domingo, 6 de dezembro de 2009

A PALAVRA I

No pano de fundo da Cimeira de Copenhaga que se inicia amanhã e na sequência do que para trás ficou escrito e que a ela não é alheio, reflicto agora sobre a importância da palavra em três e decisivos planos ou dimensões, a saber:
A palavra enquanto escudo, a palavra como despoluidor ou factor de desanuviamento e a palavra como potenciadora de energias limpas e sempre renováveis.
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I
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A PALAVRA COMO ESCUDO
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Um escudo protege e abriga.
Protege de ofensivas exteriores e constitui instrumento preventivo que nos coloque ao abrigo de inesperadas investidas que nos possam destruir.
A palavra é um escudo!
Imaterial, por assim dizer, a palavra fornece-nos uma percepção do real que logo dela se acrescenta e sem a qual o próprio real, extrínseco como intrínseco, seriam inconcebíveis, irreconhecíveis, ininteligíveis.
Que seria da realidade, interior como exterior, sem todas as palavras que inevitavelmente usamos para a descrever?
E dos saberes, mais ou menos exactos, da matemática à filosofia, da religião à arte, sem a palavra, instrumento axial sem o qual nem o racional, nem o que está para lá dele seria cognoscível?
A palavra é um escudo qual invólucro, película ou filtro e tanto mais resistente quanto escrita ela o for, susceptível de à realidade e a nós próprios nos transformar, a nosso favor, o mesmo terá de querer dizer a favor do nosso habitat, já que não somos vírus que ao seu próprio o degrada e aniquila, ou seremos (!?), de tal forma que por força dela, da valia que ela acrescenta, encontremos os instrumentos bastantes à nossa sobrevivência com acrescida qualidade de vida.
Pense-se:
Que seria do saber, de todo o saber individual como colectivo, sem a palavra?
E da realidade, que seria dela sem a palavra?
E do pensar, que seria dele sem essa capacidade, a capacidade de organizar as palavras sem a qual, onde estaríamos?
Na base, nosso pé, sustentáculo ou fundação, a palavra é um escudo que nos transportará com sucesso para lá da espuma dos dias e dos impasses e incógnitas que nos angustiam mas que serão ultrapassados.
Como um escudo ou invólucro, a palavra passará!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 6 de Dezembro de 2009

15 comentários:

manuela baptista disse...

com palavras

se sossega o vento
embala-se o berço terno
sussurra-se um lamento

com palavras

faz-se e desfaz-se
o tempo
constrói-se
e desconstrói-se
o pensamento

Manuela

mas há palavras que também são farpas...

Jaime Latino Ferreira disse...

e sendo farpas
algumas das palavras
que se revolvem
em vento
o pensamento
são as palavras
essas
meu invento
tamanho
com que tento
são meu alimento

são as palavras chão
e o coração


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

mac disse...

Recordou-me um poema de Torga.
Não sei se o saberei encarrilar de memória, mas vou tentar. Não sei onde pára por códices, e tenho demasiada preguiça, a esta hora, para o procurar. Aqui vai a tentativa (e perdoem-me os puristas se falhar alguma vírgula)

DESFECHO
Não tenho mais palavras.
Gastei-as a negar-te.
(Só a negar-te eu pude combater
o terror de te ver
em toda a parte).

Fosse qual fosse o chão da caminhada
era certa a meu lado
a divina presença impertinente
do teu vulto calado e paciente.

E lutei, como luta um solitário
quando alguém lhe perturba a solidão.
Fechado num ouriço de recusas
soltei a voz, arma que tu não usas,
sempre silencioso na agressão.

Mas o tempo moeu na sua mó
o joio amargo do que te dizia.
Agora somos dois obstinados,
mudos e malogrados,
que apenas vão a par na teimosia.

(Salvo erro, Câmara Ardente)

Jaime Latino Ferreira disse...

MAC


Minha Querida,

Quem a conheça como eu, sempre pronta a declamar os grandes da língua portuguesa de cor e na oportunidade do momento!


