quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

FEBRIL




Há muitos anos, julgo mesmo que desde a minha infância, que não sabia o que era uma gripe.
Pois caiu-me, com todas as letras, uma em cima:
Prostração geral, horas e horas a dormir, noites agitadas, quasi delirantes em ataques de pânico a coincidir com picos de quarenta graus de febre e, agora, já na sua ressaca, a sensação de quem levou um enxerto de pancada com dores no corpo e fraqueza geral a pedirem não mais do que repouso absoluto.

Gripe.
Por este ano estou, naturalmente, vacinado contra ela, assim  me dizia uma colega de trabalho a quem pedi dispensa de, hoje, preventivamente, ir trabalhar.
Que corriqueira mas, simultaneamente, tão incapacitante doença.
Gripe:
A fronteira entre a saúde e a doença?

Durante três dias não peguei numa cigarrilha …
Ardiam-me as entranhas mal as levava à boca!
Retomo, no entanto e aos poucos os meus hábitos, dir-me-ão que maus hábitos, dou-o de barato, nas progressivas melhoras que se vão assinalando.
Retomo, também, o hábito, julgo que o bom hábito de escrever, para da minha gripe deixar aqui o seu registo.

Reabilitado do meu knockout, retomo também os meus canais informativos e, de repente, parece-me, febril, voltar a um mundo profundamente doente:
Fala-se contra a receita da austeridade que não poderia senão conduzir a mais austeridade e, simultaneamente e da mesma boca, alega-se que os ordenados, esses, não poderão senão cair;
Lançam-se palpites sobre a permanência ou não de A ou B no Euro e fazem-se cálculos percentuais sobre as hipóteses de tal poder vir ou não a acontecer;
Transformam-se laureados em bruxos ou videntes e soma-se especulação à especulação!

O mundo está em estado febril!
Numa ânsia de protagonismo nunca antes vista todos se sentem com direito a ele e independentemente das reações em cadeia que possam vir a desencadear que desencadeiam mesmo!
Dar-se-ão, os próprios, conta disso!?
E ainda que apenas para perpetuarem os seus momentos de fama e de glória!?

Febril …
Como em rastilho seco e inflamável, os fogos propagam-se agora em pleno Inverno!

Febril.
Estarei ainda com febre?
O melhor é ir, de pronto, medir de novo a temperatura!












Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

POR QUEM ME TOMO

Wladimir Kush


Sou um cidadão do mundo e, em especial, do mundo democrático, que se exprime em português e convencido que estou que não prevaricando nos meios utilizados posso ir tão longe quanto aquilo que esse mesmo mundo democrático me faculta.
que não prevaricando nos meios … que quero eu com isto dizer?
Que não utilizando meios que à Democracia lhe são adversos, como sejam:
Pouco transparentes, opacos ou dúplices que o mesmo é dizer que exprimam nas costas o que frente a frente não se ousa dizer, dizer ou escrever;
Que não ferindo suscetibilidades, partindo de primícias subjectivas ou levantando falsos testemunhos, valorizando o interlocutor ainda que com ele se possa ser criticamente implacável, elevando, pois, o nível da conversa ou salvaguardando a boa educação não se coíbe, portanto, de ser frontal e, caso disso se trate, inflexível nos princípios;
Que não confunde fins com meios nem acha ser possível que os primeiros justifiquem os segundos independentemente da humanidade que aos segundos dos primeiros os preenchem e realizam.
Assim tenho e faço tensões de continuar, como de há muito, a permanecer!

Por quem me tomo?
Não prevaricando como atrás o sublinhei, posso-me, como a prova do tempo o vai assinalando, tomar-me por nada, quase nada, pouco ou muito …

Nada.
Um zé-ninguém …
Uma agulha num palheiro!
Irrelevante e dispensável contributo para o aprofundamento da Democracia.

Quase nada.
Um entre muitos que dos muitos não se distingue!

