terça-feira, 12 de janeiro de 2010

COMPACTADA PROSA

Loren Adams, Bumble Bee Music
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argamassa compacta abalanço-me a ela num respiro profundo e num impulso escrevo-a aqui e assim sem pontuação deixando ao Vosso critério a interpretação o pausar onde seja e as respirações desta prosa que se abalança num extenso acumular compactado e cru em ondas zumbidas e prenhes de palavras e mais palavras a desafiar a Vossa capacidade de a ele o burilarem tornando-se inteligível pela entoação que se lhe venha a conferir e como se numa respiração só fundo suspiro ao texto o pudésseis vir a dividir nos apropriados períodos ou versos feitos de outras tantas respirações em que o conseguísseis sublimar ou não nesta interpelação que provocando a Vossa interactividade com o que escrito assim depositado e sem mais outras considerações aqui Vos deixo já que poético é ele de uma prosa por poemar num respiro longo e asfixiante voo rasante de moscardo cinzento frio húmido e neurótico carregado de nuvens arrepiadas e condensadas de stress e de calor quais sombras de buraco que à superfície transpira frio e congelante num parágrafo que de si próprio se conjuga e que duro e indecifrável será mas que nem por isso deixa de valer na neve do frio da noite que tarda em degelar e pese como pesa e alivia o calor de Vós recebido ah pois é incómoda será a minha escrita mas nem eu próprio pretendo que ela se livre desse propósito ainda que acolhedor eu Vos receba sem regatear no ar que se desanuvia ardente e lesto
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Janeiro de 2010
Kasimir Malevitch, Quadrado Preto Sobre Fundo Branco, 1913

6 comentários:

manuela baptista disse...

moscardo retardo que tarda em chegar em voo razante do lado do mar tem frio que frio é degelo arrepio incómodo é não me deixar passar com licença senhor que já se faz tarde stressante é a queda que faz tropeçar palavras palavras sem regatear mas se regateio é sempre a gritar

QUE GRANDE COMPACTO PARA COMEÇAR!!

aí poeta!

que te abalanças na prosa aos quadrados

em fundo branco!

T'á giro, pá!

Manuela

Jaime Latino Ferreira disse...

Ó PÁ


Ó pá que não vá a vassoura a passar que passa e não passa e vá toca a andar que é dança que cala o coração a tocar e que toca que bate que pulsa sem dar a ver como gosta de ti sem parar por mais que compacto o saiba cantar não pára a canção que o põe a voar


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Janeiro de 2010

J. Ferreira disse...

Ó pá sorte tens tu não vivermos no ante-25 de Abril pois a escreveres assim sem pontuação poderias ser interpretado como subversivo logo censurado.

Olha que não é má ideia essa de escrever sem pontuação e cada um que saque o que lhe aprouver.


Eu cá por mim saquei-o bem

Um abraço

José

Jaime Latino Ferreira disse...

JOSÉ FERREIRA


Pazíssimo,

Sacaste, sacaste-o bem!?

Então, o que é que sacaste?

Eu, cá para mim, indo a meio, a censura sufocava e pio, ficava-se por aí!

Já para juntar duas letras, sabe Deus, quanto mais uma página inteira ...!

Não sei se já reparaste mas, quando escrevo poesia, nunca pontuo a não ser a pontuação que se deduz da mudança de verso ou de estrofe e só em prosa o faço ...

Afinal, o que nesta página escrevi, podia tê-lo escrito em verso e logo soaria e vêr-se-ía diferentemente.

Assim, como o escreves, pontuando cada qual como lhe aprouver logo se armaria o poema, eventualmente, de maneiras diferentes.

Seria engraçado que os meus estimados leitores, aqui, se dessem ao trabalho desse exercício, só para ver no que, em cada qual, resultaria, não achas!?

E todas as armações, chamemos-lhes assim, seriam legítimas!

Assim assistiríamos a um exercício de verdadeira interactividade com o texto de primeira página como quem decifra, monta um puzzle ...

Um Abraço


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Janeiro de 2010

Linda Simões disse...

Pio!

...


Eita!


Meus queridos!(os três)


Beijoquinhas

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Pio, onde será que já ouvi isto!?

Realmente, um pio, não o Seu ou os meus (!), também não necessita de pontuação ...

Pio

( este, sem qualquer pontuação, tudo de bom subentende, eita incluído )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Janeiro de 2010