Fotografia de Manuela Baptista, O Ranfiococo
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Era uma vez um Ranfiococo que vivia nos candeeiros e se não vivia dormia neles, seguramente, já que a dormir nenhum de nós se lembraria de fazer bonecadas, trapalhadas daquelas com os dedos.
O Ranfiococo tornava-se visível quando saltava dos candeeiros e se imiscuía no mundo dos homens, encarnando-se nas suas mãos.
Foi meu pai que, um belo dia, me o apresentou ...
Reparem bem nele:
O dedo médio ou pai de todos, sim, porque foi o meu pai que aos Ranfiococos os inventou (!), retorcido sobre si mesmo e apoiado qual cabeça no polegar esticado para a frente, os indicador e anelar transformados nos seus dois únicos membros polivalentes a fazerem, invariavelmente, de mãos ou pés de acordo com as circunstâncias e as inoportunidades e o dedo mínimo, o mindinho, de tão pequenino, raquítico, encolhido e mesmo dispensável à composição do personagem, resquício inútil da sua já longa evolução a perder-se nos tempos desde os mais antigos registos existentes sobre candeeiros de tecto.
Sim, porque um Ranfiococo que se digne vive em candeeiros de tecto, de preferência luxuriantes e recheados do brilho de muitas gambiarras.
Do Ranfiococo não se poderá contar assim uma história com pés e cabeça já que se cinge a uma mão, tão pouco duas (!) e muito embora de pés e cabeça composto, todavia sem tronco, nem com princípio, meio e fim, vai passando de geração em geração como encarnação póstuma, gosta de música de gala como de um candeeiro de sala ou de salão de baile e, como o seu autor, quer que se danem aqueles que estão sempre à espera de um enredo fácil de princesas e príncipes, fadas e fadunchos extemporâneos, sabe-se apenas que aparecia caído de chofre como desaparecia ao abrir da mão em passe de mágica, desfeita a encarnação na retirada estratégica para o lustre mal a criançada se punha a perguntar dos porquês ou a exigir mais dele após as suas inesperadas aparições envoltas em mistério e passadas as diabruras com que, eventualmente, as presenteava ou os parcos e renitentes beijos, mais diria beliscões com que as mordiscava, desconfiadas e apreensivas ...
A história do Ranfiococo confunde-se com aquela de cada um de nós:
Mal ela começa já acabou ou quando acaba, apagadas, por fim, as luzes da ribalta, pergunta:
- Ía garantir que ainda agora a sala estava cheia de malta, ora esta (!), então não sentem a minha falta!?
E ria-se, por fim, a bandeiras despregadas imigrando para o candeeiro, fundindo-se com as luzes do tecto que com ele se apagavam e dando cabo da compostura da mão que se abria num humor ácido de ilusionista de trazer por casa evaporando-se de vez satisfeito por, de avanço, às crianças as ter enxotado para a cama ...
O Ranfiococo, confesso-vos, tem uma magia tão incómoda e oportuna, mais sapuda do que ossuda, admito-o, almofadada e a parecer-se mesmo com um sapo (!) tirando-lhe a viscosidade que, por definição, com as minhas próprias mãos se se confunde dela não tem a porosidade atreita a tanta transpiração.
Ouviram bem?
Disse incómoda e oportuna!
Ainda hoje, por vezes, o Ranfiococo salta do candeeiro e leva-me, delirante, pelas brincadeiras antropomórficas de meu pai, escorregando, desaustinado, teclado fora ...
O Ranfiococo tornava-se visível quando saltava dos candeeiros e se imiscuía no mundo dos homens, encarnando-se nas suas mãos.
Foi meu pai que, um belo dia, me o apresentou ...
Reparem bem nele:
O dedo médio ou pai de todos, sim, porque foi o meu pai que aos Ranfiococos os inventou (!), retorcido sobre si mesmo e apoiado qual cabeça no polegar esticado para a frente, os indicador e anelar transformados nos seus dois únicos membros polivalentes a fazerem, invariavelmente, de mãos ou pés de acordo com as circunstâncias e as inoportunidades e o dedo mínimo, o mindinho, de tão pequenino, raquítico, encolhido e mesmo dispensável à composição do personagem, resquício inútil da sua já longa evolução a perder-se nos tempos desde os mais antigos registos existentes sobre candeeiros de tecto.
