da parede da Casa do Grupo de Teatro Te-ato de Leiria, fotografias de Walter
Esta é a página setecentos deste meu blogue, todas elas feitas de originais ou, aqui e ali, em réplica a autores consagrados como neste caso, optei, de novo, por o fazer, uma vez mais inspirado pelo que se publica no blogue céus de um pássaro-folha, blogue de Walter, um meu amigo.
A Política escrita assim, com maiúscula, como recorrentemente o escrevo, é a vida num palco onde pouco importam as suas dimensões ou projecção físicas mas onde sobrelevam, de que maneira (!), aquelas da integridade, da ética e da profundidade que a esse mesmo palco o preenchem ou não.
Insubstituível Condição Maior que tem de prevalecer ao rasteiro da politiquice e ao imperativo da instantaneidade mediática!
Esta é a página setecentos deste meu blogue, todas elas feitas de originais ou, aqui e ali, em réplica a autores consagrados como neste caso, optei, de novo, por o fazer, uma vez mais inspirado pelo que se publica no blogue céus de um pássaro-folha, blogue de Walter, um meu amigo.
A Política escrita assim, com maiúscula, como recorrentemente o escrevo, é a vida num palco onde pouco importam as suas dimensões ou projecção físicas mas onde sobrelevam, de que maneira (!), aquelas da integridade, da ética e da profundidade que a esse mesmo palco o preenchem ou não.
Insubstituível Condição Maior que tem de prevalecer ao rasteiro da politiquice e ao imperativo da instantaneidade mediática!
Poema Acto III
O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma, e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com a sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a sua emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.
( Herberto Hélder, in Ofício Cantante - Poesia Completa )
O actor acende a boca. Depois os cabelos.
Finge as suas caras nas poças interiores.
O actor põe e tira a cabeça
de búfalo.
De veado.
De rinoceronte.
Põe flores nos cornos.
Ninguém ama tão desalmadamente
como o actor.
O actor acende os pés e as mãos.
Fala devagar.
Parece que se difunde aos bocados.
Bocado estrela.
Bocado janela para fora.
Outro bocado gruta para dentro.
O actor toma as coisas para deitar fogo
ao pequeno talento humano.
O actor estala como sal queimado.
O que rutila, o que arde destacadamente
na noite, é o actor, com
uma voz pura monotonamente batida
pela solidão universal.
O espantoso actor que tira e coloca
e retira
o adjectivo da coisa, a subtileza
da forma, e precipita a verdade.
De um lado extrai a maçã com sua
divagação de maçã.
Fabrica peixes mergulhados na própria
labareda de peixes.
Porque o actor está como a maçã.
O actor é um peixe.
Sorri assim o actor contra a face de Deus.
Ornamenta Deus com simplicidades silvestres.
O actor que subtrai Deus de Deus, e
dá velocidade aos lugares aéreos.
Porque o actor é uma astronave que atravessa
a distância de Deus.
Embrulha. Desvela.
O actor diz uma palavra inaudível.
Reduz a humidade e o calor da terra
à confusão dessa palavra.
Recita o livro. Amplifica o livro.
O actor acende o livro.
Levita pelos campos como a dura água do dia.
O actor é tremendo.
Ninguém ama tão rebarbativamente como o actor.
Como a unidade do actor.
O actor é um advérbio que ramificou
de um substantivo.
E o substantivo retorna e gira,
e o actor é um adjectivo.
É um nome que provém ultimamente
do Nome.
Nome que se murmura em si, e agita,
e enlouquece.
O actor é o grande Nome cheio de holofotes.
O nome que cega.
Que sangra.
Que é o sangue.
Assim o actor levanta o corpo,
enche o corpo com melodia.
Corpo que treme de melodia.
Ninguém ama tão corporalmente como o actor.
Como o corpo do actor.
Porque o talento é transformação.
O actor transforma a própria acção
da transformação.
Solidifica-se. Gaseifica-se. Complica-se.
O actor cresce no seu acto.
Faz crescer o acto.
O actor actifica-se.
É enorme o actor com a sua ossada de base,
com suas tantas janelas,
as ruas -
o actor com a sua emotiva publicidade.
Ninguém ama tão publicamente como o actor.
Como o secreto actor.
Em estado de graça. Em compacto
estado de pureza.
O actor ama em acção de estrela.
Acção de mímica.
O actor é um tenebroso recolhimento
de onde brota a pantomina.
O actor vê aparecer a manhã sobre a cama.
Vê a cobra entre as pernas.
O actor vê fulminantemente
como é puro.
Ninguém ama o teatro essencial como o actor.
Como a essência do amor do actor.
O teatro geral.
O actor em estado geral de graça.
( Herberto Hélder, in Ofício Cantante - Poesia Completa )
ACTO
O actor
é o acto que encena
que incendeia
de chamas
que tu apupas ou aclamas
O actor
é muito mais
do que a teia
em que se enreda
é veia
O actor
parecendo fingir
de fugir
não sabe ver
sem sentir
O actor
no personagem que encarna
é ele e o outro
é sarna
que o alimenta e descarna
O actor
no deus e no outro
mais é
do que ele próprio
de pé
O actor
é arte e parte e maré
que enche o palco
de fé
montanha desde o sopé
O actor
é o acto que encena
que incendeia
de chamas
que tu apupas ou aclamas
O actor
é muito mais
do que a teia
em que se enreda
é veia
O actor
parecendo fingir
de fugir
não sabe ver
sem sentir
O actor
no personagem que encarna
é ele e o outro
é sarna
que o alimenta e descarna
O actor
no deus e no outro
mais é
do que ele próprio
de pé
O actor
é arte e parte e maré
que enche o palco
de fé
montanha desde o sopé
Não consigo deixar de olhar para um poema como se este me interpelasse directa e pessoalmente e me obrigasse a reagir em toda a sua densidade e, por maioria de razão, com toda a carga sensível à flor da pele.
