quarta-feira, 1 de abril de 2009

G 20

G 20
Barack Obama
Presidente dos Estados Unidos da América
Excelência,

Tal como a Arte é Património Universal, dirijo-me, agora, a Si, enquanto cabeça e de certa forma guardião da esperança no G20, na lufada de ar fresco que a Sua investidura representou e diante de um Mundo cada vez mais conturbado e carente, apreensivo e exangue em que vivemos.
Tendo em tempos escrito uma carta ao Presidente Bush e em que o tratava na fórmula prosaica de tio, Oncle Sam, carta com alguma ironia, é certo, mas sempre no respeito que me merece um Presidente e em particular aquele dos United States ;
Tendo, ao longo dos anos, manifestado sempre a minha solidariedade e por inúmeras e críticas vezes, com aquela que reputo como Nação guardiã, guardiã, reduto e referência da Democracia à escala global;
Sendo, por fim, os tempos implacáveis e não se compadecendo mais com formalismos reverenciais e estéreis, pueris, dirijo-me agora a Si, repito, como Meu Irmão que o é e independentemente da Sua posição hierárquica no contexto dos povos e das nações ou de credos, nacionalismos, etnias ou outros condicionalismos que apenas contribuem, a mais das vezes e quando unilateralmente sublinhados, para toldar os espíritos e os juízos.
-.-

Barack Obama
Meu Irmão,

Gostaria de sublinhar, resumidamente, três vectores que nesta hora reputo, não apenas como centrais mas como essenciais e já para não dizer vitais:
Para mim, se centralidade existe é a do Mundo Democrático que sendo de referência é também o inibidor possível e natural, embora não os contenha, de todos os inesperados e prejudiciais chauvinismos;
O Mundo Democrático, porém, encerra-se ainda e cristalizado, nos mecanismos formais implementadores da democraticidade que sendo fundamentais, imprescindíveis, obrigam, todavia, ao efectivo aprofundamento e enraizamento da Democracia no reconhecimento explícito, consagrador das singularidades e tanto mais quanto credoras de mérito;
Por fim, a dimensão da crise não pode deixar de obrigar e com urgência, à projecção de explícitos sinais inequívocos de combate à ganância e à corrupção que nos conduziram, a bom ver e em prejuízo da grande maioria dos povos, até aqui.
Como frisava o Príncipe Carlos e já agora amplificando o pano de fundo dos vectores enunciados, a dimensão financeira da crise é uma brincadeira quando comparada e pior ainda se escamoteada da sua dimensão ecológica!
Por isso e devolvendo a pergunta em tempos feita por Kennedy e dirigindo-me à América, agora encarando-A como metáfora do Mundo e na Sua Pessoa, e embora sabendo que em primeiro lugar Vos cumpre defender os interesses dos Vossos Constituintes que não se realizam, porém, sem ou à revelia do bem estar universal, na volta, Vos interrogo:
Tendo eu feito e ao longo de mais de vinte anos o que publicamente se pode seguir e reconhecer, tendo pois realizado o que em Coisa Pública e Universal se encontra registado e assumido com todos os riscos implícitos aos quais nunca me furtei, em nome da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, da Equidade por inerência, que poderá então Ela, a América, fazer por Nós, por Elas e pelo Mundo?
Serei eu menos do que qualquer outro Cidadão, institucional ou não, do que os Vossos Constituintes e sobretudo, diante da Obra feita e mesmo se na Língua Portuguesa?
De que reconhecimento Sou, afinal, credor e sobretudo sabendo-se que não faço tensões de desmobilizar?
À Sua inteira disposição, Meu Irmão, Presidente dos United States of America.
Seu e sempre
-
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2009

8 comentários:

Ana Cristina disse...

Ouvir Aretha Franklin cantar perante milhares de pessoas, na posse de um presidente americano da mesma côr da sua pele, é ,se possível,ainda mais arrepiante e até gostamos da bandeira das estrelas a esvoaçar ao vento.

Grande responsabilidade a de Barack Obama perante tamanha crise mundial e perante a enorme espectativa que todos os cidadãos do mundo,como o meu amigo Jaime,nele depositaram.

