a maior das debilidades é a que pela força física se
manifesta
Na sequência da última
página do meu blogue, Da Triangulação Nuclear e em seu complemento, deixo-Vos com uma pergunta e uma
resposta, elas também, nucleares:
Por que razão as
narrativas sagradas que bem se espelham na simbiose simbólica do Sinal da Cruz,
em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo que em si mesmo contém, ele também, uma narrativa são feitas, grosso
modo, no masculino?
Por duas razões que diria
fundamentais:
A primeira porque,
historicamente, o elo menos confiável da cadeia genealógica sempre foi, pela
impossibilidade senão recente de o demonstrar, o elo masculino pois que se
sabia quem era a mãe ou o elo feminino e a/o filha/o ou o elo neutro, em
alemão, por exemplo e só para citar esta língua, existe o género neutro ao qual
a criança, gramaticalmente, pertence mas quanto ao primeiro não havia senão como
pela palavra, quando não e quantas vezes pela força, o estabelecer;
A segunda porque uma vez
firmado o elo masculino já que hoje suscetível de ser demonstrado
cientificamente e acresce, com o avanço da ciência e a emancipação feminina,
ambos histórica e paradoxalmente coincidentes com a proliferação dos santuários
marianos, daí, quiçá e também, a atratividade destes últimos num deus ainda que
subliminarmente feito mulher, tornam-no, ao masculino, um elo ainda mais débil
dessa mesma cadeia na presunção da sua própria subalternidade quási
descartável.
Estes factos conferem
outra luz ao Sinal da Cruz como
poderoso fator de coesão social a corroborar a sua intemporalidade imorredoira,
todos somos, simultaneamente, pais e/ou mães, logo, Pai ou parentes, Filho/s ou
neutros enquanto crianças e Espírito/s Santo/s no que dele, do espírito e de
inviolável, em nós mesmos transportamos a denunciar à saciedade a reação
reflexa bem tradicionalmente masculina, aliás, sinal de insegurança convertida
em força física e/ou em estatuto, em si mesmos, afinal, demonstrações cabais da
mais completa e flagrante das debilidades de que os fundamentalismos e o terror
são, mais do que nunca, desesperadas e tardias, misóginas manifestações de quem
dos seus derradeiros redutos se recusa a abrir mão e a partilhar.
Deus está na trilogia dos
géneros que a uns não confere mais do que aos outros ou do que aos outros os
iniba de ser uns, quer dizer, inteiras e trinitárias individualidades.
ao arrepio do medo, uma vez mais,
Boas Festas
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Dezembro de 2015