Acho, aliás, que é essa uma das funções magnas, Política da intermediação poética ...
E se assim é, Política o é e não adianta circunscrevê-la a uma realidade restrita!
A Política um palco e o Político um actor, autor, imprescindível agente de intermediação!
Acho, aliás, que é essa uma das funções magnas, Política da intermediação poética ...
E se assim é, Política o é e não adianta circunscrevê-la a uma realidade restrita!
A Política um palco e o Político um actor, autor, imprescindível agente de intermediação!
neste acto de despojamento o exercício, no palco do mundo, de uma superior e ainda que informal, essa sim e até ver (!?), magistratura de influência
Gould, Byrd and The Amazing Trills
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
Gould, Byrd and The Amazing Trills
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
17 comentários:
inspirador amigo
cantante Herberto
inspirado actor/autor
700 contra-pontos
cortinas de fogo
palmas da assistência!
...por enquanto, eu...
manuela
Jaime,
Seja qual seja o palco onde actue, terá sempre o meu aplauso....
Sabe porquê? porque acredito na verdade do seu olhar!
E agora arranje lá fôlego para mais setecentas páginas, pode ser? :))
Ah... os saquinhos das pipocas ficaram todos à entrada, porque é somente o som das palmas que o actor gosta de receber...
Receba também de mim, uma enorme ovação!
Walter
MANUELA BAPTISTA
Quando tu aplaudes ... sinto o pulsar do mundo!
Obrigado
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
WALTER
Meu Caro,
Se acredita no meu olhar o Seu, esse vê-se estampado nas Suas fotografias e, já agora, deixe-me uma vez mais sublinhar o critério que tem nos textos que escolhe!
Quanto ao fôlego ...
Setecentas são muitas páginas que vistas para trás podem soar a pouco mas quando prospectivadas no futuro parecem inatingíveis.
Com ou sem saquinhos de pipocas será o que Deus quiser mas agradeço-Lhe de todo o coração!
Um grande Abraço, reconhecido
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
Jaime,
Posso entrar no seu palco?
Aqui da plateia, cada vez gosto mais de o ler, porque as suas peças vêm ao encontro do mundo que o rodeia e fazem do actor-escritor que é "montanha desde o sopé".
Deliciei-me com a sua réplica.
Parabéns pelo trabalho desenvolvido até hoje com tanta dedicação.
Aplaudo de pé, sem pipocas.
Beijinhos
Branca
Ao ler "Histórias com Mar ao Fundo", aportei aqui e, ainda que numa passagem rápida, senti a melodia que ecoa, suave, nesta página 700! Voltarei, já que me inscrevi como seguidor atento e interessado, para saborear melhor cada nota já escrita e, ainda melhor, todas as partituras que se prometem!
Abraço e... parabéns por essas 700, à espera de muitas outras centenas!
BRANCAMAR
Querida Amiga,
Muito Obrigado ...!
Já foi à página anterior, à sua caixa de comentários, ver a surpresa que nela Lhe reservei?
Só para que saiba que não sou inflexível!
Um grande beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
JOAQUIM DO CARMO
Caro Amigo,
Antes de mais dou-Lhe as boas vindas e sinta-se aqui como em Sua casa!
Então chega e começa logo a exigir mais!?
Não me leve a sério porque gosto de brincar, no entanto, o legado, julgo, já não é nada mau!
Muito obrigado por esta Sua primeira observação, com um abraço
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
ACTO I
19 186 = + 82 espectadores!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Janeiro de 2011
Sim Jaime, já tinha visto a surpresa e fiquei com um smile verdadeiro de orelha a orelha.
Desculpe só agora vir agradecer, sou uma despistada, mas foi um presente que não esperava, gostei, embora até concorde um bocadinho consigo.
Um beijinho de boa noite.
Branca
BRANCAMAR
Querida Amiga,
Ainda bem que concorda ainda que num bocadinho que seja ...!
Um beijinho, boa noite e uma boa semana
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2011
"O actor
é arte e parte e maré
que enche o palco
de fé
montanha desde o sopé"
A mor o
C anta
T razendo
O utro
R emar
É.
Essência e transformação.
É palco.
Aplaudo-O aqui,
numa melodia que me fascina.
Gostei muito, mesmo muito Jaime.
Beijinhos
e um forte aplauso...:-)
dulce ac
DULCE AC
Minha Querida,
Aplaudo-A eu a Si também já que o actor, autor, sem o outro actor, autor, nada é!
Senão veja:
Que seria do meu sem o poema de Herberto Hélder!?
Beijinhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2011
Jaime
Meu amigo
Aplaudo de pé este acto, onde se festejam também os outros 699!
Porque o actor é uma pele que se veste e se despe numa outra pele quente e fervente que sente a vida não só como um palco, mas como uma sucessão de actos que o afirmam e confirmam, numa existência transformada em poema.
Líndissimo este poema, apurada escolha e especial a fonte.
Lindissima a réplica, significativa prova do quando se deixa tocar por tudo o que o cerca.
Um beijinho
MARIA JOÃO
Querida Amiga,
Ai ...!
Muito obrigado por tudo, um enorme beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2011
ACTO II
19 286 = + 100 visitantes!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Janeiro de 2011
Jaime
Meu amigo
Que este seja mais um dia de alegria, de tantos outros que lhe desejo do fundo do coração, sempre a festejar...
PARABÉNS!!!
Um beijinho
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