Confesso que gostava muito de o ver bem sucedido no cargo que conquistou e no seu plano de recuperação americana e mundial.

É bonito,elegante,humilde,limpo(sem cosmética),tem uma família simpática e até parece que vai ter um cão d'água português;é inteligente,culto e perspicaz o que o distingue do comum norte-americano burro,gordo,a olhar para o umbigo e sentado no MacDonalds a comer fast food.

Foi agradável saber que ele está aqui ao lado em visita à Europa.
Quem sabe,se num qualquer momento de lazer,ele não se liga à net e responde à carta que o Jaime lhe dirige!

Até que era excepcional.
E...
Afinal não é de coisas excepcionais que andamos todos,cada um à sua maneira,à procura?

Barack Obama também é um de nós.
Também quer ser excepcional.

1 abraço.
Ana Cristina

jaime latino ferreira disse...

ANA CRISTINA


Excelsa Amiga,

Desculpe se só agora Lhe respondo mas hoje, tivemos um jantar com velhos amigos o que nos impediu de estar aqui presentes mais cedo.

Imagine que Barack Obama lê a minha carta e que, ao lê-la, se sente interpelado, exactamente pela interrogação que devolvo à procedência, a interrogação de Kennedy!

Muitas vezes, tendemos a confundir tudo:

Que um Presidente de um país democrático pode, por si só, responder a outros que não sejam os interesses dos seus constituintes.

Eu, em rigor, não o sobrecarrego, nem isso seria justo (!), com anseios que o ultrapassam e que excedem a Sua função e eventuais desiratos a que todos aspiramos.

Agora, imagine que, não apenas Obama mas muitos dos outros membros do G20, lêem, eles também, a minha carta, uma vez que ela é aberta, transparente e assim, lançada, pela blogosfera, ao mundo sem intermediários nem filtros que a pudessem, eventualmente, adulterar ou truncar!

Imagine ainda, que o Povo, os povos a lêem ou pelo menos alguns dos seus lídimos representantes!!

Imagine mais ainda que no que nela escrevo e fazendo apelo ao que de tradicional e historicamente enraizado como seja, por exemplo a Casa Real de Inglaterra, da qual o Príncipe Carlos é um dos Seus legítimos representantes, longe de fazer tábua rasa dos poderes instituídos ou da tradição, a todos os convoco e fazendo tocar as campaínhas de alarme no que toca àqueles vectores essenciais sem os quais e contra os quais apenas se conseguiria adensar o caos e a incerteza em relação ao Futuro, um futuro que ou bem que a todos congrega, a todas e a todos, mulheres e homens de bem e no sentido do reforço desse bem inestimável que é, e sou disso testemunha viva (!), a Democracia e perante os imensos desafios que nos interpelam a todos e sem excepção!!!

Imagine ...

Imagine por fim que a Obra a que faço apelo, não é uma mera figura de retórica mas sim um exercício sistemático de reflexão multi-disciplinar e integrado e no sentido do reforço do exercício pleno da Cidadania, cosmopolita e global, num Mundo que ou será um ou não será coisa alguma ...!

E que vem de traz, num lastro coerente e de persistência indescutível!

Imagine isto e muito mais ... Minha Querida Amiga ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2009

jaime latino ferreira disse...

AOS MEUS LEITORES


Aos meus leitores me cumpre dizer-Lhes que imaginem também que o que aqui lego, em primeira página ou na caixa de reflexões, não se trata, seguramente, de piadinha ou piedosa mentira do dia primeiro do mês de Abril!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Abril de 2009

jaime latino ferreira disse...

AMÉRICA

PAPÃO OU TERRA DAS OPORTUNIDADES?


Pela eleição de um negro e volvidos tão poucos anos, historicamente falando (!), sobre, por exemplo, um Martin Luther King, quem, alguma vez, pensaria, não agora que já foi eleito e já que a memória é muito curta (!), mas há uns tempos atrás, tal indiscutível facto ter sido assim possível e para mais, diriam ou escamoteariam alguns, na América!?

