domingo, 16 de junho de 2013

PONTO DA SITUAÇÃO

cuco




PREÂMBULO

chercher la plénitude du vide est bénéfique

d’après / segundo Dominique Labaume


Dispo-me do acessório, do ruído que nos intoxica até à exaustão e tento concentrar-me no vazio ou no essencial.
A sociedade da informação é aquela onde a informação circula sem cessar e independentemente dos atores ou dos agentes que a veiculam e da sua natureza entre os quais destaco os institucionais, os de referência e os mediáticos na pluralidade de plataformas em que se desdobram e na imparável globalização, afinal e todos eles, independentemente da sua maior ou menor independência, atores políticos objetivos logo por serem fundamentais na formação de opinião e pô-la, à sociedade da informação, em causa equivale a pôr-se em causa a própria Democracia e o seu aprofundamento de cuja pluralidade informativa ela e nós próprios dependemos.
Que esta seja uma premissa ou ressalva que fique à partida salvaguardada.
É tanta a informação que circula que, muitas vezes, torna-se complicado, muito complicado discerni-la ou avaliar da sua exata relevância.
O problema do seu discernimento, no entanto, não está na informação em si mesma, antes na capacidade que os seus destinatários têm em ser capazes de, distanciando-se, a avaliar ou aferir, nela sabendo separar o trigo do joio ou o fundamental do acessório.
Como à cabeça escreveu e cito Dominique Labaume, é benéfico procurar a plenitude do vazio, essa plenitude é que importa, antes de mais, encontrar na busca que, aliás, desde sempre me acompanha.
Vazio ou o interior em nós, o fio condutor que nos orienta, esse subjetivo nada que, a cada qual, nos transporta, em crescente aceleração, do passado ao futuro.
A massa cinzenta que, singularmente e no rasto que vamos deixando, nos apetrecha da capacidade de discernir.
Este é o preâmbulo do que se virá a desenvolver, nota prévia que importa, antes do mais, sublinhar e reter e no que a este se seguirá preocupar-me-ei em seguir o leitmotiv que tão oportunamente o meu Amigo Dominique, num desabafo prévio, Estou a Congeminar que escrevi no mural do meu facebook, em comentário, logo me sugeriu.
Tal como figura também à cabeça do vídeo do concerto de Vivaldi que a este preâmbulo o acompanha ou ilustra, esse vazio, na sua incessante busca, é o cimento da harmonia e do invento que nos alicerça.





DESENVOLVIMENTO

No dia em que Portugal foi resgatado pelos seus credores e dê-se-lhe o nome que se quiser com o aval, é bom que se diga, do sufrágio universal, sabia-se ou, pelo menos, pressentia-se que o que se seguiria não apenas se estenderia no tempo como iria ser um osso duro de roer, logo com o imenso exército de desempregados que, consigo, arrastaria mas, no entanto, o dia-a-dia e a imperiosa necessidade de marcar a agenda foi-a tornando, de tão interpelada ou acossada pela austeridade, mais e mais crispada, incrédula e impaciente.
É certo que os resultados do memorando então imposto se vieram a revelar no mínimo contraditórios com a receita, então, aplicada e fosse pela própria receita ou pela sua zelosa aplicação ao próprio memorando o excedendo, quiçá, mas o certo é que hoje, mesmo entre os credores, já se fazem ouvir vozes dissonantes que à própria receita então aplicada cada vez mais a questionam.
Como teria sido se o resgate não tivesse tido lugar?
Como teria sido se a sua aplicação tivesse obedecido a outros trâmites?
Eis algumas perguntas à volta das quais se pode especular e muito se especula mas certo é que foi assim que chegámos até aqui e pese embora o flagelo social que ao resgate o acompanha, não de outra maneira e sobre essa outra maneira, que mais se pode fazer senão especular?

Certo é que a Europa acordou tarde, muito tarde para a globalização e aquele que começou por ser um problema dos seus países periféricos, logo e por isso mesmo mais fragilizados, é hoje um problema que diretamente já a interpela no seu conjunto ameaçando e emperrando mesmo o eixo ou aquele que é tido como o motor do seu próprio desenvolvimento.
Na situação em que nos encontramos eu não gostaria de ser um político eleito mais ou menos executivo ou representativo de dimensão nacional uma vez que as instituições eletivas europeias, essas estão demasiado longínquas do cidadão comum.
Quem gostaria de o ser, pergunto-me?
Pergunto-me e, com seriedade intelectual, gostaria que me respondêsseis.
Por seriedade intelectual entendo eu, exatamente, esse tal e benéfico vazio que aos outros os faz ver como iguais a nós próprios o que conduz não à crescente discórdia mas à harmonia e ao invento a que se referia, no Preâmbulo que a este Desenvolvimento o precede, o meu Amigo Dominique Labaume.

