quinta-feira, 30 de abril de 2009

SEM PÁGINAS DE UMA ARTE

II - ESPLENDOR NA RELVA
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Splendour in the Grass Glory in the Flower
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What though the radience which was once so bright
Be now for ever taken from my sight,
Though nothing can bring back the hour
Of splendour in the grass, of glory in the flower,
We will grieve not, rather find
Strength in what remains behind;
In the primal sympathy
Which having been must ever be;
In the soothing thoughts that spring
Out of human suffering;
In the faith that looks through death
In years that bring the philosophic mind.

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William Wordsworth
-

"Esplendor na Relva" de Elia Kazan é um dos filmes mais tocantes da história do Cinema e da história da minha vida.
Deanie, interpretada por Natalie Wood, ao ser interpelada pela professora de Literatura sobre o poema "Splendour in The Grass, Glory in the Flower", parece ter dificuldade em explicá-lo e balbucia qualquer coisa como: "Os jovens olham para as coisas de uma forma idealística. Mas quando crescemos temos de esquecer os ideais da juventude e encontrar forças..." Depois não diz mais nada e foge a chorar despoletando todo um processo que a conduz à renúncia do homem que ama, o lindíssimo Warren Beatty.
Os mais belos filmes de amor, contam histórias de ideais e de renúncias e da dificuldade em concretizarmos os nossos sonhos.
Quantos de nós conhecem e testemunham o esplendor na relva e encontram forças, transportando para a frente tudo o que deixámos para trás? Compreendemos nós o poema?
Qualquer imagem deste filme é redutora. Ele tem absolutamente de ser visto no escuro e no silêncio de uma sala de cinema, num grande écran, amorosamente, esplendorosamente.
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SENSO
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É relâmpago
em pleno dia
é clarão
que entontece e dói
é vislumbre
que suspende
e grita
é luzeiro
que arde
e que destrói
é fogo
é luz
deslumbramento
brilho
que seduz
reflexo
magnificência
refulgência
fulgor
é esplendor
é amor
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http://www.youtube.com/watch?v=lspRhX5Vhhg

Qualquer celebração deve ser esplendorosa, mesmo que seja humilde como a erva. A nossa, hoje dia 30 de Abril, tem a ver com o verde relampejante do aniversário do nosso casamento.

Manuela Baptista
Estoril, 30 de Abril de 2009

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Celebrando também:
"Splendour in the Grass" de Elia Kazan
"West Side Story" de Artur Laurents; música de Leonard Bernstein
"Senso" de Luchino Visconti
"L'Amour est un oiseau rebelle" - Carmen de Bizet

terça-feira, 28 de abril de 2009

REPTO SEM PONTUAÇÃO

Parafraseando exorto
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Não tenhais medo
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Todos temos os nossos paradigmas e neles nos escudamos como referências
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Também eu tenho o Meu
-
Por os termos
impedirá
tal facto
que outros brilhem
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Só mesmo quem não confie
suficientemente
em si próprio
ou nos seus paradigmas
poderá
em rigor
impedir
no medo
que os outros brilhem
-
Ou que
no receio
se refugie em silêncios omissos
sitiantes
autofágicos
-
Se não brilharmos nem deixarmos brilhar os outros
apagar-nos-emos
dilacerados
num cinzentismo triste
demolidor
sufocante
-
Seremos esmagados pela desconfiança
matriz da Crise
-
Se brilharmos e deixarmos os outros brilharem
porém
o brilho libertar-nos-á
redentor
-
Diz a fábula
que a cobra não suportava o brilho do pirilampo
e
por isso
o comeu
-
Eu já tropecei em muitas cobras
mas não deixei de brilhar
e o meu brilho não ofusca
muito antes pelo contrário
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Nem é suposto que ofusque ninguém
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Por dever fui mais longe
e tenho o direito que tal me seja reconhecido
e sem medo
para que mais longe ainda possa
todos possamos ir
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Quem tem medo não tem o direito
como tantas vezes o faz
de obstruir o caminho dos outros
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Eu tenho o dever de ir mais longe
e não posso ser acusado nem
por tal
penalizado
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( A propósito de A Cobra e o Pirilampo, in Zimbórios de 28 de Abril de 2009 )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Abril de 2009

segunda-feira, 27 de abril de 2009

RECEITA BOA DE SAUDADE

http://www.youtube.com/watch?v=ynJsRBRRW3A
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QUASE ESTELAR

