José Saramago, caricaturado por autor desconhecido
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" Escrever é traduzir.
Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua ...
Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo. "
Mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua ...
Transportamos o que vemos e o que sentimos para um código convencional de signos, a escrita e deixamos às circunstâncias e aos acasos da comunicação a responsabilidade de fazer chegar à inteligência do leitor, não tanto a integridade da experiência que nos propusemos transmitir mas uma sombra, ao menos, do que no fundo do nosso espírito sabemos bem ser intraduzível, por exemplo a emoção pura de um encontro, o deslumbramento de uma descoberta, esse instante fugaz de silêncio anterior à palavra que vai ficar na memória como o rasto de um sonho que o tempo não apagará por completo. "
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citação de Saramago recebida em powerpoint enviado por José Ferreira, homenagem brasileira a este grande autor de língua portuguesa
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citação de Saramago recebida em powerpoint enviado por José Ferreira, homenagem brasileira a este grande autor de língua portuguesa
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JOSÉ SARAMAGO
Caríssimo José,
Sabendo quanto a internet está pejada de citações falsas ou atamancadamente atribuídas a, faço, no entanto, fé em que esta te pertença e escrevo-te como se assim fosse e tanto mais quanto a fonte que me a enviou é, considero-a (!), fiabilíssima.
Mas, esta citação até poderia não ser tua que, nem por isso, deixaria de ser fonte de reflexão que me apetece não desperdiçar ...
Ouve, por momentos, o Adagietto da quinta sinfonia de Mahler aqui transcrito, traduzido para vozes corais e interpretado pelo Coro Accentus:
É ou não este Adagietto e em si mesmo, tradução espelhada de estados de alma partilhados por tantos de nós e que Mahler traduziu, sabê-lo-ia (!?), neste clarão, como ninguém?
E transcrito para vozes, deixa-lo-á de o ser?
Tradução sobre tradução do que tu terás escrito:
... tradução para um código convencional de signos ...
... do intraduzível na sua integridade a não ser, quiçá, pela inteligência do leitor ...
... que não é apenas inteligência no sentido estrito da capacidade racional mas também de um misto dessa e de todas as outras, das inteligências dedutiva como da indutiva, da emoção pura de um encontro e do deslumbramento de uma descoberta, prenhes desse fugaz momento de silêncio anterior à palavra, desculpa-me tomar como minhas as tuas próprias palavras e para lá daquilo que estritamente dizem, instilando-as da música que as precede e eleva sempre, já que o silêncio é a outra componente dicotómica (!?) que somada ao som propriamente dito se converte, traduz em música ...
... e que fica na memória, pois então e num rasto tanto mais vincado, impressivo quanto persistentemente cavado o for e que o tempo não apagará seguramente ...
Caríssimo José,
Sabendo quanto a internet está pejada de citações falsas ou atamancadamente atribuídas a, faço, no entanto, fé em que esta te pertença e escrevo-te como se assim fosse e tanto mais quanto a fonte que me a enviou é, considero-a (!), fiabilíssima.
Mas, esta citação até poderia não ser tua que, nem por isso, deixaria de ser fonte de reflexão que me apetece não desperdiçar ...
Ouve, por momentos, o Adagietto da quinta sinfonia de Mahler aqui transcrito, traduzido para vozes corais e interpretado pelo Coro Accentus:
É ou não este Adagietto e em si mesmo, tradução espelhada de estados de alma partilhados por tantos de nós e que Mahler traduziu, sabê-lo-ia (!?), neste clarão, como ninguém?
E transcrito para vozes, deixa-lo-á de o ser?
Tradução sobre tradução do que tu terás escrito:
... tradução para um código convencional de signos ...
... do intraduzível na sua integridade a não ser, quiçá, pela inteligência do leitor ...
