sábado, 31 de janeiro de 2009


V Série

-

VÍCIOS PRIVADOS, PÚBLICAS VIRTUDES
-

Aqui vai um presente para consolar o Jaime desejoso de Irish coffee:

http://www.youtube.com/watch?v=eeEbsttGCi8


Agora a história fica por tua conta, só sei que é sobre uma jovem menina que conta ao seu pai a sua adoração por café, trocando tudo por esta bebida incluindo namorados!

MB



-.-


Amada Minha,

EXPIRAÇÃO

Eu não sou libretista nem estudioso de libretos!


Sei que, por alto, a Cantata do Café conta a história de um pai que tem uma filha em idade casadoira, viciada em café e que não o troca por nada deste mundo:

Nem pela varanda, nem pelos passeios, nem pelos namorados e que então, entre pai e filha se desenvolve um braço de ferro onde, final feliz (!) e a contento da filha, esta acaba por conseguir conciliar a sua sofreguidão por tão deliciosa bebida com um namorado à altura de os aceitar aos dois e que o pai se acaba por conformar com tal situação ...

Às vezes, parece que nos esquecemos mas o vício vem de longe ...!

A própria vida é um vício, agarramo-nos a ela e de que maneira (!), de tal maneira que, mesmo quando há um suicídio ele se dá também e eventualmente para que, aos que cá ficam, por aquela vida se sintam, finalmente, marcados, julgada justa ou injustamente por quem o pratica, não suficientemente notada, valorizada, acarinhada muito menos.

A vida, tal como o vício, mata!

Vive-se porém e hoje, numa tal paranóia do que se deve ou não publicamente fazer que o espaço público invadiu o privado num tal sufoco que, por vezes, mal se consegue respirar.

Há causas para que tal aconteça e muitas delas, convenhamos, prendem-se com o que se fazia e ainda faz dentro de portas e que fugia como muitas vezes continua a fugir para um território que parece estar ao abrigo do domínio como da condenação públicas, dando azo a todos os inomináveis.

Posta esta ressalva nada dispicienda, conto um episódio:

Há uns tempos, encontrando-me a fumar no passeio público, cruzo-me com um médico meu amigo que logo exercendo, extremoso, os seus cuidados, vira-se para mim e diz-me:

- Melhor seria se o meu amigo não estivesse a fumar!

Respondi-lhe então e prontamente:

- Sabe doutor, eu só gostava era que um dia fosse possível fazer um estudo onde se conseguisse determinar a importância da variável prazer que é tão subjectiva (!) na saúde e longevidade de cada qual. É que, só assim se percebe que haja centenários que morrem com a beata na boca!

- Tem razão meu amigo, respondeu-me o médico sem saber como retorquir.

-.-


-.-

INSPIRAÇÃO

Foi preciso entrar em vigor a lei restritiva do tabaco em locais públicos para me dar conta de até que ponto, antes, imperava a ditadura do fumador.

Ajustei-me sem grandes dificuldades às novas regras e com elas tenho convivido sem por isso me passar a sentir, particularmente, discriminado.

Mas, conto agora um outro episódio:

Estando na fila, ao ar livre e à porta da Repartição de Finanças à espera que esta abrisse, puxo de uma cigarrilha e acendo-a com o cuidado, como sempre tenho, de não bafurar para cima de terceiros.

Atrás de mim, uma senhora aborda-me e diz-me com ar lastimoso:

- Não se importava de sair da fila e ir fumar afastado já que o fumo me incomoda!?

- Minha Senhora, respondi-lhe e também aqui prontamente, eu não estou a fumar para cima de Si e além disso estou na rua e ao ar livre, por isso, neste contexto, discrimine-se a Senhora se quiser porque eu não faço tensões de sair daqui!

E lá foi a senhora, resignada, discriminando-se e de castigo, aguardar a sua vez fora da fila e eu, pacatamente e diante do silêncio gélido e expectante que se instalou, continuei a saborear o fumo a que tinha direito.

Que saudades de um futuro em que imperassem as regras da boa educação:

- Importa-se que fume!?

E já desanuviado o ambiente e sem os constrangimentos de antigamente onde raramente alguém se atreveria a dizer sim, importo-me (!), estas então, fizessem o seu percurso sem tanto não, é proibido ou faz mal à saúde!

Como num salão russo em Nova Iorque ...!