A minha casa
respira ao acordar
a terra húmida
das rosas e dos jarros
copos de leite
em outro linguajar
suave e leve que atravessou os mares
a minha casa
está onde eu estiver
pois bate as asas
e solta-se a voar
poisando em água
em musgo ou nuvem branca
silenciosa adormece
mas está desperta
protegendo os sonhos
das coisas da noite
assustadora e incerta

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http://www.youtube.com/watch?v=VAxcDqt9GqA
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Manuela Baptista
Estoril, 27 de Abril de 2009


SAUDADE

É a saudade sim
um
melting pot
que brada
com vontade
liberdade
fornada de ideais
sem ter idade
que dela faz crescer
a amizade
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http://www.youtube.com/watch?v=IOs5hfw0C2o
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( Sugestão dada por João Branco in Casa da Venância, dedicada a David Sobral na data do seu aniversário e impregnada de um sorriso do Miguelito )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Abril de 2009

domingo, 26 de abril de 2009

PULSAR

Há um pulsar que sinto em minha casa Subterrâneo a invade
Bate a asa
Discreto perscrutar
Que nela cabe
Aconchegante enlevo
Com relevo
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Há um crescente olhar que nela vaza
Derrama o que cabe sem idade
Casa
Um doce namorar
Que tão bem sabe
Da cor do verde trevo
Se me atrevo
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http://www.youtube.com/watch?v=JDzwDE3xf3k
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Abril de 2009


sábado, 25 de abril de 2009

DEMOCRACIA

Se não fosse o 25 de Abril de 1974 e a progressiva estabilização e institucionalização da Democracia Representativa e do Estado de Direito pergunto-me, que seria deste mundo em que circulo e publico este blogue?
Já para não falar da internáutica em sentido lato, que seria da blogosfera?
Desta profusíssima teia de jornais particulares, pessoais as mais das vezes, onde tudo se diz, onde se estampa essa ânsia de comunicar, quantas vezes sem que os próprios se dêem conta da responsabilidade, isto é, da consciência política, pública que tal acarreta e onde, virtualmente que seja, a liberdade se expande e sem limites que possam ser verdadeiramente perceptíveis, calculados ou mensuráveis?
Dir-se-á que estamos na esfera do virtual, mas tem ou não, esta realidade, projecção ou impacto na que o não é?
É ou não a palavra, em si mesma e já de si, uma virtualidade?
E que impacto não tem ela tido e sempre, desde os confins da História?
Dispersas as individualidades nesta profusão de blogues que eventualmente poderão como não, ser trazidos à tona, ao destaque, à ribalta, adquirem ou não e em potência, os seus autores, acrescida voz e logo pela democratização no acesso às ferramentas que lhes permitem amplificar a palavra escrita?
E desde quando é que, num regime fechado, autoritário, ditatorial como o era o que precedeu o 25 de Abril, estes instrumentos poderiam estar como o estão hoje, ao livre dispor e arbítrio do cidadão comum?
Adquiriu ou não este, o cidadão comum, anónimo, desconhecido maior peso relativo?
E no quadro do exercício multifacetado da cidadania?
Da autoridade política que, eventualmente e em potência, o cidadão possa adquirir?
Finalmente:
A autoridade, a importância da voz que por escrito comunica e se regista, perpetuando-se como a blogosfera o permite fazer, é intrínseca ao que é escrito, está lá ou não, para o pior como para o melhor e reflecte o autor que a escreve.
Assim sendo perguntar-se-á, num contexto democrático como aquele que o 25 de Abril permitiu fazer desabrochar, até onde e quão longe poderá ir e por seus dedos (!) o cidadão comum?
A Democracia que implica o uso dessa virtualidade maior que é a palavra, não é propriedade de ninguém.
Não é cabide que se possa fechar à chave em armário, antes é chave do progresso e é também o direito inalienável que tenho em ver, por quem de direito, serem respondidas, entre muitas outras (!), estas minhas doze perguntas.
Pela minha parte, prefiro antes dizer e escrever que sou, eu próprio, por opção e isso sim (!), refém da Democracia.

