domingo, 27 de janeiro de 2013

DESARMADILHAR ESTRATÉGICO





Hoje em dia não há quem, com toda a ligeireza, se pronuncie sobre as dimensões da Economia como se para nada servissem as múltiplas e complexas especialidades que a compõem que vão das finanças à economia real propriamente dita ou que as extravasam mesmo.
Chega-se, inclusive, a diabolizar a dimensão financeira alvitrando que tudo não passa senão pelo crescimento económico de per si que a própria dimensão financeira estrangularia.
Nada de mais enganador.
Concêntricas, as dimensões da Economia dispõem-se em esferas ou círculos hierárquicos e complementares entre si.

Finanças.
Será que as finanças são um mundo à parte que ao cidadão comum não apenas lhe não diz respeito como tende a subjuga-lo?
Será que cada um de nós, cidadãos, aqueles a quem, quantas vezes, tão levianamente se invocam como constituindo a classe média, não somos, simultaneamente, depositantes, credores ou devedores, investidores, especuladores enfim?
Será que os fundos de investimento que permitem dar sustentabilidade, nomeadamente, ao Estado Social, não são, eles mesmos, compostos pelo conjunto dos cidadãos que pelos seus descontos organizados nesses fundos o permitiram criar e tornar durável, sustentável no tempo?
Será que as sociedades modernas seriam possíveis sem os bancos ou sem a dimensão financeira da Economia?
É certo que derivas mais ou menos obscuras têm havido que ao mundo financeiro o tem levado a desfasar-se da realidade concreta e à luz das quais, em grande parte, logo pelo rebentamento da assim chamada bolha imobiliária, ajudam a explicar o ponto a que chegámos mas essas variáveis que importa suster, conter, contrariar e para as quais muitos e anónimos cidadãos comuns, sem que o quisessem, concorreram, não invalidam o conjunto das perguntas que acabei de equacionar.
Não, não há modernidade sem o mundo financeiro e não adianta diabolizá-lo.
Muito antes pelo contrário.
A diabolização do mundo financeiro lembra, aliás, tempos de triste memória, o da perseguição dos judeus, por judeus, hoje, entenda-se a classe média no seu conjunto pelo que somos todos judeus, diria, invetivados que o foram como especuladores e conspiradores diabólicos na Alemanha nazi criando campo fértil ao Holocausto, tentação arrepiante que importaria rechaçar de uma vez por todas.

Economia.
Não há economia real sem finanças saneadas e sem esse saneamento de pouco importa falar-se em crescimento económico.
Mas falar-se de crescimento, nos tempos que correm é, por sua vez, um pau de dois bicos.
Crescimento ou desenvolvimento económico sustentável?
É que há uma diferença substancial entre uma coisa e a outra!
Retomar uma nova era de industrialização sem critério qual reprise da Revolução Industrial, isto é, sem ter em conta a sustentabilidade do ecossistema global?
Concêntrica às outras e extravasando-as, é aqui que a esfera ou a dimensão ecológica da economia, pano de fundo larvar da desconfiança, pela poluição e alterações climáticas cuja amplitude nem sequer sabemos até que ponto são ou não provocados por causas exclusivamente humanas já que a não sê-lo, então, os seus gritantes desequilíbrios se agravarão exponencialmente e que não mais são possíveis de escamotear, entre o gelo e o calor insuportáveis, hierarquicamente, se impõe a todas as outras dimensões ou esferas da Economia.
Que mundo estaremos dispostos a deixar aos nossos filhos, um mundo inabitável?
E é nestes parâmetros e colocando o enfoque no pano de fundo das alterações climáticas e dos desequilíbrios ecológicos que, num esforço premente, a discussão global, porque não há como torna-la geograficamente parcelar ou contida e envolvendo especialistas de todas as áreas, o ar como a água não conhecem fronteiras, sobre as alternativas futuras, politicamente, se tem de equacionar, centrar, balizar.
Não, na agenda não estão as perspetivas ideológicas em si mesmas consideradas antes uma questão de sobrevivência global para a qual todas as áreas e ideologias, transversalmente, importa que concorram sem inquinar, à partida, a possibilidade séria de reflexão para a unidade urgente, de emergência na ação e à escala global.

