domingo, 1 de março de 2009

UMA CERTA IGREJA FADUNCHA


A igreja do faduncho vive na nostalgia dos impérios

É uma igreja triste de patrícios bonitinhos acantonados na mágoa de tempos que não voltarão mais

Canta ao estilo baladeiro e julga-se moderna

Impõe-se às portas das igrejas com petições e condiciona os fiéis
no que julga ser o seu território exclusivo
com medo do mundo

Enxameia as igrejas locais e julga-se dona delas como se fossem suas coutadas

Refugia-se no rito ao arrepio de qualquer prática congruente

Traz o rei na barriga e nem vê que ele vai nu

Confessa-se como quem vai ao psiquiatra

Impõe o seu estadão ostensivo à Igreja que se quer pobre e peregrina

Fanática repete meas culpas e recusa-se a pensar

Fecha-se sobre si mesma num autismo constrangedor e definha

Olha de soslaio o pensamento livre como se fosse uma heresia

Canta o fado como quem chora tudo o que o vento levou
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http://www.youtube.com/watch?v=ixx66T-FPYM
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http://www.youtube.com/watch?v=Kj8-9-5XERo
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Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Março de 2009
Paula Rego, Virgem grávida, Capela do Palácio de Belém

15 comentários:

Alexandra disse...

Achei fantástica a imagem de Paula Rego associada a esta escrita. Ri-me quando li "a igreja do faduncho", mas acabei por achar que melhor não podia ser.

Não costumo ir à Igreja, a não ser para ver a sua arquitectura, não compreendo aquele discurso que também eu chamo de "Autista", não consigo perceber como se pode não evoluir e, pior ainda, contribuir para uma certa alienação da realidade.

Já tentei perceber muita coisa, o seu discurso, a sua forma de olhar o real, a sua postura. Mas, apesar dos meus esforços, não foi há muito tempo que mais uma vez por necessidades familiares tive que assistir a comunhões e baptizados em série. Fui para lá pensando que era desta que iria retirar algo que compreendesse e que fosse aplicável na sociedade actual...mais uma vez me enganei e saí a pensar: "Como é possível????"

Provávelmente nunca chegarei a conclusão alguma!

Excelente texto e ilustrações.

Um resto de Bom Domingo! :)

Anónimo disse...

ALEXANDRA

Querida Amiga,

Percebo-A muito bem!

Como já terá deduzido eu não sou apenas místico e crente, praticante também mas esse Seu sentir é-me familiar.

Nem por acaso hoje, à missa como sempre vou mas após prolongado periodo de afastamento, na homilia, veja lá (!), o jovem padre que a proferiu, a páginas tantas disse que Deus não precisa de nós, nós é que precisamos dele.

Esta afirmação, aqui ficou atravessada pois, que diabo (!), se Deus não precisa de nós, porque carga de água enviou Seu Filho feito homem para que nos resgatasse e mais, porque carga de água se celebra o rito a que o próprio padre que tais palavras proferiu, presidiu!?

Não é que o padre está, ao rito da eucaristia, implicita e paradoxalmente a negar!??

Se Deus não precisa de nós, aliás, para que precisaríamos Dele já que se Deus é Amor, o Amor é recíproco e tem dois lados, alimenta-se de Lá para cá e o contrário também, ou não o seria!

Mas, está a ver, a palavras de padre como estas, autênticas bacoradas reveladoras de uma imensa crise de Fé (!), apetece-me responder alto e bom som, vai mas é para a escola donde saiste, provavelmente, cedo de mais ou onde foste muito mal preparado!!!

Mas isto são as palavras de um sacerdote que, quantas vezes temos de suportar julgando-se estes cheios de veia, outra coisa o rito e os textos sagrados aos quais o celebrante não pode, graças a Deus (!), fugir.

Pode lê-los mal, mas fugir não pode ...

E esses, textos e rito, na sua abrangência, sacralidade, valem sempre apena ser seguidos e praticados.