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Fechada à chave
Traça que traça
Não é livre como ave
Solta não passa
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 25 de Abril de 2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

PRÉ-DEMOCRACIA

Há muitos anos já, ainda antes do 25 de Abril de 1974, simpatizante que era de uma certa extrema-esquerda, imagine-se (!), percorria-a, no entanto, a preocupação em saber, na linguagem codificada que a caracterizava recheada de jargões, hoje, dificilmente compreensíveis, a preocupação, escrevia, eu pelo menos tinha-a (!), em saber como chegar às massas, iguais jargões estes que mais não manifestavam do que a vontade de querer saber como chegar, tocar o Povo nas suas preocupações e mobilizá-Lo a nosso, seu favor.
Corriam então rios de tinta sobre a matéria e essa preocupação, deontológica afinal, faça-se justiça (!), foi alvo das mais acesas polémicas e fracturas que a esse espectro político o ajudaram a estiolar-se numa miríade de organizações que entretanto e com o passar dos anos ou se extinguiram, ou evoluiram, ou se radicalizaram tanto que se acabaram por clandestinizar em perigosas derivas que ainda hoje envenenam mas interpelam, por mais irrazoáveis e condenáveis que sejam, o próprio sistema.
No entanto, a pergunta inicial, reformulada, fazia todo o sentido:
Sem abdicar de mim próprio nem dos meus objectivos, como seria então possível tocar o Povo a partir das suas angústias e preocupações, sem cair na demagogia, e mobilizá-lo em catarse susceptível de criar novos e regeneradores impulsos catalisadores!?
Assim reformularia eu a questão que então se fechava em corredores estreitos de reflexão, capelinhas, a mais das vezes prenhes de profundos facciosismos, encerradas que estavam em linguagens herméticas que apenas a todos desmobilizavam, ao Povo que nem delas se chegava a interessar e às supostas vanguardas que paulatinamente iam constatando o crescente isolamento a que se remetiam, cada vez mais reduzidas a seitas intolerantes, se é que alguma vez o tinham deixado de ser.
O tempo e as águas correram, entretanto, por de baixo das pontes e surpreenderam-nos a todos e em primeiro lugar às Elites que resistiram à voragem cada vez mais acelerada da História e que das nossas angústias, afinal, a custo e com que custos mal se compadece ...!
Umas, fechadas na hermética do discurso religioso, as elites políticas, balcanizadas (!), outras refugiadas nos pedestais das suas artes, pensamentos filosóficos, sociológicos, antropológicos ou psicológicos, outras ainda, na escolástica cada vez mais incompreensível, imprevisível e falível da economia, da jurisprudência e do próprio conhecimento científico que se acumula em progressão crescente e dificilmente assimilável, atempadamente (!), nas respostas que de súbito são pedidas com urgência para atalhar as crises e a maior, a das alterações climáticas, a Ecológica que percute no subconsciente e exorta ao entendimento, à conjugação transversal dos saberes nas pontes que consigam estabelecer entre si e na humildade de considerar, afinal, os limites que de per si, isolados, aos saberes específicos os toldam e tanto mais quanto de costas voltadas, uns por todos os outros omitidos!
Como mobilizar então o Povo, permanece a pergunta (!?), para os imensos desafios, inadiáveis desafios que nos interpelam aqui e agora, hoje!?
Antes de mais, respondo, seduzindo as Elites e seduzi-las não é ter um discurso fechado mas aberto e sublimado em linguagem comum, poética (!), e na busca dos mínimos, repito, dos mínimos denominadores que a Elas as não excluam e Lhes sejam comuns!
Extremando, exemplifico:
Se eu me puser com um discurso piedoso, isto é, para os crentes, na tentativa vã de lhes alimentar a Fé, porque o jargão da fé, ele também, tende a ser, quando percutido à exaustão e para dentro, no círculo dos seus eleitos, cada vez mais pobre logo pelo ruído repetitivo que o vai tornando, na invocação em vão (!), monocórdico, despido de harmónicos e cada vez mais hermético, as simples leis da acústica o sabem comprovar (!), e do qual, ao contrário do pretendido, irremediavelmente acabo por afastar os próprios crentes e antagonizando quem com ele, logo à partida, não se identifica.
Logo também, em todas as áreas do saber se pode dizer o mesmo, fechamento ou abertura!?
Facciosismo pré-democrático ou democracia plena!?
No entendimento que permita fazer face ao inadiável e que a minha Obra potencia na racionalidade e na equidistância que dela se projecta e sem abdicar de mim mesmo ou das minhas convicções, sedutora que possa ser das Elites que o é
e como logo transparece deste blogue e das minhas incursões entrelaçadas pela blogosfera.
Quanto mais se a ela, à minha Obra, a considerarmos no seu já vastíssimo conjunto e que se vai perdendo no tempo ...!
Seduzam-se pois as Elites na identificação com o Povo, isto é, com o singular que não escamoteio e que se é par, ímpar o é ...!
De que estais à espera!?
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Abril de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

