domingo, 26 de julho de 2009

SEM PÁGINAS DE UMA ARTE

X- AS FÉRIAS DO SR. HULOT
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QUANDO A PRAIA ERA GRANDE
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Os Verões tinham o significado da eternidade, as noites eram quentes e o vento suave como um fino veludo.
Não havia futuro nem passado, o presente era feito de água salgada e areia, de amizades construídas e desconstruídas ao sabor das ondas e as batatas fritas em pacotinhos de papel vegetal eram permitidas entre cada mergulho.
Quando virados para o mar, o lado direito da praia pertencia ao Sr. João e o lado esquerdo ao Vicente, ambos banheiros de calção azul e camisola branca, armando e desarmando toldos e barracas de grossa lona, também ela às riscas azuis e brancas.
Ninguém sabia explicar porque é que o Sr. João, jovem e alto, era Senhor e o banheiro Vicente, mais velho e mais baixo, era apenas Vicente.
As mães confiavam o banho e a aprendizagem rudimentar da arte de nadar a estes dois homens, que terminavam a sua tarefa com cada criança, com uma tapadela de nariz e um valente mergulho que deixava os mais incautos num imenso pranto!
Tive a sorte de escapar a este tratamento de choque porque, com uma mãe que não acreditava na força mas no estímulo, com uma irmã e primos mais velhos, eu já sabia nadar havia muito, mas sempre me senti solidária com os pequenos e tiritantes banhistas.
Às vezes a praia era um palco e tudo ganhava uma enorme cor, quando o som de uma roufenha corneta anunciava o Homem dos Fantoches, os Robertos, que montando um desequilibrado biombo nos contava a eterna história do Toureiro e do Touro Lindo, da Menina Apaixonada ou do Homem Mau que com um cacete batia continuamente na cabeça de alguém.
Outras vezes, eram os Saltimbancos que sobre um pano leve de algodão indiano e ao som de um pequeno tambor, apresentavam uma menina pequenina que se contorcia, dando cambalhotas para a frente e para trás, fazendo o pino num só braço e dando duplos saltos sem hesitar.
A Menina era magrinha e triste e nenhum menino falava com ela, mas em segredo sonhávamos com caravanas, acampamentos e aventuras.
E para assustar chegava o Homem Que Engolia Fogo e que, no meio de um cheiro a gasolina, soprava e incendiava tochas, apagando-as em seguida como quem trinca um chupa.
Até hoje não sei porque é que os Barquilhos estavam escondidos naquela espécie de grande lata com uma roleta, nem porque é que as bolas de Berlim da Sra. Maria não tinham gordura nenhuma.
Todos os anos regressávamos, mas era sempre a primeira vez.
Naquele tempo, a praia era grande e o areal imenso.
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A vila da Parede nos anos cinquenta, era um lugar privilegiado com o iodo da sua pequena praia, a Pensão Portugal, que albergava quem não possuía casa e os seus dois cinemas o Royal Cine e o Parque Oceano, este ao ar livre, onde aprendi com Jacques Tati o que é ter sentido de humor!
http://www.youtube.com/watch?v=SAHf7fuXCGs
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A todos os Tertulianos, para que tenham umas Boas Férias!
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Celebrando:
- Jacques Tati "Les Vacances de Monsieur Hulot"-1953
-Léo Ferré - La Mémoire et la Mer
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Manuela Baptista
Estoril, 26 de Julho 2009

5 comentários:

jaime latino ferreira disse...

TENHO


Tenho sede do mar
e o mar aqui tão perto
tenho sede de férias
de umas férias em aberto
tenho a maresia na boca
o sal como condimento certo
tenho o humor de Hulot
de meu pai boquiaberto
tenho a vontade intacta
a todos vós vos alerto
tenho o barulho das vagas
a rebentarem e acerto
que valem essas memórias
como glórias de oiro pintadas
como canção de noitadas
alegrias deslumbradas


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 26 de Julho de 2009

manuela baptista disse...

Quem é que traz as pipocas?

MB

jaime latino ferreira disse...

MANUELA


Minha Querida,

... pipocas!?

Que é para depois te pores a refilar em relação aos vizinhos de plateia que não sabem senão pôr-se a mascá-las interferindo na banda sonora!???

Aqui está um bom exemplo de quanto complexa é a realidade ..!

O chocolate faz menos barulho!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Julho de 2009

manuela baptista disse...

A Complexa Realidade do Milho Americano

Eu gosto de pipocas! Com sal e com açúcar.
Gosto de as comer nos filmes de aventuras e se possível acompanhada de uma criança glutona.

O que teria sido de "Em Busca da Esmeralda Perdida" ou "Indiana Jones e a Última Cruzada" sem o seu irritante trincar?
E o "Matrix"? Como é que tínhamos entendido o "Matrix" sem elas?

Mas fico por aqui! Todos os outros filmes exigem silêncio, escuridão, reclusão. Até as comédias.

O chocolate faz menos barulho? Só se engolires também a prata.

Manuela Baptista

jaime latino ferreira disse...

MANUELA


Não, minha querida, primeiro, antes da sessão começar e ainda com o chocolate envolto na prata, parte-se todo aos quadradinhos, depois e ainda antes da sessão começar, despejam-se os quadradinhos para dentro do papel que ao chocolate o envolve mas como se fôra um saquinho, deitando-se a prata para o lixo e finalmente, sentados e ao escurecer das luzes na plateia, medida a distância a que o saquinho fica, é só deitar mãos aos quadradinhos e deixá-los, languidamente, derreterem-se na boca.

Ah, esqueci-me de dizer que terá de ser ou um delicioso praliné, chocolate de leite ou negro e sem amêndoas ou quejandos susceptíveis de provocar ruído de mastigação!

É claro que também gosto de pipocas com sal, menos as doces, por isso é que digo que a realidade é muito complexa ...


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Julho de 2009