quinta-feira, 16 de maio de 2013

A PECHA DOS ÉFES


na aridez, persisto



I

 PEREGRINAÇÃO

O primeiro éfe ou o éfe de Fátima.
Há muito tempo que não vou a Fátima mas, nem por isso, me deixo de olhar como se em peregrinação permanente.
Esta minha peregrinação leva anos e anos, para cima de duas dezenas.
Peregrinação laica.
Laica por, pese embora seja crente, não me obrigar à interpelação permanente do Santo Nome ao contrário do que, paradoxo dos paradoxos, quantos representantes do poder laico, à falta de outros argumentos, prova da sua incomensurável impotência, se sentem na obrigação de invocar.
Sim, peregrinação:
Viagem a longínquas paragens.
Vou tão longe quanto o possível!
Eis o que, sem esmorecer, não paro de fazer sem que a minha fé ( outro éfe! ) se deixe abalar.
Se Deus fosse providencial, assim e sem mais, acudindo a todas as angústias, viveríamos no Paraíso.
Não que não venere Fátima e que não tenha o maior respeito pelos seus peregrinos, entendamo-nos.

II

DESTINO

O segundo éfe ou o éfe de Fado.
Fado, canção, destino.
Não sou determinista e o Fado é o que é:
Património Imaterial da Humanidade.
Uma canção popular, urbana portuguesa e que não faz a cultura portuguesa que é muito mais rica do que ele.
Nem nos faz a nós próprios nem ao nosso fatal destino que o não é.
Façamos, cada qual, a sua parte, coisa que não me canso de fazer.
Canto a minha gesta sem descanso e nela a afirmo sublinhando nada estar predestinado a não ser pela nossa própria determinação e é tão alto quanto posso que canto, sem esmorecer.

III

SORTE

O terceiro éfe ou o éfe de Futebol.
Quando grande parte dos responsáveis desportivos, quais representantes de uma subcultura que o são e que logo pelo falar se revela não se mostrando dignos de figurar nos anais;
Quando os média, denunciando a sua falta de independência e objetividade pelas ligações perigosas à indústria do futebol que deixam transparecer dando a imagem de um país parado e pendurado por um jogo;
Quando o Primeiro Magistrado da Nação, o mais alto representante do poder laico a seu propósito, repito, invoca a providência divina não revelando mais do que a sua enorme impotência ...
Pois o que se poderá esperar da insuportável responsabilidade daqueles, pobres miúdos, sobre os quais acaba por recair o resgate de um país inteiro?

Quando a esperança
assenta num jogo
tudo recua e o que avança
é o mais pesado logro

IV

INTERJEIÇÃO

O quarto éfe ou o éfe que subentendeis.
Já não bastava a trilogia de éfes que têm marcado o nosso devir coletivo e que nem a instauração do regime democrático veio desfazer.
Não!
Com ele, com o quarto éfe, apenas a linguagem se democratizou.
Bolas ( sempre que aparecer esta interjeição deve ser lida com o quarto éfe )!
E nem por isso se inverteu a curva dos nascimentos, pelo contrário!
Bolas!
Bolas a torto e a direito e nada, cada vez somos menos!
Talvez nos extingamos de vez …
Seria uma benesse:
Ficaríamos, finalmente ( mais dois éfes, ó não! ), livres dos outros três que, qual peçonha, nos amarram ao fatal ( outro ainda? ) destino.
E, quem sabe, deixaríamos a Europa, quiçá o Mundo, em paz e sossego.
F …!


do empedernido fatalismo luso ou a propósito da derrota na Liga Europa



Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Maio de 2013



3 comentários:

Egas Branco disse...

Caro Amigo, o que sempre me impressionou nos 3 FFs, no antigamente e no agora, é como as pessoas se deixam manipular, dantes pela inexistência de informação e agora, paradoxalmente, ainda mais, devido à omnipresença do pequeno ecrã, com a sua "informação" condicionada, que não as deixa pensar.
Claro que o pequeno ecrã poderia ser o inverso total do que é agora. É por isso que continuo a defender a Televisão Pública, mesmo sabendo que ela está, por enquanto, nas mãos dos manipuladores...
Um abraço amigo

manuela baptista disse...

democratizou-se a linguagem e avacalhou-se a presidência...

o resto, tens toda a razão!

Jaime Latino Ferreira disse...

EVB E MANUELA BAPTISTA


Dá vontade e uma vez mais, de dizer:

F ...!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Maio de 2013