SEM PÁGINAS DE UMA ARTE


I - A Idade da Inocência

Quando a Música era a Palavra, eu ainda não tinha nascido.
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Nos anos cinquenta e longe de Lisboa, as crianças acompanhavam os pais nas suas idas ao cinema. Os mais pequenos dormiam e os mais crescidos divertiam-se à grande vendo filmes que não eram para sua idade. Claro que nesse tempo meio cinzento, onde os fiscais eram nossos vizinhos, os filmes eram inocentes e as pessoas deveriam ser felizes.
Eu pertencia à categoria dos que dormiam, mas estou certa que mesmo nesse estado de inconsciência, ouvia os sons, as palavras e a música.
E depois veio o cinema Tivoli do Arquitecto Raul Lino, o Ódeon, onde ainda hoje parece trinar o "Joselito o pequeno tudo", o Monumental onde assisti à estreia de "Lawrence da Arábia" na 1ª fila e pensei que morria com tanta areia, o S. Jorge e todos os que me apareciam pela frente e onde existisse um écran.
O primeiro filme de que tenho memória, está intimamente ligado a um senhor simpático que antes do filme grande, nos mostrava desenhos animados e a forma como eram feitos. O príncipe por quem me apaixonei era filho dele.
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Os Verões da infância eram eternos e na Parede, para onde mais tarde nos mudámos, tínhamos duas salas de cinema o "Royal Cine" e o "Parque Oceano", este ao ar livre e que funcionava apenas à noite.
Era bom ver filmes com um tecto de estrelas, das verdadeiras, das que não dão autógrafos, era bom e mágico ver e rever os mesmos filmes todos os anos, como se viam e reviam os amigos que vinham para a praia.
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Na Parede existia (e existe ainda) o "Café Limo Verde" um nome apropriado para uma praia sempre cheia de limos, daqueles que as pessoas diziam fazer bem à saúde antes de, no final de Agosto, começarem a cheirar mal!
No terraço do último andar do edifício deste café, havia uma esplanada onde se podia dançar ao som de uma Jukebox. Era só juntar moedas e podíamos dançar a noite toda...
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Nesse tempo e ainda hoje assim a considero, a Maria Celeste era a minha maior amiga e com o seu nome celeste acompanhava-me nessa paixão hollywoodesca de histórias e faz de conta. Planeámos, um pouco mal é certo, uma fuga para a América.
No entanto a nave espacial que nos vinha buscar, nunca apareceu...



Manuela Baptista
Estoril, 21 de Abril de 2009

sábado, 18 de abril de 2009

BALANÇO


Aproxima-se a centésima página de um blogue que me foi oferecido no passado dia 2 de Janeiro.
Está, talvez por isso, na altura de um pequeno balanço:
Julgo poder dizer com todo o à vontade que a produção tem sido intensa;
Julgo que também será inquestionável que esta metodologia que a blogosfera faculta, me forneceu instrumentos que me permitem entre cruzar imagem com música e o texto, devidamente formatado, e assim poder dar asas ao discurso transversal que os integra numa dinâmica que, até aqui, não tinha estado ao meu alcance nem tinha sido, por mim, devidamente potenciada;
Julgo, finalmente, que a transparência com que tudo aqui decorre e que logo se revê no interior da caixa de reflexões onde nada me impede, antes pelo contrário, de interagir ou ter as devidas atenções com quem nela me escreve, amplifica ainda mais tudo o que foi dito antes e em relevo multiplicador.
Tenho um critério e um fito que não se alteraram e dos quais não me pretendo desviar desde que assumi este encargo por via do meu blogue.
Vou, no entanto, fazer uma pausa e deixar espaço a que aqui me deixem as Vossas sugestões ou ideias que permitam também melhor me poder sintonizar com os meus destinatários.
Tenho para mim que sendo público tudo o que aqui se passa acresce a responsabilidade que me traz até Vós nesta minha tribuna e que, portanto, também tenho por obrigação dar-Vos a palavra para que melhor também possa chegar até Vós.
Dou-Vos a palavra, escuto agora e pausadamente o correio que me enviem.
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http://www.youtube.com/watch?v=waqgl1rq6Mw
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Abril de 2009