Tudo isto, evidentemente e tendo por premissa, escudados na esfera das esferas, a dimensão humana que, como ciência social a Economia não pode alienar, feita que o tem de ser de, com e para as pessoas concretas.


o que se tem tal como a Democracia, a Paz, a água ou o ar que se respira, dá-se por adquirido mas caso se venham a perder ou deteriorar ainda mais, sequiosos e asfixiados, mal conseguiremos sobreviver

a posteriori, dedico este meu texto a AR que entretanto me recordou ser hoje, nem de propósito e para que holocausto não estaremos todos dispostos a caminhar, interrogo-me, o Dia Internacional da Memória do Holocausto alterando-lhe, também por sua sugestão, a música de fundo que o acompanha



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Janeiro de 2013



sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

RÁBULA




- falas entrecruzadas temperadas de agoiros -

( fala 1 )

Caçadores de más notícias
no-las dão sem ter premissas
julgando prestar um serviço
cardápio são do seu vício

( fala 2 )

Se a notícia que te der
de bom tudo tiver
não usarei de talher
para comer o que houver

( fala 3 )

Ai se a notícia que desse
dissesse em gordas primeiro
ter o mundo alcançado
acordo de paz verdadeiro

( fala 4 )

Que risada se ergueria
chacota em tom vezeiro
e logo um falar zombeteiro
paternal responderia

( fala 5 )

Passaste-te no travesseiro
saíste-me um trapaceiro
se pensas que compro a notícia
vai contá-la ao mundo inteiro


em prol da liberdade de expressão e da objetividade informativa, quantas vezes, a enxurrada de más notícias que, supostamente, vende mas objetivamente propagandística e geradora de desconfiança, apenas cria campo fértil à boataria, à indiferença e à resignação gerais



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Janeiro de 2013



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

INSISTO





Pergunto
pergunto
e pergunto
e quanto mais sei
mais pergunto
se a ruína
da vontade
é simples
fatalidade

Persisto
persisto
e persisto
e quanto mais passa
insisto
que o tempo não leva
a metade
que em mim
me dá liberdade

Pergunto
pergunto
e pergunto
se por desistir
da pergunta
o que me sobra
não cobra
o resto de mim
que soçobra


se perguntar viverei



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Janeiro de 2013



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

DIREÇÃO DE ATORES





Ao escrever sobre direção de atores refiro-me à indicação ou sinalização de um rumo não porque ele se deva impor a terceiros mas porque autoimpondo-se, livremente, a quem o segue movendo-se numa determinada direção, pelo seu próprio exemplo, eventualmente, venha a frutificar.
A vida é um palco e a quem a viva, a quem nesse palco represente, circule, nós todos, os seus atores.
A mim não me compete dizer como esses atores terão de representar mas só a mim me compete estabelecer como eu próprio o deva fazer.
Se, pelo exemplo, a minha própria representação se projetar, então, ela frutificará.
No entanto e aparentemente, o que frutifica é o sensacionalismo de um dado momento, seja ele de que natureza ou a que preço for.

Lance Armstrong é disso um paradigmático exemplo.
Primeiro a fama sem escrúpulos obtida a troco de permanente batota, dopagem.
Agora, em entrevista a Oprah Winfrey e para incredulidade de tantos que o idolatraram, a pseudo-confissão disso mesmo.
Confissão?
Desde quando uma confissão se faz em hasta pública?
Quanto não beneficiará ele próprio, Lance Armstrong, com essa confissão e para lá dos danos que, aparentemente, sobre si mesmo se venham a refletir?
A não ser pelos interesses que, com ele, ameaçam submergir, que interesse público o desta entrevista?
Não é, seguramente, em vão que ele se vende à melhor oferta pública e a fama granjeada permanece, se é que não cresce ainda mais.
Permanece, também, não o exemplo mas a falta de escrúpulos e a desenvoltura em o admitir.
Prevalece, de facto, a péssima direção de atores e tudo em nome de uma segunda oportunidade, quantas não terá ele já tido que, eu não nego, todos merecem ter.

O meu é um palco pequenino e sem púlpito mas se, sem transigir nos meus princípios trocando-os por batota, demagogia ou populismo, a ele lhe fosse dado um outro impulso …?
Não tiro o lugar a ninguém;
Não imponho, senão a mim mesmo, nada a ninguém;
Tanto neste meu blogue como em tudo que o antecede e que leva para cima de vinte e quatro anos de uma autêntica maratona em permanente stand by o meu percurso, registado, fala por mim.
Se nestes termos e permanecendo fiel à Democracia, essa sim interesse maior e elevando-a me fosse dada outra projeção o que não teríamos todos a beneficiar com isso e desde que permaneça nos meus princípios?
E não é esta minha maratona garantia disso mesmo?
Quanto não, respeitando as fronteiras entre o público e o confessional como sempre o tenho feito, em permanente e incondicional vigília, se vificaria, pela positiva portanto, a Democracia?
Será que sim ou será que não?
Certo é que na lógica da simples cativação de audiências, quantas vezes com que dúbios critérios, o que prevalece é a sordidez e a opacidade da ausência de princípios, repercutindo-se, elas sim, em escalada e com que danos autoinfligidos em todo o tecido social, na aparente constatação de que o crime, afinal, sempre acaba por compensar.


