cuco
PREÂMBULO
chercher la plénitude du vide est bénéfique
Dispo-me do acessório, do
ruído que nos intoxica até à exaustão e tento concentrar-me no vazio ou no
essencial.
A sociedade da informação
é aquela onde a informação circula sem cessar e independentemente dos atores ou
dos agentes que a veiculam e da sua natureza entre os quais destaco os
institucionais, os de referência e os mediáticos na pluralidade de plataformas
em que se desdobram e na imparável globalização, afinal e todos eles,
independentemente da sua maior ou menor independência, atores políticos
objetivos logo por serem fundamentais na formação de opinião e pô-la, à
sociedade da informação, em causa equivale a pôr-se em causa a própria
Democracia e o seu aprofundamento de cuja pluralidade informativa ela e nós
próprios dependemos.
Que esta seja uma premissa
ou ressalva que fique à partida salvaguardada.
É tanta a informação que
circula que, muitas vezes, torna-se complicado, muito complicado discerni-la ou
avaliar da sua exata relevância.
O problema do seu
discernimento, no entanto, não está na informação em si mesma, antes na
capacidade que os seus destinatários têm em ser capazes de, distanciando-se, a
avaliar ou aferir, nela sabendo separar o trigo do joio ou o fundamental do
acessório.
Como à cabeça escreveu e
cito Dominique Labaume, é benéfico procurar a plenitude do vazio,
essa plenitude é que importa, antes de mais, encontrar na busca que, aliás,
desde sempre me acompanha.
Vazio ou o interior em
nós, o fio condutor que nos orienta, esse subjetivo nada que, a cada qual, nos
transporta, em crescente aceleração, do passado ao futuro.
A massa cinzenta que,
singularmente e no rasto que vamos deixando, nos apetrecha da capacidade de
discernir.
Este é o preâmbulo do que
se virá a desenvolver, nota prévia que importa, antes do mais, sublinhar e
reter e no que a este se seguirá preocupar-me-ei em seguir o leitmotiv que tão
oportunamente o meu Amigo Dominique,
num desabafo prévio, Estou a Congeminar
que escrevi no mural do meu facebook,
em comentário, logo me sugeriu.
Tal como figura também à
cabeça do vídeo do concerto de Vivaldi
que a este preâmbulo o acompanha ou ilustra, esse vazio, na sua incessante
busca, é o cimento da harmonia e do invento que nos alicerça.
DESENVOLVIMENTO
No dia em que Portugal foi resgatado pelos seus
credores e dê-se-lhe o nome que se quiser com o aval, é bom que se diga, do
sufrágio universal, sabia-se ou, pelo menos, pressentia-se que o que se
seguiria não apenas se estenderia no tempo como iria ser um osso duro de roer,
logo com o imenso exército de desempregados que, consigo, arrastaria mas, no
entanto, o dia-a-dia e a imperiosa necessidade de marcar a agenda foi-a
tornando, de tão interpelada ou acossada pela austeridade, mais e mais
crispada, incrédula e impaciente.
É certo que os resultados
do memorando então imposto se vieram a revelar no mínimo contraditórios com a
receita, então, aplicada e fosse pela própria receita ou pela sua zelosa
aplicação ao próprio memorando o excedendo, quiçá, mas o certo é que hoje,
mesmo entre os credores, já se fazem ouvir vozes dissonantes que à própria
receita então aplicada cada vez mais a questionam.
Como teria sido se o
resgate não tivesse tido lugar?
Como teria sido se a sua
aplicação tivesse obedecido a outros trâmites?
Eis algumas perguntas à
volta das quais se pode especular e muito se especula mas certo é que foi assim
que chegámos até aqui e pese embora o flagelo social que ao resgate o
acompanha, não de outra maneira e sobre essa outra maneira, que mais se pode
fazer senão especular?
Certo é que a Europa acordou tarde, muito tarde para a
globalização e aquele que começou por ser um problema dos seus países
periféricos, logo e por isso mesmo mais fragilizados, é hoje um problema que
diretamente já a interpela no seu conjunto ameaçando e emperrando mesmo o eixo
ou aquele que é tido como o motor do seu próprio desenvolvimento.
Na situação em que nos
encontramos eu não gostaria de ser um político eleito mais ou menos executivo
ou representativo de dimensão nacional uma vez que as instituições eletivas
europeias, essas estão demasiado longínquas do cidadão comum.
Quem gostaria de o ser,
pergunto-me?