Se valem (!), é a minha opinião.

Um bom domingo e uma boa semana para Si e para os seus


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Março de 2009

Anónimo disse...

Boa noite,

Gosto de entrar nas igrejas quando elas estão vazias, para reflectir em paz e estar um bocadinho comigo mesma.
O silêncio de uma igreja faz-me bem.
Gosto de rezar quando vou para a escola e antes de ligar para a Rádio Comercial.
Gosto das conversas que tenho com Deus, e que por vezes se se ouvissem poderiam fazer rir muita gente.
Gosto principalmente de ter Fé, a minha, que se calhar é muito especial, mas é a minha.
A Igreja essa de que o Jaime fala não me diz nada.

Beijinhos para os dois ( Manuela e Jaime)

Filomena

Anónimo disse...

Variações e Fuga

Pior que uma certa Igreja Faduncha, levesinha, com muitas violinhas e adolescentes tocadores, mas impecavelmente vestidos e penteados,com muitas tias e tios, é uma Igreja Caruncha com muitos buracos provocados por parasitas do templo e do tempo, interpretadores encartados da palavra de Deus, uns tomando um estilo engraçado e cúmplice, outros um estilo arrebatado de falsa ousadia, de desafio teatral e ensaiado.

É esta a questão, como ser testemunha de Fé quando a vontade é fugir destas variações sem talento, e perguntar onde estão os pobres?
Onde estão de facto os verdadeiros peregrinos, os que procuram Deus com humildade e esperança e que no meio das incertezas continuam a caminhar?

Há muitas Igrejas dentro da Igreja, tantas como os poderes centrais e sobretudo locais, tantas como cada um de nós que as enchemos (ou não) ao domingo, ou os que desiludidos e acossados se afastaram.

God is my witness, I'll never be hungry again!!

E assim, os que temos a sorte de ter fé, encontramos o princípio e o fim de todas as coisas, encontramos a coragem para denunciar o que está mal e soltarmos as velas quando o vento está de feição.

Com Deus jamais teremos fome.

Manuela Baptista

Anónimo disse...

Filomena,

a Fé é sempre especial e rezar numa igreja em silêncio pode ser uma experiência arrebatadora!

Manuela Baptista

Anónimo disse...

TETRALOGIA


A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
SAGRADA FAMÍLIA
ENTRE PATRÍCIOS
UMA CERTA IGREJA FADUNCHA

Formam estas quatro últimas páginas do meu blogue uma tetralogia ou, se quizermos, um conjunto de textos com um fio condutor, a saber, olhares complementares sobre as marcas colaterais da Igreja e os dilemas que se Lhe colocam e que a dilaceram, tendo por centro a Sagrada Família vista, por um lado, entre patrícios, os cidadãos do Império Romano, na chacota que sobre eles esta teria, compreensivelmente provocado na óptica dos cânones então em vigor e, por outro, à luz da modernidade estrita.

Como se dissesse:

Ao mundo ( a César ) o que é do mundo, à Igreja o que é da dimensão intemporal e acautelai-vos se não quereis definhar reduzidos a uma seita e ao arrepio de toda a racionalidade que é, ela também, uma marca das mais valiosas da Cultura que tem o cristianismo por berço.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Março de 2009

Ana Cristina disse...

No passado dia 15 de Fevereiro, um domingo, fui, a convite do Centro Social e Paroquial de S. Salvador de Grijó (sito em Grijó fora dos muros do maravilhoso Mosteiro do mesmo nome da vila), assistir ao dia dos "Leilões".

Neste dia,as seis zonas pastorais agregadas à paróquia de S.Salvador de Grijó, organizam uma festa popular que eleva cada uma dessas zonas pastorais (6 capelas à volta do famoso Mosteiro)à honra de se deslocarem a local indicado pelo Pároco e a ele entregarem oferendas para que continue a dignificar a obra do Mosteiro de Grijó - a obra de Deus.

