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Vou escrever sem outros adereços, sem imagens e sem música anexa.
Por uma vez no silêncio destas palavras, sem ruído adicional.
Elas ou valerão ou não valerão por si mesmas ...!
Cumpre-me dizer, já agora, que é na palavra que, com ou sem outras ilustrações ou motivos de distracção, eu deposito todo o meu investimento.
As palavras ou valem ou não por si mesmas.
Eu estou em crer que num texto, num texto como este, este ou outro (!), elas poderão ser tão animadas que, pelo seu dinamismo, instilem vida ainda que aqui depositadas e aparentemente inertes, inanimadas, estáticas.
Mas, na sua conjugada tensão, quem as leia como se se introduzindo no personagem que as escreve, metendo-se na sua pele, no exercício que pela leitura, em silêncio ou em voz alta se faça, logo ganham vida como se o personagem, eu próprio, Te desafiasse a meter na minha pele e sugerindo a representação de um papel, papel real que é o meu e que em Ti se reflecte e desafia a replicar-se.
O meu, o Teu, o de qualquer um!
Já estás a ler em voz alta?
Não!?
Então concentra-Te primeiro no silêncio e sem adereços veste a pele nua do personagem que por esta via, pela palavra a Ti se dá:
Primeiro faz silêncio interior, tão próximo quanto o do que destas palavras se desprende;
Nessa atitude que é, em si mesma, musical, concentra-Te;
Por fim, atira-Te a ele, a mim e encarna quem a este texto o escreveu lendo-o em voz alta.
Enganaste-Te!?
Então cola as passagens onde tropeçaste e depois essas ao período em que se encaixam e o período ao texto todo até este Te sair fluente, devidamente entoado e respeitando os seus silêncios e pontuação.
Já está!?
Não, então cola bem tudo, repete tantas vezes quantas as necessárias, sobretudo as passagens em que Te engasgas e assume o papel e ainda que a tudo o tenhas de soletrar primeiro e ler muito lentamente!
Não é assim tão simples ler em voz alta mas a verdade é que, aquilo que desta forma se lê, adquire outro relevo e plausibilidade.
Depois, clarificada também a dicção, coloca a voz na cabeça e tenta projectá-lo, ao texto, para fora como se dele, finalmente, Te livrasses ...
Já o conseguiste fazer!?
E então, que Te parece o resultado final!?
Está vivo ou morto este texto?
E se está vivo e tem autonomia própria, o que é, para Ti, a escrita?
E eu, quem Te parece que eu sou?
Di-lo sem papas na língua!
Sentes a musicalidade deste texto?
Como te sentes na sua, minha pele!?
Consegues meter-te na pele do personagem!?
E, por fim, que pontes, afinal, neste exercício, estabeleces Tu comigo mesmo?
Eu quando leio um texto, se não o percebo logo o reproduzo em voz alta e tudo se torna, então, mais claro para mim mesmo!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Outubro de 2009
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16 comentários:
AOS MEUS LEITORES
Fico à espera das Vossas reacções que aqui se venham a espelhar sendo certo que logo à noite Vos darei a devida atenção.
Se Vos lembrardes, não Vos esqueceis de tentar responder às perguntas que nesta página Vos dirijo!
Vosso
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
Bom dia Jaime!
Rico exercício de leitura.
Um pouco ligado à métrica da música, ou estarei completamente enganada?
Li-o várias vazes em voz alta. Devagar, pausadamente.
Não, não me consegui meter na sua pele.
Para mim, cada ser é individual e único, e isso pode ver-se através da sua escrita, que por vezes é tão elaborada, que não permite aos outros desvendar o mistério.
E é isso, quanto a mim, o maravilhoso do ser Humano e o igualmente maravilhoso poder da palavra escrita.
Um beijo de sexta-feira
Filomena
Não acreditem!
A música está aqui e as imagens também, mas nem todos conseguem atingir o invísivel para os olhos...
A pauta mudou de sítio!
Como os beijos de sexta-feira devem ser diferentes dos de sábado
daqui ofereço
abraços de sexta-feira!
Manuela Baptista
...
... Li e tive vontade de escutar Bach.
É claro que está vivo,assim como a música que escuto agora...
...Que são palavras?
Palavras são iguais sendo diferentes?
...
Volto aqui depois.
beijos
Caro Jaime,
Temos de facto, tendencialmente, inclinação para temas de difícil digestão interpretativa. Tu, magistralmente a escrever eu, modestamente, a pintar.Curiosamente, pedes aos leitores para se meterem na tua pele. Á minha última tela, chamei-lhe "under my skin". Sei que se trata de uma mera coincidência, mas lendo e relendo o teu texto e não o podendo ler em voz alta por afonia grave, remeto-o, por analogia, sem ofensa, para o comentário à minha tela, recentemente efectuada por amigo de longa data, cito:
" é pá vê lá se te deixas de produzir obras niilistas!"
É por demais evidente que esta asserção critica se deve, como nos casos vertentes, à completa incapacidade de entendimento, ao arrepio dos apelos de intrusão epidérmica e dérmica.
Não me leves a mal, mas a proximidade de mais umas eleições tornou a deixar-me com a cognição algo sem nexo(!?)
Um abraço,
Zé
FILOMENA CLARO
Minha Querida,
Um pouco ligado à métrica que o mesmo é dizer ritmo e entoação, eles próprios música em si mesmos e esteja-se a falar desta em sentido estrito ou lato, onde a própria palavra música o é já ...