Tendemos a esquecer muito rapidamente ...!

Na Europa ser eleito um negro, um asiático, um aborígene e para tão elevado cargo, quando!?

Independentemente das expectativas que se alimentem e eu mantenho-as num low profile, o facto de Barack Obama ter sido eleito Presidente dos Estados Unidos da América e como o já disse, escrevi noutras circunstâncias, simbolicamente o que não é de somenos (!), já valeu por si e em si mesmo nos sinais que, quer se queira, quer não, ao Mundo lança!

Haverá quem se choque por eu afirmar serem, os States, Democracia guardiã e de referência ...!

E mais indo chocar os incautos e que não têm, minimamente, a noção das coisas nem da História e nem das barbáries que, latentes e por todo o lado apenas espreitam as traiçoeiras oportunidades e sem que mostrem os rostos, que seria da Democracia sem os seus braços armados, Sua reserva e garante e pesem embora todos os contraditórios sinais que estes, eventualmente, possam projectar!?

Feliz ou infelizmente, a História não se faz à medida de incautas e ingénuas, incultas e branqueadoras expectativas.

A História, reparem que A escrevo com maiúscula, também não é uma maquinação permanente, uma maquiavélica e maniqueista teoria da conspiração onde ao indivíduo não lhe restasse mais do que dela ser uma simples engrenagem!

A Democracia o comprova na margem de autonomia relativa que ao indivíduo lhe confere e sobretudo quando confrontada com o sufoco individual a que toda a sorte de totalitarismos, ao indivíduo o esmaga !!

E mesmo assim, quantas vezes e imprevisivelmente ... eles, os totalitarismos, caem!!!

Nós somos disso a experiência viva ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Abril de 2009

jaime latino ferreira disse...

A ÁRVORE E A FLORESTA


Ana Cristina

Minha Querida,

Quando generalizamos, tendemos a ser parciais e logo, injustos!

Não Lhe parece que esse tipo comum, burro, gordo, a olhar para o umbigo e sentado no MacDonalds a comer fast food se pode e encontra por todo o mundo!?

Aqui entre nós, seguramente, estereótipo ao qual muitos e mais soberbos atributos endógenas se poderiam acrescentar!?

Here and every where!?

Atributos, finalmente, que por si sós, de uma mulher ou de um homem não fazem, necessariamente, burros ou escarafunchadores de umbigos ...!?

Que Lhe parece?


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Abril de 2009

manuela baptista disse...

Era Uma Vez Na América

"Once upon a time in America" de Sergio Leone, foi um dos filmes mais marcantes dos anos oitenta.

Eu revejo muitas vezes os filmes da minha vida,assim como vejo muitas vezes nos filmes, a minha vida.

Mas este não tive a oportunidade de rever como desejaria e no entanto continuo a tê-lo presente, especialmente à comovente Deborah, namorada de Noodles e ao tema musical que a acompanha.

Sergio Leone e o compositor, Ennio Morricone eram Italianos,nascidos em Roma.

A América é a terra das muitas gentes e entre os muito gordos e os muitos magros há os muito bons e os muitos maus.

Eu já gritei"Imperialistas fora de Portugal, independência Nacional", mas como todos crescemos e aprendemos, hoje sei que tão importantes como as legítimas independências nacionais, são as dependências internacionais.

Veja-se este baralho de cartas que se desmorona num ápice, quando os corruptos de um lado do Universo corrompem o outro lado.

Veja-se os esfomeados de África como atravessam infernos para abanar os Europeus no seu conforto, no seu sossego.

Não estamos sozinhos, há só uma Terra e somos cidadãos do Mundo.

Por isso Barack Obama também é meu Presidente e quanto melhor ele for, melhor eu serei e estarei.

I had a dream!

Estou-me nas tintas para os arautos da desgraça, sempre à espreita de encontrar defeitos nos outros. Logo se verá.

E como muito bem me lembrou a Ana Cristina, ele está aqui na Europa, ao pé de nós.

Sendo assim e sem querer plagiar o Jaime, aproveito também para lhe escrever uma carta!