todos devem ter uma segunda oportunidade mas sempre parece haver alguns que a têm mais do que outros



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Janeiro de 2013



sábado, 19 de janeiro de 2013

RECENTRAR






Diz-se e bem que a matemática está em todo o lado, mas a música também o está.
A música é, englobando-a, a matemática aplicada às situações e às pessoas concretas.
Ela precede a matemática porque a música a instila de humanidade.
Dá-lhe forma, vida, sentir.
Como precede a língua, o falar porque a eles os compõe.
A música inunda-nos e define as balizas a que ambas, a língua como a matemática, se aplicam.
A música é muito mais do que a ciência dos números ou do que a gramática das palavras.
Paira sobre nós, enforma-nos.

A música enforma a matemática.
Confere-lhe plausibilidade, humanidade.
Dá vida aos números.
Põe-nos, operacionalmente, a cantar, a tocar, porque literalmente nos toca, a dançar mesmo.
Vibra e faz-nos vibrar.
A música é o diapasão da matemática.
Permite aferi-la.

Se a matemática nos esmagar, nos retirar autonomia, então é porque esta não bate certo.
Não bate certo porque a nós não se aplica.
É estratosférica e para nada serve.
É alienada e perversa.

A matemática está em todo o lado mas a música excede-a.
Tal como o que escrevo pela música também se excede.
A música é fronteira entre o cá e o lá.
Parafraseando Einstein, uma fórmula pode ser matematicamente correta mas se ela não for estética, musicalmente matemática então ela não nos serve para nada.

Eixo axial e força motriz, ponte entre o concreto e o abstrato, entre o sentir e o pensar, a música é a sublimação da matemática.


de que serve uma prescrição matemática se ela não se aplicar com humanidade, musical, a todos nós



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Janeiro de 2013








sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

BICHARADA - 3

Georges Seurat, Le Cirque




a quem nestas plataformas circula, na sequência de 1 e 2 e a nós bicharada, desafio na forma cantada


Bicharada
corre por tudo
e por nada
enquanto o bicho
pancada
se abate
na nossa estrada

Bicharada
triste entrudo
do que ela fala abismada
no seu nicho
aninhada
a tudo esquece
entrevada

Carnaval da bicharada
do que leva como mudo
estandarte desta maçada
vai ao lixo
alvoraçada
e adormece
aliviada


a Democracia não se pode confundir com um concurso carnavalesco ou de humor-negro de ocasião e sem fim à vista



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Janeiro de 2013



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

A PROPÓSITO DA COESÃO INTERGERACIONAL - 2






Entorpecidos por uma certa práxis dominante, alguns há que consideram natural a quebra das promessas feitas durante as campanhas eleitorais não constituindo esta, em si mesma, rompimento do contrato e, logo, da legitimidade para se governar.
Não sou dos que assim pensam e num tempo em que tanto se fala, pelos melhores e pelos piores motivos, em coesão intergeracional, chamo à colação um exemplo concreto e extremo, já recuado no tempo, disso mesmo:
A expressa garantia e a implícita promessa eleitoral feita em campanha eleitoral por Passos Coelho, vai para dois anos, a uma jovem adolescente, aluna de uma escola secundária e para a qual, aqui, de novo vos remeto.

