terça-feira, 8 de maio de 2012

ESCRITA





Eu podia criar, entre mim e o que escrevo, o artifício da ficção, de uma linguagem irreal, mas não o faço.
Não sei mesmo se seria capaz de o fazer.
Não existe, nesta minha reflexão, qualquer sentido valorativo ou depreciativo em relação a esse artifício sem o qual não existiria arte, muito antes pelo contrário, sublinho.
Eu é que não sei se seria capaz de escrever senão assim, sem o recurso a ela.
Se entre mim e o que escrevo a esse artifício o interpusesse, certo é que o que escreveria não teria as mesmas características.
Entre mim e o que escrevo, existe apenas o artifício da própria escrita que, diretamente, aqui repousa.

Se entre mim e o que escrevo existisse o artifício da ficção tudo se teria desenrolado de outra maneira e não vale a pena especular sobre o que, assim sendo, se teria desenvolvido.
O que é certo é que a minha é uma escrita direta que hoje, nem tão pouco senão a este suporte virtual, despida o utiliza.
Entre mim e ti fica, portanto, a virtualidade da escrita suportada na sua própria visualização na relação com a imagem e a música, essas ficções que sempre a acompanham.
Como se lhe dando, à própria escrita, ressonância ou eco.
Profundidade.

Caso não fosse assim, se entre mim e o que escrevo outro artifício existisse que não os referidos, o resultado final sendo eu, não o seria exatamente e muito menos assim.
Sempre acompanhados da data, da possível contextualização e do meu nome, que é o meu e não um qualquer pseudónimo, a mim, tão diretos quanto o possível, os meus textos se unem.
Sem outros que não os referidos artifícios, o da música e o da imagem.
Numa diarística interventiva.
Transformativa porque interpretativa da própria realidade o que não quer dizer que a ficção a não transforme também.
Transforma-a sim mas de outra maneira.

Realidade esta a da minha escrita que, porque interpretativa, repito, à própria realidade a transforma.
Chama-se a isto, a esta capacidade, Política.
A Política é o que, por interpretar sem ficcionar tem, em si mesma, a capacidade de transformar.
Transformo independentemente do grau de adesão que recolho, antes apenas porque interpreto.
Basta que interprete.
A minha interpretação, no olhar que exponho, introduz na realidade e sem remédio uma nova variável, a minha.

Introduz mesmo e independentemente da importância que, num dado momento, se lhe possa atribuir.
É como uma hipótese qualquer!
Antes de ser formulada, a interrogação, o pensamento que leva à sua formulação não estava lá e, portanto, caindo-se no experimentalismo sem norte, pela ausência da mesma, não podia, senão às cegas, ser constatada.
Mas uma vez formulada, pode ser, nas ferramentas que pela interrogação a apetrecham, finalmente comprovada como não.
Eu manifesto uma intenção que pela prova do tempo, ela mesma se vai transformando em mais do que uma simples intenção.

Talvez que sim ou que não …

A prova do tempo, contudo, como experimentação em si mesma, é fundamental.
Há coisas que, apenas ela, a prova do tempo o pode demonstrar e aqui, pela maneira como, dilatadamente no tempo, escrevo, sem recurso que não ao artifício da própria escrita que aqui, no módulo final desta página, na vertical da primeira letra destacada de cada um dos seus módulos se conclui na própria palavra escrita, resume-se a escrita da minha própria convicção sem a qual não escreveria como escrevo.


na minha escrita o que politicamente, pelo olhar, sua virtualidade real, sou




Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Maio de 2012

5 comentários:

manuela baptista disse...

quanto à política, está bem

e o alinhamento e a assinatura e a data e a maiúscula

agora não ser ficção, tem paciência, às vezes é

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Ter paciência tenho e essa, asseguro-te, não é mesmo ficção!!!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Maio de 2012

Hanaé Pais disse...

Escrever, é preservar para nunca obliterar.
Escrever, é como uma pena lenta a deslizar, sem opacizar uma memória profunda.
Escrever, humaniza-me, os gestos, os sorrisos, os aromas e perpétua o meu quadro impressionista.
Escrever, não me estanca o incontrolável desatino, sorvido no fumo do meu cigarro.
Escrever, é o meu paraíso tergiversante que mimoseio e anseio.
Escrever, é o meu linimento coado de luz, quando a noite cresce e vira o azimute.
Escrever,é o meu alvedrio melifluo.
Escrever, regenera-me e aquieta-me a minha pulsão.
Escrever, é bi bemol e fá sustenido num toque de Yann Tiersan evanescente,num gesto inusitado, sempre presente.
Escrever,é!!!

Evanir disse...

Boa Noite Amigo.
Quanto tempo sem fazer uma visita confesso nos últimos tempos tenho encontrado um pouco de dificuldade.
Entre minha corrida diária agora ando num vai e vem aos médicos fico triste ,
pois tenho muito carinho com minhas lindas amizades.
Amigo.
Gostei muito da sua postagem realmente você escreve muito bem.
Deixando um beijo no coração desejo uma linda noite.
Beijos..
Evanir..

Hanaé Pais disse...

Recuei no tempo.
E descobri a validação da hipótese.
Foi uma agradável, surpresa.

Talvez o efeito,das tempestades de areia em noite negra.(Buraco Negro? Vácuo?)
Gosto mais do branco, é luz e alegria, é colar a ideologia à realidade.

E a Terra continua a rodar, no tempo, com tempo.