o Autor, fotografia de MB
( quebro,
excecionalmente, o meu blackout em defesa do Autor, não do autor com
minúscula mas em particular daquele com maiúscula, isto é, do artista fluente
na arte de organizar as palavras, é desse que aqui escrevo, manifestando a
minha indignação pela praxis comercial corrente das editoras, salvaguardando
aquelas outras, Editoras também mas com maiúscula e que não vivem obcecadas por
cifrões sem que corram quaisquer riscos, na esperança de que as haja mesmo
)
Meu Caro Autor,
Já ouviste falar na
democratização da edição do livro?
Tenhas ou não ouvido
falar, acautela-te porque ainda te arriscas a, sem o querer, ficares enredado
qual funcionário dependente só que sem ordenado fixo nem outro, do que essas
editoras com minúscula te possam impingir sendo que e não sei mesmo se pior
ainda, se não tiveres verba disponível, estás feito!
Grande democratização a do
dito!
Quando uma qualquer
editora vier com falinhas mansas impingir-te o que seja em relação ao que
tenhas em carteira, resguarda-te ainda mais!
Deixa-me ser mais preciso:
Falo contigo como Autor
com maiúscula que serás mas sem obras dadas à estampa, nem de outro modo
investiria o meu tempo em ti, um não consagrado, portanto e independentemente
dos motivos porque o possas ser ainda e quantas vezes assim tal acontece por
razões exógenas ao valor intrínseco daquilo que escreves.
Sim, porque para se ser
consagrado há inúmeras variáveis que interferem e nem todas, convenhamos, relacionadas
com a qualidade da escrita do que ele, o consagrado ou aquele que tem a venda
da edição garantida, possa criar.
Mais a mais, alerto-te
ainda, o espaço disponível para consagrados é diminuto, um paraíso restrito de
uns quantos que como poderás constatar deles vive saturado e que são sempre os
mesmos.
Posto isto, voltemos ao
tema.
Acautela-te mesmo porque
te espera uma longa e penosa praxe!
Praxe, bullying, é tudo a mesma coisa, mas lá
que os é, é!
Se te vierem propor a
edição, pois claro, a troco de teres de vender x ou y exemplares, faz as contas
porque mesmo que a edição seja vendida por inteiro, coisa que nunca ou
raramente acontece já que quem tem de vender e promover a obra és tu próprio
uma vez que a editora não corre quaisquer riscos e esse número de exemplares
que ficam a teu cargo e que à editora tens de pagar dão logo para que ela
lucre sendo que tu, a ela ficas amarrado e ainda que descontados os direitos de
autor, já para não falar nas condições contratuais leoninas que te impõem, pelo
que só na remota hipótese de uma futura segunda edição, do encargo te livrarás,
pelo que desconfia e recusa porque esse não é tratamento digno que esteja à tua
altura.
Se fores Autor com
maiúscula, claro!
Se não quiseres ter um
livro para ornamentar as tuas ou as prateleiras das livrarias ou para que
conste do teu currículo!
Se não viveres deslumbrado
pela edição!
Se fores mais, muito mais
do que isso tudo e tanto mais assim o é quando, paradoxalmente, num tempo em
que a editora, como intermediária entre ti e o teu público é cada vez mais
dispensável!
É certo que o Autor dá
tudo pela sua obra, mas é pela sua obra e não pela sua edição, skills que assistem e por inteiro, assim
o deveria ser mas está tudo invertido, à editora.
Perdão, a havê-las, à
Editora!
A ti, Autor, compete-te o
esforço de criar, sabem lá elas, as editoras com minúscula, o que isso é, não o
de te teres de impingir, promover, vender, aviltar!
Em suma, a práxis vai como
se segue:
Tu terás de correr todos
os riscos e as editoras mexerucas, nenhum!
Imagina que até desconfio
que elas e no seu staff não têm quem
saiba ler e quanto mais escrever, basta que saibam fazer rolar a máquina.
É no que estamos, toda a
gente fala disto à boca pequena ou pela calada mas ninguém se atreve a
denunciá-lo.
Pois, sabendo do que falo,
aqui estou eu para dar a cara!
Meu Caro Autor,
Sabes qual é o problema?
É que o mercado vive por
demais viciado, entupido, distorcido, saturado, em suma e nem sabem elas, as
editoras, quanto este é o risco maior que correm, por todos aqueles que não
passando de autores com minúsculas, entenda-se, desde que editem e podendo
custeá-lo abrem as pernas a tudo o que lhes impingem.
Desculpa-me a linguagem
utilizada …
E depois, vê lá,
queixam-se!
Mas e por fim,
reconforto-te:
Tenho para mim que se uma
obra é boa, mais tarde ou mais cedo ela se imporá e para isso basta que tu te
continues a comportar firme e de cabeça erguida salvaguardando a tua Liberdade que o mesmo quer dizer a tua margem criativa,
comportando-te não como autor mas Autor e por muito que tal te venha a sair do pelo
que sempre sai e saiu.
É dos livros!
Já agora:
Saudações cordiais, Teu
que em ti sou eu
da obscenidade aviltante crescente a que o Autor é
sujeito
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2014
o Autor há um punhado de anos atrás, quadro de António Correia