segunda-feira, 21 de março de 2016

UNDER SIEGE




Thomas Cole, The Course of Empire 4, Destruction, 1836








De baixo de fogo, a Democracia encontra-se cercada.
Desde o que de profundamente inquietante se passa no Brasil ao que de não menos inquietante se desenrola nas presentes eleições primárias nos Estados Unidos da América, os múltiplos sinais de populismo e de xenofobia que vão aflorando na União Europeia, o terror exercido pelo Daesh e congéneres por todo o mundo ou a crise dos refugiados perante a qual sobreleva a impotência em resolvê-la, são múltiplos os acontecimentos que concorrem para o que escrevi no primeiro parágrafo deste meu texto:
Under siege, cercada, a Democracia periga.

Seja por justicialismos, caprichos de rua ou de eleitoralismos populistas ou pelo exercício, puro e simples, gratuito do terror, a Democracia, entendida aqui como o espaço global daqueles países por ela, mais ou menos, bafejado, é sacudida por inquietantes e nada apaziguadores, tranquilizadores sinais que a abalam.
Será que aqueles mesmos instrumentos que a garantem e quer por excesso como por defeito a poderão levar à ruína?
Será que o terror lhe poderá levar a dianteira?
Será que a abertura e a integração, características que à Democracia lhe estão ou deveriam estar nos genes, poderão ser levadas de vencida pela barbárie e pelo caos?
A ser assim, de que défice padecerá ela, então?

Num tempo imediatisticamente mediático, ciclotímico alucinante, falta-lhe pausa ou espaço para refletir.
Tempo de respiração.
Falta-lhe ponderação.
Falta-lhe o contraditório não entendido no seu sentido, estritamente, jurídico mas político que a aprofunde e crie mais sólidas e perenes raízes em que se funde.
Sempre soubemos que a Democracia é frágil, que os próprios instrumentos que a garantem a poderão, como quantas vezes na História já aconteceu, levar à ruína mas não haverá nada que o possa contrariar e torna-la mais sustentável e previsível?
Não teremos aprendido nada com a História?
Pela minha parte não me conformo e brado aos sete ventos que sim, há, só pode haver!

Reafirmo:
Nem tudo na Democracia depende dos incontornáveis, repito, incontornáveis instrumentos em que ela, por défice, se baliza.
Não, nem tudo.
Há mais, há outras balizas a ter em conta.
Onde está o aprofundamento da Democracia que dando-lhe durabilidade, a sustente ao abrigo das intempéries que a assolam?
Sim, onde está?

Está aqui.
Aqui?
Sim, aqui, neste meu compromisso de honra e que no tempo, sem sebastianismos, apontai-mos, se sustenta.
Não é em vão que assino e dato cada um dos meus textos.
Uma vez mais, explico-me:
Temperado pelo tempo, leva vinte e sete anos, o meu compromisso é indefetível e tanto mais quanto sem esmorecer prevalece porque não o rompo nem corrompo:
Por ela, pela Democracia tudo farei para a defender, como ao longo destes anos todos o fiz, o que implica o seu indissociável aprofundamento ou o reconhecimento, por provas dadas, do instituto soberano do singular.
Instituto soberano esse que, em última instância, à Democracia a justifica.
Que outro instrumento o não é esse e tanto mais quanto tomando a iniciativa estratégica sem a qual a simples atitude defensiva à Democracia a poderá deitar a perder.

Desta minha câmara escura, afinal, o buraco negro de que tanto escrevi e que mais tarde deixei cair, na travessia que vai da depressão à euforia a partir do negativo de ambas, revelada numa perspetiva positiva estável e inamovível, metáfora de mim mesmo e de que não me conseguia dissociar não o enxergando como tratando-se dela própria, da minha própria câmara escura, nas garantias que dei, estou disponível para à Democracia a aprofundar.
Que maior feito do que aquele de à minha própria ciclotimia a vencer, controlando-a e ultrapassando-a?
Projetando-se em valia adicional, política e cidadã que socialmente a integre e ponha a render?
A partir de um lugar único e soberano, o meu.

Estou disponível.
Estou disponível porque há mais, muito mais para lá dos défices que nos corroem por dentro e, por isso, ao cerco respondo com outro cerco, o cerco da sedução, na Língua de Camões criando um lugar invisível, tão visível quanto invisível por transparente o ser que, por isso mesmo, a nenhum outro o dispensa ou substitui, um lugar negro pois que encandeante de luz, fusão cromática capaz de ao primeiro cerco o furar, ultrapassar e em si mesmo, às claras, se sublimar e exceder.
Em defesa da Democracia, sim, estou disponível e como há tanto tempo o faço, uma vez mais, por Vós, representantes eleitos, aguardo.













Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Março de 2016