sábado, 13 de março de 2010

O RISCO CRIADOR

Ludwig van Beethoven
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Se eu corro o risco de virtualizar aqui, pela arte de escrever, o que penso, esse risco que corro é, simultaneamente, Poder!
Pode ser difuso, residual esse Poder mas não deixa de o ser ...
E se é Poder também é Política.
A Política, por seu turno, tem de implicar, ela também, um risco sob pena de se transformar em politiquice.
Corro, portanto, um triplo risco:
O risco de, pela Arte de pensar, escrever pela minha própria cabeça;
O risco de, ao fazê-lo, inevitavelmente, por minha conta e risco fazer Política;
O risco de exercer o Poder que dos outros dois, Arte de pensar escrevendo e fazer Política, inevitavelmente emana.
Se penso, faço-o livremente em toda a fluidez musical, só assim se pensa verdadeiramente e sem entraves nem atilhos, nem o do medo que associado ao temor do risco quantas vezes nos tolda e limita na Arte que do pensamento se verte em escrita.
O pensamento livre que, ele também, deriva e se entrosa na Filosofia, desagua naturalmente na Política, na Arte de a fazer, cujo exercício, por mais democrático que seja o ambiente em que se desenvolve, no medir de forças com o establishment e na erosão economicista que a constrange encontra aí, nessa erosão, todo o tipo de entraves a saber ultrapassar e artisticamente vencer.
Desse exercício sistemático deriva o Poder que é, em si mesmo, um pau de dois bicos:
Se, por um lado, cria ascendente por outro e quanto maior o ascendente que cria mais vertiginosa torna a possibilidade de uma não menos vertiginosa queda e logo pela ameaça da sua permanente perca sempre associada a quem ao Poder o detém e por mais residual que este possa ser.
As luzes da ribalta resultantes da arte de pensar, escrevendo, não são propriamente fáceis de gerir:
São assim como se uma prisão onde a liberdade nela, nessa prisão se descobre, desafio permanente e redobrado risco, nos crescentes constrangimentos que o exercício político do próprio Poder que se quer democrático, sublinho, na sua residualidade, virtualidade se encontra.
O risco cria sabedoria tal que se traduz na Arte Política do exercício do Poder ...
As implicações políticas do Poder da Arte e da escrita, em particular, são tais que a Ode da Alegria de Ludwig van Beethoven se transformou no hino da Europa!
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( Em homenagem ao filósofo e professor José Gil que no passado dia 10 de Março deu a sua última aula sobre A Formação da Linguagem Artística e a Filosofia, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Março de 2010

10 comentários:

J. Ferreira disse...

Caro Jaime,

Abro hoje uma excepção, para:

1. Me solidarizar com a tua homenagem ao nosso filosofo-vivo Zé Gil.

Acho que se ele tiver a ocasião de ler as tua linhas, lá se interrogará:

-Mas que raio de politico/disfarçado é este Jaime?

2. Levantar-te o moral!

1 Abraço,
José
(cada vez mais apolítico!)

Eva Gonçalves disse...

Ia comentar, mas apercebendo-me que ao escrever o que pensava, ia fazer política... decidi, abster-me... :)) Bom post sobre estas interligações recíprocas entre a arte e o poder político. Pronto... fiz política, que chatice! :))Bom Domingo!

manuela baptista disse...

Haverá decerto, uma arte política, mas o risco é inerente à condição humana

sem risco, não desenvolvemos coisa nehuma, não crescemos, não nos politizamos, não vivemos e fazemos arte:

Não faço a menor ideia se existirão artistas apolíticos...

Muito bom este risco criador!

Manuela

Jaime Latino Ferreira disse...

JOSÉ FERREIRA


Caríssimo,

Num primeiro impulso ir-te-ía logo pregar um sermão mas abstenho-me de o fazer ...

Obrigado, antes de mais pelo teu apoio e solidariedade!

Hoje tudo decorreu já mais calmamente e os bons ares que decidimos, numa pausa, ir aproveitar em Oitavos concorreram, decerto, nesse sentido.

Quanto ao Filósofo homenageado:

E porque não, José Gil se interrogar, já agora, sobre quem será este disfarçado/filósofo!?

Tu, apolítico, só se for a tua afirmação enquanto político!

Abraços reconhecidos, Teu


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Março de 2010

Jaime Latino Ferreira disse...

EVA GONÇALVES


A minha Amiga é muito engraçada e os smiles com que decora os Seus comentários não deixam de concorrer nesse sentido!

Agora sim, julgo que não fiz política ... a menos que os tais ditos smiles carreguem uma carga que sendo optimista não o será menos política!!

Pois é ... ela entranha-se por todos os lados!!!

Uma boa semana e um beijinho sorridente


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Março de 2010

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


É o risco que provoca a tensão criadora ...!

A Arte, sendo Poder tem sempre implicações políticas e isto independentemente de os seus criadores serem ou não políticos ou apolíticos ...

Sem risco, concordo contigo, não se vai a lado nenhum!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Março de 2010

Linda Simões disse...

Jaime

Linda homenagem.


Somos todos políticos...


E um político ARTISTA é melhor ainda.


Um grande abraço aos Tertulianos


Linda Simões

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Obrigado Linda, aos tertulianos de já tantas tertúlias!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Março de 2010

*Lisa_B* disse...

Amigo Jaime,

o "menino" escreve com uma velocidade vertiginosa pra mim rsss...

Vamos dar três vivas ao filosofo José Gil que aqui homenageia ? Viva, viva , viva!

E viva para o Jaime que é lindo,tem música no coração e palavras de verdade na ponta da língua que é como quem diz nos dedos.


Um abraço de força para o Jaime e J.Ferreira, beijinhos para Manuela e meninas lindas tertulianas.

Jaime Latino Ferreira disse...

LISA


Tem toda a razão:

Entre a língua e os dedos pulsa forte o coração!

Beijos e abraços


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Março de 2010