domingo, 7 de abril de 2013

DO CLASSISMO E DO QUE NÃO ME PRONUNCIO


Pax




Dizer-se que existe uma visão ou perspetiva de classe eis uma tentação em que não caio.
Dizer-se tal coisa seria o mesmo que admitir não existir margem para a autodeterminação singular ou para o livre arbítrio.
Como se poderá, de um qualquer grupo profissional ou outro, afirmar que aqueles que o compõem partilham de uma visão comum que o mesmo é dizer que pensariam todos enformados no mesmo molde?
Ou que, maniqueísticamente, seriam movidos por estas ou por aquelas intenções?
Como?
Como e com que autoridade?
Tal só se pode afirmar, não com autoridade mas partilhando de uma visão ainda que mitigada mas autoritária das coisas.
Em tese, posso ser um patrão, um empresário e não partilhar de uma visão que a este grupo lhe seria imputada como comum.
Em tese também, posso ser um operário, um trabalhador e, de igual modo, não partilhar de uma visão que lhe seria imputada como comum.
E tanto num como no outro caso sem que lhes seja, a um como a outro, porque esse é o outro lado do autoritarismo, imputada a excecionalidade ou qualquer atributo discriminatório que a ambos os apontasse a dedo ou excluísse do grupo profissional ou outro a que pertencessem exercendo, por essa via e sobre eles, qualquer forma de pressão coerciva.
Independentemente do grupo profissional e, já agora, não profissional a que se pertença, invoco, por exemplo, um desempregado, a qualquer deles não se pode caracterizar imputando-lhes uma tipologia ou visão genérica, macroeconómica que individualmente em nenhum deles se encaixa.
A não ser assim, imperaria uma visão totalitária que a uma mundividência, a todos, indiscriminadamente, se aplicaria sendo que a realidade é muito mais complexa do que qualquer visão simplista que assim, aos vários grupos sociais ou outros os pretendesse caracterizar.
Afirmar-se que existe uma visão de classe, consiste, por isso, num enorme disparate.

A não ser excecionalmente, não me pronuncio sobre a situação política concreta de um determinado país por saber ou melhor, por ter dela a aguda consciência, não depender apenas de si próprio, desse país, mas antes e tanto mais quanto a crescente e acelerada globalização, do seu entrosamento numa complexidade mais vasta e cada vez mais interdependente.
É claro que o que se passa num determinado país obedece tanto a causas exógenas como endógenas.
Mas cada país é, ele também, um país diferente de todos os outros ou não teriam sido formados e para o que nele se passa, de bom como de mau e maniqueísmos à parte, não se podem aplicar receitas feitas a régua e esquadro que a todos, por igual, se pudessem aplicar.
Eis outra forma de tentação totalitária!
E quanto mais antigo, quanto mais enraizadas as suas idiossincrasias, maior a complexidade que o caracteriza e que soberanamente o justifica.
É claro que os países tendem, não apenas pela crescente e acelerada globalização mas, também, por imperativos ecológicos e que com esta, numa feliz coincidência convergem, a integrarem-se em grandes espaços que os transcendem e seria trágico se deste caminhar histórico se arrepiasse caminho.
Tanto mais trágico quanto ameaçada estaria a Paz globalmente considerada como, aliás, os tambores de guerra não param de fazer ecoar.
Mas para cada qual, para cada país, não há receitas padrão.
A havê-las, tal corresponderia a encarar-se cada indivíduo singular como padronizado num molde único que em todos e em cada qual se encaixasse sem mais pondo em causa a Democracia que a todo o indivíduo singular, a minoria das minorias, país soberano de si mesmo, o deveria e tanto mais quanto por provas dadas, consagrar.



do que não me pronunciando, na minha singularidade que não imponho senão a mim próprio repudiando linguagens sectárias e belicistas, assim me pronuncio




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Abril de 2013



1 comentário:

voo da alma disse...

Muito bem dito senhor Jaime.
Sim!
Não à guerra!
E venha por fim a Paz!
Que se leia Sempre e para Sempre as suas PALAVRAS de PAZ!
E viva a vida!