quarta-feira, 3 de outubro de 2012

UM SILÊNCIO ESMAGADOR

 



O ambiente anda crispado, os nervos estão à flor da pele.
Falta um sentido que justifique todos os sacrifícios que a austeridade impõe, equidade que deles transpareça e, sobremaneira, esperança.
O povo sai à rua em crescente clamor e o governo, invetivado, parece cada vez mais sitiado.
Anuncia-se para hoje um novo pacote de austeridade, antes do próximo e do que se lhe seguirá, e de outro mais e mais ainda.
Até quando e por quanto mais tempo, com que possível civilidade, o povo, resiliente, resistirá?
 
No meio disto tudo e no mural do meu facebook não paro, entretanto, de refletir e a reflexão conduz-me, por vezes, quantas vezes, a situações que a mim próprio me surpreendem.
Calculem que me pus a advogar e, logo, a fundamentar uma esmagadora manifestação pública mergulhada num não menos esmagador, retumbante silêncio.
Não como em tempos uma outra houve, de uma suposta maioria silenciosa e apolítica, mas uma manifestação mergulhada num silêncio comprometido, musical mesmo e que de tão silenciosa se tornasse profundamente ensurdecedora sem deixar de cumprir todos os trâmites da civilidade sem mácula.
Uma manifestação pejada de tarjetas de conteúdos como os que se seguem:

 
o silêncio é mais
o silêncio cria mais
o silêncio junta mais
 o silêncio mobiliza mais
 o silêncio traz mais
 o silêncio faz mais
 o silêncio diz mais
não violento, o silêncio é-o ainda mais

 
Uma manifestação no estrito comprometimento com a não-violência e, logo, com a Democracia.
 
A violência verbal é meio caminho andado para a violência física e ambas não conduzem a parte alguma ou melhor, mais depressa poderão concorrer para não chegarmos a parte nenhuma.
Poderemos, que o estamos, estar a ser sujeitos a uma enorme violência mas somada essa violência à violência verbal ou física como resposta, entra-se numa espiral recriminatória sem mais ter fim e no fim todos estaremos muito piores do que já estamos hoje.
Agora o silêncio, o silêncio musical, a sublimação do que nos vai na alma excedendo-nos pela positiva, que impacto não poderia ter e tanto maior quanto ainda mais esmagadora do que todas as que a precederam, a manifestação o fosse?
Quando falo de impacto, falo não apenas do impacto à escala doméstica que ela poderia ter mas, sobretudo, do impacto no exterior e, ainda mais, se no exterior, por múltiplas, replicada o fosse.
Que repercussões em cadeia e entre os decisores políticos, em particular, ela(s) teria(m) sabendo nós de quão sensíveis ao peso da opinião pública o são e tanto mais quanto realizada(s) com toda a dignidade e sem réstia de agressividade!?
Procura-se desesperadamente uma saída e aqui está uma com potencial que de tão ruidoso sem o ser, se pode tornar esmagador já que, sendo o silêncio musical porque não há música sem silêncio, dela ele já é portador de esperança.


soberano, o silêncio diz tudo e muito mais
 

 

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Outubro de 2012
 
 
 

3 comentários:

Anónimo disse...

Verdade que o silêncio pode ser de uma tremenda força uma vez que pode ser interpretado de formas diferentes. O silêncio pode significar, condescendência, concordância, tristeza, inatividade... mas se o silêncio for acompanhado de ações conscientes, responsáveis, livres, talvez se torne num silêncio construtivo.

É mais que óbvio que o capitalismo e esta sociedade de consumo que erguemos está a chegar ao fim. Alguns escolhem o suicídio silencioso como forma desesperada de fugir à pobreza sobretudo para quem em algum tempo foi rico.

Tenho pessoas constantemente a pedirem-me à porta, alimentos, simplesmente algo para comer. Tenho pessoas conhecidas que tendo no passado recente, sido diretores de empresas, optam por irem para o estrangeiro lavar escadas ou distribuir jornais. Com a agravante de terem filhos para alimentar. Esta é a sociedade em que se vive. Todos ou a maioria vai morrendo lentamente. Morrerão outros tantos por falta de assistência médica, por falta de dinheiro para medicamentos dos quais dependem. Não estamos em guerra mas é como se estivéssemos. É certo que a violência não nos trás o pão! Mas as pessoas que estão nos governos têm de facto de mudar as suas posturas! Uma sociedade não pode dividir escravos para um lado e senhores para outro! Todos trabalhamos e temos dignidade humana e como tal temos de assim ser tratados. E é o Estado que deve garantir isso! Senão não estará a desempenhar as suas funções e é perda de tempo permanecer em tal cargo! É impensável que só quem tem dinheiro tenha acesso aos estudos. Pode então ser um medíocre a nível de inteligência mas se os papás tiverem dinheiro para pagar, pode ter um futuro mais aprazível. Aquele que não dispõe de dinheiro apenas trabalha para sobreviver, mesmo que seja um génio em determinada matéria!

O mesmo se passa na saúde. Morre indignamente quem não tem dinheiro para pagar operações ou tratamentos!

Talvez o silêncio sirva para refletirmos e para alterarmos o que está incorreto! Nenhum ser humano é ou deve ser escravo de outro. E se é para acabar com a escravidão então que venha a revolta! O governo está a exercer violência sobre aqueles que vivem do magro salário que nem dá para fazer face às despesas mensais. E vêm aí mais impostos? Então vai o dinheiro que ganhamos com suor e lágrimas para os impostos??? E comemos o quê?
Me perdoem! Mas há uma irracionalidade descarada e imbecil na arte de governar!

Gostei do texto pois apela à esperança. E tal atitude é de louvar! Mas só pode haver esperança se tivermos comida nos pratos todos os dias! Senão vai-se a esperança e a sensatez!

Abraço

Ana Maria Oliveira

manuela baptista disse...

seria bonito de ver
teria impacto, sim


e agora calo-me

Branca disse...

O Jaime é um sonhador e este é um lindo sonho que também eu gostaria de ver realizado. Quem sabe?! Se todos tivessem bom senso e conhecessem a força do silêncio...mas a humanidade é composta por muitas contradições e temos que aprender a viver com elas, não deixando contudo que os nossos sonhos e a nossa esperança caiam por terra.

Beijinhos
Branca