Sim, porque um Ranfiococo que se digne vive em candeeiros de tecto, de preferência luxuriantes e recheados do brilho de muitas gambiarras.
Do Ranfiococo não se poderá contar assim uma história com pés e cabeça já que se cinge a uma mão, tão pouco duas (!) e muito embora de pés e cabeça composto, todavia sem tronco, nem com princípio, meio e fim, vai passando de geração em geração como encarnação póstuma, gosta de música de gala como de um candeeiro de sala ou de salão de baile e, como o seu autor, quer que se danem aqueles que estão sempre à espera de um enredo fácil de princesas e príncipes, fadas e fadunchos extemporâneos, sabe-se apenas que aparecia caído de chofre como desaparecia ao abrir da mão em passe de mágica, desfeita a encarnação na retirada estratégica para o lustre mal a criançada se punha a perguntar dos porquês ou a exigir mais dele após as suas inesperadas aparições envoltas em mistério e passadas as diabruras com que, eventualmente, as presenteava ou os parcos e renitentes beijos, mais diria beliscões com que as mordiscava, desconfiadas e apreensivas ...
A história do Ranfiococo confunde-se com aquela de cada um de nós:
Mal ela começa já acabou ou quando acaba, apagadas, por fim, as luzes da ribalta, pergunta:
- Ía garantir que ainda agora a sala estava cheia de malta, ora esta (!), então não sentem a minha falta!?
E ria-se, por fim, a bandeiras despregadas imigrando para o candeeiro, fundindo-se com as luzes do tecto que com ele se apagavam e dando cabo da compostura da mão que se abria num humor ácido de ilusionista de trazer por casa evaporando-se de vez satisfeito por, de avanço, às crianças as ter enxotado para a cama ...
O Ranfiococo, confesso-vos, tem uma magia tão incómoda e oportuna, mais sapuda do que ossuda, admito-o, almofadada e a parecer-se mesmo com um sapo (!) tirando-lhe a viscosidade que, por definição, com as minhas próprias mãos se se confunde dela não tem a porosidade atreita a tanta transpiração.
Ouviram bem?
Disse incómoda e oportuna!
Ainda hoje, por vezes, o Ranfiococo salta do candeeiro e leva-me, delirante, pelas brincadeiras antropomórficas de meu pai, escorregando, desaustinado, teclado fora ...
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a minha mulher que me exigiu esta história na caixa de comentários de X, Y e Z e que já me ameaça com uma birra e a meu pai que ao mundo dos Ranfiococos, entretanto, o já deve ter reduzido a fanicos ou, que ele me perdoe (!) e melhor dizendo, a simples ossadas
Fotografia de Manuela Baptista, O Ranfiococo pisga-se para o candeeiro a minha mulher que me exigiu esta história na caixa de comentários de X, Y e Z e que já me ameaça com uma birra e a meu pai que ao mundo dos Ranfiococos, entretanto, o já deve ter reduzido a fanicos ou, que ele me perdoe (!) e melhor dizendo, a simples ossadas
17 comentários:
...e finalmente
se entende
porque é que eu de vez em quando
estou sentada nos candeeiros!!
partilhando a enorme honra de ter conhecido o criador do Ranfiococo, o Jaime Pai
agradeço ao Jaime (filho)a história perfeita para enfeitar a minha centésima página!
Manuela
MANUELA BAPTISTA
Não tens mesmo nada que me agradecer pois se empoleirada num candeeiro já me ameaçavas transformá-lo num baloiço perturbando a pacatez da vida diária dos Ranfiococos ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2010
Jaime!
Ok, vou procurar o meu ranfiococo, mas eu tenho focos não tenho candeeiros, acha que dá?
Beijinhos
Filomena!
francamente, vá já comprar um lustre!
daqueles impossíveis de limpar tão cheios de brincos que mais parecem uma princesa
onde é que vivem os seus Ranfiococos?
beijinhos
Manuela
Pois!
Manuela e Jaime,
Eu tinha um Ranfiococo pendurado no candeeiro da sala e não sabia...
esta tarde durante a leitura desta mágica e ternurenta história aconteceu algo de espantoso e inesperado: o candeeiro estatelou-se no chão e eu levei um susto tremendo.
O quadro eléctrico disparou, fiquei sem energia e a história que lia evaporou-se... isto foi malandrice do Ranfiococo... eu acho que ele me queria dizer alguma coisa com esta partida, não acham?