Num sótão dos avós como o é e no melhor sentido o Hermitage onde Aleksandr Sokurov e num único dia realizou a Arca Russa percorrendo séculos de História da alma russa que é também, é bom não esquecer (!), a europeia.

E onde se dança e rodopia pelos salões respirando longamente ou na roda dos amigos se desafia:

- Vai uma pitada de rapé!?

Esse, ao menos, não tem a ele o fumo associado!

-.-



-.-

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Janeiro de 2009

19 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Jaime,
Ora muito boa-tarde!
O problema meu amigo é quando se entra em fundamentalismos bacocos!
Acho estranho e verdadeiramente surreal colocarem as pessoas todas cá fora a fumar!
Não me venham com histórias nem tretas dessas!

Um cigarro bem fumado nunca fez mal a ninguém!

Um beijinho

Filomena

Anónimo disse...

A menina dança?

Também!
Bebo café,
fumo rapé,
ao som do Penguin Cafe!

...e foi assim que a menina da Cantata do Café conquistou um noivo...

Manuela Baptista

Anónimo disse...

BEM FUMADO


Ora, minha querida Filomena, tocou no ponto!

Bem fumado, a meu ver significa bem respirado, profundamente inspirado e expirado suave e lentamente ...

Absorvido como esponja e harmoniosamente por todos os poros e não pela rama e numa respiração frouxa como as pessoas, fumadoras ou não, já só sabem fazer e fumando mal, todas (!) a poluição atmosférica da qual o tabaco se transformou em bode expiatório.

E as fábricas?

As refinarias?

Os meios de transporte, dos aviões aos autocarros?

E o nosso querido pópó que não dispensamos nem para ir à esquina à tabacaria ou ao café, à pastelaria do bairro ou ao salão de chá?

Será que quem não fuma ou fuma mal, não como eu disse mas mal e com péssima respiração, estará mais imunizado ou munido dos anti-corpos contra a agressividade crescente do meio ambiente que não pode ser revertida ao estalar dos dedos!?

Querer-se-á acabar com os vícios!?

Ou com a vida e o prazer de viver na devida contenção!?

Ou, como diz minha mulher, se a menina dança, bebe café, fuma e o rapé incluído ao som de um pinguim cafezeiro, casamenteiro o par se fez a uma extença prole!

À palma de tanta proibição ... as pessoas até já nem têm pica em ter filhos ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Janeiro de 2009

sofia disse...

Olá viva.

Tenho passado por cá,mas ultimamente tenho andado sem assunto,saio em silêncio e fecho as janelas para o mundo,aviões vejo muitos eu sim moro ao lado do aeroporto do Porto.
Por mim se ia até Sintra,onde nasci,ia bebia tudo o que tinha direito...vivia falava amava...visitava a serra via o mar,enfim Ar....

Danço com a minha filha,respiro o cigarro enrrolado pelo meu marido e sinto o cheiro do café que ele bebe mais que muitos por dia,faz parte das suas rotinas e sem elas o dia não é um dia normal,penso que faz parte da familia.

volto sempre

um beijo

Sofia

Ana Cristina disse...

Olá!

Chuva,vento e nevoeiro.
Temporal em todo o país.
Inundações do costume em Lisboa e arredores.

Domingo assim convida a vícios privados sem ter que justificar ou pedir autorização!

Dormitar no sofá enrolada numa manta quente.
Fazer zapping na televisão.
Ficar em pijama e pantufas.
Fazer um bolo de laranja para acompanhar o chá a meio da tarde.
Comer chocolate ou sorrateiramente ir ao frigorífico e abrir a lata de leite condensado...
Passar os olhos pelas notícias on-line e deixar o portátil a hibernar até ao fim do dia.

Devo dizer que eu não fumo a não ser quando em convívio (ou no meio de um dia de trabalho) me apetece "sacar" de uma cigarrilha e lentamente ver o fumo diluir-se no ar.

Mas considero verdadeiramente deprimente e humilhante obrigar os fumadores a fazer fila nas ruas em frente aos escritórios , empresas e escolas, ou enfiá-los em redomas de vidro em restaurantes herméticamente fechados, como se da luta contra uma epidemia se tratasse.
Os exageros são perversos e atentam contra o direito de cada um e de todos nós.

