quarta-feira, 9 de julho de 2014

EM DEFESA DA MINHA PÁGINA ANTERIOR

enfoque, fotografia de Jaime Latino Ferreira






( esboço aqui a defesa da minha página anterior, Só Mais )


Luz e som são refrações de uma dimensão maior que envolve o espaço/tempo e que em nós, desdobrando-se, neles se cristalizam.
Não escrevo metafísica antes e se me é permitida a presunção, astrofisicamente.
A luz viaja a uma velocidade astronómica e à nossa escala inconcebível de, aproximadamente, 300 000 quilómetros por segundo;
O som, pelo contrário, viaja a uma velocidade que nós próprios, por via das velocidades supersónicas, já ultrapassamos de mais coisa, menos coisa, 1 200 quilómetros por hora.
Variando em função do meio em que se propagam, contudo e entre uma e a outra das velocidades, aparentemente, vai um abismo intransponível ou inultrapassável.
Tão intransponível como, quais Alice, termos o desplante de pretender atravessar para o outro lado do espelho.
A luz que nos chega do espaço, do Sol, por exemplo, tem uma décalage aproximada de oito minutos o que significa que se ele deixasse, neste momento, de brilhar, à sua luz a continuaríamos a ver durante mais esses tais oito minutos.
Quanto ao som, esse, confere, repito, confere à luz uma profundidade abissal.
A luz tem uma instantaneidade que só pode mesmo ser comparável à profundidade, isto é, à ancestralidade ou poder de antecipação, paradoxo nos termos, do som.
Tal como é legítimo estabelecer a nada inócua equação prévia que nesse meu texto formulei na sua primeira parte em Da Simetria das Simetrias, uma vez chegados ao reflexo da escrita …
Nela se condensa esse rubicão que a ambas as velocidades as invertendo, pelo som que na imagem ou luz da escrita, estática ou cristalizada se encerra, poderemos encontrar a via que nos conduza, literalmente, à conquista do espaço sideral.
Convenhamos que é chegado o tempo, mesmo em nome da nossa perpetuação, de nos concentrarmos na criação das condições de uma verdadeira Diáspora Global para a qual as nossas investidas, até hoje e perdoai-me, uma vez mais, a presunção, não passam de uma necessária, com certeza embora frustrante brincadeira.
Vamos atrás da luz errónea porque ilusoriamente sem que pela escrita nos demos conta de que à primeira a dominamos, poucos, aliás e com profundidade o conseguem fazer, porque é a escrita e não a matemática que antes de mais confere às coisas uma dimensão ou escala humanas situando-as no terreno, e embarcamos numa instantaneidade cada vez mais alucinante sem constatarmos de que o caminho é, precisamente, o inverso como a escrita, no seu ritmo próprio e acessível, humano, repito, logo o sugere:
Pelo som da escrita a domesticada luz como, aliás, a música, definição matricial que constitui a terceira parte do texto, o demonstra, porque é fácil demonstrá-lo, e reforça.
Falsas modéstias à parte, aqui têm o esboço da minha fundamentação e dizei-me se, enquanto síntese, a trilogia em apreço não é digna, como quantas e quantas outras que eu já escrevi, de merecer o maior dos destaques.
Até mesmo e nem que mais não fosse em nome das línguas, da escrita e da leitura ou da literacia tout court.


em si mesma, a escrita constitui um ato de libertação das malhas do espaço/tempo










Jaime Latino Ferreira

Estoril, 9 de Julho de 2014



2 comentários:

manuela baptista disse...

quantas estrelas

habitam ainda o firmamento, ou a ilusão delas

e contudo, continuamos a destacá-las

destaca-te, pois!

ki.ti disse...

ah, conseguiste fotografar uma enxaqueca

olha lá, quando é que vais de férias?