Já é grave quando ao eleitorado se ludibria, dando o dito pelo não dito, antes e depois de se ser eleito.
Mas quando tal acontece, como neste exemplo que aqui tão bem surge ilustrado, envolvendo uma jovem aluna adolescente, repito, a gravidade do ato acresce ainda mais.
O Primeiro-Ministro dar-se-á conta de que já não é assim tão novo?
De que se estava a dirigir a uma adolescente?
De que, ao dizê-lo assim, logo do que disse fazendo letra morta uma vez tendo sido eleito, está, não apenas a semear a desconfiança como a minar o terreno de todos os agentes educativos e, logo, a romper a coesão de que tanto fala e diz defender?
O que pensará hoje, dois anos volvidos, essa jovem sobre o que, na altura, pelo Primeiro-Ministro lhe foi garantido?
Ou todos aqueles jovens que tendo ouvido este diálogo, hoje, com ela, se sentem por ele ludibriados?
Por ele e, por tabela, pelos seus pares bem como pelas instituições democráticas que representam?
E que autoridade sobra ao Primeiro-Ministro quando hoje, em nome da coesão intergeracional, chama a atenção para os encargos que as reformas dos mais velhos, diz, fazem recair sobre os mais novos?
No seu íntimo, perante os crescentes e imparáveis sacrifícios que anuncia, com que cara se olhará ele, o Primeiro-Ministro e como se reverá ela naquilo que nos tem a propor?

Porquê voltar a este assunto quase dois anos volvidos?
Porque me preocupo, sobremaneira, com o estado da Democracia que já na minha página anterior, por caricata e empolada mas significante amostra, diagnosticava;
Porque o ponto a que chegamos tem tudo a ver com as promessas que ao longo do tempo, em sucessivos sufrágios e por sucessivas gerações de políticos, nos foram vendidas e que hoje, pesadamente nos estão a ser cobradas;
Porque, pese muito embora a situação aflitiva em que nos encontramos, muitos políticos e independentemente da sua cor, parecem não ter ainda aprendido a lição;
Porque sou professor.
No meu microcosmos estou face a face e não distante do meu público-alvo, ele também composto de adolescentes e ai de mim se eu lhe faltasse a uma promessa que lhes tivesse feito.
Com que cara fica e sai um putativo governante de uma escola não sabendo ou agindo como se não soubesse a quem se está a dirigir onde, como aqui, aconteceu?
Investindo como elefante em loja de loiça fina?
Sem se dar conta de que é para o futuro, esse sobre o qual tanto diz preocupar-se, que está a olhar e ao qual, mal vira costas, espezinha como se nada fosse?
A ele, ao futuro e por ao terreno o minar, a quem dele cuida?
Porque, hélàs, a Democracia, em todos os seus tempos e momentos, não é, não pode ser palavra vã!


a Democracia não se pode confundir com um concurso de conjunturais e demagógicos impulsos de ocasião



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Janeiro de 2013 



segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ESTRANHOS TEMPOS - 1


Ali Clift, Circus Ground at Night




Vivemos tempos estranhos.
Tão exageradamente estranhos quanto pantanosos são os tempos em que patinhamos.
Ele é um chico-esperto que não provoca mais do que amorfas reações;
Ele é um cão que suscita mais solidariedade do que a morte de uma criança que ele próprio provocou;
Ele é uma adolescente que no seu afetado mal falar desencadeia uma chacota pegada e audiências sem fim;
Ele é um candidato presidenciável que faz furor, pura e simplesmente, por ter o corpo todo tatuado;
Ou é, ainda, um político mal posicionado nas sondagens que por quase se pegar à pancada com o pivot de um talk-show de uma sua televisão, simples coincidência, bate recordes de audiências.
Queres ser popular à la minute?
Então, seja por que meios forem, dá nas vistas!
Estes tempos são tanto mais estranhos quanto a crise em que nos parecemos afundar.

Será que a Democracia se esgota em maiorias ou audiências de ocasião?
Será que a sensatez é inimiga da própria Democracia?
Será que o circense bombástico corresponde à sua verdadeira essência e razão de ser?
Somados, afinal, todos estes preocupantes fenómenos ou indícios, eles apenas refletem a ausência de valores a que a falta de credibilidade e confiança na generalidade das propostas dos agentes políticos que, descredibilizados por irrealizáveis promessas, parecem não ter mais o que nos oferecer.
Para tragédia nossa e, logo, da própria Democracia, qualquer dia, a persistirmos assim e literalmente, esta ainda se acabará por confundir com uma imensa palhaçada e que me perdoem os palhaços, chafurdando em tragicomédia sem fim.

