Hoje em dia não há quem,
com toda a ligeireza, se pronuncie sobre as dimensões da Economia como se para
nada servissem as múltiplas e complexas especialidades que a compõem que vão
das finanças à economia real propriamente dita ou que as extravasam mesmo.
Chega-se, inclusive, a
diabolizar a dimensão financeira alvitrando que tudo não passa senão pelo
crescimento económico de per si que a
própria dimensão financeira estrangularia.
Nada de mais enganador.
Concêntricas, as dimensões
da Economia dispõem-se em esferas ou círculos hierárquicos e complementares
entre si.
Finanças.
Será que as finanças são
um mundo à parte que ao cidadão comum não apenas lhe não diz respeito como
tende a subjuga-lo?
Será que cada um de nós,
cidadãos, aqueles a quem, quantas vezes, tão levianamente se invocam como
constituindo a classe média, não somos, simultaneamente, depositantes, credores
ou devedores, investidores, especuladores enfim?
Será que os fundos de
investimento que permitem dar sustentabilidade, nomeadamente, ao Estado Social, não são, eles mesmos,
compostos pelo conjunto dos cidadãos que pelos seus descontos organizados
nesses fundos o permitiram criar e tornar durável, sustentável no tempo?
Será que as sociedades
modernas seriam possíveis sem os bancos ou sem a dimensão financeira da
Economia?
É certo que derivas mais
ou menos obscuras têm havido que ao mundo financeiro o tem levado a desfasar-se
da realidade concreta e à luz das quais, em grande parte, logo pelo
rebentamento da assim chamada bolha
imobiliária, ajudam a explicar o ponto a que chegámos mas essas variáveis
que importa suster, conter, contrariar e para as quais muitos e anónimos
cidadãos comuns, sem que o quisessem, concorreram, não invalidam o conjunto das
perguntas que acabei de equacionar.
Não, não há modernidade
sem o mundo financeiro e não adianta diabolizá-lo.
Muito antes pelo
contrário.
A diabolização do mundo
financeiro lembra, aliás, tempos de triste memória, o da perseguição dos judeus,
por judeus, hoje, entenda-se a classe média no seu conjunto pelo que somos
todos judeus, diria, invetivados que o foram como especuladores e conspiradores
diabólicos na Alemanha nazi criando
campo fértil ao Holocausto, tentação
arrepiante que importaria rechaçar de uma vez por todas.
Economia.
Não há economia real sem
finanças saneadas e sem esse saneamento de pouco importa falar-se em
crescimento económico.
Mas falar-se de
crescimento, nos tempos que correm é, por sua vez, um pau de dois bicos.
Crescimento ou
desenvolvimento económico sustentável?
É que há uma diferença
substancial entre uma coisa e a outra!
Retomar uma nova era de industrialização
sem critério qual reprise da Revolução Industrial, isto é, sem ter em
conta a sustentabilidade do ecossistema global?
Concêntrica às outras e
extravasando-as, é aqui que a esfera ou a dimensão ecológica da economia, pano
de fundo larvar da desconfiança, pela poluição e alterações climáticas cuja
amplitude nem sequer sabemos até que ponto são ou não provocados por causas exclusivamente humanas já que a não sê-lo, então, os seus gritantes desequilíbrios se
agravarão exponencialmente e que não mais são possíveis de escamotear, entre o
gelo e o calor insuportáveis, hierarquicamente, se impõe a todas as outras
dimensões ou esferas da Economia.
Que mundo estaremos
dispostos a deixar aos nossos filhos, um mundo inabitável?
E é nestes parâmetros e
colocando o enfoque no pano de fundo das alterações climáticas e dos desequilíbrios
ecológicos que, num esforço premente, a discussão global, porque não há como
torna-la geograficamente parcelar ou contida e envolvendo especialistas de
todas as áreas, o ar como a água não conhecem fronteiras, sobre as alternativas
futuras, politicamente, se tem de
equacionar, centrar, balizar.
Não, na agenda não estão
as perspetivas ideológicas em si mesmas consideradas antes uma questão de
sobrevivência global para a qual todas as áreas e ideologias, transversalmente,
importa que concorram sem inquinar, à partida, a possibilidade séria de
reflexão para a unidade urgente, de emergência na ação e à escala global.
Tudo isto, evidentemente e
tendo por premissa, escudados na esfera das esferas, a dimensão humana que,
como ciência social a Economia não pode alienar, feita que o tem de ser de, com
e para as pessoas concretas.
o que se tem tal como a Democracia, a Paz, a água ou o ar
que se respira, dá-se por adquirido mas caso se venham a perder ou deteriorar
ainda mais, sequiosos e asfixiados, mal conseguiremos sobreviver
a posteriori, dedico este meu texto a AR
que entretanto me recordou ser hoje, nem de propósito e para que holocausto
não estaremos todos dispostos a caminhar, interrogo-me, o Dia Internacional da Memória do Holocausto alterando-lhe, também por sua sugestão, a
música de fundo que o acompanha
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Janeiro de 2013