Pouco.
Pouco no muito pouco em que me pudesse destacar …

Muito.
Tudo o que me aprouver e que não fira a própria Democracia …
Que A aprofunde como a prova do tempo na Obra realizada o vai, paulatinamente, demonstrando!
Teimosamente insistindo em não prevaricar na equidistância pela qual, sistemática e globalmente, zelo e pese embora a muralha de silêncio que à minha volta faz questão em se manter.

E porque não tomar-me por muito!?
Haverá algo que a isso, legitimamente, me o possa impedir!?
Não poderei fazer por manter tão panorâmicos quanto desde há muito, os horizontes que vislumbrei!?
No imperioso reconhecimento do um, do singular, do cidadão comum, sem o qual e sem beliscar o próprio sistema democrático, é este mesmo que se desenraíza e fica a descoberto!?
Na salvaguarda das próprias garantias que ao longo do tempo tenho feito questão em sublinhar e deixar expressas!?
Aqui, como sempre e por escrito!?

Por quem me tomo …
Tomo-me por quem sou e que a minha escrita traduz!
Tomo-me por singular que no universal se revê e identifica.
Tomo-me pelo um sem o qual o zero, o institucional absorvente, se vê permanentemente tentado a anular-nos.
Um sem o qual a Democracia tende, perigosamente, a esvaziar-se!
Tomo-me por aquele que escudado no seu próprio lastro que este blogue é como registo e testemunho, se sente já com à-vontade suficiente para, escrevendo, publicamente o admitir!



se as democracias se revelam incapazes de ir mais longe do que a pressão dos lobbies permanecendo sem rosto, o que poderemos nós, efetivamente e a prazo, delas esperar









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Fevereiro de 2012

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

HÁ MOMENTOS

Kandinsky, aquarelle, La Grande Porte de Kiev

Há momentos nodais de indecisão.
Momentos em que parece tudo se ter esgotado …
Momentos onde mais não sobra do que um nó a estrangular-me a verve.

Há momentos como este em que, pelo simples facto de reconhecê-lo expressamente, o nó parece que se desfaz.
Como se da sua simples expressão e reconhecimento os horizontes se alargassem de pronto.
Teimosa e consequentemente …
Momentos em que, uma vez mais, desfeitos os seus constrangimentos, me disponho a retomar o meu caminho.

Há momentos em que parecendo ter chegado ao limite de todos os limites, o espaço/tempo, de novo, se expande.
Em sempre crescentes e prometedores inesperados.
Aqui, ao dobrar da esquina …
Aqui onde as barreiras físicas, parecendo insuperáveis, se desmoronam num ápice.

Há momentos.

Há momentos como este.
E logo me apresto a prosseguir …
Doa o que me venha a doer e venha o que estiver para vir.

Há momentos assim.
Fugazes, quase impercetíveis …
E é nesses momentos em que, dando-me conta das responsabilidades e das expectativas por mim mesmo criadas, desfaço o nó e um portal grande se abre convidativo e acolhedor.






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Fevereiro de 2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

DO QUE EVENTUALMENTE SE TOCA




Os infinitamente grande e pequeno confundem-se e tanto mais quanto se à nano ou à giga escalas considerados.
À escala das nano partículas bem como à escala das giga estruturas, as fronteiras tal como as conhecemos e nos determinam não fazem qualquer sentido.
O que somos nós a essas escalas?
Nós ou o mundo tal como o reconhecemos?
Que contornos nelas nos seriam familiares?
Ou que familiaridade a essas escalas nos seria atribuída?
Feixe de cordas ou planos interlaçados …
Que proximidade entre os infinitamente grande e o pequeno?
Tocar-se-ão!?
Quanto mais cavo em direção ao micro ou ao nano, distanciar-me-ei ou do macro ou do giga me aproximo numa ilusória e labiríntica viagem que sempre remete de volta a nós mesmos!?
Nós!
Nós e a imensidão do espaço/tempo …
Tanto mais quanto por ação acrescida de turbulência ou dobra onde a sua relação se infletiria remetendo, repito, de volta e sempre para nós.
Buraco, cabo ou dobragem que a nós nos tornasse progressivamente mais etéreos, imateriais.
Nós como medida padrão de todas as coisas!
Assim me saiu este texto, soluçadamente e por impulso e depois, deveria rejeitá-lo!?









Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Fevereiro de 2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

SONNET BRISÉ AUTOUR



( entre l`eau et le feu il y a un trou d`aiguille )
Noir invisible et prodigieux
trou d`aiguille vu avec une loupe
à l`échelle de mes yeux

Incandescent de lumière
au passage d`un géant
sombre comme la nuit noire
plein de lumière éclatant

Véloce lumière qui se verse
quel phosphore incandescent
qu`impétueux de travers
en feu brule violent

En suffisant courir bien chaud
en suffisant voler réez terre
eau de lumière soudain

Estoril, le premier Septembre 2003



TRADUÇÃO


SONETO  QUEBRADO  À  VOLTA


( entre água e fogo vai um buraco de uma agulha )

Negro invisível prodigioso
buraco de uma agulha visto à lupa
à escala de tudo o que ouso

Incandescente de luz
à passagem de um gigante
escuro como negra noite
cheio de luz cintilante 

De luz veloz se derrama
como fósforo incandescente
que de um raspão de rompante
em fogo arde e se sente

Basta que corra bem quente
basta que voe bem rente
água de luz de repente

Estoril, 1 de Setembro de 2003



alertando e, logo, prevenindo para o que poderá estar para vir, revisto e corrigido, soneto escrito, originalmente, em francês, a uns amigos franceses que conheci numas férias em Constância e na data acima referida quando, em 2003 e após uma seca extrema tal como este ano se anuncia, os fogos de Verão se propagaram varrendo, impiedosamente, a Europa mediterrânica e todo o país






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Fevereiro de 2012
Portugal visto do espaço reconhecendo-se o fumo de alguns grandes fogos no Verão de 2003

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

INVARIAVELMENTE

buraco negro


Invariavelmente e no meu blogger, Um Portal Escuro e Impercetível, segunda parte de uma trilogia em que também se integram Um Ponto Esquálido e Azul e Um Píxel de Grão de Areia, aparece nas estatísticas das minhas páginas como constando nos top ten daquelas que são mais visualizadas, isto é, visitadas …
Porque será …!?
Mera coincidência!?
Não me parece e as condições vão caindo de maduras para o que nessa Hipótese, de há muito, de há muito mais do que o tempo de vida deste meu blogue, nela equaciono!
Ao encontro do up side down para o qual Vos tenho alertado e logo na minha página anterior, na certeza de uma fronteira que não pode ser violada, aquela dos Direitos Humanos e da Democracia, sob pena de retrocedermos a um tempo que deveria ser, apenas, História, repostos equilíbrios globais que não podem deixar de ser atendidos mas, como nessa mesma página logo refiro, a exigirem imperiosamente outros olhares, atitudes e Paradigma com essa fragilidade acrescida compatível, os quais, ao longo do tempo, sublinho, aqui vou desenvolvendo.



no emaranhado temático do que escrevo mas obediente a um fio condutor e nele centrado, por favor, sigam os links que Vos vou deixando






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2012

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

QUE REESTRUTURAÇÃO

Maggie Taylor, GardenMaggie Taylor "Garden"Maggie Taylor "Garden"



Será que não Vos enxergais, formiguinhas de carreiro!?
Será que não Vos dais conta de que o que conquistado foi, senão em prejuízo da própria Democracia, dificilmente pode vir a ser, de novo, confiscado!?
Será que não entendeis que os Vossos próprios tacticismos feitos de meias palavras, contra Vós mesmos se viram!?

Outro dia, chamou-me a atenção a notícia da reestruturação de uma grande multinacional europeia, a Nokia, finlandesa por sinal, sim, originária da sacrossanta e impoluta Finlândia e terra natal do comissário europeu Olli Rehn para os Assuntos Económicos, ironia maior, que ao abrigo dessa mesma reestruturação se prepara para enviar cerca de quatro mil dos seus colaboradores, não deixo de sublinhar, se possível e mais irónico ainda, esta mesma e paternalista, cínica e tão corrente designação dos  empregados, para o desemprego, forçada que se vê a reestruturar-se com vista a fazer face à concorrência que a isso a tanto a obriga.
Em que é que consiste essa mesma reestruturação?
Consiste em fazer deslocar para a Ásia linhas de produção existentes noutros quadrantes do Globo onde estas se tornaram demasiado onerosas …!

