa, repito, dos conteúdos em ambos os suportes, até hoje, publicamente arquivados.
Sem rede ou à medida da rede que, na sua exposição, vou criando.
Aqui como ali, tudo se desenvolve com transparência, a transparência possível de quem sem outros meios a estes recorre para, sem outros que não os intermediários que são estes meus suportes, se expor nos conteúdos por mim e dando a cara, o meu bom nome, disponibilizados.

Incito-vos!
Num tempo de avaliações mais do que duvidosas e que levantam uma pesada suspeição geral, aqui me exponho, aqui me dou a avaliar.
E não são apenas os conteúdos que importa considerar:
Que dizer da persistência?
Que dizer da perseverança?
Que dizer da resiliência que ao longo dos anos não esmorece?
Que dizer do risco?
Numa Obra que leva mais de vinte e três anos, aquela medida padrão de referência que não apenas me ocorre sublinhar como releva todo um percurso?
E que dizer, já agora e convenhamos e tanto mais quanto num tempo de tantos constrangimentos, da gratuitidade do Serviço que vos vou prestando?

Num tempo em que aos mais meritosos formandos ou formados, pelo triste exemplo que vem de cima, à suspeição geral de que não são merecedores a vêm abater-se sobre si próprios, talvez importe sublinhar a importância da educação informal.
Aquela que me molda, que até aqui me trouxe e que aqui como ali se expõe.
Que tendes a dizer ou como me pretendeis avaliar?
Não serei, por ventura, merecedor de uma criteriosa avaliação?
Tudo está público e publicado.
Atrevo-me mesmo a dizer que, assim sendo, o que escrevo em Causa Pública e tanto mais quanto as razões invocadas, em atitude congruente, se constitui!
Pois se, informalmente, eu não poderei ser avaliado o que dizer, então, de avaliações formais mais do que duvidosas ou que, pelo exposto, não conseguem livrar-se, nem a ninguém, da suspeição geral que a todas as corrói!?


aqui como ali, exponho-me em permanente avaliação a que, informalmente, formalmente vos desafio
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Julho de 2012