Numa altura em que nos espaços geográficos em que prevalece a Democracia, como o sejam a Europa, e quando neles, por força das circunstâncias, se cortam a eito direitos que se tinham por adquiridos, torna-se legítimo perguntar quando e se, esses cortes, algum dia virão a atingir as liberdades fundamentais até porque, neles mesmos, indirectamente que o seja e quer se queira quer não, no exercício destas últimas entroncam e se reflectem.
Não estejam garantidas as condições de disponibilidade material que ao exercício das liberdades conduz e a que é que, na prática, estas se acabam por reduzir ou circunscrever ...!?
Quem, na desigualdade crescente que por via desses mesmos cortes se acentua, acabará por estar em condições, na asfixia crescente que aos cidadãos é imposta, de às liberdades, sem medo, as usufruir e exercer!?
Reforçar-se-á ou não, neste contexto, a convicção ou a percepção cada vez mais generalizadas de existirem cidadãos de primeira e outros de segunda!?
E que Democracia tenderá a ser essa, cada vez mais reduzida aos seus contornos formais, senão uma espécie de totalitarismo envergonhado ou apenas democracias mitigadas legitimadas, é certo, pelo exercício do sufrágio universal, fundamental mas o que é pouco, muito pouco, na substância que se tende a esvair pela impossibilidade física, material, que aos cidadãos os levará a absterem-se do exercício efectivo da própria cidadania e que neste, no sufrágio não se esgota!?
As fronteiras entre Democracia e totalitarismo são, sempre foram frágeis e muito ténues e nos tempos que passam, estas minhas interrogações assumem particular relevância, acutilância maior ...
... e tanto maior quanto o poder político estiver cada vez mais distante do cidadão concreto e comum!
Do cidadão comum, repito!
Como se este lhe fosse indiferente nos jogos de bastidores que sempre aos mesmos grupos os tendem a perpetuar e reproduzir no seu exercício e nos jogos palacianos que ao cidadão comum, anónimo, desprovido de exércitos ou tropas de choque, de capacidade de pressão, permanentemente o esquecem ou tanto o parecem omitir ...!
A fronteira entre uma coisa e a outra, entre Democracia e totalitarismo de tão frágil e subtil que é, quase que não se dá por ela e mais ainda quanto a situação verdadeiramente o exigiria que clarificasse, no draconiano das medidas que a todos, implacáveis, nos obrigam e tendem a subjugar ...!
Quem não é capaz de ver isto tem muito pouca cabeça ...
Cabeça ... falta cabeça a quem a não tem!
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desafiando a Democracia a mostrar não apenas a sua quantitativa mas a sua qualitativa diferença, qualidade superior, perante os constrangimentos em que há tantos anos vivo mas diante dos quais não deixo, por isso, de exercer integralmente a cidadania e o direito à indignação de que eu, como todos, somos usufrutuários herdeiros e portadores
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Novembro de 2010
2 comentários:
Jaime
Meu amigo
É nessa democracia que nos vemos, libertos em sufrágio, mas aprisionados à incapacidade crescente de materializarmos, afinal o que supostamente somos no transbordar mais fluído para além do pensamento.
Nunca uma laranja espremida, dará mais qualquer gota de frutuoso sumo, por muito que se comprima a si própria.
Somos uma espécie de corredores de fundo a quem se lhes ataram os pés, para ficarem parados.
Sim... a barreira é demasiado ténue para, sequer, nos apercebermos dela, antes que o totalitarismo nos engula.
Um enorme abraço
MARIA JOÃO
Minha Querida,
Com que então a pôr a escrita em dia ...!
Corredor de fundo sim mas não me sinto de pés atados nem engolido pelo totalitarismo!
Um beijinho
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 8 de Novembro de 2010
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