( esboço aqui a defesa da minha página anterior, Só Mais )
Luz e som são refrações de
uma dimensão maior que envolve o espaço/tempo e que em nós, desdobrando-se,
neles se cristalizam.
Não escrevo metafísica
antes e se me é permitida a presunção, astrofisicamente.
A luz viaja a uma
velocidade astronómica e à nossa escala inconcebível de, aproximadamente, 300
000 quilómetros por segundo;
O som, pelo contrário,
viaja a uma velocidade que nós próprios, por via das velocidades supersónicas,
já ultrapassamos de mais coisa, menos coisa, 1 200 quilómetros por hora.
Variando em função do meio
em que se propagam, contudo e entre uma e a outra das velocidades,
aparentemente, vai um abismo intransponível ou inultrapassável.
Tão intransponível como, quais
Alice, termos o desplante de
pretender atravessar para o outro lado do espelho.
A luz que nos chega do
espaço, do Sol, por exemplo, tem uma décalage aproximada de oito minutos o que
significa que se ele deixasse, neste momento, de brilhar, à sua luz a
continuaríamos a ver durante mais esses tais oito minutos.
Quanto ao som, esse,
confere, repito, confere à luz uma profundidade abissal.
A luz tem uma
instantaneidade que só pode mesmo ser comparável à profundidade, isto é, à
ancestralidade ou poder de antecipação, paradoxo nos termos, do som.
Tal como é legítimo
estabelecer a nada inócua equação prévia que nesse meu texto formulei na sua
primeira parte em Da Simetria das
Simetrias, uma vez chegados ao reflexo da escrita …
Nela se condensa esse
rubicão que a ambas as velocidades as invertendo, pelo som que na imagem ou luz
da escrita, estática ou cristalizada se encerra, poderemos encontrar a via que
nos conduza, literalmente, à conquista do espaço sideral.
Convenhamos que é chegado
o tempo, mesmo em nome da nossa perpetuação, de nos concentrarmos na criação
das condições de uma verdadeira Diáspora Global para a qual as nossas
investidas, até hoje e perdoai-me, uma vez mais, a presunção, não passam de uma
necessária, com certeza embora frustrante brincadeira.
Vamos atrás da luz errónea
porque ilusoriamente sem que pela escrita nos demos conta de que à primeira a dominamos,
poucos, aliás e com profundidade o conseguem fazer, porque é a escrita e não a
matemática que antes de mais confere às coisas uma dimensão ou escala humanas
situando-as no terreno, e embarcamos numa instantaneidade cada vez mais
alucinante sem constatarmos de que o caminho é, precisamente, o inverso como a
escrita, no seu ritmo próprio e acessível, humano, repito, logo o sugere:
Pelo som da escrita a
domesticada luz como, aliás, a música, definição matricial que constitui a
terceira parte do texto, o demonstra, porque é fácil demonstrá-lo, e reforça.
Falsas modéstias à parte,
aqui têm o esboço da minha fundamentação e dizei-me se, enquanto síntese, a trilogia
em apreço não é digna, como quantas e quantas outras que eu já escrevi, de
merecer o maior dos destaques.
Até mesmo e nem que mais
não fosse em nome das línguas, da escrita e da leitura ou da literacia tout court.
em si mesma, a escrita constitui um ato de libertação das
malhas do espaço/tempo
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2014