Ponderai porque não é de somenos.


a Democracia não se pode confundir com um concurso de conjunturais e sórdidas apetências de ocasião



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Janeiro de 2013 



quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

REPTO



Umberto Boccioni , States of Mind II: The Farewells




Portugal é um país sob resgate financeiro.
Pesam sob os seus cidadãos crescentes sacrifícios e anunciam-se, em cascata, para o ano em curso, se possível, sacrifícios ainda maiores.
O desemprego alastra e a miséria também.
Anuncia-se borrasca à volta do Orçamento aprovado para 2013 e os pedidos de fiscalização sucessiva deste ao Tribunal Constitucional, sucedem-se uns após os outros.
Os portugueses vivem cada vez mais afogados nas suas angústias e incógnitas e a falta de perspetivas não para de crescer.
Entretanto …
Entretanto correu a notícia de que um dos seus governantes, no período das festas, teria ido passar férias no estrangeiro instalado numa luxuosíssima estância turística e o assunto, ao contrário do que, anteriormente, noutras circunstâncias havia já acontecido e mesmo em relação a esse governante preenchendo a espuma dos dias, morreu por aí.
Fico atónito e não é de somenos!

Senão, vejamos:
Governante é governante e, no caso, representante daquele governo a quem compete executar o Memorandum a que o país se encontra obrigado e que justificará todas as medidas que aos seus concidadãos, como enunciado acima, avassaladoramente, os constrangem;
Sendo assim, se é certo que há uma fronteira entre a vida pública e a privada dos membros desse governo, na situação que vivemos, ambas não podem deixar de ser conformes à situação de emergência a que o país se encontra sujeito;
Para mais, aliás, são as figuras de topo do Estado, que fazem apelo a todos para que, mesmo em férias, os que as tenham, as façam cá dentro, concorrendo, desse modo, para o índice de exportações tirando a economia do marasmo, pior, da depressão em que se encontra mergulhada;
Para além disso e sujeito a um apertado escrutínio, pelo menos assim o deveria estar, o mínimo que se exige a quem faça parte desse governo é ao recato e à moderação, à congruência que, pela ausência de ostensiva obscenidade que uma tal estadia representa e projeta, não fira a sensibilidade geral do seu povo sujeito que está a tantos sacrifícios.
E, já agora e para o exterior, que sinal é este pois se um governante, em férias e nestas circunstâncias, se pode dar a um tal luxo?
Se assim se portam os seus governantes, então é porque o país pode levar com muito mais em cima!
À mulher de César, cesarito no caso, não lhe basta ser, tem mesmo de parecer ser séria sob pena de aos seus súbditos não ser possível chamar, envolver, mobilizar muito menos, para o que lhes é exigido, rompendo-se, pela falta de congruência, o contrato que a ambos, governantes e governados, os vincula.

No entanto …
No entanto o assunto que aqui me traz, como um flop, na apatia e resignação geral, pois eles, os políticos, são todos iguais, dir-se-á, parece ter morrido.
São os governantes que merecemos, acrescentar-se-á!
Assim parece.
Sobre este assunto, escrevi primeiro um Libelo no mural do meu facebook e, logo a seguir, espicaçando os meus leitores, um outro post ainda no facebook, Gostava De Perceber Mas Não Entendo, onde, entre outra coisas solicitava ao tal governante, ou uma justificação plausível ou um desmentido formal sobre o sucedido, tendo provocado amorfas reações da parte de quem me lê.
Que eu saiba, nem justificação nem desmentido tiveram, tão pouco e até hoje, lugar.
Porém, não me conformo e aqui estou uma vez mais, agora, dando particular destaque a este assunto no meu blogue.
Faits divers?
Confesso-vos que não sou dado a eles e, julgo, já o tereis reparado.
Quixote, chamar-me-ão.
Pois que o seja!
O que neste episódio, afinal, me angustia ao não suscitar um coro consequente de indignação tanto da parte dos média como dos políticos ou, em geral, dos meus leitores é que, passando em branco, como atestado de irresponsabilidade recaia sobre toda a classe política democrática sem olhar a quem e envolvendo-a numa perigosa generalização já que, o que não mata, mói, corrói como joio e tanto mais quanto a Democracia, pela austeridade a que está obrigada, já se encontra tão fragilizada.
O assunto que aqui me traz, essa é que é essa, quer pela ausência de justificações ou desmentido por parte do próprio, devia ter sido estancado, cortado pela raiz pela mais que justificada e célere demissão do governante em causa.
Um assunto como este, porém, só morre quando todos o deixarem cair e a este, hélàs, combatente das causas perdidas, chamar-me-ão, não só nele insisto como aqui fica.
Será que é este o tipo de governantes que, pela ausência de clamor que deveria ter desencadeado mas não suscitou, afinal, nós merecemos?

para que não vos deixais atordoar ou vencer, aos meus leitores, aqui deixo o repto da mais sentida e acalorada das indignações


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2013