WITH THE CAT - I - A AUSÊNCIA

Jaime Latino Ferreira

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( FALA DA TITA )

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Lá vão eles de férias!

Lá vou ter de me readaptar de novo e regressar à casa mãe, a casa da dona grande como eles dizem, julgando-me parva ao ponto de, sendo eles todos grandes não distinguir que maiores são eles, os meus adoptados do que a dona grande, diminuta ao pé deles!

É uma querida, a dona grande!

A casa dela é que é maior, tão grande que já por várias vezes, sem intenção, eu sei (!), fiquei fechada na sala ou na despensa, esquecendo-se eles da minha existência, na brandura doce, silenciosa do meu estar, que não se compara à sua, deles (!), abrupta forma de andar ou de falar, de comer ou de dormir, de existir, enfim!

Lá terá de ser (!) e pesem embora as vivas recordações de minha filha, a Gatinha como lhe chamavam, ou fofinha, ou pequenina (!?), vá-se lá a saber (?) e que, espaventosa como era me expulsou ao tempo da casa grande … ou terei sido eu a retirar-me para o 1º andar?

Desta vez, por quanto tempo se irão ausentar os meus adoptados?

Sobretudo ela, que tão bem me trata!

Por quanto tempo ficarei sem o seu colo, sem as suas atenções ou brincadeiras?

Comida a tempo e horas, água sempre fresca e renovada, sanitários limpos ou aquela bola, aquela ranhosa bola atada a um cordel e que me tira de mim, do sério a rebolar ou a saltar descontrolada … pensarão eles o quê?

Que não sei medir distâncias, ter enfoque, conter-me nas mordiscadas ou nas unhadelas que só os atingem e mesmo assim com toda a contenção, se eu quiser!?

Por exemplo, se me assediam demasiado quando me estou a lavar ou quero dormir!?

E mesmo assim …

Com efeito, é preciso eles terem um movimento irreflectido, irracional, de medo para eu, sem querer (!), os magoar.

Que seria deles se eu arranhasse a sério!!!

Ou de mim!?

Para onde seria enxotada?

Lá se acabavam as mordomias, este meu estar que sabem lá como é bom!

E dizem-se inteligentes!!

Sabem lá estar quietos, sabem lá o que é o silêncio, sabem lá o que é ter criados que nos garantam tudo, tudo, tudo!!!

Sem que eu tenha a mais pequena preocupação …!

Claro que tenho de saber coexistir com eles o que, no caso, é tão simples!

As portas, as portas são a minha angústia, as portas e a janela que mesmo tendo ido de férias se mantém aberta!!

A janela, claro, porque as portas … e se um dia elas não se abrem!?

São as portas e o seu desajeitado modo de se locomoverem, já não é a primeira vez que me pisam a cauda, então eles não sabem de toda a sua sensibilidade, quase a confundir-se com uma antena parabólica!?

Mas mesmo quando raramente tal acontece, é o macho que normalmente se descuida e me pisa (!), sabem bem que se aí grito, grito e esperneio, as minhas garras param no limite, à superfície da sua pele desprotegida, vejam lá têm de se vestir (!), à superfície cutânea rarefeita de pelos, coberta de uma penugem ridícula e que os desfeia ainda mais ...

Mas já tenho saudades deles!

Já se foi a lua cheia e não sei já quantos sóis, quantos ciclos de pasmaceira, que ausência!

Miau (!), é assim que traduzem o que eu digo quando digo finalmente, eis o carro deles, o barulho do portão que eles têm de abrir, eu não (!), as suas vozes naquele seu rosnar polido, de uma cacofonia a confundir-se com nada, nenhum outro falar da natureza!!

Já não era sem tempo, disse-lhes, julgava que não vinham mais, seus adoptados sem norte, mal reconhecidos, por certo, de todas as minhas vossas atenções!!!

Miau e acabou-se, vejam lá o meu poder de síntese, é quase um acorde, um arpejo, um simples acorde nas suas três inversões de uma melodia sem fim …

Uma tonalidade, uma cor!

E nem isso eles vêem, ouvem mal porque no tempo não vêem o que ouvem e não sentem …!

Os meus adoptados têm uma relação estranha com o tempo, desintegrada e fugidia …

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( continua )