No pano de fundo da Cimeira de Copenhaga que se inicia amanhã e na sequência do que para trás ficou escrito e que a ela não é alheio, reflicto agora sobre a importância da palavra em três e decisivos planos ou dimensões, a saber:
A palavra enquanto escudo, a palavra como despoluidor ou factor de desanuviamento e a palavra como potenciadora de energias limpas e sempre renováveis.
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I
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A PALAVRA COMO ESCUDO
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Um escudo protege e abriga.
Protege de ofensivas exteriores e constitui instrumento preventivo que nos coloque ao abrigo de inesperadas investidas que nos possam destruir.
A palavra é um escudo!
Imaterial, por assim dizer, a palavra fornece-nos uma percepção do real que logo dela se acrescenta e sem a qual o próprio real, extrínseco como intrínseco, seriam inconcebíveis, irreconhecíveis, ininteligíveis.
Que seria da realidade, interior como exterior, sem todas as palavras que inevitavelmente usamos para a descrever?
E dos saberes, mais ou menos exactos, da matemática à filosofia, da religião à arte, sem a palavra, instrumento axial sem o qual nem o racional, nem o que está para lá dele seria cognoscível?
A palavra é um escudo qual invólucro, película ou filtro e tanto mais resistente quanto escrita ela o for, susceptível de à realidade e a nós próprios nos transformar, a nosso favor, o mesmo terá de querer dizer a favor do nosso habitat, já que não somos vírus que ao seu próprio o degrada e aniquila, ou seremos (!?), de tal forma que por força dela, da valia que ela acrescenta, encontremos os instrumentos bastantes à nossa sobrevivência com acrescida qualidade de vida.
Pense-se:
Que seria do saber, de todo o saber individual como colectivo, sem a palavra?
E da realidade, que seria dela sem a palavra?
E do pensar, que seria dele sem essa capacidade, a capacidade de organizar as palavras sem a qual, onde estaríamos?
Na base, nosso pé, sustentáculo ou fundação, a palavra é um escudo que nos transportará com sucesso para lá da espuma dos dias e dos impasses e incógnitas que nos angustiam mas que serão ultrapassados.
Como um escudo ou invólucro, a palavra passará!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2009
15 comentários:
com palavras
se sossega o vento
embala-se o berço terno
sussurra-se um lamento
com palavras
faz-se e desfaz-se
o tempo
constrói-se
e desconstrói-se
o pensamento
Manuela
mas há palavras que também são farpas...
e sendo farpas
algumas das palavras
que se revolvem
em vento
o pensamento
são as palavras
essas
meu invento
tamanho
com que tento
são meu alimento
são as palavras chão
e o coração
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009
Recordou-me um poema de Torga.
Não sei se o saberei encarrilar de memória, mas vou tentar. Não sei onde pára por códices, e tenho demasiada preguiça, a esta hora, para o procurar. Aqui vai a tentativa (e perdoem-me os puristas se falhar alguma vírgula)
DESFECHO
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te.
(Só a negar-te eu pude combater
o terror de te ver
em toda a parte).
Fosse qual fosse o chão da caminhada
era certa a meu lado
a divina presença impertinente
do teu vulto calado e paciente.
E lutei, como luta um solitário
quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas
soltei a voz, arma que tu não usas,
sempre silencioso na agressão.
Mas o tempo moeu na sua mó
o joio amargo do que te dizia.
Agora somos dois obstinados,
mudos e malogrados,
que apenas vão a par na teimosia.
(Salvo erro, Câmara Ardente)
MAC
Minha Querida,
Quem a conheça como eu, sempre pronta a declamar os grandes da língua portuguesa de cor e na oportunidade do momento!
CÂMARA
Não me verás em toda a parte
nem me quero ver como estandarte
Teimoso como tu
não há malogro
mudez
tão pouco mó
nem vil surdez
Soltemos pois a voz
na reclusão
do engeitado silêncio
e da agressão
que aos nossos vultos
erguem
recusando a solidão
Tuas palavras não gastas
são maiores
que a imensidão
Arde minha câmara
na saudade do instante
Um grande beijinho para Si
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009
...Soltemos pois a VOZ,as PALAVRAS e o PENSAMENTO.
...
No silêncio.No momento.No presente e no futuro.Em todos os momentos...
Linda Simões
EM TODOS OS MOMENTOS
Em todos os momentos
soltemos a voz
e os pensamentos
e no silêncio
na pausa que se faça
sem tormentos
ai que a alegria
venha aos centos
bafejar a nossa sorte
de acrescentos
( dedicado à Linda Simões )
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009
com palavras
descobrimos
descobrimo-nos
e abrimos outros contos
e encontramo-nos com mistérios...
que o sejam exemplo estes os:
"mistérios da Escrita
Escrevi a palavra flor.
Um girassol nasceu
no deserto de papel.
Era um girassol
como é um girassol.
Endireitou o caule,
sacudiu as pétalas
e perfumou o ar.
Voltou a cabeça
à procura do Sol
e deixou cair dois grãos de pólen
sobre a mesa.
Depois cresceu até ficar
com a ponta de uma pétala
fora da Natureza."
(Álvaro de Magalhães)
Olá Jaime.
Como seria a nossa vida, sem palavras
e sem ela "a música das palavras" (?)
Não seria absolutamente o que é
sendo-a Aqui
neste sempre tão construtivo encontro de palavras.
Beijinhos!
Dulce
DULCE AC
ESCRITA
Escrevo
e quando escrevo
ao mundo acrescento
o que invento
Escrevo
e quando escrevo
nascem outras flores no jardim
umas sem nome
outras serão como o jasmim
Escrevo
e enquanto escrevo
todo o mundo se debruça sobre mim
ou serei eu
que a ele o salpico
da imaginação em que fico
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009
Jaime
Magnífica essa
a Sua escrita!
Adorei!
Muitos beijinhos
E que Sim Jaime
Queremos tê-Las sempre
a música e as palavras
a música das palavras!!
Dulce
Jaime
Magníficas essas
as Suas palavras
Gostei muito!!
Muitos beijinhos!
E que Sim Jaime
queremos tê-Las sempre
a música e as palavras
...
A música das palavras!!
Dulce.
Jaime!
Bem lhe dizia ontem
que a celeridade também a minha
tem destas coisas,
e da emoção do ter gostado tanto,
ficou registado e repetido,
e para não eliminar comentários
Que fiquem!
Sorry!
Dulce.
Dulce
DULCE AC
Vejo a dobrar
neste par
de elogios
como pios
Como cantar de aves
que se repetem
chilreiam
Vejo a dobrar
oiço música
acelarada
cantada
pois que fique registada
a voz da palavra dada
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009
A Palavra faz emudecer
crescer
chorar
...
Constroi,destroi
Cresce,desaparece
enaltece
...
A Palavra é Verbo
Escudo
Jardim
Moradia
...
A palavra é fantasia
alquimia
lapidação...
...
Reflexão.Prevenção.Ação.
Linda Simões
Jaime,
as palavras dizem do apreço que sentimos pelas pessoas...
OBRIGADA.
Beijoquinhas
LINDA SIMÕES
Minha Querida,
Bonito poema e reflexão final!
Um grande beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Dezembro de 2009
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