... que não é apenas inteligência no sentido estrito da capacidade racional mas também de um misto dessa e de todas as outras, das inteligências dedutiva como da indutiva, da emoção pura de um encontro e do deslumbramento de uma descoberta, prenhes desse fugaz momento de silêncio anterior à palavra, desculpa-me tomar como minhas as tuas próprias palavras e para lá daquilo que estritamente dizem, instilando-as da música que as precede e eleva sempre, já que o silêncio é a outra componente dicotómica (!?) que somada ao som propriamente dito se converte, traduz em música ...
... e que fica na memória, pois então e num rasto tanto mais vincado, impressivo quanto persistentemente cavado o for e que o tempo não apagará seguramente ...
... sombra ...
... ou clarão, porque não (!?) ...
... de um sonho que cresce e se afirma ...
... e cresce tanto mais quanto, repito-me, persistentemente cavado se o saiba sulcar ...
... quanta razão te dou naquilo que escreves assim repescado fora do contexto e mais, e mais ao que tu escreves me dou na liberdade de acrescentar ...
A escrita é, na música concentrada que encerra, ela também linguagem cifrada que traduzida se reflecte e espelha, a transposição e a transcrição do sonho!
... de um sonho que cresce e se afirma ...
... e cresce tanto mais quanto, repito-me, persistentemente cavado se o saiba sulcar ...
... quanta razão te dou naquilo que escreves assim repescado fora do contexto e mais, e mais ao que tu escreves me dou na liberdade de acrescentar ...
A escrita é, na música concentrada que encerra, ela também linguagem cifrada que traduzida se reflecte e espelha, a transposição e a transcrição do sonho!
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Tradução
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Julho de 2010
pormenor de quadro em fotografia trabalhada de Jaime Latino Ferreira
Tradução
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Julho de 2010
pormenor de quadro em fotografia trabalhada de Jaime Latino Ferreira
21 comentários:
Boa noite, Jaime.
Adorei quantos presentes, mas aí esta uma discussão sem fim, escrever é um ato de desprendimento e ler será o que além de tudo mencionado?
O que nós enquanto leitores conseguimos entender do que o autor propôs?
Por coincidência escrevi uma modesta e simplória opinião sobre o ato de escrever e se fazer ler. Venho aqui e tenho vontade de correr e deletar todo o texto. Rsrsrsrsrs.
Beijo em ti e na Manu.
Vou ler o que escrevi novamente e ponderar o que fazer.
RENATA
Querida Amiga,
Eu falo, escrevo por mim e no que escrevo se me desprendo, desprendo do que tinha para Vos dizer, escrever, comprometo-me também, comprometo-me com o que escrevo, isto é, sou coerente com esse mesmo desprendimento.
Escrevo mais do que leio, confesso-Lhe mas do que leio, no que leio tento ir ao fundo, ao cerne do que o autor pretendeu transmitir ...
Conseguirei!?
Traduzirei bem, por exemplo, a citação de Saramago sobre a qual reflicto e sobre a qual replico!?
Siga o seu instinto e se entender que aqui deve deletar o que escreveu sobre o acto de escrever, pois então, não ... hesite ...
Ai que lá ía eu confundir a ortografia de hesitar com existir!
Beijinhos e uma boa noite
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2010
"A escrita é, na música concentrada que encerra, ela também linguagem cifrada que traduzida se reflecte e espelha, a transposição e a transcrição do sonho!"
Jaime...meu Amigo..!!
Maravilhosas estas Suas palavras
"...da emoção pura de um encontro e do deslumbramento de uma descoberta, prenhes desse fugaz momento de silêncio anterior à palavra, desculpa-me tomar como minhas as tuas próprias palavras e para lá daquilo que estritamente dizem, instilando-as da música que as precede e eleva sempre..."
bem e podia continuar a transcrever as Suas palavras
mas claro que não o farei...
gostei mesmo muito Jaime!
Um abraço muito amigo.
dulce ac
esta é a primeira de 156 réplicas
e não sou eu que vou fazer considerações sobre escrever
sendo ou não a tradução e de quê
a minha manifestação é a escrita
e quando os outros a lêem há tantas interpretações quantos leitores, tantas as sombras intraduzíveis como planos de luz
gosto mais do adagietto de Mahler sem palavras, pois não foi ele o guião silencioso de "a morte em Veneza"?
eu, se fosse o Saramago, diria que tu traduzes bem!