HUMILITY

Do blogue Sete Mares do meu Amigo Jorge Castro, retirei o que se segue:
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Susan Boyle (ver vídeo aqui)
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HUMILITY

I'm a river

Cry on me

Not ashamed am I to be

As a tiger to be free

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Jaime Latino Ferreira

Estoril, 18 de Abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

A LIÇÃO DE MÚSICA ( III )

Sente, sente as palavras como música e derrama-as até ao choro!
Viste, estou certo, e percebeste com atenção o apontamento da primeira lição em que Bernstein compara a IV Sinfonia de Tchaikowsky, o tema que dela ilustra como se fosse uma birra ou afinação, de afinar como tantas vezes as crianças ou os mais velhos o fazem quando picados, persistindo num querer obstinado que de tanto e tanto ser teimosamente desejado acaba por implodir em choro intenso?

eu quero, eu quero, eu quero tanto
que me rasgo neste pranto

Pois bem, a música que das palavras jorra pode transformar-se em afinação sublime, de tanto sabermos dela nos apropriar, saborear e mais do que isso, sentir!
Aqui, o aprendiz de feiticeiro diria que sentimento não é tudo, criatividade também o não é e que sem técnica não se irá a lado nenhum e há mesmo os mais refinados que chegam a tentar medir as percentagens de ambas no composto que é o resultado final que resulta em Arte, sabotando, de certa forma, a reflexão sobre o assunto ...
Tranquiliza-te pois sinto-me completamente à vontade para sobre ele discorrer!
Primeiro tens que sentir, percepcionar, teres o feeling de que é por aí, por esse caminho que queres ir e que, eventualmente, desembocará em Música;
Depois tens de aturadamente treinar a técnica que a ela te conduzirá e sempre sem deixares de sentir;
E, finalmente, de tanto persistires como eu o faço, é só seguires-me o percurso (!), encontrarás e por Ventura o teu que em Música se converterá.
Música com maiúscula;
Música que é tudo e desde que seja feito com Arte e sem ofensa;
Música que é a Palavra, a palavra enquanto o simbólico e o literal, princípio e fim de tudo o mais.

E quando aí chegares, à Palavra, que é ela própria e o seu contraditório todo, a História e a Humanidade, então estarás já a meio caminho e como se num espectro intermédio, aroma a rosas ou limbo entre a Mãe Terra e o Céu.

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Às Rosas do meu Jardim

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http://www.youtube.com/watch?v=sHz3GYqJIPA

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( clique na janela do youtube à direita onde diz: here are the lyrics )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Abril de 2009

A LIÇÃO DE MÚSICA ( II )


DE COMO AS POMBAS QUE AMAM OS ROUXINOIS OS TRANSFORMAM E A ELAS EM PRÍNCIPES E PRINCESAS QUE SÃO POETAS

Mastiga, mastiga o teu canto rouxinol, disse-lhe a pomba, que o canto em palavra se transformará e esta, continuando a ser mastigada, sílaba a sílaba e por inteiro e a frase toda e todo o texto, forçada, sincopada, pausadamente e em staccato, como se diz em linguagem musical, saborosamente e afinando a sua dicção, iluminar-se-á até à claridade das jóias, safiras por exemplo, que poderemos, tu e eu, distribuir como olhos que iluminem o coração de todos os poetas que todos, uns mais e outros menos o somos.
Com elas, respondeu-lhe então e afirmativo o rouxinol, poderemos aquecer os corações enregelados, empedernidos alguns e ajudar a que desabrochem em cor irradiante que acordem as almas adormecidas, anestesiadas daqueles que os há por aí e que são muitos.
Não vêem, disseram ambos em coro, a nossa querida Amiga, a cotovia!?
Como ela se extasia e chora de emoção e a nós nos emudece deixando-nos sem palavras e no silêncio cúmplice de um canto que grita e volta a gritar, eu quero, eu quero, eu quero mais até chorar!?
Mais música, mais diálogo, mais palavra e humanidade!?
Transfigurados, pomba e rouxinol, andorinha ou cuco e cotovia, tão claros como nomes bonitos, transformaram-se então em princesas e príncipes e dando-se as mãos, voaram até à Lua Cheia, iluminada de um imenso brilho que se derrama abundante e como lágrimas de prata no mar.
E assim foram felizes para sempre!
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( Em homenagem ao conto O Príncipe Feliz de Oscar Wilde e às pombas e rouxinois da Filomena Claro )
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http://www.youtube.com/watch?v=HpzCyNH8wcc
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2009