Festa popular ancestral e pagã,desde a construcção do Centro Social e Paroquial de S.Salvador de Grijó - com um espirito de comunidade e voluntariado digno de ser realçado - as zonas pastorais respondem aos desafios lançados pela Paróquia,para melhorar a qualidade dos serviços prestados ou alargar as respostas sociais, ou restaurar as capelas ou os maravilhosos azulejos e vitrais do Mosteiro.

Este ano, o desafio era a recolha de fundos para a construcção do novo Lar de Idosos e da Creche, em terreno já cedido pela Autarquia mas cujo financiamento governamental não foi aprovado.

Quando aceitei ir a Grijó pensei que iria assistir a mais uma cerimónia formal e clássica nestas andanças.

Eis, senão, quando chegada ao Largo de Stº. António me deparo com centenas de pessoas que ladeavam a rua principal e por onde iriam passar, a caminho do Leilão, os carros(com figurantes trajados a rigor com os trajes típicos de Grijó e da sua ruralidade) das 6 zonas pastorais com as suas oferendas :
Capela da Divina Providência, Capela de S. Vicente, Capela.Sra. da Hora,Capela Sta.Margarida,Capela de Stº.António e Capela de Sta.Rita.

Num terreno aberto, comunitário, onde serão construídos os equipamentos que já vos referi, meia dúzia de cadeiras e um guarda sol que tapava a aparelhagem de som.

Muitas famílias, muitos jovens, muitas crianças que corriam alegremente à volta do palco de madeira onde a única decoração eram 3 varões que hasteavam com orgulho as bandeiras vermelhas e brancas com o símbolo do Mosteiro de Grijó.

Organização invisivel mas impecável.
Os carros das capelas iam entrando no terreno; alguns puxados a carros de bois,absolutamente fantástico ..., deram uma volta ao recinto até que ordeiramente foram esperando a sua vez.

A vez de os representantes das zonas pastorais, um por um, subirem ao palco, leiloarem simbolicamente um objecto (de uma fogaça a um arranjo de flores)e juntarem o dinheiro desse leilão ao valor que durante o ano foram recolhendo nas suas zonas e que em cheque orgulhoso e altivo, entregaram ao Pároco de Grijó, que sempre com um sorriso e de máquina fotográfica na mão, subiu 6 vezes ao palco de madeira para agradecer a oferenda que logo a seguir depositava numa cesta de vime em cima de um tronco rústico de madeira.

No final do desfile o representante da maior zona pastoral - a de Sta. Rita - informou todos os presentes de que o total angariado era de 37 mil euros e que o seu fiel depositário para o objectivo que todos conheciam e defendiam, seria a partir daquela data o Rev.Padre António Coelho.
Mais disse que competia a todos acompanhar o início das obras,conhecer as dificuldades,os projectos,os constrangimentos e também exigir que mensalmente na homilía da missa de domingo, ao meio dia, no Mosteiro de Grijó, o Pároco falasse desta obra a que estavam , a partir de agora, todos ligados.

Acho que não preciso dizer que assisti a uma manisfestação imensa de solidariedade, de fé e de partilha.

Se Deus não precisa de nós, só ele poderá dizer, mas que nós precisamos uns dos outros,de Leilões,de zonas pastorais e de Padres com sorriso nos lábios e máquina fotográfica na mão, não tenho a menor dúvida.

Quando nesse dia ao fim da tarde regressei a casa sentia-me feliz com a ideia de umas "certas" capelas pequeninas, brancas ou forradas a azulejos cuja idade não tem data, a protegerem um Mosteiro de bandeira vermelha e branca a esvoaçar ao vento.

1 abraço.
Ana Cristina

Anónimo disse...

O TEMPO NO TEMPLO


O tempo no templo pára
Como se fosse eternidade
Silêncio não desampara
Resguarda a Tua bondade

No templo o tempo é o vento
É a vontade que guarda
Tem a força de um invento
Tem o desejo que tarda

Vazio o templo adormece
Quando cheio ele respira
Nele rogo o que em mim tece
Num silêncio que não vira


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Março de 2009

Anónimo disse...