"Barack Obama, meu querido vizinho:

Como se comprova, estamos todos tão perto uns dos outros que me atrevo a dizer que somos todos vizinhos!

Ofereço-lhe assim um lugarzinho no Estoril,pois sempre que quizer apanhar um pouco de sol e comer bom peixe, pode ficar em nossa casa.

O meu sonho( dos mais pequenos é verdade) era visitar a América, pois como já deve estar informado pelos seus espiões, eu tenho uma enorme pancada por filmes americanos, e aos treze anos de idade até combinei com a minha maior amiga atravessarmos o oceano para vos visitarmos.

Assim e com toda a consideração, aproveito para lhe pedir a mansão e o iate do senhor Bernard Madoff, confiscados hoje pela polícia americana.

Poderei então atravessar o Oceano Atlântico em segurança e terei uma casinha em Nova Iorque, para poupar em despesas de hotel.

Aviso-o também que levarei comigo o autor deste blog e os nossos amigos Tertulianos.

Regresse bem e espero que se tenha feito alguma Luz no seu encontro connosco aqui na velha Europa.

Good By

Manuela Baptista"

Nota: como vê Ana Cristina, comparado com isto, o que é o Prosac?

Até logo

Ana Cristina disse...

"Dear Barack",

Com as cartas que antecederam a breve missiva que te dirijo deves ter sentido a força da amizade, da integridade, da hospitalidade e do sonho de promovermos boas relações de vizinhança.

Aqui por casa com vista para o Douro não te posso oferecer o mar azul do Estoril, mas se apreciares um bom vinho do Porto,não faças cerimónia.
Descemos a rua do Choupelo e vamos parando em todas as caves até que chegados ao cais da Ribeira nos permitiremos estender na relva junto ao rio e apenas imaginar,mesmo que toldados, os cenários que o amigo Jaime deixou em aberto.

Se de Londres tiveres mesmo que regressar a casa sem passar por aqui, lá aparecerei com a Manuela e demais amigos,no iate do Madoff.

I believe you can!
See you soon ;)

Muitos beijinhos sem qualquer Prozac ou genérico ....
Ana Cristina

jaime latino ferreira disse...

TURNING POINT


Das declarações proferidas por Barack Obama no final da cimeira do G20, consta uma em que terá declarado ter esta sido um ponto de viragem, isto é, um turning point.

Let's hope and see ...

Ponto de viragem, no entanto, constitui desde já o que chegado aqui e para meu espanto se estampa pelas mãos, dedos melhor (!) da Ana Cristina e da minha querida mulher:

Deram, elas também, em Lhe escrever!

Eu, pela minha parte, aproveito para sublinhar:

Obama não é, e pese embora o Seu peso institucional, mais do que qualquer um de nós.

O peso específico que cada um de nós tem, por seu lado, é aquele que, a começar por nós próprios (!), achamos que somos merecedores.

Se nos acharmos insignificantes, naquele tão típico quem sou eu (!?), pois que importância esperaremos então que os outros nos atribuam ou reconheçam!?

Se pelo contrário entendermos e mais do que isso, fizermos pela importância de que nos achemos credores e assim o saibamos fazer (!), crescemos em peso, singular mas simultaneamente como institutos e sobretudo se vistos, se olhados, cada indivíduo, à luz da carta dos seus direitos ou se quizermos, à luz e ao abrigo da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Porque essa, não é uma peça de retórica e cada um de nós, seguramente, também não!

E assim, o turning point começa logo aqui, palpável, visível no meu blogue onde um gesto, modéstia à parte se replica e logo se multiplica por três.

E não estamos nós e desde já, de avanço (!), a dar um contributo inestimável para um novo tipo de relacionamento que aproxime pessoas e instituições, poderes aparentemente fora do alcance e os cidadãos e por acréscimo, replicante ele também, para um novo tipo de relacionamento com outro grau de proximidade, de humanidade também, no seio da própria Comunidade Internacional!?

Who knows!?

Quem poderá dizer que não!?


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Abril de 2009