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A LIÇÃO DE MÚSICA

Lê este texto em voz alta e em diferentes intensidades
Varia também a velocidade em que o lês
Baixo
Forte
Calmo
Rápido
Vence
Por isso
Essa timidez que te acanha e que te constrange a tomar posse do que aqui está e a extroverteres-te
Afirmando que és capaz
Lê-o como se tivesse sido escrito por ti e coloca-lhe a pontuação que entenderes
Dá-lhe também a entoação que quiseres
Integra-o ao sabor dos teus humores e de preferência experimenta voltar a lê-lo já com um humor diferente e sempre em voz alta
Tenta abstrair-te da forma em que está escrito e não te deixes condicionar pela sugestão de se tratar ou não de um poema
Sem alterares o texto
As palavras que se encontram escritas
A não ser nos pormenores do género fazendo-o
Se quiseres
Coincidir contigo próprio
Com aquele que consideras ser o teu género
Ou aquele em que te queres meter
Dramatizando
Pinta-o tu
Interpreta-o
É fundamental que o interpretes
Faz como o músico que tendo de respeitar o que está escrito na pauta
No entanto a instila da sua própria anima não deixando de descurar a técnica
Melhor
Tendo
Por isso
De apurar a técnica
Portanto
Lê-o até sair fluido e sem hesitações
Sem fífias ou desafinações como se diz em linguagem musical
Repete as partes onde as dás até se desvanecerem
Não o texto integral mas apenas essas partes e cola-as bem coladas
Ligando-as
Ao texto
Numa unidade coerente
Pontua o que lês com pausas o que te obriga
Uma vez mais
Ao estudo interpretativo que a elas as permitas fazer com toda a oportunidade
É a própria interpretação
Ela também
Que te irá fornecer a cor adicional àquilo que lês
Quebrando
Desse modo
O monocórdico de um monólogo feito de muita tecnicidade mas sem nenhuma veia
Repete e volta a repetir até o texto sair como se fosse teu
E como se o tivesses de dizer
Com toda a naturalidade e convicção
A uma imensa assembleia
Fixa
Para tal
Um ponto abstracto e tão distante quanto o possível
Cerebral e profundo
No teu interior
Pois que não há maior distância do que essa
Para que

Assim
Consigas projectar a tua voz em direcção a ele e logo a toda a assembleia
Tenta distanciar-te de ti próprio e ouve-te a ti mesmo
Como se não fosses tu que falasses mas um teu eu intermédio entre ti e o público
Entre ti e o texto também
Distancia-te mais ainda
Como se te visses
Com espírito crítico
Ao espelho
No espelho do público e no espelho do texto
E se quiseres
Para te ajudar e se assim te sentires mais à vontade no exercício que te proponho
Então
Ao leres
Apoia-te em música de fundo do teu gosto ou selecciona-a dos anexos deste blogue
Fazendo
No entanto
Sobressair a tu voz a tudo o resto
Ouve
Finalmente
Se gostas do que lês
Se não gostares do resultado final
Se calhar
É porque o texto não te merece
Se gostares
É porque a lição de música chegou ao fim
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

E AINDA

Há pessoas mais pequeninas do que um passarinho

Mal chegam a levantar voo e quando o ousam fazer
voam rasteiro e pelo seguro
saltitam de galho em galho ufanas
e julgando trazerem o rei na barriga

Opinam sem galhardia mas no auto-convencimento da sua suposta sapiência

Ficam a ouvir-se ressoar egocêntricas
julgando que abalam céus e terra

Essas pessoas
passarinhos enjaulados
adorariam que todos os outros pássaros
como elas
vivessem enclausurados em gaiolas que
como as delas
julgam ser douradas

Pois se vivem aprisionadas
porque é que todas as outras o não hão-de estar também

