terça-feira, 26 de abril de 2011

RÉPLICAS A UM VILANCETE DE LUÍS DE CAMÕES


fotografia de Manuela Baptista, Rosa

CHISTE


Quem ora soubesse
onde o amor nasce,
que o semeasse!

D’Amor e seus danos
me fiz lavrador:
semeava amor
e colhia enganos.
Não vi, em meus anos,
homem que apanhasse
o que semeasse.

Vi terra florida
de lindos abrolhos:
lindos para os olhos,
duros para a vida;
mas a rês perdida
que tal erva pasce
em forte hora nasce.

Com quanto perdi
trabalhava em vão:
se semeei grão,
grande dor colhi.

( Luís de Camões, Vilancete “ Chiste “, Líricas, Livraria Sá da Costa, Lisboa, 1979 )


RÉPLICA

Aquilo que sei
do amor nasce
e aqui semeei

Do Amor e seus ganhos
sou agricultor
semeio o amor
por estes atalhos
e ao longo dos anos
o que apanhei
foi o que encontrei

Terra florida
espinhosa a teus olhos
são rosas meus folhos
colheita dorida
sem perder da vida
naquele que a apanha
a força da sanha

Mas se algo perdi
não trabalho em vão
semeado o grão
mais forte cresci

em memória de um tempo cujas distâncias espaço/temporais se desmoronam a olhos vistos

tema musical de fundo dos Terra a Terra, do seu quarto e último álbum Lá vai Jeremias de 1985, composto, instrumentado, harmonizado e dirigido por mim com base num Vilancete de Camões, Chiste - Quem ora Soubesse, e que contou com a colaboração instrumental de Pedro Caldeira Cabral


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Abril de 2011