É muito, demasiado fácil cantar de alto, especular ou fazer intriga sem responsabilidades diretas na governação.
É ainda mais fácil e por mais que se torne compreensível, nunca o é, de facto, insultar, apupar ou lançar impropérios contra quem seja e, logo, contra os políticos eleitos que o mesmo é insultar os eleitores.
É ainda mais fácil não participar e nem que seja, ó como já é tanto, emitindo opinião coerente e tanto mais quanto escrita e estruturada, sistematizada e em nome próprio o for.
É tão fácil cair no populismo!
E nesse progressivo afastamento a que são remetidas as instituições democráticas nacionais e quanto mais as europeias cuja impopularidade e distanciamento duvido que com o desencadear da crise se tenham esbatido, muito antes pelo contrário, cresce a urgência da reaproximação do conjunto destas aos eleitores europeus criando entre elas e estes últimos um link de insuspeitada aproximação que apenas alguém vindo de fora do sistema mas com o seu aval e consentimento, por provas dadas que o coloquem no mesmo barco do comum dos cidadãos, não contra o sistema mas tanto mais quanto de um país resgatado, ao conjunto da União a seja capaz de galvanizar aprofundando, deste modo, a Democracia que nesta cada vez mais fragilizada se encontra.
Um eu assim como eu e que ao conjunto das instituições democráticas nacionais e europeias, na tempestade que à Europa a assola neste seu imenso e encapelado mar, longe de as pôr em cheque, lhes venha, pelo contrário, a conferir um novo e cada vez mais integrado élan reaproximando os eleitos dos eleitores acendendo, por essa via, uma luz ao fundo do túnel que ao cidadão comum lhe faça ver ser possível, preservando, alimentar a esperança.





CONCLUSÃO

en art comme ailleurs, il faut vivre au dessus de ses moyens



Diz a citação que a esta conclusão a encima e que me foi sugerida pelo meu Amigo Paulo Morais-Alexandre que na arte como no que seja, é preciso viver acima dos seus próprios meios.
Por um feliz acaso e a meu ver, esta citação complementa aquela de Dominique Labaume:
O vazio ou o excedentário benéfico, a capacidade de, no que façamos, nos excedermos a nós próprios para lá dos meios de que dispomos.
Portugal é parte de um processo de integração que implica riscos e tanto maiores quanto o crescente afastamento do povo das instituições que o representam.
O que, porém, em Portugal se passa não é indiferente ao conjunto da Europa tal como o que num país como a Alemanha, por exemplo, se passa, também não lhe é, a ela, indiferente de todo.
Acontece que os políticos portugueses ou os alemães respondem, parcialmente, perante os seus eleitores e os dos outros países europeus não têm, sobre eles, qualquer controle embora a força do dinheiro acabe sempre por falar mais alto.
Daqui resultam entorses que ameaçam a Europa na sua integridade embora o processo de integração seja uma bela e generosa ideia que à Europa no seu conjunto a faz viver em paz já há quase setenta anos consecutivos como nunca na sua história aconteceu e como o importa sublinhar hoje em dia, entorses que a colocam perante desafios que a ameaçam como nunca antes aconteceu.
Regredir nesse processo seria um clamoroso e trágico retrocesso mas o processo de integração encontra-se num impasse que o ameaça não apenas de rutura como esta se torna suscetível de à própria paz mundial a poder fazer perigar.
Apresentando-me não contra mas vindo de fora desse tão, apesar de tudo, seletivo quando não anquilosado sistema, ninho, como tantas derivas por essa Europa fora o denunciam e como um cuco que faz de outros ninhos seus hospedeiros brado, enfim, e a plenos pulmões:

É  URGENTE

Canta o cuco
persistente
clamando
pela sua gente

É preciso
é urgente
um excesso de alma
suplente
que à Europa
no seu todo
para lá dela
a reinvente




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2013
 

cuco



5 comentários:

Jaime Latino Ferreira disse...

À Vossa consideração


AOS MEUS LEITORES


Reúnem-se aqui os três posts anteriores do mural do meu facebook que, no seu conjunto, dão corpo ao meu ponto da situação.
É certo que publicado na íntegra o texto talvez seja demasiado longo para estas plataformas, sejam elas um blogue ou um mural do facebook mas, seja como for, ou se cria ou não se cria disponibilidade para ler, esse tal vazio de que nos fala Dominique Labaume e se não se cria, de que servem elas?

Vosso


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2013

manuela baptista disse...

o cuco canoro canta
e o cu-cu-cu-cu permanece no topo dos sons

o cuco rabilongo, menos famoso, larga os ovos nos ninhos dos gaios e da pega-rabuda para que lhe criem os filhos

e não faz cu-cu

e o que é que isto tem a ver...

dessus e dessous

no vazio pensamos melhor


excelentes os textos!

ki.ti disse...

Olha lá!

queres que eu durma nos intervalos...

Jaime Latino Ferreira disse...

KI.TI


Nos intervalos!?

Como queres dormir aí pois se nos intervalos canta, desalmado, o cuco no relógio, não vês que a casotinha está aberta!???


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Junho de 2013

Evanir disse...

Jaime ..
Quanto tempo não vinha até seu blog meu amigo Querido.
Te peço perdão ,
pois a vida tem sido uma constante luta para mim.
Estou vivendo um grande problema na minha vida , mais quando tenho que deixar de visitar minha doces amizades acredite fico muito triste.
Nessa noite te deixo um abraço de saudades,Evanir..