E veja-se
acham sempre que têm a última palavra

Escudadas nos trinares truncados que citam a torto e a direito
essas pessoas
pássaros de capoeira
para mais
arvoram-se em avaliadoras

A um seu grasnar
e logo se é ou não aceite

Vã glória

Mal sabem elas que há muito
há muito já
que julgando que por se escudarem num silêncio omisso ganhariam folga
a perderam
e mais ainda quando abrem o bico
e que outros
outras Pessoas ou pássaros ousados em seus voos
de há muito as avaliam já e sem agravo

Sem que essas pessoinhas possam
tão pouco
dar o não dito pelo dito

Não se tivessem calado
e tido a ousadia de voar
-
http://www.youtube.com/watch?v=Tdo8Ai9THGA
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 15 de Abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

O VOO DA COTOVIA

Voa a cotovia
ia
via

Ria que tudo era
mais que fantasia

Subiu aos céus
e fez-se companhia
dos deuses que não queria

pela magia
-
http://www.youtube.com/watch?v=wbcuteYm-EA
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Abril de 2009

segunda-feira, 13 de abril de 2009

SINAIS DE ENCONTRO

-
1. A recente homilia do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, proferida na Sé Catedral de Lisboa a 11 de Abril, na vigília pascal, é sintomática de uma inflexão expressa e institucional de atitude que vai no sentido do estabelecimento de pontes entre o factual, a Vida e a Fé ou, se quisermos, entre os caminhos da ciência e os da religião que muito me apraz registar;

2. Os textos, os Textos Sagrados não são para serem interpretados à letra numa visão redutora e constrangedoramente maniqueísta assim como, a interpretação científica essa, também não é um dogma insusceptível de vir a ser questionado no tempo pelos próprios factos que são, eles próprios, o traço distintivo e fundamento da experimentação que logo questiona o que antes era tido como certo e inabalável;

3. Nela, na Sua homilia, o Cardeal Patriarca de Lisboa, ironica mas profunda e oportunamente a par com os tempos e os seus sinais, celebra os cento e cinquenta anos da Teoria da Evolução das Espécies de Darwin e reflecte sobre os possíveis encontros entre a herança científica por um lado e a riquíssima simbologia que a liturgia da Palavra encerra, princípio e fim, como escreve, de todas as coisas e desde que não reduzida e mutilada dos seus múltiplos sentidos, da sua simbólica que, logo por isso, a eterniza no tempo;

4. É chegado o tempo do diálogo, não apenas inter-religioso mas inter-profi/essional, daquilo que se professa (!), entre os que crêem, os que não se pronunciam e os que não crêem de todo, entre a ciência e a religião também, uma vez que persistir no aprofundar de fracturas apenas satisfaz os facciosos e extremistas de todos os matizes, todos os fundamentalismos religiosos ou pseudo-científicos alimentando-os no alibi, que sempre lhes é favorável (!), dos choques de culturas ou de religiões, por vezes apenas de supostos temas fracturantes e inultrapassáveis que sempre se dispõem a cavar;

5. Aproveito, já agora, para sublinhar um ponto que me é particularmente querido na gestão dos saberes e sem o qual, na omissão da sua soberania se esfumarão as pontes conducentes ao aprofundar desse mesmo diálogo:
Deixai-me, antes de mais, dizer que símbolo é, entre outras coisas, um elemento descritivo ou narrativo ao qual se pode atribuir mais de um significado, do qual se pode fazer mais de uma leitura (... in Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa ).
A simbologia é a ferramenta e o critério aferidor da Arte que se eterniza, exactamente, por subsistir à prova implacável do tempo tornando-se perene ao nela se fazer ver não apenas o que no momento parece mas o que dela se desvenda e emerge numa intemporalidade sem limites.
A Bíblia e para lá de tudo o resto, também é uma Obra de Arte, um texto literário que se eterniza no tempo e mantendo toda a sua actualidade alegórica e metafórica porque sempre susceptível de reinterpretação, de actualização no espaço como no tempo.
Se o não fosse, se não fosse uma Obra de Arte, não teria subsistido!
E à Arte, independentemente da espuma dos dias que faz, quantas vezes, indignar os puritanos de todos os matizes, nas pedradas no charco que quantas vezes encarna e simboliza, como lugar sublime de encontro que é e logo porque também não há encontro sem interpelação ou choque emocional, de criadora de pontes que também é, é urgente, imperioso, que a ela também lhe seja reconhecido o seu devido lugar soberano e inclusivé no interior da própria Igreja que de patrona, quantas vezes dela e da Cultura se tornou ausente e carente, fechada e triste, paupérrima.
Ausente dela, da Arte da criação!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Abril de 2009

