terça-feira, 22 de novembro de 2011

RAZÃO E POPULARIDADE

Claude Monet, Houses of Parliament at Sunset




Razão e popularidade …
Nem sempre uma coisa e outra andam a par.
Pode mesmo acontecer que a dessintonia entre uma coisa e outra seja de tal ordem que a razão se imponha ou deva impor à própria popularidade.
Na antinomia entre conceitos, o mesmo se poderá afirmar entre a arte ou a verdade científica, por um lado, e a popularidade ou a adesão, a empatia que, num dado momento e por outro lado, entre eles possa como não existir.
Aliás e em relação a estas últimas, não raro a popularidade a elas se impõe e apenas o tempo, a estas lhes acabará por dar razão e isto independentemente da popularidade granjeada.
Mas se a razão, num dado momento, se torna imperiosa, então, como compatibilizar esta com a própria Democracia ou com a popularidade que a manifestação expressa nela se  justifica?
Num tempo em que imperam os soundbites sobre o debate sério e aprofundado extirpado de demagogias e populismos, ele há um lado, sempre escamoteado, do exercício democrático, ele próprio concebido à luz da conceptualização científica e que importa, aqui, sublinhar:
É que este, o exercício democrático, não se pauta, apenas, pela prevalência da vontade da maioria na popularidade que através do sufrágio universal se manifesta mas também da resultante do diálogo que na exposição desacalorada de argumentos contrários se baliza e orienta e da comprovação fundamentada que dessa argumentação possa resultar.
Num como noutro sentido!
Tal como o conhecimento científico no fundamento dos factos apresentados e contraditados, pela experimentação, se baseia e essa, nunca condicionada pelo sufrágio universal;
Ou, se quiserdes, no plano jurídico, a incriminação ou absolvição do arguido que, elas também, não se fundam na justiça popular, na popularidade do arguido, mas na apresentação das provas e no exercício do contraditório que à Democracia lhe confere um estatuto de Direito.
Para que o exercício da Democracia seja efectivo, é preciso que ela se funde numa situação em que o direito, o Estado ou a situação de Direito prevaleça!
A popularidade tem pois muito que se lhe diga …
Como a colagem estrita do exercício do sufrágio universal à definição simplista de Democracia:
O nazismo apossou-se das rédeas do poder por via do sufrágio universal …!
Não, para que o exercício democrático se complete ou aprofunde, não apenas tem de ser respeitada a vontade da maioria como e sobretudo, salvaguardados os direitos das minorias do lado das quais a razão pode estar.
O imediatismo em que vivemos e que as modernas tecnologias aceleram, convenhamos, tem depauperado, empobrecido e de que maneira (!), estas incontornáveis vertentes do exercício democrático e a um tal ponto que fenómenos de explosão mediática desregrada ameaçam subverter as regras todas sem as quais dificilmente se pode falar de Democracia.
É certo que nesse imediatismo muitas ditaduras têm caído ou sido abaladas mas poderemos, deslumbrados, tranquilizar-nos no que toca ao que a elas se lhes possa seguir ou se o mesmo imediatismo a tantas outras democracias as não poderá pôr em causa, subverter ou mesmo derrubar!?
Não, a popularidade, tal como as estatísticas, não são tudo e dizer-se que contra factos não há argumentos esconde, em si mesmo, a maior das perplexidades:
Aquela de se achar que basta o aglomerado acrítico dos factos sem o olhar sobre eles na sua própria fundamentação.
Eu acho que tenho razão e só aqui, neste meu blogue, não me bastou escrever um texto bombástico, pelo contrário, já vou nos oitocentos e tal que formam um todo coerente e poderei, indefinidamente, continuar a escrevê-los sem que os índices de popularidade se alterem …
Hoje e talvez mais do que nunca, à razão, no instilar de substância à Democracia, importa reafirmar a pés juntos!
Eu acho que tenho razão e se a tenho, a minha razão fará o seu caminho!!
Contraditem-me pois!!!



na minha razão não obrigo ninguém mas se o Outro não vir como não se sentir obrigado a dar-ma, pois então, que me a dê






Jaime Latino Ferreira
Estoril, 22 de Novembro de 2011

3 comentários:

Linda Simões disse...

Pois,

que tens razão,claro. O exercício da cidadania se faz todos os dias
e aqui
vejo
fatos
que muitas vezes não tinha percebido
com uma passagem rápida pelos jornais ?
Esclareces
denuncias
estás atento aos mínimos detalhes
E isso
acrescenta ricamente às postagens,aos debates...

E ainda tem Monet!


Beijinhos

ki.ti disse...

Eu sou a gata mais popular desta rua

e quando se trata de uma boa luta, tenho sempre razão.

miau!

manuela baptista disse...

a idade da razão

diziam, quando fazíamos sete anos

independentemente da popularidade que tínhamos na escola

e fizémos o nosso caminho


pessoalmente, estou cada vez menos razoável