Bem vistas as coisas, esta notícia não contém nada de novo pois … se os concorrentes da Nokia, todos eles, já se deslocalizaram antes dela!?
Mas chamar-se a isto reestruturação …!
Não admira que o assim chamado mundo ocidental caminhe, a passos largos, para o abismo!

Qualquer dia, se na margem sul do Mediterrâneo se exige Democracia, na sua margem norte do tamanho de toda a Europa e já para não falar da margem ocidental do Atlântico, dela cansados, o que exigirão os seus povos!?
Qualquer dia …
Qualquer dia, dia que já se pronuncia, no seu brio e tomados de um derradeiro fôlego, os povos rebelar-se-ão e revirarão tudo up side down … de pernas para o ar que é como tudo vai estando …
Não seja um golpe monumental e orquestrado de engenharia financeira …!
Por isso e precavendo o pior, resiliente, persevero!



estou-me nas tintas para a publicidade que, aliás, à Nokia a não enobrece de todo



se há divisas que estão artificialmente subvalorizadas outras há que estão artificialmente sobrevalorizadas e não há comércio livre sem a neutralização de tão nefastas  batotas quando decorre a Cimeira China/União Europeia






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Fevereiro de 2012

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

ACHTUNG




in Europa so wie in der Welt,  Deutschland kann sich nicht über allen erheben


nach der Deutschen Nationalhymne unten Griechenlands Tragödie




TRADUÇÃO



ATENÇÃO



a Alemanha não se pode sobrepor a todos na Europa bem como no Mundo


 
diante da tragédia da Grécia a propósito do Hino Nacional Alemão


 



 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Fevereiro de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

DEMOCRACY - III -

one with all


As a global idea, one with all, the concept of God, Deus in Portuguese, is profoundly democratic:


It refers to EU meaning I in-between a D of God, (D)eus and an S of Satan, (S)atanás


It refers to an I ( EU ) having permanently and freely to choose between goodness and evilness or, if you want, between democracy and autocracy, in an accessible, intimae and not so common but profoundly democratic approach as, may be, in no other language


All that playing childish with His letters in the presumption that God is good and, therefore, giving us all Liberty, in one's own free will, which ways to decide




the diversity and democratic enrichment of a Portuguese divinity








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Fevereiro de 2012

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

DEMOCRACY - II -

one with all


Such as people or cultures, not everything can be traded


Languages are their own expression


They can’t be traded


As democracy, languages enrich the world



 about democracy



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Fevereiro de 2012

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

DEMOCRACY - I -

one with all




I can say in English:


How are You?


As well, I can also say it in Portuguese:


Como está?


In which language is it more powerful to say, in English or in Portuguese?


In booth!


Why?


Because otherwise the English language would always prevail and that isn’t democratic at all!










Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Fevereiro de 2012

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

CRIME E CASTIGO



Sendo certo que há crimes e crimes, que se trata, por isso, de uma maneira de escrever, pareceu-me que este seria um título apropriado para o que se vai seguir:
Acontece, amiúde, nas minhas aulas, aulas de expressão musical que, perante a algazarra que por vezes se instala entre os meus alunos, jovens quási adultos e que mais se assemelha a um pensar em voz alta com dificuldades de ao pensamento o conseguirem introverter abstraído em si próprios, expectante e depois de ensaiar mais ou menos de improviso inúmeras estratégias, fico a aguardar, paulatinamente, que o silêncio se instale na sala de aula.
É então que, de suas bocas, não menos amiúde, oiço expandirem-se as mais bizarras teorias que tendo por base a metáfora da cenoura e da chibata ou da chantagem como pedagogia, pura e simples, se exprimem como seja:
- Ó professor, pois o professor não castiga, como quer que nos calemos …!
- Se o fizesse, seguramente que nos portaríamos de outra maneira!
- Então, não sabe que as faltas disciplinares estão aí para alguma coisa!?
Invariavelmente fico impressionado com os argumentos invocados e recordo-me dos tempos em que eu próprio era aluno e em que eu como os meus colegas nos insurgíamos contra o autoritarismo à época reinante …