Sim, agora eu acredito... eles andam por ai!
Felizmente que o candeeiro é leve, do estilo abajur e não houve estragos de maior... já está pendurado outra vez, mas agora melhor seguro, o suficiente para aguentar quaquer Ranficoco, mesmo dos mais gordinhos...
E não é que agora não tiro os olhos do candeeiro... e já não sei se é com receio que caia outra vez, ou então...:))
Vá lá Ranfiococo desce daí... empresta-me os teus mágicos dedinhos para me ajudares a fazer o jantar... sabes cozinhar?
~
:)))
Cem abraços
Walter
FILOMENA CLARO
Minha Querida,
Não, com focos não dá para encontrar Ranfiococos ...
Quanto muito Ranfiofocos!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2010
MANUELA BAPTISTA
Não te metas naquilo que não percebes!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2010
FILOMENA CLARO
Pois coisa nenhuma, não se deixe intimidar com os enxovalhos da minha Ranfiococa!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2010
CARTA DE UM RANFIOCOCO PARA O WALTER
Caro Amigo,
Cozinhar até sei mas de andar assim com os dedos todos encarquilhados temo que me acontecesse pior na cozinha do que a simples queda de um leve quebra luz, leve graças a Deus, no chão!
Eu explico-Lhe:
Estava, como escreve, a ler esta ternurenta história sobre a génese ranfiococa quando tudo aconteceu ...
Na história não vem escrito, não sei se por esquecimento ou se por vontade de aos Ranfiococos os enaltecer, mas também os há ciumentos.
O Seu, porque só pode ter sido um, para mais num candeeiro leve e de chapéu, ao dar-se conta de quanto embevecido estava lendo a história e já integrado nestas modernidades que nos põem em contacto, achou que só havia uma maneira de Lhe chamar a atenção e tal consistia, evidentemente, em cortar a corrente eléctrica de pronto.
Daí tudo o que Lhe aconteceu!
Com um candeeiro leve como o descreve e sabendo nós que os Ranfiococos andam por aí, o Seu só pode mesmo ser pequenino, tão pequenino que nunca o viu.
Diz-se que quanto mais pequeninos mais adestrados têm os seus dotes culinários mas para dele tirar partido, primeiro tem de conquistá-lo ...
E, já agora, não o substime!
De quem sabe de ranfiococadas, Seu com um abraço multiplicado por cem
( não queira ter cem Ranfiococos que é coisa pior do que um lustre de salão )
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Julho de 2010
Jaime,
Eu acho que tive uns Ranfiococos, por aqui em alguns candeeiros, mas acabo de os exterminar...será que se podem exterminar, estou a dizer uma grande disoparate? É que eu não percebo nada de Ranfiococos, mas como estou disposta a exterminar tudo que é complicado na vida e isto me parece muito complicado...!
Estou loirita e com sonito, acho que hoje vou sonhar com Ranfiococos.
Beijinhos
Branca
Ó Branca,
que está loira por dentro e por fora!
então um bicho simpático que entra nas histórias
extermina-se???
beijinhos
Manuela
BRANCAMAR
Querida Amiga,
Não queira exterminar tudo o que é complicado porque complicada é a vida e nem por isso deixa de valer a pena ser vivida ...!
Ou esteve a tentar fazer um Ranfiococo com a mão e não o conseguiu!?
Concentre-se e verá que é menos complicado do que parece!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Julho de 2010
MANUELA BAPTISTA
Apetece-me cantar aquele velhíssimo anúncio que começava assim:
Com Dum-dum não escapa um ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Julho de 2010
. INTEMPORAL .
Paulo
Caríssimo,
Se é certo que chegar ao destino sempre foi a sua forma de estar na vida, do Ranfiococo está bem de ver, não menos certo é que há coisas que permanecem, a saber:
Quando se irrita, o bicho transfigura-se e daquele animalzinho da fotografia, transforma-se em outros igualmente passíveis de se fazerem com as mãos mas mais triviais e previsíveis!
Nada de pessoal na adesão ao futuro que consigo partilho e sendo total, o meu abraço se é de amizade, é mesmo real, outra coisa que não muda
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Julho de 2010
MORAL DA HISTÓRIA
Há coisas que a tecnologia não supera!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Julho de 2010
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