domingo, 12 de abril de 2009

HÁ PESSOAS


A arte não é um passatempo mas sim um sacerdócio
( autor não identificado)
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Há pessoas para quem o importante são as coisas muito importantes que têm que fazer e como as coisas muito importantes que têm para fazer se sucedem umas atrás das outras numa hierarquia rígida de prioridades que elas próprias estabelecem, acabam por não ter tempo para oferecer qualquer tipo de disponibilidade para estar, para estar, pura e simplesmente, com os Outros.
Agora não tenho tempo, dou-lhe só tempo para duas palavrinhas que estou com pressa, se quiser marque um encontro que ele será devidamente agendado lá para as calendas, oportunamente responderei ao seu convite ...!
Para essas pessoas, tudo se encaixa nessa hierarquia de prioridades e o encontro com os Outros, com as outras Pessoas, ele próprio se estabelece em função do que de muito importante elas têm ou julgam ter para fazer.
Em rigor, para essas pessoas os Outros só contam em função do que de muito importante elas estabeleceram como prioritário!
Não são os Outros que têm prioridade antes as coisas que estabeleceram ser prioritárias!
Assim, essas pessoas vivem sós e mesmo se têm por obrigação estar, isto é, atender à comunidade que não é uma abstracção antes uma entidade feita de Pessoas, dos Outros, indivíduos singulares a quem lhes cumpre, em tese e por hipótese, atender, pastorear, servir.
Há pessoas que vivem num permanente sufoco consigo próprias e que é de tal maneira grande que não lhes sobra tempo para mais nada!
Essas pessoas, se as conheço bem demais, porém, são desconhecidas dos Outros que nelas, nessas pessoas também se acabam por não reconhecer nem rever e por muitas palavras bonitas que eventualmente, apenas eventualmente (!), possam dizer.
Há pessoas ...
Há pessoas assim!
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Abril de 2009

RENASCIMENTO

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Durante a vida
singular e colectiva e num processo descontínuo
somos
com maior ou menor intensidade
e cada vez mais ( + )
levados aos abismos ou elevados às alturas
na metáfora da ressurreição
da transfiguração também
mas num dinâmico e interactivo percurso
do qual um quase imperceptível fio condutor pode emergir
e que
para quem saiba ler os sinais dos tempos na sua profunda complexidade
saberá ver
quanto renascimento já foi
até hoje
e ainda que fragilmente
adquirido
e quanto
se morre e volta a nascer vida fora
assim se possa e queira
em Liberdade
longe dos constrangimentos de um ímpio não
agir
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Façamos desse condoído e desmobilizador vale de lágrimas
em que maníaco-depressivamente
tendemos em nos atolar
alguma coisa de melhor
que logo começa numa atitude que
libertadora
artística se projecta
e ao seu apelo
nos convoca
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Abril de 2009

sábado, 11 de abril de 2009

INTERMEZZO

Intervalo
Pausa
Ponto morto
Respiração
Suspiro
Meditação
Expectativa
Fôlego
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Oh que fôlego que me dais
Ao olhar para tudo e mais
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 11 de Abril de 2009

sexta-feira, 10 de abril de 2009

CRUZ

http://www.youtube.com/watch?v=oUoTTgmQG4Q
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Silhueta intermédia
Despojada
Humana idade
Amada
Pontos cardeais
Cidade
Menos
Mais
Potenciação
Das numerações
Inclusão
Geometria
Diáspora

Voo
E mais
E
+
http://www.youtube.com/watch?v=tuevG8Tgtcs
( Prostramo-nos emocionados )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Abril de 2009

quinta-feira, 9 de abril de 2009

SINFONIA


Canto
Estóico
Manto
Heróico
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( 1º e 2º Andamentos da Heróica de Beethoven )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 9 de Abril de 2009

quarta-feira, 8 de abril de 2009

OUVIR




A harmonia instala
É prólogo
O que na música fundo cala
( 1º e 2º andamentos )
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Abril de 2009