Manuela
beijos às minhas amigas Rê e Dulce!
Manu
DULCE AC
Minha Querida,
Ora se gostou transcreva porque em toda a transcrição, nela também se traduz, sempre e sempre algo de novo ...!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2010
MANUELA BAPTISTA
Pronto, acabou-se o andar à volta do teu nome sem manuelabaptistizar!
Com que então 156 réplicas ...!
Puxas por mim e, depois, queixas-te!!!
Obrigado por achares que não sou mau tradutor de todo ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2010
MANU
Tem piada ... e se te passasse a chamar isso mesmo, Manu!?
É giro que se farta!
Tchau Manu
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Julho de 2010
Concordo com tudo Jaime, mas não é querer ser embirrenta com o senhor, mas as citações de José Saramago que tenho lido parecem-me tão óbvias! Hà quantos anos eu ouço e leio que escrever é traduzir o que sentimos e todos sabemos que a palavra fica tão aquém, embora hajam pessoas geniais que poem a palavra em movimento, lhe dão vida e alma.
A música essa nem me atrevo a discuti-la com o Jaime, era o mesmo que ensinar o Pai Nosso ao Vigário, mas para mim traduz sempre mais intensamente os sentimentos que a palavra própriamete dita, porque a música pode traduzir fielmente ou quase os sons da natureza e os estados de alma, a palavra traduz tudo isso apenas no após do momento silencoso e emotivo de que Saramago fala, às vezes completam-se, mas no texto é muitas vezes nos intervalo das palavras, nesse silêncio breve que se constroi a metáfora subjectiva de cada leitor e a do próprio escritor.
Tudo isto, apesar de eu gostar da luta que as palavras me dão, para interpretar e construir e apesar da pena que tenho de presentemente ter tão pouco tempo para ambos os exercícios.
Beijinhos, Jaime.
Branca
Bom dia Jaime,
De repente ao vir aqui de novo lembrei-me que alguém dizia que "A música é a linguagem do silêncio", o que traduz o que quis dizer atràs sobre o facto de a achar tão perfeita na transposição dos sons e dos silêncios da natureza, mesmo a humana.
Beijinhos
Branca
Você é fino, caro amigo Jaime L. Ferreira!... Esperou, esperou, com paciência de Santo e lá conseguiu, finalmente, uma conversa com o grande Saramago... sem pagar um vintém que fosse!!... Mas olhe que o grande Saramago deve estar às voltas lá no sítio, onde pedimos para que por lá fique muito tempo sem nós, pelo abuso da oportunidade!... Não se admire que um dia lhe apareça por aí, talvez arrastado numa jangada de pedra, cobrando a Liberdade, que, como bem sabe, não é assimtão Grátis como a cultura devia ser!
Aproveito para dar-lhe os parabéns por esta rica ideia das réplicas!... Muito bom.
Abraço
BRANCAMAR
Minha Querida,
O que parece óbvio, por vezes, não é assim tão óbvio e aquilo que a minha Amiga acaba por desenvolver no primeiro dos Seus comentários é disso elucidativo ...!
Saramago começa por escrever que escrever é traduzir e mesmo quando estivermos a utilizar a nossa própria língua para depois se vir a situar nesse momento que à palavra a precede, nesse instante de fugaz silêncio e que a palavra, como sombra, não apagará por completo.
Eu, pela minha parte, afirmo que se esta poderá ser sombra também poderá ser um clarão e que, fundando-se no matricial da música apenas se desenvolve, a palavra, num outro ritmo onde como a música, do silêncio e logo do som é precedida, a escrita e musical que é (!) ...
À música, no seu estrito sentido, não há palavras suficientes que a traduzam ou melhor, num outro tempo, elas vão-se encontrando, ajudando-a a definir-se!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
BRANCAMAR
Uma vez mais ...