Já ouvi dizer que o ar nos centros comerciais está mais "respirável e agradável"...Fantástico,não seja por isso,vamos todos passear,respirar e viver para os corredores dos Centros Comercias ;)

Passear na praia,nos jardins,na baixa das cidades,nas ruas?..parvoíce completa!,imaginem a quantidade de poluição que por lá anda,nãaa senhor,vamos mas é para os shoppings onde fumadores ficam do lado de fora !!!!

O menino fuma?
Também!....

1 abraço.
(e já agora,quem tem a legitimidade de definir o que é vício e o que é virtude?..)

Ana Cristina

Anónimo disse...

SOFIA

Minha Amiga,

Venha sempre, deixe marca ou fique em silêncio que este também é preciso!

Pressinto-Lhe na voz, a escrita é assim como se um registo vocal, tristeza ou melancolia mas espero que tudo vá bem Consigo e com os seus e pesem embora as saudades de Sintra onde sei, já o tinha dito noutras paragens, sei, dizia, que nasceu e viveu.

Dance, respire profundamente e cheire com toda a intensidade os aromas, as rotinas também que fazem a história de Sua família!

Volte sempre e sempre que é muito bem vinda.

Um beijo de volta, Seu

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

ANA CRISTINA

Nini,

Gosto da sua ironia contra-atacante, é pr'ó menino, é pr'á menina, se fuma dança, cheira rapé, tira os sapatos ai cheiro a chulé!

Pois claro, não há como o cheiro limpinho a lexívia, qual cheiro a maresia, a pinhal ou a gasolina que há quem diga dar uma grande paulada ...!

Ah, não sabia que também bebericava de uma boa cigarrilha!

Um dia, a cigarra, irritada com a workaholic da formiga, virou-se para ela e disse-lhe:

Com que então (!?), ouvi dizer que tu preferes trabalhar pois eu, fica sabendo, prefiro um cigarro, passa bem!

Beijinhos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Fevereiro de 2009

Isabel Venâncio disse...

Olá, Jaime

Já se deve ter queixado desta amiga da onça da net...
Sabe, não tenho tido grande tempo. A vida de avó tem os seus quês. E eu sou uma avó, tal como sou mãe, muito rigorosa.
Lá me escapo, de vez em quando, para a janela da cozinha e fumo um cigarrito, quando o menino Miguel adormece.
Vou lendo o que escreve, mas não consigo responder nem a horas, nem à altura dos seus posts.
Por isso, só lhe envio um texto que eu acho muito musical.
Algumas palavras também são música pelo ritmo, pela cadência, pelos sons,...
Aqui vai, com um abraço.
Isabel


No país da poesia

Era uma vez um país
na ponta do fim do mundo
onde o mar não tinha eco
onde o céu não tinha fundo
onde longe longe longe
mais longe que a ventania
mais longe que a flor da sombra
ou a flor da maresia
em sete lagos de pedra
sete castelos de nuvens
em sete cristais de gala
uma princesa vivia

Era uma vez um país
na ponta do fim do mundo
onde o mar não tinha eco
onde o céu não tinha fundo
onde longe longe longe
mais longe que a luz do dia
com a sua coroa de abetos
e seus anéis de silêncio
suas sandálias de tempo
seu tear de nostalgia
uma princesa tecia
o seu tapete de espanto
no fim da fantasia
do seu casulo de encanto

Ary dos Santos

Anónimo disse...

E disse a formiga:

Cigarras e cigarros, são todos uns espevitados!

Eu vou é comer uns formigos!

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Meu Amor,

Espevitadota formigueta me saíste tu!

Come-os lá mas tem cuidado com as graínhas ...

Pf, pf

Minha adorada formiga
Olha se canta a cigarra
É porque a tua barriga
Dedilha como uma guitarra

E agora, desculpa-me, tenho de ir dar uma especial atenção à Isabel que resolveu vir-nos fazer uma visita!

Pf, pf

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

ISABEL VENÂNCIO

Minha Querida Amiga,

Ainda bem que não tem tempo, é bom sinal e tanto mais quanto a chamam os rigorosos, não duvido, deveres de avó!

Não pense, já agora, que por algum momento me tivesse passado pela cabeça ser, a minha amiga, amiga da onça ...

Vi as fotografias do Seu neto Miguel e as da Carla que muito gostei e que Sua irmã teve a gentileza de nos enviar.

Deixe-se, por favor, de modéstias, porque a Isabel está à altura não só dos meus posts como das respostas que, eventualmente e tirei muito gosto, entenda dar!

