segunda-feira, 17 de maio de 2010

SOMBRAS

Fotografia de Jaime Latino Ferreira, Sesimbra, Hotel do Mar, Verão de 2007
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Há sombras que se projectam no real como há realidades que se projectam, filtradas, como se de sombras, jogo de sombras se tratassem ...
Filtradas, essas realidades estão lá, não adianta escamoteá-las, mas surgem aos olhos de todos depauperadas como boato que vai passando e degradando-se de boca em boca, chegando aos destinatários já distorcidas, maculadas como sombra reduzida ao negro, empobrecidas de relevo e brilho, quase monocromáticas, contrastantes de maniqueísmos constrangedores, a preto e branco.
Ou se é bom ou é-se intrinsecamente mau;
Ou se é de esquerda ou é-se irremediavelmente de direita;
E sendo-se de esquerda ou de direita há uma destas lateralidades que é implícita, não ditamente boa e a outra má, não declaradamente dispensável até.
O meu país é bom, os outros ... estão sempre prontos a tramá-lo!
Os meus direitos são inalienáveis, quanto aos direitos dos outros ...!?
Os meus direitos, aliás, são inamovíveis, parados no tempo, adquiridos e entre eles e os meus deveres não existe qualquer relação, como se entre uns e os outros os não movesse e ligasse um subtilíssimo sistema de vasos comunicantes que a uns os faz, irremediavelmente, depender dos outros ...
Há classes boas e outras más;
Há os trabalhadores, santos sem mácula nem pecado numa residual visão classista, racista e os sanguessugas da pátria, execráveis, abomináveis especímenes;
Há o fosso obsceno, imoral entre a riqueza e a pobreza e, sobretudo, quando aquela não é aplicada na recriação multiplicadora e reprodutiva de postos de trabalho que escasseiam cada vez mais ...!
Há os políticos e os homens públicos ...
... esses, sempre debaixo de fogo e os zeladores da verdade que sem a procurarem na sua multifacetada forma a reduzem a perguntas estampadas de inverdades já respondidas nos preconceitos das próprias perguntas, redondas e cretinas, cabotinas que se fazem.
Há uma tragédia onde apenas existe uma comédia;
Há uma comédia onde a tragédia se estampa nos rostos;
Há um rosto sempre filtrado pelo esquecimento ...
Há muitas sombras!
E no movimento de sombras sem fim, do seu âmago soa um clamor que quase todos fingem não ouvir ...
Há uma cegueira incrustada até ao tutano e que se às sombras as não quer ver ... muito menos ao brilho!
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frondosa
há uma árvore que cresce para lá de filtros e de sombras
de gelosias que se interpõem
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no dia histórico em que o Presidente da República promulgou o diploma que permite o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo para que menos sombras sobre as já pesadas sombras possam continuar a pairar sobre nós
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Maio de 2010
Desenho a pastel de Manuela Baptista, Namban, feito a partir da minha fotografia

4 comentários:

manuela baptista disse...

há a fotografia
que se assemelha à árvore real
e o desenho irreal
da árvore e da fotografia

este desenho chama-se "namban" e não é real

são isto sombras?

eu hoje também tenho a cabeça um pouco sombreada,

mas gosto da sombra e do sol forte, do preto e do branco, da penumbra e do cinzento...voilá!

...ainda bem que o nosso Presidente saiu da penumbra e agora parem de nos chatear com a família ideal!


está bonita a página!

Manuela

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


É mesmo namban que se chama o teu desenho ...!?

Ainda bem que gostaste desta página ...

Vou já pôr o nome do desenho na legenda que lhe fiz!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Maio de 2010

Isabel Venâncio disse...

Olá, Jaime

Já percebi que entrei num agitado movimento experimental de artes gráficas e desenho.
Pois ele é sombras, desenhos irreais, desenho, o sol forte, a penumbra do cinzento, o preto no branco!!
Que inveja tenho da claridade em que se movem!
Não é dor de cotovelo, não!
É apenas uma compreensível invejazinha branda ...
Já agora!
Que bom que cada um possa escolher com quem namorar, viver, casar ...
E que não se esqueçam das respectivas bodas!
Continuarem escondidos ou com receio ... é que não!
Um abraço do norte
Isabel

Jaime Latino Ferreira disse...

ISABEL VENÂNCIO


Querida Amiga,

Vindo do blogue da Manela onde a Si também Lhe deixei uma dedicatória ... já A aguardava ...

E ei-La logo quando já editei um grafismo, na página a seguir, a preto e branco!

Tudo isto graças à máquina fotográfica digital que à Manela Lhe ofereci pelos seus anos já que, o movimento experimental de que escreve, há muito que germinava por aí.

E fala-me de claridade, exactamente o título que pus na página que se segue e que póscede este Seu comentário, já viu!?

É isso mesmo, todos têm o direito à felicidade e excluí-lo é alimentar, larvar, a prepotência com tudo o que lhe vem associado!

Um grande beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Maio de 2010