terça-feira, 20 de março de 2012

FICÇÃO




A minha ficção é a realidade e as estreitas margens de liberdade criativa de interpretação do real que a mim dela me separam faz toda a diferença.
Separam ou complementam?
Distinguem.
Vejo as coisas pelo meu ângulo como não poderia deixar de ser …!
Como qualquer um as vê para lá dos dados disponíveis e que não são independentes dessa mesma realidade.
Como o não sou eu também.
Não existe uma realidade absoluta como também não existe uma verdade absoluta e inquestionável a não ser na esfera íntima das crenças ou descrenças singulares.
Mas a essa esfera não a posso nem quero impor a quem seja!

A minha ficção pauta-se pela realidade concreta a começar pelo meu contexto e nela não cabem personagens fictícios e logo a começar pela pseudonímia de mim mesmo.
Sou eu, eu próprio no meu avatar, no meu nome e em todos os meus dados que de mim mesmo Vos disponibilizo.
Eu na interpretação de mim mesmo!
Tal como me vejo diante do que, do que se passa, eu vejo.
Identidade sempre avalisada pela assinatura e data que aos meus textos os subscrevem.
No imparável fluxo dos acontecimentos.
Ontem como hoje e sempre.

A minha ficção pauta-se por estreitas margens de interpretação.
O que acontece a meus olhos e que não sãos os teus nem os de ninguém mais.
Vejo como vejo o fluir da História tal como tu ou qualquer um de outra maneira o veem, ângulos ímpares e singulares que todos somos.
Nem de outra maneira o poderia ser:
Basta que nos situemos diferentes e em espaços próprios nunca coincidentes.
Podes tu ocupar, em simultâneo, o espaço que eu ocupo?
És tu, qualquer um que o sejas, igual, exatamente igual a mim mesmo?

A minha ficção, tão estreitas que são as margens que ela ocupa, acrescenta ou diminui?
Valoriza ou desvaloriza?
Anula ou somatiza?
Exclui ou inclui?

A minha ficção, tão estreitas que são as margens que a definem, fecha ou abre horizontes?
Estreitas margens …
Nas estreitas margens que a circunscrevem, a minha ficção transforma-se, porém, num rio imenso!
E tal acontece precisamente por ter tão circunscritas, delimitadas as suas margens.
E a essa capacidade de ficcionar, como num soneto que tem de obedecer a regras rígidas e formais inultrapassáveis, chama-se, tão só, criatividade.

A minha ficção da música tem a respiração que nas suas estreitas margens, para o melhor como para o pior, num gesto vê mais do que um gesto, uma lua oxigenada, molhada, alegre ou triste, chorosa e suplicante vista do meu enfoque.

A minha ficção é, tão só, capacidade Política dentro de um quadro estrito e democrático!




se, por mérito próprio e resolutamente, ao positivo se valorizasse, ao que de pior, muito pior há, mais efetiva e contundentemente se conteria








Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Março de 2012

3 comentários:

Hanaé Pais disse...

De que cor é o sol?
De que cor é são as nuvens?
Perguntou-me uma ceguinha que nunca vislumbrou as cores.
Eu disse-lhe a resposta.
Ela respondeu-me:
-És sábia rapariga, és sábia.
A ficção é contextualizada e correlacionada em sinédoque.A ficção ajuda a compreender o que está subjacente.
As imagens do "pior".
Trata de inocentes.
Lamentavelmente o mundo não está preparado para aceitar a diferença.E as diferentes religiões são segregadas e sobrevivem no limiar do seu proprio estigma.
Lamentavelmente... Nunca nos devemos esquecer que reside no ser humano a opção do livre arbítrio.

manuela baptista disse...

a tua ficção

é o lugar onde estica a realidade como fio fino recorda-me

o meu destino
é o choro de uma criança que consegui consolar

e a música fala com as tuas palavras

ki.ti disse...

Miau.