É muito bonito este poema de Ary dos Santos que deste modo me envia.

Tem tudo o que as palavras conjugadas na poética as sublimam em música concentrada e onde, como diz, cadência e ritmo logo nele imprimem a matriz musical.

... a tecelagem principesca de encanto ...

Minha mulher envia-Lhe um beijinho e o prazer que sente em ter-nos visitado.

Um grande beijinho para Si, para os Seus e para o Miguelito

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

ELLEN,

Só agora vi o Seu comentário editado mais atrás mas recentemente, em Entalhe, no delírio das malinhas e que, com toda a Sua discrição, me ía passando ao lado!

Lisongeia-me a Sua impressão ...

Seja bem vinda, instale-se e frua da beleza que no meu blogue encontra.

Não se acanhe também e comente, reflicta sobre o que entender ou venha a talhe de foice porque quantos mais o fizerem mais ele se enriquecerá, estou certo, mais vivo e dinâmico se tornará, colorido também.

Bem vinda seja a Sua cor ao cromatismo que ao meu blogue lhe pretendo imprimir!

Sinta-se como em Sua casa

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

CHAMADA DE ATENÇÃO

A propósito das malas:

Vão ver, já agora, ao blogue da Filomena, A minha Vida é só minha!, as raínhas das malas que Ela por lá colocou, sendo certo que tereis de andar um pouco para trás, mas elas estão lá!

Filomena, desculpe-me a minha distracção!

Um beijinho, divirtam-se

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

Deixei de fumar a 13 de Janeiro...este post...que maldade!:)Já inspirei três vezes para repor os niveis de nicotina em falta ...Só neste país é que a liberdade é tantas vezes posta em causa. A medo afirmo-me como ex-fumadora, mas continuo a achar que a lei que vos/nos impuseram é incrível!
Realmente este blog é surpreendente!Que bom ver a Isabel por aqui!
Um bj a todos,
MM

Anónimo disse...

MM

Minha Querida,

A medo!?

Fez muito bem em deixar de fumar, nem o que escrevi pretende ser um incentivo ao fumo!

Deduz isso, espero, sei bem que não ...

É bom ver a Isabel por aqui, não é!?

Venham mais cinco
Mais dez que não minto
Sinto vontade
De ter liberdade

Um beijinho para Si, venha sempre

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Fevereiro de 2009

Anónimo disse...

O medo prende-se com o facto de vir a falhar nesta minha intenção...Mas não, tenho a certeza que nos próximos 20 anos, não voltarei a fumar. Depois...nessa altura, logo se verá! Fumar sabe tão bem, mas enfim! Outros valores, mais altos, se impuseram!
Mas aprecie a sua cigarilha, caro amigo!Há momentos únicos na vida!
Vou passando.
MM

Anónimo disse...

OPÇÕES

A vida é feita de opções.

Quando opto sei que para obter aquilo porque faço a minha opção, de outras coisas tenho de prescindir.

Ao prescindir, move-me um fito, um intuito que se substitui àquilo de que prescindo porque o fito se torna mais forte e neutraliza, se sobrepõe e exerce uma atractividade maior a tudo o que no seu encalce e em seu nome, eu tenho de abdicar.

Não se pode ter tudo e mesmo que falhe nos meus propósitos ou intenções, optar já valeu a pena porque optar que implica prescindir de ou abdicar nos dá endurance e sem esse processo também não se cresce nem adquirimos mais, sempre mais maturidade.

É como a relação entre direitos e deveres:

Os direitos que tenho são indissociáveis, eles também, dos deveres que cumpro.

Eu tenho o direito a ser visitado, aqui, nesta minha casa, se em contrapartida souber cumprir o meu dever de bem receber e, por isso, der atenção a todos os que me visitam e para o fazer convenientemente, é certo, de alguma coisa também tenho de abdicar.

Mas aquilo de que abdico ... vale bem a pena!

Vale sempre a pena.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Fevereiro de 2009

Linda Simões disse...

Toc!Toc!

Posso entrar com meu café? Não fumo,mas acho cheiroso,nossa!

Não à Ditadura!

Viva a Liberdade!

Beijinhos

Jaime Latino Ferreira disse...

LINDA SIMÕES


Se pode entrar!?

Entre e ainda que dez meses depois, nunca é tarde!

Traz café, eu bebo também, bebo e acendo uma cigarrilha!

Beijinhos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Novembro de 2009