Pergunto-me e, com
seriedade intelectual, gostaria que me respondêsseis.
Por seriedade intelectual
entendo eu, exatamente, esse tal e benéfico vazio que aos outros os faz ver
como iguais a nós próprios o que conduz não à crescente discórdia mas à
harmonia e ao invento a que se referia, no Preâmbulo que a este Desenvolvimento
o precede, o meu Amigo Dominique Labaume.
É muito, demasiado fácil
cantar de alto, especular ou fazer intriga sem responsabilidades diretas na
governação.
É ainda mais fácil e por
mais que se torne compreensível, nunca o é, de facto, insultar, apupar ou
lançar impropérios contra quem seja e, logo, contra os políticos eleitos que o
mesmo é insultar os eleitores.
É ainda mais fácil não
participar e nem que seja, ó como já é
tanto, emitindo opinião coerente e tanto mais quanto escrita e estruturada,
sistematizada e em nome próprio o for.
É tão fácil cair no
populismo!
E nesse progressivo
afastamento a que são remetidas as instituições democráticas nacionais e quanto
mais as europeias cuja impopularidade e distanciamento duvido que com o
desencadear da crise se tenham esbatido, muito antes pelo contrário, cresce a
urgência da reaproximação do conjunto destas aos eleitores europeus criando
entre elas e estes últimos um link de
insuspeitada aproximação que apenas alguém vindo de fora do sistema mas com o
seu aval e consentimento, por provas dadas que o coloquem no mesmo barco do
comum dos cidadãos, não contra o sistema mas tanto mais quanto de um país
resgatado, ao conjunto da União a
seja capaz de galvanizar aprofundando, deste modo, a Democracia que nesta cada
vez mais fragilizada se encontra.
Um eu assim como eu e que
ao conjunto das instituições democráticas nacionais e europeias, na tempestade
que à Europa a assola neste seu
imenso e encapelado mar, longe de as pôr em cheque, lhes venha, pelo contrário,
a conferir um novo e cada vez mais integrado élan reaproximando os eleitos dos eleitores acendendo, por essa
via, uma luz ao fundo do túnel que ao cidadão comum lhe faça ver ser possível,
preservando, alimentar a esperança.
CONCLUSÃO
en art comme ailleurs, il faut vivre au dessus de ses moyens
Diz a citação que a esta
conclusão a encima e que me foi sugerida pelo meu Amigo Paulo Morais-Alexandre que na arte como no que seja, é
preciso viver acima dos seus próprios meios.
Por um feliz acaso e a meu
ver, esta citação complementa aquela de Dominique
Labaume:
O vazio ou o excedentário
benéfico, a capacidade de, no que façamos, nos excedermos a nós próprios para
lá dos meios de que dispomos.
Portugal é parte de um processo de integração que implica riscos e tanto maiores
quanto o crescente afastamento do povo das instituições que o representam.
O que, porém, em Portugal se passa não é indiferente ao
conjunto da Europa tal como o que num
país como a Alemanha, por exemplo, se
passa, também não lhe é, a ela, indiferente de todo.
Acontece que os políticos
portugueses ou os alemães respondem, parcialmente, perante os seus eleitores e
os dos outros países europeus não têm, sobre eles, qualquer controle embora a
força do dinheiro acabe sempre por falar mais alto.
Daqui resultam entorses
que ameaçam a Europa na sua
integridade embora o processo de integração seja uma bela e generosa ideia que
à Europa no seu conjunto a faz viver
em paz já há quase setenta anos consecutivos como nunca na sua história
aconteceu e como o importa sublinhar hoje em dia, entorses que a colocam
perante desafios que a ameaçam como nunca antes aconteceu.
Regredir nesse processo
seria um clamoroso e trágico retrocesso mas o processo de integração
encontra-se num impasse que o ameaça não apenas de rutura como esta se torna
suscetível de à própria paz mundial a poder fazer perigar.
Apresentando-me não contra
mas vindo de fora desse tão, apesar de tudo, seletivo quando não anquilosado
sistema, ninho, como tantas derivas
por essa Europa fora o denunciam e
como um cuco que faz de outros ninhos seus hospedeiros brado, enfim, e a plenos
pulmões:
É URGENTE
Canta o cuco
persistente
clamando
pela sua gente
É preciso
é urgente
um excesso de alma
suplente
que à Europa
no seu todo
para lá dela
a reinvente
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2013
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