nine eleven memorial
Há dez anos atrás, escrevia eu uma tese extra-curricular quando, subitamente, fui surpreendido, tal como todos nós, com uma Manhattan engolida por nuvens de fumo que a dilaceravam.
Tendo os Estados Unidos da América sido atingidos no seu coração também eu ao meu o senti, subitamente, a sangrar.
A Tese que então escrevia, logo ela se passou, na hora, a centrar no que, aos nossos olhos, nos atingia avassaladoramente como se todos, em simultâneo, estivéssemos a ser atingidos, que o fomos!
E foi a fragilidade em que assentam os nossos alicerces, os fundamentos da própria Democracia que, de súbito, se escancararam à vista de todos!
A insegurança era, até então e a esta escala, uma ideia longínqua que a não ser por quaisquer catástrofes naturais, parecia estar longe de todos nós ou pelo menos das nações democráticas mas com o sucedido e a sua cobertura global e em directo, estampou-se à vista do cidadão comum.
Acabei, assim, a minha Tese a escrever sobre a guerra e a paz e a elas lhes dediquei todo um capítulo, uma elegia poética que, ainda hoje …!
Ainda hoje, as réplicas do 11 de Setembro se fazem sentir!
Da minha Tese, embora extra-curricular, repito, da parte de quem a orientou ou o devesse ter feito … não tive senão sumidos ecos …!
Mas subterrâneos, tal como subterrâneo é o terror (!), ecos os houve, estou certo e tantos quanto essa minha Tese, juntamente com o extenso espólio que a precedeu como daquele que se lhe sucedeu, se encontram hoje depositados em importantes arquivos, entre os quais se conta o da Biblioteca do Centro Nacional de Cultura.
O terror que assenta no inominável subterrâneo, afinal, passou a interpelar o que, não menos subterrâneo, de melhor há em nós, em cada um de nós, melhor esse que confrontado pelas eventuais barreiras de silêncio e das mais variadas incompreensões, fundamentalismos também, hoje como então, nos desafiam a persistirmos na racionalidade humanista que por essas barreiras se não deixe quebrar ou ceder ao que de pior, pela tentação de confundir meios com fins, nos possa, eventualmente, assediar.
Tal como já então na minha Tese, não sou ingénuo ao ponto de achar ser tudo igual no exercício da violência, ele depende, entre outras coisas, da forma como é exercida e pesem embora as vítimas inocentes e as sequelas que ela sempre consigo arrasta:
Um exército regular é uma coisa, se de um estado democrático, outra ainda e se agindo a coberto do direito internacional, na violência que utilize, ainda outra e esta última, nunca por nunca se pode confundir com aquela, traiçoeira e cega, subterrânea, exercida pelo terror!
Desarmados perante o terror é que também não podemos ficar e, afinal, os fins, sejam quais eles forem (!), se não justificam os meios é nestes e da forma que se utilizem, que estão os fins que propalamos!
Por este meu meio prossigo, indefectível, na minha senda, sem ceder ao medo nem ao terror e no exercício pleno da Liberdade que me assiste e que não se deixa, tão pouco, ontem como hoje condicionar …
Refiro-me àquele da escrita que por sua via, resiliente e também em memória de todas as vítimas inocentes do terror, pelo aprofundamento da Democracia, me traz, como até aqui, incansável e congruente até Vós!
de quem ao longo de todos estes anos ao terror sempre o neutralizou politicamente, extirpando-o de todas as roupagens com as quais se tenta sempre camuflar
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Setembro de 2011