sexta-feira, 3 de julho de 2009

CRISPAÇÃO

A crise, que alguns anunciam estar a caminho do fim, facto de que me permito, veementemente, duvidar tem, na crispação que a ela se associa, provocado a erosão do espectro político.
Permito-me duvidar porque, se é certo que ao nível do sistema financeiro parece terem sido debelados os factores de ruptura iminente e eu não sou daqueles que o entendam por dispiciendo nem à iniciativa privada tão pouco, certo é, no entanto, que na economia real os seus efeitos não param de crescer e são avassaladores.
Ao nível da economia real como da vida singular, das cidadãs e dos cidadãos onde, só Deus sabe (!), as dificuldades crescentes que os afligem, os tolhem e empobrecem mais e mais.
Eu sei-o e sinto-o por mim e não há como contornar esse facto!
Quando, portanto, se sugere estar a crise na sua recta descendente, se em termos económico-financeiros, da teoria económica, tal se poderá entender, facto é, no entanto, que para o comum dos cidadãos suscitará, a mim suscita-me, se não estarão a entrar comigo ...!?
E olho para a imensidão de crises que foram e vieram ao longo dos anos, para os crescimentos anunciados e toda a panóplia de jargões que se utilizam no domínio da economia e das finanças e quantas vezes com a maior leviandade e pergunto-me se, no tempo, tal não revela, de facto, um movimento descendente, uma tendência de declínio acentuado e crescente e se não há uma completa dessintonia entre o que se apregoa e a realidade palpável do cidadão comum!?
Se não soa, a conversa, a oca e a algo que cada vez menos tem a ver com as aflições que, no dia a dia, afectam a vida da cidadã e do cidadão concretos!?
E se, sendo certo que em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, na crispação que se avoluma, a erosão política não vai fazendo, paulatinamente, o seu caminho!?
Não sei se já terão reparado mas tenho-me dado conta de que, com o passar do tempo, essa crispação, é nas forças que tradicionalmente alternam no poder que se cava enquanto que na periferia delas, de um e do outro lado do espectro, laivos crescentes de sensatez dela parecem ir tomando conta, coisa a que não estávamos, lembrar-nos-emos, habituados!
E esta!?
Não concluam daqui qualquer preferência minha por centros ou pelas periferias a não ser por aquela onde resido, o Estoril.
-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 3 de Julho de 2009

2 comentários:

manuela baptista disse...

Ópera Bufa

E de toda a crispação nos passos perdidos, dentro e fora do Parlamento, faço minhas as reflexões de António Barreto e pergunto:

-Mas é nestes gajos, que eu vou votar?

Manuela Baptista

jaime latino ferreira disse...

OPERA


O que escrevi não pretendia, nem pretende desmobilizar os eleitores e embora tenha usado uma imagem dos Passos Perdidos do Parlamento de Lisboa, não me debruçava, tão pouco, numa perspectiva estritamente nacional embora a essa a conheça melhor!

É um facto que o centro político sofre de erosão em benefício das periferias.

Periferias ...

Gosto muito mais desta designação porque ela retira cargas moralistas, dessa moral que permanentemente se denuncia pelas suas derivas perversas, que aos termos direita e esquerda e muito mais se nas suas periferias logo, implicitamente, se colam.


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 4 de Junho de 2009