René Magritte, The Son of Man
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Que significa estar de face oculta?
Será que eu me mantenho de face oculta?
Será que não sou suficientemente transparente?
Vou tentar responder directa e sistematicamente a estas três perguntas sem delas me desviar:
Respondendo à primeira, é certo que no meu perfil ainda não consta uma fotografia minha e, muito menos, de face inteiramente descoberta.
É certo que, agora, tendo oferecido a minha mulher uma máquina fotográfica digital, mais cedo ou mais tarde me poderei fisicamente mostrar e dar-Vos a conhecer a minha cara mas, contudo, significará isso deixar de estar de face oculta!?
Há mesmo situações em que, quanto mais nos mostramos ou julgamos mostrar, quanto mais na ribalta nos encontramos e publicamente somos conhecidos, quanto mais se avoluma o diz que diz-se, a coberto do qual e pese embora tudo, quantas vezes, encobrindo nos escudamos, mais oculta fica a face que se pretende desocultar!
É claro, para mim, que não deixa, no entanto, de ser um bom princípio dar a conhecer a cara que, publicamente, pela escrita se expõe.
Tratarei disso tão depressa quanto o manejo da câmara me o permita resolver!
Respondendo, agora, à segunda pergunta, direi que, se me mantenho, literalmente, de face oculta, certo é, porém, que me vou desvendando ...
Respondei-me, pois, se a afirmação que se segue corresponde ou não à realidade:
Eu vou-me desvendando e independentemente de Vos dar ou não a conhecer a minha face!
Percorrei pois este meu blogue e a não ser verdade o que Vos escrevo, estou pronto a aceitar, com humildade, as Vossas reclamações ...
Serei, então, suficientemente transparente!?
É claro que a resposta à terceira pergunta formulada à cabeça deste meu texto, não encontra uma resposta plausível que não seja, em simultâneo, complexa:
Ninguém se despe, verdadeiramente, em nu integral senão na assumpção do discurso directo, pessoal e que tenha uma coerência com a praxis de quem o profere;
É no tempo e na inconformidade que ao discurso o caracterize, que este se pode, paulatina e perseverantemente comprovar;
E, tudo isto, independentemente de se dar ou não a conhecer a cara de quem ao discurso o profere ...
Por vezes, diria antes sempre (!), a melhor maneira de nos ocultarmos é ser tão ostensivamente obscenos que, quais nuvens de fumaça e ainda que aparentemente cristalinas, fica tudo por revelar.
Tratarei, no entanto e para que não subsistam quaisquer dúvidas, de colocar no meu perfil uma fotografia minha para que, por aí, não me possam pegar!
Só mais o que se segue:
O discurso oral tem uma opacidade que o discurso escrito não tem!
O que está escrito, está escrito, pode ser sujeito, liminarmente, ao contraditório sem fugas ao que se escreveu, ao contrário do discurso oral, sempre susceptível de uma volatilidade que permite ocultar intencionalidades que, supostamente, o podem esconder atrás de uma opacidade que fica sempre por revelar:
- Ah, o que eu queria dizer, em rigor, não era isto mas aquilo!
Há mesmo ...
Há mesmo vantagens de se escrever assim e sem dar a face, oculta por ausência de fotografia já que quem a vê ao coração o não poderá, eventualmente, sentir!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Fevereiro de 2010
René Magritte, The Lovers
René Magritte, The Lovers
7 comentários:
Ainda que a máquina nova esteja com pressa de ser usada... os nativos norte-americanos, estavam certos que as fotografias roubavam as almas dos fotografados. Se for para ficar sem alma... e nos privar dela na escrita, prefiro desvendá-la nas palavras, onde estou certa de a encontrar... a face pode mesmo permanecer oculta. Esse quadro do beijo de Magritte, sempre foi o meu favorito, uma metáfora do enamoramento virtual... neste caso, a paixão pela alma do escritor, que se sente, sem ser preciso ver... :) Cumprimentos
está aí alguém??
não vejo nada...
Ah! tenho a face oculta! como é que ainda não tinha reparado?
Claro que às vezes tenho de parar para afiar o lápis e descansar um pouco a mão, mas quem vê mãos não vê corações?
Eu sinto-me um pouco como os aborígenes da América do Norte (obrigada Eva!) também acho que me roubam qualquer coisa quando me fotografam...
A alma não se vê, mas é transparente como a tua quando escreves! Quem quer e gosta de ler lê! Independentemente da face de quem escreve? Não sei!
Mas com tanto doido que anda por aí eu já nem sei se não é melhor estar protegido...
E finalmente
o manejo da máquina??
ainda só entendi 5 páginas do livro de instruções...
Antes de me ir embora, queria só o livrinho de reclamações para...
reclamar que as pinturas de Magritte são perfeitas e o Encoberto em Pessoa foi muito bem escolhido...
Manuela
EVA GONÇALVES
Sobre a Imagem
A mais profunda das imagens é aquela que se escreve porque nela se desvenda, no encoberto das suas entrelinhas, o que está para lá do que se vê.
Mas não deixa de ser uma imagem, radiografia da alma, fotografia lato senso.
Dando razão aos índios norte-americanos ou aos aborígenes, cada vez que escrevo, é talvez esse o meu segredo, se me enfoco, dilacerando, pelo que desvendo, a alma, não deixo de me desfocar, talvez para que esta não fique aprisionada ...
Eu gosto de fotografia e de uma coisa a posso tranquilizar:
É que se foco, a realidade é tão rica e tão por demais volátil que, por mais que se aprisione num instante fotográfico, dele se liberta sempre!
Saudações muito cordiais
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Fevereiro de 2010
MANUELA BAPTISTA
Como tu sabes ...!
Sabes perfeitamente que o ideal seria a escrita sem recurso a nada mais já que nela tudo se desvenda!
Ou a música ...
Mas quem vê e no que se vê e por demais as mãos, como a escrita, sente, sente o coração.
Quanto à máquina:
Eu sei que é uma enorme injustiça deixar a teu cargo o livro de instruções e tanto mais quanto nele, neles, como o sabemos (!), normalmente não se vê nem se sente coisa nenhuma e primeiro que se percebam, valha o diabo que os carregue!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Fevereiro de 2010
Há tantas faces ocultas por mais desocultadas que, aparentemente, estejam!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Fevereiro de 2010
Jaime,
a sua face pode continuar oculta que o carinho permanece.Você nos encantou com palavras e música, agora aguente a nossa vinda diária aqui!rsrrs
Liberdade.
O quadro é perfeito!
Beijoquinhas
LINDA SIMÕES
Aguente!?
Se se tratasse de aguentar, tão pouco como suportar ou aturar, não valeria a pena ter-Vos em minha casa!
O quadro é perfeito com a Vossa permanência que me é de enorme prazer ter por aqui ...
Em liberdade e com ou sem a face oculta:
O quadro é perfeito e a fotografia fica completa quando nesta caixa, uns com os outros, interagimos!
Um beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Fevereiro de 2010
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