Luís Camacho, Aguarela Sem Título, 1985, fotografado e pertença de Jaime Latino Ferreira
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Que história, leitura sem título poderia eu extrair desta obra plástica que adquiri há longos anos em galeria de Cascais que hoje já não existe, A Alfarroba e de cujo autor não guardo senão vagas referências que para aqui não importará relevar?
Se, é certo, o autor a compôs com uma intencionalidade implícita ou explícita não menos certo é que quem à obra a observa dela se apropriando e neste caso no duplo sentido de dela poder usufruir e no privilégio que tive em a adquirir, a empatia que com a obra se cria é, em si mesma, recriação dela própria e que nada impede, a quem a admira, de o fazer.
Chamar-lhe-ia o terceiro sentido de uma trindade que reúne em si mesma a vontade do autor ou transmissor da mensagem artística, o que dessa vontade resultou, a obra em si mesma e que se estampa nesta ilustração e, por fim, a interpretação que o receptor, o espectador que dela usufrui lhe retira, esse tal terceiro sentido a que me refiro e sobre o qual, aqui, livremente efabulo.
É claro que se eu, como receptor privilegiado da obra lhe retiro como posso não retirar uma qualquer mensagem, interpretação, leitura ou história sempre legítima de se fazer, outro qualquer receptor, o leitor que aqui me siga, por exemplo, tem toda a liberdade de dela, da obra que a este meu texto a encima, na sua fruição, outros sentidos dela lhe extrair e desde que da obra, em si mesma e que ao autor já o espelha, não se lhe faça tábua rasa.
Há pois uma trindade sempre elevada à potência de quantos a observem inerente à criação artística aqui retratada numa pomba branca, diria, o estado de graça do artista e que quase ultrapassa os limites físicos da obra a tocar, para lá do suporte em papel ou cetim (!?), o seu invisível autor, sobre uma metade em fundo claro, luminoso em que esta se subdivide planando, talvez, sobre uma forquilha ou ancinho, arado, o aguçado olhar que à obra a revolve como terra arável, fecunda e pronta a dar-se a quem a vê ...
Da outra metade em fundo escuro, ressalta angular ou mais incisivamente sinalética a sugerir uma rúbrica, talvez um jota ( J ), um éle ( L ) e um éfe ( F ) duplamente invertidos e sobrepostos ou um sinal de igual que a Ti como num tê ( T ) igualmente invertido, ao observador, na emoção estética que desperta, o inclui revirando-o do avesso e quase o atingindo também para lá do suporte, a branco como a pomba também e cujo conjunto logo me interpelou quando a esta obra a decidi adquirir.
Aqui, nesta outra parte em fundo escuro, não há forquilhas, arados ou ancinhos, sobreleva em fundo o negro de todas as cores, a suavidade do abismo de quantos a usufruam, câmara escura de quem à obra a observa, dela se compraz e a revela como força de atracção irresistível que a capta e aprisiona no outro autor debruada a azul, o céu de cada um, uma vez mais aquele que dela usufrui, sua última razão de ser e que lhe dá uma pluralidade de sentidos, igualmente inesgotável, sem os quais a própria obra não teria razão de ser.
Em simultâneo, o autor retrata-se no acto de criar, à esquerda, pela distância panorâmica de um voo que sempre, ao acto, o caracteriza, na certeza de que este é inseparável do voo do outro autor que com ele próprio, na obra assim criada, face a face com ela se identifica nos sinais ou símbolos dados a conhecer e que aqui se descrevem e ainda que por portas e travessas, à revelia do próprio Luís Camacho ...
Sem Título é uma obra com título, o de Camacho e o meu próprio para não falar em todos os títulos que aqueles que aqui me leiam e à obra a observem a queiram deles acrescentar ou distinguir.
Poderia não haver história, uma emoção estética não racionalizável tão só, que nem por isso ou por maioria de razão, o título lhe encaixaria na perfeição ...!
Sem Título de Luís Camacho é uma obra que irresistivelmente me tocou e da qual, na legitimidade que ao outro autor sempre lhe assiste, sem hesitar, me apropriei comprando-a e dela me permitindo, embora Convosco a partilhando, usufruir em abundância!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Abril de 2010
11 comentários:
Arte, consciência e isolamento
um quadro, uma pintura, um desenho ou qualquer obra de arte tem uma leitura ou consciência,
para o autor e uma outra
para quem a observa ou possui.
O que significa que este desenho é um, para ti, mas se o seu possuidor fosse outra pessoa, já seria outro desenho.
Quem olha transforma.
E cada desenho também é qualquer coisa para si próprio ou seja as obras de arte têm consciência de si!
São versões isoladas de si.
Eu não vejo pomba nenhuma...é um ganso branco e uma armadilha, pode ser forquilha porque também magoa.
Manuela
MANUELA BAPTISTA
Só para te dizer:
Observar é já possuir e independentemente de ser ou não nossa pertença ... vantagens da obra de arte e sobretudo se quem a detém a dá a partilhar!
Ganso ... porque não!?
Ave concerteza!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Abril de 2010
PERGUNTA
Completaram-se hoje as três mil consultas ao meu perfil.
Que significado terão essas mesmas consultas em percentagem ... do PIB!?
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2010
"...a empatia que com a obra se cria é, em si mesma, recriação dela própria e que nada impede, a quem a admira, de o fazer"
É bem verdade Amigo...! (Olá Jaime..!)
Também gosto desta tela que é Sua..!
E quanto à pergunta que tão bem faz...
"Que significado terão essas mesmas consultas em percentagem ... do PIB!?"
Qual a resposta...?!
Abraços de Obrigado Jaime, por mais uma partilha..!
dulce ac
...mas achas que existe uma percentagem para estas coisas??
MB
DULCE AC
Minha Querida,
É certo que tive o previlégio de adquirir, em tempos, esta tela, mais apropriadamente pintura mas ela, como todas as obras de arte não são exclusivo de ninguém.
Por isso aqui a partilho, pese embora a qualidade fotográfica, Convosco!
Quanto à percentagem do PIB nas consultas ao meu perfil:
Então eu faço-Lhe, a Si e a todos, a pergunta e a minha Amiga recambia-ma de volta!?
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2010
MANUELA BAPTISTA
A ti também te digo que não é corial a uma pergunta me responderes com outra!
Bem vês, deste modo apenas cointribuis para aumentar o peso, a percentagem das mesmas no apuramento do Produto Interno Bruto!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2010
...não é corial? o que é isto?
o PIB é Perguntas Interpretativas Básicas?
vamos fugir daqui Dulce?!
MB
MANUELA BAPTISTA
Perguntas Interpretativas Básicas!?
Então diz-me lá e antes que com a Dulce daqui fujas:
Que relação estabelecer, então, entre essas, as tais mesmas consultas ao perfil em percentagem ... do RIP!?
RIP, leste bem, Respostas Interpretativas Básicas!
Ai, vê lá com o que é que me atiras que já ía apanhando com um responso!!!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Abril de 2010
Cada pessoa faz sua interpretação de uma obra.
E quem olha transforma,mesmo.
E cada olhar, dependendo do momento,faz sonhar ou calar,amar, sorrir ou chorar...
Eu prefiro olhar e olhar.
E sonhar.
Beijoquinhas carinhosas
LINDA SIMÕES
Sonhe, minha Querida, que o sonho conduz o Mundo!
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Maio de 2010
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