Eu gosto de dizer que não há música sem silêncio ou, mais positivamente, que é do silêncio que ela nasce ...
E esta afirmação, como logo se vê pelos Seus comentários como pela citação de Saramago aqui repescada implica com a própria escrita que, ela também, ao silêncio o vai tentando traduzir!
Daí escrever de música concentrada quando à escrita me reporto porque esta é, digamos, música que se adensa de definição que os conceitos já transportam num grau que a música, estrito senso, de tão abrangente, não conhece ...!
Sons e silêncios da natureza ...
Querida Amiga,
Já reparou que a natureza, prenhe de sonoridades, não conhece, porém, o silêncio que apenas a natureza humana foi capaz de conceptualizar!?
Mais beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
KrystalDiVerso
António Pina,
Confesso-Lhe que já estranhava a Sua ausência e tanto mais quanto A Morte de Uma Bandeira, desculpe-me (!), à Sua presença a exigia:
No erguer da bandeira da língua, entenda-se!
Fino abuso da oportunidade!?
Para que conste e disso, o meu Amigo não tem, de facto, culpa de o não saber:
Não esperei pela morte de Saramago para me dar à liberdade de Lhe replicar ...
Já o havia feito antes, não neste meu blogue mas fi-lo e tanto quanto me tenha apercebido não apanhei, na volta, com nenhuma jangada, de pedra muito menos, em cima!
Depois ...
Tramado é o meu Amigo já que, depois de me picar, acaba por reconhecer, elogioso, serem as réplicas uma rica ideia ...
Safadão!
Abraço com picos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
"...pessoas geniais que poem a palavra em movimento, lhe dão vida e alma."
A Branca disse bem.E acompanhada da MÚSICA,melhor ainda.
Boa ideia mesmo,das réplicas,como disse António.
Que sejam 156,como disse a Manuela(rsrs)
E eu não me meto em conversa de gente grande,já disse!...rsrs
Belo texto.
Abraço de tertuliana,
Linda Simões
LINDA SIMÕES
Querida Amiga,
Antes de mais nada, fique sabendo que não sei a altura do António Pina e nem da Branca e eu tenho uns modestos um metro e setenta ...
Sei que a Linda é mais baixinha mas como Gente não se mede aos palmos, a minha Amiga só não se mete se não estiver para aí virada o que, da sua assiduidade, não o poderei inferir!
Ora, a melhor maneira de se pôr a palavra em movimento e de ao próprio movimento se exercitar, consiste em não nos coibirmos de interagir uns com os outros o que, nestas caixas de diálogos, pode permitir uma excelente rodagem ...
A propósito de caixas de diálogos ou de réplicas e das tais 156, não sei porque raio este número (!?), que quer a Manela como a Linda me sugerem:
Quem de Vós se dê ao trabalho de contabilisar o número de réplicas que no interior destas caixas já Vos tenha dado, então, suspeito (!), que às cento e cinquenta e seis as já terei excedido e em muito!!!
Minha Querida Tertulina,
Um grande beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
JUSTIFICAÇÃO
Perguntar-me-ão porque ilustrei esta página, à cabeça, com a caricatura que nela figura e de cujo autor, desconheço o nome ...
Respondo-Vos sem hesitar:
Porque, quando a vi, vi nela também, não sei se intencional ou fortuitamente por parte do seu autor, os traços de Mestre Yoda da Guerra das Estrelas, aquele personagem recorrente e animado, mestre da Força que orientava os Jedi.
Vejam só ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
enganei-me...
ia jurar que eram 156, mas são as 153 páginas deste blogue em 2010
voilá!!
manuela
MANU (LIANA)
Ah, só!?
Baixas a expectativa de réplicas!?
Olha que não, olha que são muitas mais!
Começa po esta caixa de comentários onde, à vontade, já se contam, com esta, nove réplicas e daí para as 574 páginas, desde o início, é só estabelecer uma média ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
pffff!!
vaidoso!
maníssima
PFFFTISTA
E mais uma!
Buuuuuuuu!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Julho de 2010
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