segunda-feira, 8 de julho de 2013

EUFORIA, DEPRESSÃO, ALEGRIA E TRISTEZA

Paul Ygartua, Indomitable Spirit, 2006






Há um traço comum à euforia e à alegria que é esta mesma, a alegria e que na depressão desaparece dando lugar à tristeza.
É claro que esse traço comum é apenas comum, essa vibração de felicidade, mas distingue-se uma da outra, a da euforia como a da simples alegria talvez porque nesta última ela tem uma base de sustentação que, em princípio, na euforia não se sustém.
Conheço estes estados:
O da euforia, o da depressão, o da alegria e o da tristeza.

O da depressão é insuportável e uma das razões porque o é explica-se pelo facto de por mais que se faça, difícil é, nesse estado, conseguir fazer-se o que seja e mesmo se não havendo sólidas razões que a expliquem, ele há-as sempre como para a euforia também, já que ela não se deixa contagiar pela alegria e vive mergulhada na tristeza.
Daí, muitas vezes, a depressão quando não a euforia (?) conduzir ao suicídio e mesmo se, quem vê de fora, para ele não encontre razões que o justifiquem.
A euforia, pelo contrário, define-se por uma alegria imensa, exuberante, incomensurável.
Quem por ela é tomado, não quer outra coisa e dificilmente se deixa, nela mergulhado, aconselhar.
Mais depressa quem esteja tomado pela depressão ouve e se deixa aconselhar do que quem pelo seu estado simétrico esteja invadido e, nesse sentido, poder-se-á dizer que a depressão é o calcanhar de Aquiles da bipolaridade.
Falo, isto é, escrevo por mim!
Poder-se-á dizer que a euforia é uma tristeza disfarçada de alegria desmedida e sem fim e nesse estado ampliado ou não por expedientes ou artifícios utilizados, psicotrópicos entendam-se, potenciei as minhas capacidades criativas.
É um facto que se pode demonstrar por tudo o que então, nos idos de noventa, finais de oitenta, escrevi e que se encontra salvaguardado tanto nos arquivos da Presidência da República como nos do Centro Nacional de Cultura, estes entre outros!
Contudo ressalvo que daqui não se deduza, implícito, o elogio da euforia.
A depressão, pelo contrário, é uma tristeza cavada acompanhada de uma inércia não menos paralisante, sufocante mesmo.
Para além de serem o simétrico ou o negativo uma da outra, depressão e euforia têm, também, em comum o facto de tanto a tristeza de uma como a alegria da outra se fundarem em pés de barro ou melhor, serem ambas estados de quem é portador de qualquer coisa intrínseca, entidade nosológica, diz-se ou patologia a merecer continuado acompanhamento técnico bem como, o que é fundamental, que os mais próximos de quem delas é portador lhe mantenham as portas abertas desarmadilhando alibis que a ambos os estados os justifiquem ou que o contexto se lhe torne favorável, coisa com que, graças a Deus, sempre pude contar mas que também está e por muito difícil que seja fazê-lo atendendo à turbulência em que se vive, nas mãos do próprio.

Aquilo que se passa no nosso centro nervoso ou comando central de personalidade é sempre aquilo com que maior dificuldade se tem em lidar exatamente porque mexe, integral e intrinsecamente, connosco próprios, com o eu.
Nas circunstâncias atrás referidas, porém, o acompanhamento médico é fundamental bem como o respeito pelas prescrições que este exige.
Exige, sublinho!
No entanto, fundamental também é que a pessoa enredada nestas complexas circunstâncias ora vendo tudo por lentes que a tudo ampliam, valorizam ou diminuem, desvalorizam em demasia fique bem consigo mesma ou seja parte incontornável na busca do seu bem-estar e não apenas um mero ator ou alvo passivo ou indiferente de um qualquer acompanhamento que, assim sendo, se torna sempre, porque ao seu próprio arrepio, forçado ou impositivo.
Ela, essa pessoa, no indispensável acompanhamento médico, tem sempre uma palavra a dizer.

Conheci um longo período de euforia e, posteriormente, outro longo período de depressão ambos atravessados por altos e baixos e foi no decurso desta última que a dado passo disse a mim mesmo que ainda haveria de conseguir reatar o meu fio condutor, fundado na alegria e sobretudo naquela que assenta no bem-estar comigo próprio que o mesmo é dizer e no meu caso, que assenta na capacidade criativa realizadora e sem recurso a quaisquer expedientes artificiais que a um como ao outro estados, faces de um mesmo processo, os pudessem vir a socavar mais e ainda mais porque ele não se mantém estático e ou se estabiliza ou se agrava.
Integrado que foi o acompanhamento médico recomecei, assim e em contraciclo, a criar deprimido e fiz, então, um primeiro pequeno ciclo de poemas a que chamei Miniaturas e, paulatina e progressivamente, fui readquirindo o meu equilíbrio que embora e sempre almejado, tinha perdido.
Ao decidi-lo muito penosamente, longe estava eu de pensar quão longe e nesses termos, na minha diferença que a mim mesmo não soneguei, passados que foram tantos anos e sem mais recurso a outros artifícios ou expedientes dilatórios e sempre salvaguardado o acompanhamento médico, sublinho uma vez mais e o que custa duas tomas diárias e sagradas, diria, até aqui me trouxe.
Quem o poderia, então, antever?
E que alegria reconquistada, agora sim, sustentada em tudo o que, de então para cá para não dizer de muito antes e porque artes, eu já criei:
Lastro estabilizador!

Sem nenhuma arrogância e na esperança de que me perdoem e, em especial, todos aqueles que tão duramente são atingidos pela presente crise mas o facto é que ao pé deste meu relato de aparentemente fácil descrição mas de complexa e prolongada resolução, os altos e baixos ciclotímicos da economia são uma simples brincadeira já que este relato também é o resultado da arte da Política que se aplicada com sucesso ao micro sê-lo-á, seguramente, ao macro também.




inside view em linguagem comum ou de como a euforia é a depressão maquilhada de alegria


(*) Schubert seria, ele próprio, um bipolar ao tempo em que, pelo fortíssimo estigma que representava, ser-se bipolar equivalia, tout court e sem remissão, a ser-se tomado por louco




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2013 


Michaux, Le Gardien de la Plage des Dames



1 comentário:

manuela baptista disse...

quem o poderia escrever, saber,

melhor

mais ninguém