Com que então respondeu ao desafio e fez o exercício, boa!
Não se conseguiu meter na minha pele!?
Talvez não me tenha explicado bem:
O que eu queria dizer, então, era que se metesse na pele, isto é, no espírito, no sentido do texto aqui dado a ler.
Claro que, exactamente por aquilo que escreve, sendo cada um de nós único, impossível se torna metermo-nos na pele do outro mas se um texto é, ele já, pele do seu autor então nessa pele e desde que o assimilemos, é já possível metermo-nos.
Era nesse sentido que eu Vos desafiava a meterem-se na minha pele porque num texto, num texto que se escreva já concentrado ou por amostra nele reside o seu autor!
No entanto e por mais que ele se desvende, concordo Consigo, o seu mistério ou face oculta, permanece sempre por desvendar e nisso também reside o maravilhoso sem o qual a palavra não teria o poder que tem.
Um beijo e um bom fim de semana
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
MANUELA BAPTISTA
O invisível para os olhos é visível para os ouvidos ...
É nessa intersecção que reside o maravilhoso da escrita:
Ela vê-se mas ao ver-se ouve-se e sendo assim, tão longe nela se poderá ir ao ponto de por seu intermédio se poder ouvir como ver o que não está visível nem tão pouco audível ...
A escrita é uma pauta fora do sítio!
É uma música vibrante e silenciosa ...
Beijos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
LINDA SIMÕES
Minha Querida Amiga,
Se Lhe dei vontade de ouvir Bach, não só fico extremamente lisongeado como sem jeito, no atingir de um dos objectivo que, afinal, implicitamente, se continha também naquilo que escrevi:
Despertar a vontade de ouvir música sem a impôr e deixando ao Vosso critério a escolha daquela que quisessem ouvir!
Se as palavras são iguais sendo diferentes?
Todas as palavras contêm em si um harmónio de significados, de tal maneira que podemos estar a usar as mesmas sem que nos consigamos entender porque as estamos a utilizar, atribuindo-lhes diferentes significações!
Até logo, beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
RENATA SEIXAS
Agora é que me deixou completamente baralhado!
Sabe, é que não sou do Brasil e aquilo que me traz à colacção, apanha-me completamente desprevenido!!!
Quem sou eu para pressionar quem quer que seja e mais a mais sobre assuntos que desconheço!?
Os deputados que a mim me representam, saiba, ainda são aqueles da República de Portugal.
Ora esta ...!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
JOSÉ FERREIRA
Meu Caro,
Com que então com afonia grave ...!?
Desejo-te rápidas melhoras!
Coincidências!?
Se nos puséssemos a contabilizar a quantidade de coincidências que se dão na vida quotidiana, correríamos o sério risco de ser engolidos por ela mas, no entanto, não deixo de registar a feliz coincidência entre a tua e esta minha modesta obra.
Niilista!?
Porquê niilista, porque te escapa ao entendimento, não estarás a ser demasiado subjectivo ou a complicares o que afinal não é assim tão complicado!?
Já agora e espicaçando-te com mais uma provocaçãozita vê lá se não deixas passar mais umas eleições com a cognição, pegando nas tuas próprias palavras, algo sem nexo ...!
Esperando que não fiques enxofrado comigo, aceita um abraço amigo
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
DE NOVO AOS MEUS LEITORES
Em primeiro lugar para Vos dizer que hoje não editarei uma nova página!
Em segundo lugar, at last but not least, para deixar desde já o sublinhado registo da atribuição do Nobel da Paz a Barak Obama, na perplexidade que, aliás, esta mesma atribuição já começou a suscitar.
Quem diria que esta distinção alguma vez viria a ser atribuída a um Presidente dos Estados Unidos da América ...!?
E que sinais, ela mesma não transporta na responsabilidade e comprometimento que a Obama o enlaça na implementação da Paz!?
Registo esta atribuição com agrado e esperançado que um novo e poderoso impulso seja dado na arena internacional em prol do seu enraizamento, do desarmamento, da multilateralidade e da Sua cada vez mais duradoura e global efectividade!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Outubro de 2009
Jaime,
então consegui entrar na tua pele...Somente um pouco.
E és música.
Palavras são iguais sendo diferentes.
No silêncio há música.Há claridade.
Beijos
LINDA SIMÕES
Boa Amiga,
E eu, em cada comentário que leio e logo nesta caixa de diálogos, invariavelmente me esforço por apropriar das reflexões que me escrevem e nelas também procuro e a mais das vezes encontro a música, a musicalidade que elas encerram.
A minha Amiga a encerra também e nesta claridade que por aqui, silenciosamente, se vai travando a ela sempre a encontro.
Sendo iguais, as palavras encerram uma imensa diversidade, um intenso cromatismo!
Música o são também ...!
Um bom fim de semana, uma boa noite e um beijinho muito afectuoso
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Outubro de 2009
A musicalidade das suas palavras é sublime. Parabéns por este texto belíssimo...
Bjs
Chris
Jaime e Manuela,
um beijinho muito afetuoso,
da menina(!)que anda por todos os lados...
Linda Simões
Caro Jaime,
Enxofrado eu?
Não. Acho que recebi, reciprocado, o que por bem entendeste, democraticamente, responder.
Quanto ao Obama, perfeitamente de acordo. A esse propósito, sugiro, dês uma saltada ao meu blogue.
Um bom fim-de-semana, esperando que após este dia reflexivo, executes, amanhã, (cognitivamente) o teu direito de voto.
1 Abraço
Zé
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