quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

AUTOCENSURA

Que eu não tenha, jamais, que utilizar a censura, o mesmo é dizer, que autocensurar-me!
Há por aí muito puritano, com a boca cheia de tudo e as mãos, esquerda ou direita, vazias de nada.
Supostamente impolutos, julgam-se esses puritanos os detentores da verdade situados num canto do espectro político sem que se dêem conta de que, por aí se situarem, logo por definição, se encontram toldados de imensa parcialidade.
Assim, situando-se na extrema esquerda parlamentar, àqueles que colocados à sua direita os julgam, logo por aí se situarem, carregados de um estigma condenatório e censurante.
Ou então, colocando-se na extrema direita, àqueles que situados à sua esquerda parlamentar os pretendem, logo por aí se colocarem, detentores de igual estigma em si mesmo censurável.
Em ambos os casos, quer uns como os outros enfermam da intolerância típica de quem ainda mal se habituou à convivência democrática e julgando aos seus antípodas apontar a dedo como se estes fossem os maus da fita, o que fazem, na prática, é autocensurarem-se.
Mas o mais grave é que estes extremos contaminam todo o espectro, da esquerda à direita ou da direita à esquerda, da intolerância típica e moralista de quem ainda não foi capaz de superar, de resolver as lições da História ...!
Como se a afirmação de uns se tivesse de fazer, obrigatoriamente, pela negação dos outros!
Assim, saídos, historicamente, de uma ditadura de direita, esta, a direita vê-se, ad eternum, subliminarmente condenada a carregar um pesado fardo estigmatizante.
Ou então, saídos, historicamente, de uma ditadura de esquerda, esta, a esquerda vê-se, ad eternum, subliminarmente condenada a carregar um não menos pesado fardo estigmatizante.
Em particular a Europa, centro deflagrador das duas guerras mundiais ou das duas guerras civis e globais e ela mesma vítima quer dos extremismos de esquerda como dos de direita vê-se, deste modo, condenada a carregar sem as conseguir sarar, as feridas da História, entalada entre uma religião de esquerda e outra de direita incapazes, pela autocensura exercida em permanência, de as cicatrizar, contaminando pela agressividade sempre latente, na preponderância da intolerância recíproca, a paz indispensável sem a qual essa mesma Europa não se conseguirá fazer erguer como um todo.
E, mais grave ainda, nesta postura de uma censura, autocensura latente, subliminar, contagiando sem se dar conta o Mundo inteiro quando, mais do que nunca, perante a globalização imparável, na obcessão pela economia e esquecendo-nos sempre dos crescentes desequilíbrios ambientais (!), importaria unir todos os esforços ...!
Alguma vez eu, dextro que o sou embora ambidextro de atitude, poderia dispensar a minha lateralidade esquerda?
Alguma vez um esquerdino poderia dispensar a sua lateralidade direita?
Mas não, numa cegueira infantil e constrangedora, direita e esquerda, esquerda e direita censuram-se obstinadamente, como se a sua afirmação passasse por jogadas tácticas oportunisticas que mais não conduzem do que à sua própria, de ambas (!), auto-mutilação!
E não adianta, tão pouco, pasme-se (!), que, simbolicamente, o Parlamento Europeu se desenhe, arquitectonicamente, insinuando-se, sugerindo-se como um círculo completo e já sem extremos ...

Acusam-se, uns e os outros, de liberais ou de estatistas como se fossem, uma ou outra das coisas autênticas heresias incapazes de entre si poderem conviver e inquinando toda a possibilidade de um sério debate e de eventuais entendimentos que permitissem um denominador mínimo e consensual!
Tal qual como as diatribes doutrinais cristãs e já milenares, quem sabe se não reflexo distante disso mesmo, quanto a saber-se se é pela esquerda ou pela direita que se deve fazer o sinal da cruz, esquecendo-nos sempre que esquerda ou direita dependem da posição em que às lateralidades as observemos incapazes, unilaterais, de nos colocarmos na posição do Outro!!!
Quando será que, tiradas as lições da História que urge resolver, todos, nas suas diferenças que importa salvaguardar e que deveriam ir muito para além de questiúnculas laterais que vão permitindo alimentar facções quasi guerreiras, estas se transformarão em verdadeiros partidos que mais do que se autocensurarem reciprocamente concorram, acima de tudo, para o bem que é comum!?
Quando será que de um armistício de facto, se passará, de jure, a uma verdadeira Paz?
Quando!?
O tempo urge e o Mundo não espera!


quando a censura se revela como verdadeira autocensura


Bach, Suite nº3


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2011

11 comentários:

Mª João C.Martins disse...

Jaime

"Como se a afirmação de uns se tivesse de fazer, obrigatoriamente, pela negação dos outros! "

Voilá!

Tão bem pensado e tão bem escrito. Há por aí tanta gente a ver-se apenas pena metade...

Um beijinho

manuela baptista disse...

eu trouxe uns parafusos
do teu avô

e lá me abalancei a comentar o incomentável

pois está bem sim senhor!

não tiro, nem acrescento, há textos que se lêem e isso é o melhor elogio

manuela

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,

Pena que a metade não entre pela vista dentro!!!

Pena ... pela ... vá, vá, não me bata!

Beijinhos muitos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2011

Jaime Latino Ferreira disse...

MANUELA BAPTISTA


Beijos!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2011

Mª João C.Martins disse...

Meu amigo

Pois claro, quase que me furava o olho e mesmo assim, continuava cegueta..

Peço desculpa pelo engano.

Eu não digo... maldita rosca!

Um abraço desta vez e os votos de boa e repousante noite

Jaime Latino Ferreira disse...

AUTO ... I


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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2011

Jaime Latino Ferreira disse...

MARIA JOÃO


Querida Amiga,

Pois claro, às vezes, quanto mais lemos o que escrevemos, menos conseguimos ver ...

Deixe lá, sei muito bem o que isso é!

Beijinhos e muito boa noite para Si também


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Fevereiro de 2011

Naty disse...

Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos.

Autor Miguel Unamuno
Bjs com carinho

Jaime Latino Ferreira disse...

NATY e CARLOS


Caríssimos,


... e naquilo que de nós mesmos nos revela, cada novo amigo dá-nos o que de nós próprios não sabiamos!

( autor, eu próprio por Vosso intermédio desafiado por Miguel Unamuno )

Retribuindo afectuosamente, um beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Fevereiro de 2011

Jaime Latino Ferreira disse...

AUTO ... II


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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 17 de Fevereiro de 2011

Jaime Latino Ferreira disse...

AUTO ... III


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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 19 de Fevereiro de 2011