CÂMARA

Não me verás em toda a parte
nem me quero ver como estandarte

Teimoso como tu
não há malogro
mudez
tão pouco mó
nem vil surdez

Soltemos pois a voz
na reclusão
do engeitado silêncio
e da agressão
que aos nossos vultos
erguem
recusando a solidão

Tuas palavras não gastas
são maiores
que a imensidão

Arde minha câmara
na saudade do instante


Um grande beijinho para Si


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

Linda Simões disse...

...Soltemos pois a VOZ,as PALAVRAS e o PENSAMENTO.


...


No silêncio.No momento.No presente e no futuro.Em todos os momentos...




Linda Simões

Jaime Latino Ferreira disse...

EM TODOS OS MOMENTOS


Em todos os momentos
soltemos a voz
e os pensamentos
e no silêncio
na pausa que se faça
sem tormentos
ai que a alegria
venha aos centos
bafejar a nossa sorte
de acrescentos

( dedicado à Linda Simões )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

Dulce AC disse...

com palavras
descobrimos
descobrimo-nos

e abrimos outros contos
e encontramo-nos com mistérios...

que o sejam exemplo estes os:

"mistérios da Escrita

Escrevi a palavra flor.
Um girassol nasceu
no deserto de papel.
Era um girassol
como é um girassol.
Endireitou o caule,
sacudiu as pétalas
e perfumou o ar.
Voltou a cabeça
à procura do Sol
e deixou cair dois grãos de pólen
sobre a mesa.
Depois cresceu até ficar
com a ponta de uma pétala
fora da Natureza."

(Álvaro de Magalhães)

Olá Jaime.

Como seria a nossa vida, sem palavras
e sem ela "a música das palavras" (?)
Não seria absolutamente o que é
sendo-a Aqui
neste sempre tão construtivo encontro de palavras.

Beijinhos!
Dulce

Jaime Latino Ferreira disse...

DULCE AC


ESCRITA

Escrevo
e quando escrevo
ao mundo acrescento
o que invento

Escrevo
e quando escrevo
nascem outras flores no jardim
umas sem nome
outras serão como o jasmim

Escrevo
e enquanto escrevo
todo o mundo se debruça sobre mim
ou serei eu
que a ele o salpico
da imaginação em que fico


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

Dulce AC disse...

Jaime
Magnífica essa
a Sua escrita!

Adorei!
Muitos beijinhos
E que Sim Jaime

Queremos tê-Las sempre
a música e as palavras

a música das palavras!!

Dulce

Dulce AC disse...

Jaime
Magníficas essas
as Suas palavras
Gostei muito!!

Muitos beijinhos!

E que Sim Jaime
queremos tê-Las sempre
a música e as palavras
...
A música das palavras!!

Dulce.

Dulce AC disse...

Jaime!
Bem lhe dizia ontem
que a celeridade também a minha
tem destas coisas,
e da emoção do ter gostado tanto,
ficou registado e repetido,
e para não eliminar comentários
Que fiquem!

Sorry!
Dulce.

Dulce

Jaime Latino Ferreira disse...

DULCE AC


Vejo a dobrar
neste par
de elogios
como pios

Como cantar de aves
que se repetem
chilreiam

Vejo a dobrar
oiço música
acelarada
cantada
pois que fique registada
a voz da palavra dada


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Dezembro de 2009

Linda Simões disse...

A Palavra faz emudecer
crescer
chorar
...

Constroi,destroi
Cresce,desaparece
enaltece
...

A Palavra é Verbo
Escudo
Jardim
Moradia
...


A palavra é fantasia
alquimia
lapidação...


...


Reflexão.Prevenção.Ação.


Linda Simões

Linda Simões disse...

Jaime,

as palavras dizem do apreço que sentimos pelas pessoas...

OBRIGADA.


Beijoquinhas

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Minha Querida,

Bonito poema e reflexão final!

Um grande beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Dezembro de 2009