A minha pátria, a língua em que me exprimo, é universal.
Ela também é imaterial.
Ela como todas as outras línguas.
Sendo ambas as coisas, as línguas são pertença de todos.
Pertença sem o ser pois da minha como de todas as outras línguas, ninguém é
proprietário.
Plástica como o é, a minha língua transfigura-se em todas as outras línguas
como todas elas se transfiguram na minha.
Como todas as outras línguas, aquela em que me exprimo de todas as outras é
feita e secundada.
Nem a minha, nem todas as outras conhecem fronteiras.
Mesmo se na minha língua me zango, a zanga como a declaração de amor são
ambas expressões do afeto, o oposto da indiferença, portanto, nela e através
dela como delas, há sempre espaço para a resolução de mal entendidos, de
conflitos também.
Assim se os queiram ver e resolver sem que qualquer das partes ou línguas
carreguem o ónus do desentendimento.
A minha língua é um veículo da Paz.
A minha como todas as outras línguas o são.
A minha língua mais do que tolerar, integra as outras como todas as outras
línguas integram a minha.
Umas nas outras, as línguas moldam-se umas às outras.
A minha língua é um magma e, tal como a música, um bálsamo.
A música nem de tradução carece e se a minha língua a ela a não dispensa,
no que dela bem se traduza, se vivifica.
Plasma vivo como todas as outras línguas o são, são elas que nos dão vida,
razão de vida.
E se são as línguas que nos dão vida, elas não no-la podem retirar.
São as línguas que em nós fazem toda a diferença e é essa mesma diferença
que a todos nos enriquece.
Enriquece e, logo, enobrece.
A minha língua é a minha pátria.
Ámen.
na certeza de que a palavra é a imagem das imagens remeto, de novo, para Pergunta & Resposta ou para a
equidade sem a qual, na plena aceção, não existe Liberdade
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Janeiro de 2017