Estarei a ficar velho!?
Como será possível ouvir dos meus alunos tais afirmações, em si mesmas apologéticas do autoritarismo!?
Para mais, a ser exercido sobre si próprios!?
Crime e castigo …!?
Não, por tal, não acho que esteja a ficar velho, simplesmente, educar para a Liberdade é muito mais difícil de o fazer!
Pois se por não serem, voluntariamente, aplicados pelo professor, os instrumentos que estão ao seu dispor suscetíveis de quebrar essa algazarra punindo os seus mais proeminentes mentores!?
Pois se por achar que o castigo, se infunde o medo, não interioriza regras de Liberdade!?
Pois se, eu próprio, não tendo sido educado nesses parâmetros, o castigo tal como a punição foram práticas normalmente ausentes do meu percurso educativo não tendo sido pela sua ausência que perdi a noção do bem ou do mal fazer ou das normas democráticas de convivência …!?
É certo que fui uma vez punido, suspenso por dois anos da escola onde estudava, por razões políticas ou pelo assim chamado delito de opinião, mas isso não me fez mudar de ideias …!

Responsabilidade.
Ser livre não é fazer o que me der na real gana, é antes, pelo exercício da Liberdade, aprender a conviver e a discernir.
Aprender que se esse exercício entronca com direitos, estes estão intimamente associados ao cumprimento de deveres.
Eu como aluno, eu como professor, eu como cidadão e que estes, direitos como deveres, não apenas se ligam qual  sistema de vasos comunicantes como variam de acordo com as circunstâncias referidas:
Se o meu dever é aprender, não me posso julgar detentor da sabedoria, embora a minha sabedoria, porque todos a temos, deva concorrer para a sabedoria geral;
Se o meu dever é ensinar, também não me posso julgar detentor de toda a sabedoria porque todos a temos e, por isso, tenho também de estar disposto a aprender com a sabedoria dos meus alunos;
Se o nosso dever é saber mais e melhor, temos de aprender uns com os outros, os alunos com os professores e vice-versa ou os cidadãos uns com os outros, interiorizando normas de conduta em que não nos atropelemos uns aos outros!
O crime é atropelar e o castigo também e no meio deles, o mais difícil é darmo-nos disso conta sem exercermos nem um, nem o outro.
Assim se educa para a Liberdade, por mais penoso, complicado e demorado que o seja, bem como assim para Ela se vive!
E essa é a Educação que vale mesmo a pena exercitar indefinidamente

Escrevi-As, à Liberdade bem como à Educação, notai bem, com maiúsculas porque é delas, com maiúsculas, que escrevo!
Outro dia e para lá das matérias que vinham ao caso, nas minhas aulas, acrescentei ao Sumário do dia, depois das matérias correntes, e muito silêncio!
Como quem diz:
Na dificuldade que tendes em fazer silêncio o que apenas traduz aquela que tendes, por falta de treino, em abstrair, aprendei a pensar sem terdes de estar permanentemente a verbalizar, falando, em silêncio, convosco mesmos como se cada qual fosse o próprio e os seus colegas, o mundo, num processo interior inesgotável que a todos permite fazer ouvir-se e ouvir.
Dentro de regras democráticas, aquelas da Liberdade e que são, em si mesmas, profundamente musicais.
A não ser assim, sobra o barulho onde todos somos castigados, o crime, isto é, a ignorância, não é punido e o sonho, transformando-se em pesadelo, não é realizado.
Ter medo do castigo, qual machadada, é mais do que compreensível mas do silêncio, perdoai-me, que disparate!



das minhas aulas, nas minhas aulas, aos meus alunos



no silêncio, se és serenidade, o despertar do sonho que é o que a música é



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Fevereiro de 2012