ANA CRISTINA

Minha Querida,

Precisa sim, Deus precisa de nós!

Se eu não fosse crente, responderia que sim pois que, se nós O não invocarmos, se O deixássemos de invocar, Ele morreria.

Como crente dou a mesma resposta, pelo menos para nós Ele morreria deixando de sentir o Seu chamamento, donde precisa de nós (!) e ao que disse antes acrescento:

Se Lhe fôssemos indiferentes, então porque é que O invocamos e mesmo quando Nele não acreditamos!?

Gostei muito da descrição que aqui deixou!

Beijinhos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Março de 2009

Anónimo disse...

Para o próximo ano, seremos peregrinos de Grijó e do seu mosteiro, onde se leiloam muito boas ideias.

Manuela Baptista

Anónimo disse...

ALEXANDRA

Minha Amiga,

Retomo, de novo a Sua intervenção que encabeça esta caixa e cito-a:

( ... ) não compreendo aquele discurso que também eu chamo de "Autista", não consigo perceber como se pode não evoluir e, pior ainda, contribuir para uma certa alienação da realidade. ( ... )

Ao que diz, replico assim:

O que eu não consigo compreender a não ser por tacto político da parte de uma Instituição que sendo milenária não pode andar ao sabor de modas e improvisos é como é que do Mistério que a Sagrada Família constitui, ainda não se extraíram todas as ilacções que a Ela Lhe conferem toda a intemporalidade, universalidade também, ao ponto de Nele se incluírem e por antecipação, uma antecipação de dois mil anos, todas as encruzilhadas e todos os dilemas que interpelam a família no dealbar do século vinte e um!

Quanto a contribuir-se para uma certa alienação da realidade ...

Alienação ou arroubo, enlevo, êxtase, encanto.

Eu, por mim, como não quero deixar de contribuir para o encantamento do real, sem o qual, a realidade se pode tornar insuportável, não vejo que seja por aí que o problema passa!

Tenho a impressão que a minha Tetralogia ainda se vai transformar num Quinteto ...!


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Março de 2009

Anónimo disse...

Olá Jaime!
Antes de mais, Psiquiatras e Psicólogos não são Srs.Padres :)))

Gostei do seu texto... consigo entender perfeitamente a sua revolta porque quando eu era ainda uma adolescente um sr.padre passou os limites...mas como fui sempre reguila, graças a deus, soube-me defender :)

Perdi essa Fé!... a minha FÉ passou a ser mais valiosa!!!
(no entanto, continuo a respeitar as ideologias de cada um)

Um abraço

Anónimo disse...

Minha Querida Ellen,

Não se trata de revolta e se o é, não é tanto em relação aos senhores padres como lhes chama e que, claro (!), não confundo nem com psicólogos nem com psiquiatras, antes mais em relação a toda uma corte, digamos assim, que muitas vezes os rodeiam e lhes condicionam os passos, os movimentos.

Não se trata, também, de ideologia já que não confundo estas com religião!

Não são bem uma e a mesma coisa ...!

Quanto a não se saber respeitar fronteiras e limites é também a religião que apela a que se tudo se religa isso não quer dizer que tudo valha!!!

Um beijinho de boa noite


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 2 de Março de 2009

Anónimo disse...

FILOMENA

Querida Tutora,

Não posso deixar passar esta ocasião sem, neste dia, felicitar Seu pai e transmitir-Lhe e a Si, os desejos de muitos e mais anos felizes e com saúde!

Dê-Lhe um abraço meu e tudo de bom para todos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Março de 2009

Anónimo disse...

FILOMENA

Querida Tutora,

Não posso deixar passar esta ocasião sem, neste dia, felicitar Seu pai e transmitir-Lhe e a Si, os desejos de muitos e mais anos felizes e com saúde!

Dê-Lhe um abraço meu e tudo de bom para todos


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Março de 2009